sexta-feira, 30 de março de 2007

"Vitória antecipada"

O título para a análise sobre Santos e Corinthians não tem relação com o favoritismo dado aos santistas desde o início da semana. Claro, a superioridade estava bem evidente, mas ela é conseqüência. Quando Vanderlei Luxemburgo e Emerson Leão colocaram seus times no ótimo gramado da Vila Belmiro, deixaram nítidas as brutais diferenças de planejamento das equipes.

Óbvio que para montar os respectivos elencos, Corinthians e Santos tinham em mãos receitas diferentes, o que de modo algum justifica as críticas de Emerson Leão com relação ao material humano que tem em mãos. No atual elenco corintiano, pelo menos Tamandaré, Daniel, Amoroso, Gustavo, Magrão e Wellington tiveram o olho clínico (?) de Leão. Não fosse o suficiente, apostas pessoais como Marcus Vinícius, Marquinhos, Élton e Marcelo também não surtiram o efeito que se espera. Christian e Jaílson são outros casos, mas já se foram, e renderam bons dividendos. Arce e o goleiro Jean, até aqui, sejam talvez as boas sacadas.

Para vencer o Corinthians, vieram Fábio Costa, Denis, Adaílton, Antônio Carlos e Carlinhos na linha defensiva. Adriano e Rodrigo Souto na proteção para Pedrinho e Zé Roberto, armando Marcos Aurélio e Rodrigo Tiuí, logo trocado por Jonas. Veja que, com exceção do garoto Adriano, todos são nomes de Vanderlei Luxemburgo, e apenas Zé Roberto trouxe custos exorbitantes. Trocando em miúdos: Leão, se quisesse, poderia ter trazido qualquer um dos santistas para o Parque São Jorge.

Também por esse contexto é que treinador de futebol, em especial no Brasil, precisa cada vez ser mais completo. E Vanderlei Luxemburgo, inquestionavelmente, sabe farejar talentos. Descobriu ao longo dos anos, Vampeta, Ricardinho, Cléber Santana, Deivid (como grande jogador), Edu Dracena, Edílson (como atacante), Fabinho (hoje na França), Mota (hoje na Coréia), além de outros que podem ser relembrados com um exercício mais profundo de memória.

Já Leão, que já havia trazido Ricardinho (ex-Inter), Márcio Careca, Enílton, Amaral e Paulo Baier ao Palmeiras, mostra mais uma vez que deixa a desejar quando tem em mãos a incumbência de construir e planejar elencos. Coincidência ou não, como, por exemplo, não fez em Santos e São Paulo, seus melhores momentos na carreira. E o jogo? Pois é, já estava antecipado. E há muito mais tempo.

"Papai gostou!"

O texto abaixo é enviado pelo amigo Mozart Maragno, incontestavelmente o maior especialista em divisões de base do Brasil. Trata do Sul-americano sub-17, conquista brasileira nesse mês de março.

"Papai gostou!"

Como o esperado, a conquista de mais um título sul-americano sub-17 pela seleção brasileira confirmou a hegemonia continental na categoria, bem como o potencial da equipe dirigida por Edgar Pereira, que, aliás, faz um trabalho irretocável. A 1ª fase claudicante suscitou uma série de dúvidas acerca da qualidade coletiva e individual do time, sobretudo por aqueles que não haviam acompanhado a trajetória vencedora dos garotos, e, de certa forma, desconheciam as características da maioria deles. O desempenho arrasador no hexagonal final (cinco vitórias e um empate) sepultou todas as críticas que já começaram a ser ventiladas após as quatro partidas iniciais. Os discursos, antes e depois, são sempre interessantes: a "soberba" e a "má orientação" deram lugar à "capacidade incrível de renovação do futebol brasileiro" e à "fonte inesgotável de talentos", entre outros tradicionais clichês ufanistas (ainda que baseados numa realidade). Enfim, a coerência e a precisão não foram as maiores virtudes na cobertura do evento.

O selecionado nacional, do ponto de vista coletivo, deu continuidade à mudança ainda da fase inicial, com a saída do talentosíssimo meia-ofensivo Tales para a entrada do volante Tiago Dutra (do 4-2-2-2 para o 4-3-1-2), em que pese a menor qualidade no manejo de bola e o aumento da responsabilidade de Lulinha na criação (sempre uma ótima aposta), abriu mais espaços (com cobertura) para que o opaco Bernardo dos primeiros jogos e o pouco inspirado capitão Fábio, se soltassem e encontrassem o belo futebol que possuem. O "Sorín tricolor" ainda nos brindou com sete gols e muita presença de área. Alex e Maicon, atacantes de boa técnica, se consolidaram como dupla de ataque, que se não foi a mais goleadora, fez um trabalho de abertura de espaços e movimentação muito bons.

Ficamos todo o torneio de olho em Lulinha, o Filhão, que além de orgulhar o "papai", mereceria um texto à parte em função de sua importância para o título, por exibições extraordinárias, principalmente quando segurou a equipe nos piores momentos no Equador. Foram 12 gols, em nova marca estabelecida na competição, e também assistências e jogadas da mais apurada técnica e habilidade. A partir do grande destaque atingido, foi criada a esperada celeuma em torno do seu aproveitamento entre os profissionais do Corinthians, onde empresário, clube e treinador se engalfinham.

A expectativa para o Mundial é a melhor possível (o Pan será sub-20), mas ressalta-se que o grupo pode ser mais bem qualificado individualmente. Mesmo como líder técnico natural, seria prudente, penso, depender menos de Lulinha na Coréia do Sul, já que o nível será melhor, com, provavelmente, outras estrelas jovens. Citaria, especialmente, os espanhóis Bojan Krkic (Barcelona) e Francisco Mérida Perez, o Fran Mérida (Arsenal-ING), que neste momento, fazem à diferença no Europeu sub-17.

Independente do futuro, está claro que a seleção brasileira sub-17 de 2007 exibiu um futebol de alto nível, de menos para mais, sobretudo individualmente, confirmando ser uma equipe cheia de talentos como sua antecessora de dois anos atrás. Portanto, está construindo sua bela e vencedora história na revelação de jogadores, o que de certa forma provoca até desespero em alguns "profetas do apocalipse". Cabe acompanhar os próximos capítulos na Ásia.

quarta-feira, 28 de março de 2007

“Cadernos”

Visivelmente dono de discutível coordenação motora, Dassler, então com seis anos incompletos, não titubeava ao ver Neto ralar os joelhos em comemorações vibrantes durante o Campeonato Brasileiro de 1990. E fazia igual. Ou tentava. Não sabia bem o que acontecia e pouco falava. Mal falava. Mas seu pai lhe incentivava para acompanhar aquele esporte.

Ao longo dos anos seguintes, alimentou expectativas de que aquela paixão ascendente poderia representar seu futuro. Primeiro, quis ser jogador. Mas entre os jogos na televisão e as peladas na rua, em muitos momentos, ficava com a primeira opção - talvez aí um sinal. No colégio, os recreios e intervalos se resumiam aos jogos de futebol no papel com escalações malucas de equipes abstratas como um imponderável Dio Vaticano, recheada por craques do quilate de Diego Armando Maradona.

Nos cadernos de Dassler, a paixão pelo futebol ganhava vida e acabava então reforçada pelo gosto da leitura, àquele momento materializada na Revista Placar. As histórias dessa trajetória, acreditem, são intermináveis. Algumas pastas com fotos e fichas de jogadores, caixas de sapato com recortes de jornal, mais, mais e mais.

Os sonhos e brincadeiras de criança se tornaram realidade quando, cursando jornalismo, Dassler resolveu proliferar textos internet afora. Dessa maneira, ampliou os conhecimentos de maneira sistemática conforme dia a dia criava novas pautas. Por conseqüência, fez amizades notáveis. Entre essas valiosas dezenas, seus dois maiores espelhos, Mauro Beting e Paulo Vinícius Coelho.

Ao dar início a este blog, Dassler Marques espera continuar realizando os sonhos de criança. Espera reforçar essas e muitas outras amizades. Espera abrir espaço para discussões sensatas e aprofundadas. Espera também bom senso nos comentários. Mas, acima de qualquer coisa, espera um dia - amanhã, no mês que vem, no ano que vem, ou na década que vem - fazer os cadernos de criança ganharem vida. Aí, será um homem realizado.