sábado, 25 de dezembro de 2010

Leonardo, Rafa e um cenário de traições


A temporada em questão é 2003/04 e a Internazionale está em momento conturbado. Héctor Cúper, de ótimo trabalho no Valencia, está de partida e os nerazzurri recorrem a um ex-treinador do Milan. É Alberto Zaccheroni, campeão italiano com os rossoneri em 1999, que chega a Appiano Gentile para um trabalho tampão e de nenhum sucesso. Impossível não comparar o momento anterior ao atual, em que a Inter novamente aposta em um milanista para tentar sua temporada. Desde Cúper, aliás, Massimo Moratti não sacava um treinador durante o Campeonato Italiano.

Leonardo é o quinto técnico a trabalhar nos dois maiores rivais do futebol italiano. Antes dele, fizeram o caminho Ilario Castagner (1946-49 no Milan e 58 na Inter), Giuseppe Bigogno (1982 no Milan e 84 na Inter), Giovanni Trapattoni (1976 no Milan e 1986-91 na Inter) e o próprio Alberto Zaccheroni (1998-2001 no Milan e 2003-04 na Inter). Curioso perceber que todos os cinco vestiram rossonero antes de defender os nerazzurri.

O começo da história de Leonardo é mais parecido com o de Trapattoni, que foi jogador do Milan por 12 anos e começou no mesmo clube a carreira de treinador. Venceu duas Ligas dos Campeões e dois Italianos como milanista e, depois de fazer sucesso na Juventus, ganhou a Serie A e uma Copa da Uefa como interista.

A tradição interista de olhar para o quintal do inimigo é o que leva Leonardo para Appiano Gentile. O contrato de 18 meses com a atual campeã europeia é uma vitória pessoal para o treinador, que mostrou personalidade ao discordar de interferências superiores enquanto comandante do Milan. No seu trabalho inicial, Léo teve boas ideias, cometeu erros em momentos importantes, mas deixou uma impressão promissora. Perdeu dois clássicos para a Inter e caiu de forma humilhante contra o Manchester United na Liga dos Campeões, mas se sabia das muitas fragilidades do elenco rossonero.

Se Leonardo poderá dar uma grande banana para Berlusconi, Rafa Benítez sai bastante chamuscado da Inter. Venceu só metade dos jogos que disputou, teve atrito com jogadores, direção e viu seu elenco acumular um total de impressionantes 48 lesões em só seis meses de trabalho. O ultimato à direção em Abu Dhabi foi a maneira encontrada por ele para tentar melhorar sua reputação pública e ter mais respaldo para 2011. O espanhol não podia ser mais infeliz. Deve levar 3 milhões de euros pela rescisão, muito pouco para o vexame que passou.

Para o torcedor interista, o futuro também não se desenha animador. Sétimo lugar no Italiano, o clube não tem a menor pinta de que poderá conquistar um título expressivo em 2010/2011. O elenco da Tríplice Coroa está envelhecido e aparentemente sem condições de arremeter após a crise em que se enfiou. O pior é que Leonardo tem 18 meses de contrato e não parece pronto para um trabalho de campeão. A Inter precisará esperar mais para ter uma temporada como a última.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Textos que recomendo

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os árbitros de hoje não são piores que os de ontem


O combate ao saudosismo exagerado - o que pessoas, por interesses próprios ou convicções radicais, podem chamar de valorização da história - é uma das bandeiras deste humilde blog. Curiosamente, até os árbitros de hoje em dia são atingidos por esse tipo de sentimento, o que jamais pode ser mensurado de uma forma objetiva. Nesse momento, a Espanha discute o desempenho do juiz Clos Gómez, de participação desastrosa no duelo de Real Madrid x Sevilla no domingo. No último Campeonato Brasileiro, o desempenho de nossos apitadores também gerou comentários.

Utilizar o argumento simplista que as arbitragem estão cada vez piores é enxergar a realidade justamente ao contrário. Inicialmente, o que pode se dizer de forma bastante objetiva é que as análises sobre o trabalho dos juízes é que são feitas com muito mais rigor. A tecnologia à disposição é esmagadora e em 99,99% dos casos esgota qualquer tipo de discussão com argumentos inteiramente convincentes. Não há, salvo exceção absurda, um impedimento sobre o qual recaiam dúvidas. Nos últimos tempos, até fotografias foram utilizadas para apontar os erros de árbitros.

A contrapartida oferecida aos homens do apito é simplesmente ridícula. Árbitros vivem sem a certeza do trabalho, dependentes do sorteio nem sempre justo - e honesto -, sem qualquer tipo de apoio, registro, espaço físico para a preparação cotidiana e com uma rotina profissional paralela ao futebol. Se cobram mais critérios, mas será que existe alguma orientação ou iniciativa para isso? Nossa cultura é estimular, justamente, que se ludibrie a arbitragem. Se diz que ganhar roubado é mais gostoso.

Rodrigo Cintra, que apita em São Paulo, trabalha com gestão esportiva na Bahia. No próximo Paulistão, precisará atravessar o país para fazer seus jogos. Quem trabalha assim? A falta do profissionalismo à arbitragem gera até momentos absurdos: tente esquecer o polêmico pênalti marcado por Sandro Meira Ricci em Corinthians e Cruzeiro. O fato é que Ricci era o melhor árbitro da Série A e ficou de fora da penúltima rodada por um compromisso profissional alheio ao futebol. Já pensou se Conca não pudesse enfrentar o Palmeiras, na mesma jornada, por que é um professor e tinha seus compromissos? Enxergando de uma forma radical, foi o que aconteceu.

A aposentadoria de Leonardo Gaciba é um claro exemplo da evolução sensível do futebol brasileiro na escolha da arbitragem. Gaciba era tecnicamente acima da média e tinha uma postura exemplar, mas sempre teve problemas com sua parte física - há quem garanta que o gaúcho é fumante incondicional. De tantas reprovações, ele precisou parar de apitar. Não se admitem mais, na maioria grande dos casos, juízes que não cheguem em cima do lance. Não funcionava assim no passado.

O que ainda não há dentro do esporte é a cultura de se estimular o crescimento da profissão árbitro de futebol. Não se trata com disposição, até hoje, a entrada da tecnologia em campo. Só se cobra que o juiz acerte e pronto. Por isso, todos são favoráveis às mudanças. Também não se oferecem condições de trabalho, carteira assinada e escala fixa, mas se cobra assiduidade, bom preparo físico e dedicação.

Carlos Eugênio Simon, Evandro Rogério Roman, Wilton Pereira Sampaio ou qualquer um de todos os outros árbitros que estiveram no Brasileirão podem errar. Por que um deles erra mais que o outro? Ou erra tudo em um dia e acerta na outro? Pelo mesmo motivo que Rogério Ceni está sujeito a tomar um frango, Dorival Júnior pode errar uma substituição ou Ronaldo pode perder cinco gols na mesma partida.

Todos são humanos, mas no universo do futebol só há um sujeito que não é profissional. E é tão ou mais cobrado que os outros participantes. Enquanto tudo isso acontece, há quem consiga afirmar: "é incrível como os árbitros estão cada vez piores". Não é verdade.


- No El País, os 13 erros de Clos Gómez em Sevilla x Madrid. Clique aqui.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O amadorismo nos departamentos de futebol


Ao mesmo tempo em que vão atrás de reforços, vários clubes brasileiros travam outra luta no mercado: aliviar suas folhas salariais, justamente, para poder gastar mais. Corinthians, Palmeiras, Flamengo e Grêmio são os casos mais nítidos. Ao ver seu clube ser eliminado pelo Goiás na Copa Sul-Americana, o palestrino Wlademir Pescarmona, diretor de futebol, disse que o orçamento alviverde era de time europeu, mas o elenco era de Série B.

Assim, o Palmeiras luta para se livrar de jogadores caros como Pierre, Vítor, Lincoln e Ewerthon, especialmente. O Corinthians, por sua vez, já emprestou três ao Bahia: Dodô, Boquita e Souza, que tem Edu ao seu lado entre os quatro salários mais altos do clube em 2010. Este é outro que não poderá ficar em 2011, inclusive. Ao longo do ano, eram mais de 15 jogadores emprestados a clubes das três primeiras divisões - em muitos, os vencimentos eram completados pelo dinheiro corintiano.

Pelo Flamengo, a meta é liberar a folha salarial para Vanderlei Luxemburgo fazer sua sonhada reformulação - Angelim, Juan e possivelmente Diogo não ficam. No Grêmio, o desespero se dá principalmente com os ex-são-paulinos Borges, Leandro e Souza, todos ganhando em torno de R$ 200 mil mensais. Hugo fazia parte deste grupo, mas foi negociado durante o inverno. A nova direção gremista já procurou os atletas para propor redução salarial, mas o falastrão Souza negou com veemência - e muita razão. Papel assinado é papel assinado.

O que acontece nesse momento com os quatro clubes supracitados, e possivelmente outros, se dá pela contínua falta de profissionalismo nos departamentos de futebol. Não por acaso, todos tiveram reformulações durante o ano, entra e sai de diretores e ausência de um executivo com formação para desempenhar o cargo. Assim, as contratações são feitas sem planejamento adequado, os contratos são mal formulados e a pressão externa faz com que loucuras aconteçam.

Foi dessa forma que o Palmeiras trouxe Lincoln e principalmente o Flamengo, sob o comando de Zico, pagou milhões para ter Deivid e Diogo - bons jogadores, mas que não podem em nenhuma circunstância ganhar mais que Adriano e Vagner Love juntos. No Brasil, os dirigentes que cobram profissionalismo ainda são amadores. Uma economia que vira prejuízo no fim do ano.

Os departamentos de futebol em 2010:

No Palmeiras - Gilberto Cipullo saiu no fim de setembro, assumiu Wlademir Pescarmona

No Flamengo - Marcos Brás, Zico e Luís Augusto Veloso passaram pelo comando

No Grêmio - Luiz O. Meira ficou até agosto. Assumiu Alberto Guerra, que saiu recentemente

No Corinthians - Mário Gobbi acumulava cargos no depto desde abril de 2009. Se demitiu

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Choque de ordem no vestiário do Santos

Aí está uma expressão da moda: choque de ordem. É o processo que se encaminha para 2011 no Santos, que terá novo treinador, jogadores mais experientes e um cenário que se anuncia favorável para o amadurecimento que se espera de Neymar. O camisa 11 indiscutivelmente sempre foi o mais prejudicado - e é claro que tem sua parcela de culpa - pelos excessos correntes no elenco santista.

Nos bastidores, Adílson Batista sempre trabalhou com rigidez a questão disciplinar nos clubes onde passou. Em conversas informais no seu tempo de Corinthians, o treinador deixava clara a pessoas próximas que discordava com veemência das atitudes de Neymar. Adílson inclusive chegou a utilizar expressões do tipo "comigo seria diferente" e por aí vai. Obsessivamente avesso a polêmicas, porém, jamais seria capaz de se manifestar publicamente, por exemplo, como fez Renê Simões dentro da Vila Belmiro.

É notório que a movimentação do Santos por reforços experientes, o que naturalmente se dá pelas exigências de Copa Libertadores, também tira o peso da ala jovem que tomou para si a voz de comando no vestiário. Jogadores como Léo, Marquinhos (que pode ser negociado) e principalmente o capitão Edu Dracena terão mais espaço e respaldo diante da turma de Neymar.

O camisa 11, inclusive, já perdeu força com a saída de André, no meio do ano, e Madson, agora emprestado ao Atlético-PR. O interesse nítido é por negociar Zé Eduardo e até o goleiro Felipe, famoso pelas afirmações descabidas na webcam, vem sendo ventilado no exterior. Esse processo certamente irá consumir ainda Zezinho, totalmente sem espaço dentro do Santos. Só mesmo a força de seu agente, Gustavo Arribas, poderá lhe dar sobrevida. Marcel, sem clima, foi liberado e saiu sem alarde apesar de ser útil em alguns momentos.


Os bons reforços que vão ao Santos também endossam essa choque de ordem. Elano é respeitadíssimo, do porteiro ao presidente, e irá se tornar uma liderança do vestiário ao natural. Charles é homem de confiança do treinador, o que geralmente confere prestígio - ou ao menos respeito - dentro de um elenco. A reaproximação com Ganso, que voltará ao convívio do grupo, é outro ponto favorável para que Neymar mantenha seu bom comportamento.

Esse cenário atual é absolutamente diferente do momento da queda de Dorival Júnior, que já antes da Copa do Mundo tinha dificuldades em manter a disciplina de Neymar, Zé Eduardo, Madson e companhia. Me lembro bem da fisionomia e das palavras do ex-treinador ao ter sua saída confirmada: "tirei um caminhão das costas", chegou a falar. Foi assim que surgiu o desgaste que foi consumindo a permanência do técnico que obtinha resultados fabulosos dentro de campo.

A presença de um interino ao longo dos últimos meses do ano foi como empurrar o problema com a barriga. Com Adilson Batista, a tendência é que as coisas caminhem de forma mais tranquila em 2011. O vestiário já não é terra de um homem só.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A internacionalização do Mundial de Clubes, Roth e seu bigode


Além de trágica, uma derrota como a inacreditável do Internacional é perigosa. Pode fazer um clube que caminha em bom prumo tomar atitudes exageradas. Mas o que aconteceu com os colorados diante do Mazembe é mesmo daquelas coisas que não podem passar - e não passam - despercebidas no futebol.

Por mais que não se falasse publicamente na possibilidade de um tropeço diante do Mazembe, isso deveria ter sido tratado com muito mais cuidado. Em 2005, o Al-Ittihad havia vendido sua derrota de 3 a 2 ao São Paulo por um preço nem um pouco módico. Os egípcios do Al-Ahli, no ano seguinte, também seguraram um empate com o próprio Inter até os 72 minutos de jogo. Em 2007, o Milan precisou suar sangue contra o Urawa Red Diamonds, então com Washington em seu ataque. A zebra que acomete os colorados vinha em processo de amadurecimento.

O que se viu no Mohammed Bin Zayed Stadium, em Abu Dhabi, é o amadurecimento do que a própria Copa do Mundo mostrara: as escolas estão cada vez mais próximas e a preparação física, a disciplina tática e a globalização do futebol fazem com que partidas de alto nível muitas vezes estejam sujeitas às dificuldades que o Internacional enfrentou contra o Mazembe. O time africano foi um marcador implacável e teve a ousadia para sempre manter uma pitada de intranquilidade no gol defendido por Renan. Desde o início do jogo, diga-se.

A grande questão na vitória do Mazembe é o caráter de internacionalização, com o perdão do trocadilho com os colorados, que ganha o Mundial da Fifa. O triunfo do bicampeão continental, que já eliminara o Pachuca, é um sopro de vida do futebol de clubes da África, 20 anos depois do que Camarões havia iniciado entre seleções na Copa do Mundo da Itália. As dancinhas inconfundíveis, a alegria de jogar e a ousadia de ameaçar um gigante quando no ataque: o Todo Poderoso Mazembe não tem tanto de diferente para os Leões Indomáveis, salvo a evolução natural do esporte em duas décadas.

É consenso, apesar disso tudo, que a derrota colorada é um grande vexame. E é difícil não lembrar de Celso Roth e seu bigode, reverenciados no último post. Roth provou que ainda está um degrau abaixo dos grandes treinadores e, nesse momento, sua continuidade seria um erro. Não por falta de capacidades ou por ser o único responsável pela queda em Adu Dhabi, mas porque já começaria 2011 com a corda apertada ao pescoço. A pressão ao seu trabalho seria brutal e dificilmente reversível.

A boa notícia para o torcedor do Inter é que todas as últimas trocas de treinadores foram feitas com calma e trouxeram resultados. Em 2008, Tite assumiu o posto de Abel Braga e foi atrás da Copa Sul-Americana. No ano seguinte, Mário Sérgio chegou em momento complicado e conseguiu o vice do Brasileiro. Desta vez, foi Roth quem pegou o trabalho de Jorge Fossati e venceu a Libertadores. Parece ser o momento de nova alteração.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Celso Roth sem bigode

O paladar de Celso Roth quase nunca conheceu o sabor das grandes conquistas no futebol, cujos códigos são muito mais feitos por curvas que retas. Quanta ironia o treinador de tantos bons trabalhos, quase 100% das vezes acima da expectativa inicial, não ter títulos de expressão em seu currículo. Esses são já tempos passados para o durão Roth, que vai de colorado a partir desta terça-feira tentar a maior façanha para um técnico de futebol brasileiro.

Roth nem sempre teve o reconhecimento que vai conquistando. Em 97, com o Inter, foi campeão gaúcho, fez 5 a 2 no Grêmio dentro do Estádio Olímpico e chegou até as semifinais do Brasileiro. No ano seguinte, colocou o próprio Grêmio, com elenco limitadíssimo, entre os oito da Série A. Lançou Ronaldinho Gaúcho de vez no ano seguinte, voltou à semifinal na Copa João Havelange e foi ao Palmeiras para substituir Luiz Felipe Scolari. De novo sem material humano, ficou entre os quatro da Libertadores. Só sucumbiu para o Boca Juniors de Riquelme.

A essa altura, o carimbo de retranqueiro já estava colado na testa de Celso, que passou rapidamente pelo Santos e teve a sensibilidade de promover Diego e Robinho, respectivamente 16 e 17 anos, ao elenco profissional. Em 2003, foi sétimo do Brasileiro com o Atlético-MG, que só repetiria essa posição com ele, sete temporadas depois. Nesse intervalo, Roth deixou ótima impressão pelo Goiás, fez um Vasco que tinha Perdigão e Leandro Amaral sonhar com a Libertadores. Liderou a Série A por 17 rodadas com um Grêmio cheio de limitações em 2008. Perdeu para o São Paulo e ganhou mais cornetas.

Celso Roth foi resgatado pelo Internacional quando se preparava para fazer possivelmente outro trabalho elogiável sem títulos. Ele próprio derrubara Jorge Fossati do comando colorado e, durante a parada da Copa do Mundo, foi escolhido para dar novas cores ao Colorado. Instituiu o 4-2-3-1 e foi brutalmente superior a dois times copeiros como São Paulo e Chivas, tomando a América de forma inapelável com um estilo de jogo convincente, bonito e moderno.



O treinador Celso Roth mudou demais. Não foi só o bigode tipicamente gaudério que ele deixou pra trás, mas também o apreço pelo futebol defensivo. Incorporou mais tranquilidade no trato com a imprensa e até mesmo com os jogadores. A abertura a novas ideias, a habilidade para conduzir o vestiário e, esperam os colorados, para ficar com mais um título de máxima amplitude.

Só não lhe peça, como fizeram muitos torcedores do Inter, para readotar o bigode. Este é um novo Celso Roth, treinador de grandes trabalhos e também de título. De cara limpa.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O que ensinam os campeões

A medalha de campeão brasileiro está novamente no peito de Muricy Ramalho e isso merece uma reflexão. Afinal, nos últimos seis anos, ele levou quatro vezes e só não as outras duas por detalhes mínimos, já que liderou com o Palmeiras/09 por tanto tempo e só caiu com o Internacional/05 pela diferença de um nariz. Se o mesmo treinador consegue tantas vitórias, algo de especial geralmente tem. É claro que Muricy não é uma exceção.

O ponto aqui é tentar entender o que suas equipes ensinarão para o futebol. Em que espaço exatamente da história os times de Muricy Ramalho ficam encaixados? Na receita para a conquista deste Brasileiro com o Fluminense, o treinador tinha muitos ingredientes diferentes à disposição, mas novamente se utilizou dos mesmos procedimentos. Sinal de que não é um cozinheiro de grandes pratos, mas eficiente em absoluto. Muricy não ficará registrado pela forma como ganhou. Será lembrado porque ganhou.

Em outro tricolor, ele repetiu procedimentos há muito tempo conhecidos, mas aos quais ainda não se consegue superar nesta competição. Uniu em torno de si um clube onde as diferenças começam no portão de entrada, passam pelo vestiário e chegam até o gabinete do presidente. Com seu fico, Muricy reafirmou a envergadura moral que seu nome é capaz de sustentar. Forte, executou a proposta de jogo que atropela os adversários, um a um, quando o assunto é Campeonato Brasileiro em pontos corridos.

Isso ocorre principalmente se o intervalo entre as partidas é grande. Muricy consegue ter seus jogadores em ótimas condições físicas, treina à exaustão sobre as deficiências do adversário e faz variações táticas que normalmente deixam seu time confortável dentro de campo. O não dito à CBF foi um bem para o futebol brasileiro em todos os aspectos: primeiramente, trouxe mais senso de honestidade em um meio descrente. Depois, enrijeceu o Fluminense. Por fim, permitiu à seleção que tivesse um treinador mais ajustado às suas aspirações.

O perigo que chega com as conquistas de Muricy é o de que sua proposta seja a única capaz de se sobressair no futebol brasileiro. Sérgio Guedes, hoje treinador da Portuguesa, costuma dizer que sempre haverá um campeão, e que as pessoas tendem a achar ser aquela a receita do sucesso. É possível que haja 20 clubes na disputa e nenhum seja exemplo a ser seguido. Então, fundamental é absorver cada conquista com aquilo que ela ensina. José Mourinho triunfou por Internazionale, Chelsea e Porto com propostas absolutamente diferentes.


No Footecon, realizado dois dias após a conquista do Fluminense, os times mais mencionados eram a Espanha da Copa do Mundo e essencialmente o Barcelona de Guardiola, Xavi e Messi - essas são equipes que se incluem na história pela forma como conquistam seus triunfos. São os conjuntos que ensinam por que o passe é o fundamento mais importante do futebol. Desarmes, bolas aéreas, dribles, finalizações e todos os outros vêm depois. Se falou pouco além desse básico. Se esqueceu o Flu e as tantas vitórias de Muricy. Por que acontecem tanto?

As ideias discutidas no principal congresso de futebol do país, infelizmente, não saem do superficial. Resistimos a conceitos específicos, não falamos sobre tática, sobre preparação física e ainda achamos que só o craque resolve sozinho. Se justifica o comentário recente de Mano Menezes: até quando se dará risada quando alguém disser que tal time joga no sistema 4-1-4-1, por exemplo? Achamos mesmo que só existem 4-4-2, 4-3-3 e 4-5-1?

Vamos pouco além do óbvio e ainda achamos que os ex-jogadores são os mais capacitados fora de campo para transmitir o que aprenderam dentro dele. Daí a pertinência da pergunta do tetracampeão e estudioso Paulo Sérgio, a Carlos Alberto Parreira, durante uma palestra na Soccerex: será que nossos ex-atletas se prepararam para ocupar as posições importantes que normalmente desejam ocupar?

Com que conhecimento técnico, além do que fez de forma fantástica dentro de campo, Carlos Alberto Torres pode dizer que não houve nada novo na Copa do Mundo de 2010? Que o Campeonato Brasileiro atual é uma porcaria? Que Neymar nunca pode ser obrigado a marcar o lateral do outro time? Messi não faz isso em todos os jogos do Barcelona? Por que Neymar não pode fazer? Talvez por esse pensamento é que um clube europeu ainda resista a pagar mais do que 7 milhões de euros para um jogador da qualidade técnica de Elias, por exemplo.

Não se assiste tevê de alta definição nas telas de preto e branco. Não se operam mais pessoas com os instrumentos médicos da década de 70. Não se costuram mais roupas nos dias de hoje com os aparelhos do passado. Não se enviam mais reportagens com máquinas de escrever. Não se escreve atualmente com o dicionário de décadas passadas. Por que o futebol precisa ficar preso a velhos paradigmas e não ser visto como um esporte em constante mutação? Afinal, é feito por seres humanos.

Nesse sentido, ninguém está mais na história que o Barcelona de Lionel Messi, time que marcou 32 gols nos últimos 7 jogos pelo Espanhol. Será muito difícil olhar ao passado e encontrar mais do que três ou quatro equipes tão à frente de seu tempo em ideias e estratégias. É também o caso de Muricy Ramalho no Brasil: não encanta ao conquistar. Mas tem tantas conquistas que se torna um sujeito e profissional encantador. Cada campeão tem seu ensinamento.

PS.: Os 11 melhores do Brasileiro para este blog são: Fábio, Mariano, Dedé, Leandro Euzébio e Roberto Carlos; Elias e Jucilei; Montillo e Conca; Neymar e Jonas. Téc: Muricy Ramalho.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Dois dos melhores

Os últimos dias não têm sido nada fáceis, mas sempre busco um tempo que seja para não deixar esse blog. Os amigos sabem que podem me acompanhar no Olheiros e no Terra, de onde trago dois conteúdos muito especiais que publicamos nos últimos dias com um par de destaques do Campeonato Brasileiro.


Primeiro, simplesmente o melhor jogador desta edição da Série A. Dario Conca fala a fase maravilhosa de sua carreira, explica o porquê de não vingar na Argentina e dá mais detalhes da identificação com Muricy Ramalho e o Fluminense.

Confira aqui:
Da casa de Conca, Terra conta segredos do melhor jogador do Brasileiro
Conca e Montillo: de esquecidos na Argentina a astros no Brasil


Depois, uma conversa com o corintiano Julio Cesar, uma das maiores surpresas do Brasileiro. Sem dúvida, Julio esteve entre os jogadores que mais evoluíram nos últimos meses, deixando para trás o rótulo de reserva eterno para se transformar em uma das referências entre os arqueiros desta Série A.

Confira aqui:
De reserva quase eterno a destaque do ano: saiba mais de Julio Cesar

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Saudades do 9 e do 10

Robinho de costas para a zaga: ele não é um camisa 9


A proposta de Mano Menezes para escalar o Brasil contra a Argentina é louvável: reunir o máximo de talentos possíveis foi o preceito básico para a definição do onze titular, mas faltaram personagens fundamentais dentro de campo. Em especial, o camisa 10 e o camisa 9. Ronaldinho, Robinho e Neymar, os homens mais ofensivos, não fazem nenhum desses dois papéis.

Mano tentou se esquivar, mas o futebol tem códigos primários dos quais raramente se consegue fugir. Tivesse um organizador nato como Paulo Henrique Ganso em campo, é provável, o Brasil teria tido mais profundidade em suas jogadas de frente e mais fluidez com Daniel Alves e André Santos. Outra virtude de Ganso é a de arrastar a marcação para o lado do campo e abrir espaços aos volantes.

São movimentos que Ronaldinho Gaúcho, a quem se tentou atribuir o papel da criação, não domina com perfeição. Ronaldinho é ponta de lança em sua essência. Não um organizador. Talentoso que é, pode ser capaz de passes mágicos e imprevisíveis a qualquer momento. Conseguiu fazer nos primeiros momentos com a Argentina, mas foi murchando conforme a marcação da Argentina se encaixou. O azar de Mano é que Ganso é um jogador raríssimo. Daí a baixíssima posse de bola de 45% para os brasileiros em um confronto em que normalmente é protagonista.

Parte dos insucessos ofensivos do Brasil, o que independe do ocasional gol marcado pelo talento fantástico de Lionel Messi, também se devem à falta de uma referência. Poucas vezes se viu a seleção de Mano prender os argentinos na área, criar alternativas a partir da bola aérea ou mesmo arriscar uma finalização improvável. São situações que normalmente saem dos pés de um centroavante de ofício. Poderia ser Hulk, o único 9 disponível e efetivo em grande fase, mas não foi lembrado.

Alexandre Pato naturalmente seria esse jogador, mas nos próximos anos será fundamental encontrar uma alternativa. Alguém que tenha verdadeira obsessão de finalizar em um time que, por sua essência, criará oportunidades a dar com pau. Contra a Argentina, mesmo com menos posse de bola e problemas, o Brasil teve quase o dobro de finalizações: 15 contra 9. O pecado foi acertar apenas cinco no gol do fraco Romero.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

As duas identidades do He Man


Rafael Moura ficou notabilizado como um jogador tosco e até hoje paga seu preço por essa fama. No Campeonato Brasileiro deste ano, contribuiu para isso ao ser expulso tolamente contra o Flamengo, por exemplo, ou ao agredir um repórter em conjunto com Emerson Leão, no Barradão, diante do Vitória. Também saiu por baixo do Corinthians, foi afastado do Atlético-PR por vários meses, fracassou no futebol francês e ainda foi horroroso com a camisa do Fluminense.

O mais curioso é que Rafael Moura não é um jogador tão medíocre assim. Tem seu valor, inclusive. Pelo Corinthians, em 2006, chegou a fazer sete gols nas 10 primeiras rodadas do Campeonato Paulista. Com o Atlético-PR, dois anos depois, marcou nove vezes em 15 jogos. Na temporada seguinte, foi liberado com um índice de 19 gols em 36 partidas.

São números de respeito para o He Man. Para se utilizar de uma palavra da moda, o atacante esmeraldino é, digamos, bipolar. Nos últimos 20 jogos do Goiás, Rafael Moura marcou 13 gols - o time fez 28. Pela Copa Sul-Americana, marcou todos os três no confronto com o Avaí e dois dos três no duelo com o Peñarol. No Engenhão, domingo, impediu a vitória do Fluminense.

Tudo bem, você dificilmente sonha em ter Rafael Moura no seu time. Ele é grosso, não sabe dominar a bola corretamente e está sempre disposto a explodir. Se não vive uma boa maré, é capaz de perder gols incríveis.

Não é o caso neste momento: o He Man vive um momento especial e, se há um jogador capaz de tirar o Palmeiras da final da Copa Sul-Americana, é ele mesmo. O Goiás se reorganizou com Artur Neto, mostrou fibra no Engenhão e certamente vai cair no Campeonato Brasileiro. Mas ainda vai tentar terminar o ano de uma forma menos vergonhosa.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os pênaltis e Sandro Meira Ricci


Há uma grande divisão de opiniões sobre o pênalti de Gil em Ronaldo, marcado por Sandro Meira Ricci, sábado, no Pacaembu. Inicialmente, é preciso dizer que o árbitro não está entre os que mais marcam penalidades: em 20 partidas dele, foram seis assinaladas.

Algumas controversas, como a que favoreceu o Santos, recentemente, em clássico com o São Paulo. Neymar invade a área, tromba com Alex Silva e ele marca pênalti. Também aconteceu no duelo de poucas semanas atrás entre cruzeirenses e atleticanos, quando o time celeste teve uma penalidade a seu favor após um salseiro na área do rival. Montillo isolou a cobrança.

Curiosamente, e foi pouco lembrado, Ricci deu pênalti para o próprio Corinthians, contra o Cruzeiro, no primeiro turno. A bola bate no braço de Everton e ele põe na marca do cal. Bruno César cobrou mal, porém, e Fábio pegou com os pés. Os cruzeirenses somaram três pontos naquela noite de quarta-feira.

Ricci, inclusive, marca poucas faltas na comparação com outros juízes: sua média é de 34 por jogo, número inferior ao de 10 árbitros que estiveram em ao menos nove jogos neste Campeonato Brasileiro. O apitador brasiliense, entretanto, só não comandou mais partidas que Carlos Eugênio Simon: 20 para ele contra 22 do gaúcho. Concorrem ao prêmio de melhor juiz da Série A.

Ainda em números curiosos: o Corinthians é a segunda equipe a ter mais pênaltis marcados a seu favor no Campeonato Brasileiro: 11, atrás apenas do Santos, que teve 12 (sendo 7 só de Neymar). Já o Cruzeiro só tem cinco clubes em sua frente no ranking de pênaltis cometidos: já fez 7, contagem inferior apenas de Prudente (10), Grêmio (9), São Paulo (9), Avaí (8) e Goiás (8). Contra os corintianos, só duas penalidades em 35 jogos.

Por fim, a opinião que não pode faltar: no Pacaembu, foi pênalti infantil do atrapalhado Gil em Ronaldo. Não foi de Julio Cesar em Thiago Ribeiro. E também foi pênalti, sim, de Ernando em Rodriguinho no confronto de Fluminense e Goiás.

Prudente e Santo André: mais duas "vítimas" de um bom Campeonato Paulista


Se para clubes grandes do Brasil já é difícil trabalhar com planejamentos anuais, imagine os pequenos. Grêmio Prudente, rebaixado na Série A, e Santo André, lanterna e prestes a cair na Série B, são os novos casos de uma regra que já se tornou lei no futebol paulista: ser destaque no Campeonato Estadual significa sofrimento pelo resto ano. Fatores como o assédio dos clubes grandes, a dificuldade em manter um ambiente competitivo por 11 meses e a falta de recursos acabam minando esses times.

Com o rebaixamento confirmado no domingo, o Prudente já soma o terceiro pior aproveitamento da história do Brasileiro por pontos corridos, com 25,7% dos pontos conquistados. Sem ambição nas rodadas finais, é provável que caia um pouco mais e ultrapasse ainda o Santa Cruz/06, que chegou a 24,5%. Semifinalista do Paulistão, o ex-Barueri passou por uma série de problemas, atrasos salariais, saída de dirigentes importantes e teve que pagar, dentro de campo, um preço por isso.

Além de tudo, o Prudente precisou lidar com perdas importantes no elenco, fato comum à queda de times que fazem um bom Paulista e sofrem. Referências como o zagueiro Paulão, o volante Marcos Assunção, o meia Flavinho e o atacante Tadeu, foram negociadas. O goleiro Márcio, em ótima fase sob as traves, teve lesão grave. Toninho Cecílio, que vinha em ótima sintonia com o clube, foi para o Vitória. Foi o único treinador a conseguir extrair bons resultados do time na temporada.

Fenômeno idêntico sofreu o Santo André, que por uma bola na trave não tirou o Paulista do Santos de Robinho, Neymar e Ganso. Os laterais Rômulo (Cruzeiro) e Carlinhos (Flu), o zagueiro Cesinha (Vasco), o volante Alê (Atlético-MG), os meias Bruno César (Corinthians) e Branquinho (Atlético-PR) e os atacantes Nunes (Vasco) e Rodriguinho (Flu) foram negociados.

Bem alinhado à direção andreense, Sérgio Soares tentou permanecer até onde foi possível e reformular o elenco. Na Série B, jamais deixou de conviver com a zona do rebaixamento e partiu para o desafio de colocar o Atlético-PR na Copa Libertadores de 2011. A três rodadas do fim da competição, ocupa uma quarta posição inédita para o clube até nos tempos de Carpegiani. É mais um a ter deixado o Bruno José Daniel para um objetivo maior. Com os cofres cheios, o Santo André começará o próximo ano na Série C. Valeu a pena? Para os dirigentes, provavelmente sim.

Nos últimos seis anos, só houve um clube que não fosse grande a terminar entre os primeiros no Estadual e conseguir um grande objetivo no segundo semestre: o Bragantino, em 2007, semifinalista no Paulista e campeão da Série C. Mesmo assim, vários nomes daquele time, como o goleiro Felipe e o atacante Everton Santos, foram negociados. Marcelo Veiga saiu para o América-RN, fracassou, e voltou a tempo de vencer a terceira divisão.

O Bragantino é um caso raríssimo no futebol paulista, que em 2010 provavelmente não conseguirá subir nenhum clube de divisão. A Portuguesa, quinto lugar da Série B, é a única esperança. Santo André e Prudente, caindo pelas tabelas, são as regras.

Outros destaques do Paulista que decaíram:

Ponte Preta/08: vice estadual e quinto lugar na Série B
Guaratinguetá/08: semifinalista estadual e mal na Série C
São Caetano/07: vice estadual e décimo lugar na Série B
Noroeste/06: quarto lugar estadual e fora na terceira fase da C
St André/05: quarto lugar estadual e fora no quadrangular da B

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Adílson e Santos: casamento que pode dar muito certo


Confirmado pelo Santos nesta segunda-feira, Adilson Batista parece ser a melhor escolha após os previsíveis insucessos em negociações por Abel Braga e Paulo Autuori. Em que pese o fato de o novo treinador ter conquistado rejeição por sua passagem pelo Corinthians (que pode custar o título brasileiro ao Timão), Adilson e os santistas têm tudo para fazer um casamento feliz.

Ao contrário do que ocorreu no Parque São Jorge, onde não se ajustou à comissão herdada de Mano Menezes, Adilson Batista chegará ao Santos com seu próprio preparador físico, preparador de goleiros e auxiliar técnico. No Corinthians, ele já tentara levar seus homens de confiança, mas a diretoria do clube não aceitou. Esse foi um dos pontos fortes para seu insucesso no Parque São Jorge, mas não se repetirá na Vila Belmiro.

No Santos, o novo treinador encontrará um elenco de características favoráveis a seu estilo de jogo. Adilson gosta de jogo ofensivo, variações, velocidade, deslocamento, tabelas e, principalmente, de um time que faça muitos gols e crie com facilidade. No Corinthians, tentou fazer essa transição durante o Brasileiro. Até teve sucesso até certo momento, mas perdeu a linha quando ficou sem vários titulares. Na Vila também deve ser diferente.

Adilson terá toda a pré-temporada à disposição para dar sua cara ao Santos, diferente de um Corinthians que estava pronto para jogar com características muito diferentes. O novo comandante, ainda, deve usar o mercado de dezembro/janeiro para realizar os ajustes que considera ser importantes no elenco. A intenção santista de comprar jogadores jovens também é ponto positivo para ele.

Bastante chamuscado pela queda no Corinthians, Adilson terá uma oportunidade de ouro para reconquistar o prestígio adquirido por tudo o que fez no Cruzeiro. Parece ter feito a escolha ideal para isso, bem como o Santos ao apostar nele para 2011.

domingo, 7 de novembro de 2010

Tartá, outro domável ressuscitado por Muricy
Corinthians dos clássicos na mão de seus rivais
Cruzeiro que não leva gols é de Thiago Ribeiro

Muricy Ramalho e os jogadores jovens, nos tempos de São Paulo, raramente tinham bom relacionamento. A esperança era que Sérgio Mota, Aislan, Oscar e Wellington virassem craques. Muricy, inflexível, sempre exigia mais e os garotos normalmente vinham mimados de Cotia. Não é por acaso que as principais revelações do treinador, no Morumbi, tenham sido os desacreditados Hernanes e Jean, sempre dispostos a trabalhar e jogar em várias posições. No Fluminense, que caminha para o título do Campeonato Brasileiro depois de bater o Vasco nesse domingo, a história se repete.

Depois de lançar e fixar Fernando Bob, reserva absoluto no Avaí-09, Muricy desprezou o promissor e marrento Wellington Silva para apostar todas as suas fichas em Tartá, esquecido após empréstimo ao Atlético-PR. Em seu terceiro jogo no Brasileiro, no Engenhão contra o Vasco, o jovem meia foi o principal personagem. Aberto à direita, prendia o limitado Max na defesa e flutuava às costas dele e dos volantes. Assim, criou a jogada do gol, concluída por ele próprio no rebote. Competitivo, Tartá é tudo o que seu treinador precisa para se manter, pelo sexto ano consecutivo, na luta pelo Brasileiro.


Logo atrás, no cangote, vem um Corinthians cada vez mais impiedoso diante de grandes rivais paulistas. Venceu o São Paulo novamente, o que lhe fará terminar 2010 com aproveitamento acima de 80% nos duelos regionais, o melhor índice desta década. Foram sete vitórias, um empate e só uma derrota contra palmeirenses, santistas e são-paulinos neste ano. Independente de Mano Menezes, Adilson Batista ou de um cada vez mais aclimatado Tite.

No Morumbi, o Corinthians teve uma etapa inicial fechado e organizado, pronto para uma escapada como a que Jucilei, o melhor volante deste Brasileiro, arranjou para dar o gol a Elias. Após o intervalo, Tite e os corintianos disseram não para a retranca e, impulsionados por ótimas defesas de Julio Cesar e grandes jogadas de Dentinho, construíram um placar perfeito. O Timão cresce absurdos, mas a notícia ruim é que os jogos do Flu são contra Goiás (casa), São Paulo (fora), Palmeiras (fora) e Guarani (casa). Ou seja, o Corinthians está nas mãos de seus dois maiores rivais.


O Cruzeiro, derrotado como mandante em dois jogos consecutivos, resgatou o sistema de três zagueiros, que ainda não havia utilizado desde o fim do primeiro turno, para retomar o caminho de sucesso que tem com Cuca. Se com Adilson era o time do ataque, com o novo treinador é o time da defesa, ilesa diante do Vitória. A melhor retaguarda do Brasileiro, com Palmeiras e Botafogo, não foi vazada em 14 dos 27 jogos que fez com seu atual técnico.

Na frente, não é preciso muito para marcar, basta ter Thiago Ribeiro. Único atacante celeste no Barradão, ele fez o sétimo no Brasileiro, em que também tem 10 assistências - o melhor nesse fundamento depois de Conca. O Cruzeiro precisará de muito mais, no Pacaembu, para derrubar o Corinthians e assediar o Fluminense. É a chance de levar o título brasileiro para as Minas Gerais. É matar ou morrer para Cuca.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Grandes entrevistas


Por duas sextas-feiras consecutivas, trouxemos no Terra grandes entrevistas com dois jogadores brasileiros que vêm fazendo ótimo papel na Europa.

À frente da Lazio, Hernanes rapidamente se tornou coqueluche do futebol italiano, liderando uma modesta equipe laziale à ponta da Serie A.

- Dono da Lazio, Hernanes já impressiona Itália e lembra Verón

De volta à Rússia, por sua vez, Vagner Love já repete a sequência de gols incrível que havia feito no Flamengo, o que faz dele a maior referência da Premier Liga no segundo semestre deste ano.

- Decisivo, Love reconquista a Rússia e vive melhor ano da carreira
- Saiba mais do "protegido de Love na Rússia

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Simplicidade é o grande mérito de Tite


Em entrevistas, Adilson Batista jamais admitiu a verdade e sempre afirmou que fizera alterações mínimas em relação ao Corinthians de Mano Menezes. Nas suas poucas palavras, resumia isso ao novo posicionamento de Elias, mas omitia os laterais espetados, as várias improvisações e a zaga desprotegida. Claro que existiam virtudes, como a transição dinâmica e a facilidade em criar espaços com rapidez e invadir a área rival. O fato é que os desfalques e problemas internos foram fatais para Adilson, que foi substituído por um Tite preocupado apenas em zerar o que seu antecessor havia tentado mudar.

Com um treinador gaúcho tal qual Mano, o Corinthians rapidamente voltou a ser um time seguro, concentrado e consciente em seus movimentos. Assim como era com Mano, também é preso à defesa em alguns momentos, como foi contra o Flamengo. E é bom lembrar que situações como a que ocorreu no Engenhão, há uma semana, também ocorriam com o treinador da seleção brasileira.

Tite fez o simples: laterais avançam de forma coordenada, a marcação não é definida de forma individual e suicida, recomposição é eficiente e todos os jogadores atuam na sua posição. A começar por Bruno César, que atuando centralizado, marcou contra Palmeiras e Avaí, além de servir Ronaldo contra o Flamengo. Na prática, o comandante cumpriu o que havia prometido em sua apresentação: simplificar para vencer de novo e recuperar a confiança.

Não é nada não é nada, o Corinthians se vê na melhor situação de tabela desde a rodada 25, quando tinha um ponto e um jogo a menos que o líder Flu. Enquanto o Cruzeiro se ressente de gente experiente e capaz de definir em momentos agudos, a equipe de Tite cresce. Parece o mais próximo adversário do Fluminense de Muricy Ramalho, ainda o time a ser batido nas cinco rodadas finais.

Matérias indicadas:
Saiba mais do efeito de Tite no Corinthians
Adilson exagera em improvisos e reencontra fama de inventor

White Hart Lane: de cemitério a berçário


Cemitério de promessas: foi esse o rótulo que o Tottenham ganhou por pagar muito a jogadores promissores que quase nunca davam em nada. Casos de Prince Boateng, Taarabt, Postiga, Kanouté, Rebrov e tantos outros. Mas a afirmação do atual time de Harry Redknapp, responsável por uma expressiva vitória continental sobre a Internazionale na terça, vai justamente de encontro a essa sátira que orbitou por anos no entorno de White Hart Lane. Jogadores como o magistral Gareth Bale, o inventor Modric, o lépido Lennon, o gerente Huddlestone e até o estabanado Kaboul são os responsáveis pela fase incrível do Spurs.

Em comum entre todos eles o fato de serem jogadores em afirmação, o que se ratificou contra a Inter em White Hart Lane. Modric está cada vez mais habituado às funções de meia central, função que tardou a ocupar por seu estilo pouco combativo para a Premier League. Por ali, tem a visão periférica ampla para dar passes lindos como o que permitiu a Van der Vaart inaugurar o marcador contra a atual campeã europeia.

O que dizer então sobre Gareth Bale? Autor de três gols no San Siro, ele reencontrou a Inter e engoliu o melhor lateral direito do futebol mundial com extrema naturalidade. O galês, por quem os Spurs pagaram uma quantia razoável há três anos, reencontrou o futebol que encheu os torcedores do Tottenham de expectativa em sua chegada. Teve sérias lesões, perdeu a confiança, mas com Redknapp se projeta como uma das grandes figuras da temporada após ter participação decisiva na volta de sua equipe à Liga dos Campeões em 2009/10. Arrassou Arsenal e Chelsea na mesma semana, por exemplo, na última Premier League.

O crescimento de nomes como Modric e Bale, potenciais jogadores de classe mundial, faz o Tottenham sonhar grande, de acordo com suas tradições. Até faz o time gastar menos, contrariando a lógica recente da extravagante direção do presidente Daniel Levy. Na última janela, os Spurs abriram o caixa para a saída de "apenas" 20 milhões de euros - foi o mercado mais modesto do clube em oito anos.

Não quer dizer, porém, que o Tottenham não esteja atento. Metade do investimento foi feito em Sandro, a melhor aposta para o futuro a se fazer na classe de jovens volantes brasileiros. Campeão da Libertadores e virtual titular nos Jogos Olímpicos de Londres, o colorado tem tudo para ser mais um a crescer e se afirmar no White Hart Lane. De cemitério de promessas, se tornou o berçário para craques como Bale e Modric.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A dupla de Mainz que revigora a Bundesliga


Domingo passado foi dia de duelo de líderes na Alemanha. O então primeiro colocado Mainz recebeu o então vice-líder Borussia Dortmund em um encontro especial para os dois treinadores: o anfitrião Thomas Tuchel e o agora visitante Jürgen Klopp. Comandantes dos times que dominam a atual edição da Bundesliga, ambos os técnicos têm como ponto de partida em suas carreiras, justamente, o mesmo Mainz 05.

Ambos muito jovens e com características absolutamente destoantes da classe de treinadores que predomina na Bundesliga, Klopp e Tuchel têm dominado as manchetes desse início de temporada. Muito disso se deve não apenas à fase das duas equipes, mas também da forma como se impõem técnica e taticamente, mesmo com um nível de investimento ínfimo perto de ricaços como o Bayern de Munique, o Schalke 04 e também o Wolfsburg, principal protagonista do último mercado de verão na Alemanha.

Klopp é considerado o grande treinador da história do Mainz. Em 2005, colocou o modesto clube pela primeira vez na elite da Bundesliga. Na temporada seguinte, o levou até a Copa da Uefa, o que abriu os olhos de um combalido Borussia Dortmund. Carismático, taticamente acima da média e acima de tudo competente, foi sexto com o Dortmund em sua primeira época, 2008/09. Terminou o segundo ano de trabalho um degrau acima, em quinto, e chegou a flertar com vaga na Liga dos Campeões. Agora, mesmo sem muito dinheiro no caixa, já cobiça o título.

Tuchel, pode se dizer, é um seguidor de Klopp, a quem reencontrou no domingo. Treinador do time sub-19 do Stuttgart, participou da revelação de alguns dos talentos, como Khedira, que deram o título nacional ao clube há dois anos. Partiu em seguida para a base do Mainz, onde foi campeão alemão júnior. Era a senha para ser promovido ao time principal, cambaleante desde a saída de...Klopp! Na temporada de estreia, vindo da segunda divisão, foi nono colocado. É reconhecido como um grande motivador, caçador de talentos e ótimo arrumador de equipes.

O confronto de domingo escancarou a grande forma de Borussia Dortmund e Mainz. Ambos realizaram um confronto franco, em que prevaleceu a atitude muito mais vitoriosa do Dortmund. Com a primeira linha defensiva fortíssima, o time de Klopp arrefeceu as investidas do anfitrião o tempo quase todo. Pela frente, dominou o Mainz com a liderança de Barrios, a velocidade de Kagawa e o talento do jovem Götze.

Foi o resultado a favor de um time pronto contra um time em formação. A constatação de que a Alemanha tem dois jovens e ótimos treinadores.

domingo, 24 de outubro de 2010

Do que se alimenta Felipão


Trabalhar durante a semana de um Corinthians e Palmeiras exige muito dos treinadores. O ambiente deve ser muito bem preparado, entrevistas devem ser contidas e os jogadores devem ser mais motivados. Nos treinamentos, todos os detalhes da marcação são definidos, a bola parada é cercada de cuidados e é fundamental tentar dificultar as informações que o adversário vai receber. Ninguém no futebol brasileiro, quiçá mundial, domina tão bem esses dias quanto Felipão.

O bom e velho Luiz Felipe Scolari, terceiro colocado do returno do Brasileiro e em voo tranquilo na Copa Sul-Americana, reapareceu definitivamente nesta semana. Anunciou que Valdívia estava fora do clássico, mas já na quarta-feira surpreendeu a todos por colocá-lo em campo contra o Universitário Sucre - o chileno sequer estava relacionado. Felipão ainda anunciou uma estranha contusão de Pierre, promoveu o jovem lateral Luís Felipe e disse que poderia lhe escalar e até considerou utilizar o meia-atacante Patrick nesta função.

Felipão, que naturalmente fechou os treinamentos de sexta e sábado, ainda utilizou artimanha que deve ter deixado Tite de orelha em pé. Márcio Araújo estava suspenso por terceiro cartão amarelo, mas o treinador e o Palmeiras solicitaram à CBF que revisasse os cartões, já que desconfiam que o amarelo foi dado a Tinga. A resposta desse requerimento foi secreta, mas pode colocar Márcio no clássico.

O gaúcho de Passo Fundo é mestre nesse jogo psicológico e por isso, ao longo da carreira, obteve seus grandes resultados sempre em torneios de mata-mata, competições que no futebol brasileiro, não por acaso, foi dominada por técnicos gaúchos. Como não lembrar de quando
Felipão engessou a perna de Arce antes de Grêmio e Portuguesa? Ou das provocações a Edílson antes dos duelos com o Corinthians na Libertadores? Ou de quando divulgou o peso dos atletas para denunciar os gordinhos à imprensa?

O esforço de Felipão em tentar dificultar a corrida do Corinthians pelo título e a forma como ele vive o clássico dizem muito sobre o estágio de sua carreira. Ao contrário do que se imagina, não está de barriga cheia e, por mais que tenha se tornado mais contido nas entrevistas, ainda tem fome. Scolari costuma dizer que jogador bom é jogador com fome - ele também tem isso. E se alimenta de jogos como o dérbi deste domingo.

Matérias sobre o clássico no Terra:

- Saiba mais das ligações do corintiano Tite com o Palmeiras
- Conheça o "vira casaca" que virou aposta de Felipão
- Misterioso, Tite fala pouco e reserva 2 formações no Corinthians

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um sonho ludopédico

Havia acabado de chegar do trabalho. Lembro-me de correr mais de 500 metros alucinadamente para alcançar o portão de casa antes que o narrador desse as duas escalações. No meio do caminho, pude ouvir televisões em alto e bom som e o tema de encerramento da novela das oito anunciava que o jogo da seleção brasileira estava prestes a começar. As ruas estavam desertas, as pessoas dentro de casa como se o estado de sítio, dos tempos da ditadura, houvesse sido declarado. Se quisesse, acho até que eu poderia ter corrido nu. Passaria despercebido. Naquela noite, todos tinham um objetivo muito mais importante: ver Pelé em campo com a camisa amarelinha.

Já dentro de casa, lembro-me bem de ouvir o narrador anunciando a escalação brasileira. Em nosso ataque estavam Ganso, Neymar, Alexandre Pato e Pelé. O Maracanã, para receber a Argentina, estava repleto. Pintado em verde e amarelo. É final de Copa do Mundo, mais de 60 anos após o Maracanazo, e a legião de grandes craques fazia o Brasil todo sonhar com o hexa. Lembro-me de Mano Menezes. Na beira do gramado, já com a bola rolando, gritava enlouquecidamente com os jogadores. Sinal claro de que aquela noite era, de fato, especial.

A sensação de medo durou muito menos do que se poderia supor. Em só 30 minutos de bola, Pelé fez o que quis. Dois belos gols e um passe preciso para Neymar deixar o dele. Com o Rei em campo, jamais poderíamos perder o hexa. Deveria haver mais uma hora de partida até o apito final para minha alegria, mas ela se encerrou subitamente com um som que parecia alfinetar meus ouvidos. Era o despertador soando de forma alucinada. Eu estava convocado para outro dia de trabalho.

Os minutos se passavam, meu rosto já estava limpo, mas a perturbação ainda tomava conta. Me perguntava por que eu não podia ter o mesmo privilégio de tantos milhões e bilhões de mais velhos e antepassados. Por que, Deus, não era merecedor daquela honraria? Por alguns minutos, em minha consciência, vi o Rei do Futebol em campo. Ao vivo e até em cores. Será que o Senhor não poderia inventar uma máquina do tempo onde voltassemos ao passado? Será que, em algum momento, poderia me permitir ver Pelé em ação?

Tudo bem, o Senhor nos ofereceu a genialidade de Messi para resolver as coisas rapidamente em um curto espaço físico com beleza e precisão. Nos deu a conclusão perfeita de Romário. Conseguimos ver Ronaldo atropelar marcadores com uma força física combinada com uma técnica singular. O Senhor também nos deu a visão de jogo e a elegância de Zidane. Ora, devo lembrar, também a potência de Cristiano Ronaldo. A liderança e o exemplo de Maldini, a classe de Redondo, as bolas paradas de Zico. O giro de Drogba sobre os zagueiros, a impulsão e o cabeceio perfeito de Batistuta. A frieza de Bergkamp. Até a malícia de um uruguaio para se livrar de um marcador desleal.

Sinceramente, a quem me ouve, acho que trocaria todos eles por Pelé. Digo mais: por um só jogo de Pelé ao vivo. Ele foi todos esses em campo e, quem já pôde ver, tenho certeza, não se esqueceu. Em um cochilo rápido, achei ter realizado meu maior sonho ludopédico. Acordado, não tive dúvidas. Ainda me sinto incompleto.

O erro na avaliação sobre Ronaldinho Gaúcho




A dificuldade de Mano Menezes em encontrar uma alternativa para o lugar de Paulo Henrique Ganso fez ressurgir o nome de Ronaldinho Gaúcho para a seleção brasileira. O início de temporada do craque no Milan nem é tão empolgante assim, mas se cogitou vê-lo com a amarelinha graças ao tour do treinador pela Europa. O xis da questão é que, em duelos de alto nível, há tempos Ronaldinho não serve para a função que Ganso executou próximo da perfeição contra os Estados Unidos.

Diante do Real Madrid, Ronaldinho foi vítima de um time risível perto da força que José Mourinho já consegue tirar de sua equipe. Especialmente em valores individuais, o Milan de Storari, Abate, Bonera, Zambrotta e Gattuso não tem como competir com os grandes da Europa. Pior, para os rossoneri, foi condicionar toda a produção ofensiva à performance do meia-atacante brasileiro, espremido pela marcação competente de Khedira e Xabi Alonso.

É evidente que Ronaldinho pode ser bastante útil para a seleção brasileira, mas pensar nele como alternativa a Ganso é um erro. No DNA de jogo dele está a alcunha de atacante. Suas maiores virtudes são os dribles e as conclusões, embora seja também um ótimo garçom. O tempo também fez de Ronaldinho um atleta de poucos deslocamentos pelo campo. É incompreensível imaginá-lo formando um tripé com Lucas e Ramires para iniciar o jogo da seleção na defesa. Tampouco, como tenta Allegri no Milan, fazê-lo municiar por todo o tempo Ibrahimovic e Pato, dupla que pede um trequartista eficiente e não mais um ponteiro.

Os movimentos de Ronaldinho estão todos condicionados à faixa esquerda do campo. Os dribles são diferentes, a movimentação e a visão periférica são outras, as obrigações são completamentes distintas e o acabamento que se dá às jogadas também. A marcação que se recebe na faixa central, aliás, é muito mais forte, e a velocidade de raciocínio precisa ser instantânea. São códigos de jogo que Ronaldinho não tem e é possível que nunca tenha tido.

Claro, alguém dirá que ele é um craque e craques se adaptam a outras funções. Roni, porém, dificilmente atuará a 100% como um armador: seja no 4-2-3-1 do Brasil, seja no 4-3-1-2 do Milan. Esperto e minucioso, Mano Menezes deve ter percebido isso no Bernabéu. Sensato, sabe que o fracasso rossonero contra o Real não foi culpa de Ronaldinho. Seu talento é quase único e não pode ser descartado. Deve ser aproveitado naquilo que melhor pode oferecer.


Aqui, o posicionamento tático de Ronaldinho. A imagem é do blog Olho Tático do amigo André Rocha no Globoesporte.com

domingo, 17 de outubro de 2010

Os vacilos dos líderes equilibram a tabela a oito jogos do fim


Derrota do Cruzeiro, empates de Fluminense e Corinthians e derrota do Santos. A rodada de número 30 do Brasileirão foi mais uma recente em que os times da frente não conseguiram vencer, o que vai provocando uma aproximação maior entre o G-3 e os ocupantes do meio de tabela. No ano passado, a distância entre o eventual campeão, Flamengo, e o então líder, Palmeiras, era de seis pontos. Exatamente a que os santistas, aparentemente os últimos que podem pensar em título veem para os cruzeirenses hoje. Mas será que o Grêmio, a oito da ponta, não deve sonhar também?

O Corinthians, nas sete jornadas recentes, fez só 3. E ainda perdeu um jogo atrasado. O Fluminense, de tabela dura, só somou 2 dos 12 pontos que disputou, e caiu em confrontos diretos com Santos e Cruzeiro. O Botafogo, pasme, empatou os últimos oito jogos. O Internacional, em condições normais o melhor time do Brasil, somou três dos 12 recentes. Tudo isso faz a tabela ficar com os times mais próximos do que na rodada 22.

Se considerarmos as últimas nove rodadas desde então, pouco menos de 25% do Campeonato Brasileiro, os gremistas é quem têm o melhor aproveitamento: 20 de 27 pontos disputados. O incrível Atlético-PR e o Palmeiras de Felipão fizeram 18. O Cruzeiro teve 17 e virou líder. O São Paulo venceu todos os jogos com Carpegiani e já aparece no retrovisor dos primeiros com 15 nesse período.

É importante notar que um novo campeonato começa a partir de agora, já que serão só oito jogos em sete semanas. Fluminense e Corinthians devem novamente ter times mais inteiros e as equipes de Muricy Ramalho, particularmente, sempre crescem nessa parte da competição. Tite, bom de treino, poderá arrumar o onze titular corintiano. Com o elenco fisicamente melhor, também o ultra motivado Grêmio pode jogar com ainda mais intensidade. O Cruzeiro de Cuca, muito centrado em Montillo e com vitórias apertadas, deve precisar de um salto de qualidade para manter a ponta.

Com partidas mais distantes uma das outras, a tendência é que os times mais fortes voltem a se impor mais uma vez. Mas em um país onde a diferença entre as equipes não é realmente tão grande, até o Grêmio, a oito pontos do Cruzeiro, pode sonhar. Até porque, em confronto direto, venceu o rival com ótima atuação - e uma arbitragem trágica de Paulo César de Oliveira.

Nesta rodada em particular, deve ser citado também o bom retorno de Ronaldo, acima da expectativa que era baixa, e uma razoável melhora de um ainda esfacelado Corinthians. Flu e Botafogo fizeram clássico movimentado e sem gols, diferente de Santos e São Paulo: o time de Marcelo Martelotte falhou no salto que precisava, já que chegaria à terceira posição, e Carpegiani faz Ricardo Oliveira e Dagoberto se afinarem muito bem. O Atlético-MG conta as horas para deixar a zona de rebaixamento e caminha sem Luxemburgo, que dá nova vida ao Flamengo. Que campeonato imprevisível!

A classificação do Brasileiro nas últimas nove rodadas*

1) Grêmio - 20
2) Atlético-PR - 18
3) Palmeiras - 18
4) Cruzeiro - 17
5) São Paulo - 16
6) Fluminense - 15
7) Internacional - 15
8) Santos - 14
9) Flamengo - 14
10) Corinthians - 12
11) Atlético-GO - 12
12) Goiás - 11
13) Vasco - 10
14) Ceará - 10
15) Vitória - 10
16) Atlético-MG - 10
17) Botafogo - 8
18) Avaí - 7
19) Guarani - 5
20) Grêmio Prudente - 4

* Não conta os jogos atrasados do último meio de semana

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O processo eleitoral no meio do Brasileirão do Flu


Fluminense e Cruzeiro, e quem sabe também Corinthians e Santos, devem chegar às últimas rodadas do Campeonato Brasileiro em disputa feroz pelo título. Nas Laranjeiras, isolar o elenco de um processo eleitoral que se anuncia bastante problemático será uma das grandes missões de Muricy Ramalho. O pleito, provavelmente entre Julio Bueno, apoiado por Roberto Horcades, e Peter Siemsen, apoiado pela Unimed, será apertadíssimo.

Para se ter uma ideia do clima: o presidente Horcades só precisa escolher o dia da votação com duas semanas de antecedência, desde que seja na segunda quinzena de novembro. Por isso, até aqui vem segurando a definição, o que para a chapa de Peter Siemsen é considerado uma afronta, já que uma parte razoável de seus eleitores estão espalhados pelo Brasil. Marcar o pleito em cima da hora significa atrapalhar a agenda de quem prefere Peter.

No Internacional, que passará por processo semelhante ainda em 2010, a derrocada do Grêmio no Campeonato Brasileiro é lembrada para que cuidados sejam tomados. Naquele ano, a política gremista, bastante ferrenha, chegou ao vestiário de Celso Roth. Blindar o elenco do Fluminense e evitar problemas do tipo será a maior tarefa de Muricy.

No cenário político das Laranjeiras, aliás, afastar o time de problemas é algo cotidiano. Salários de jogadores pagos pelo clube atrasam, as condições de trabalho são deficitárias e até os rendimentos de funcionários e contas básicas, como energia elétrica e água, exigem que o treinador seja equilibrista. A experiência nesse tipo de situação é ponto favorável ao Flu.

O racha, aliás, se configura. Peter Siemsen (na foto com Celso Barros) é apoiado pela Unimed, exausta dos desmandos e erros estratégicos da atual gestão, e disposta a ampliar os investimentos caso Julio Bueno não vença o pleito. Julio não se diz aliado do atual presidente e sua chapa de chama Transforma, mas tem o voto dele e de pessoas que pertecem ao mesmo grupo, como os ex-mandatários Fischel e Horta.

Um cenário político para lá de complicado e uma potencial vantagem para corintianos, santistas e, especialmente para o agora líder Cruzeiro.

PS.: Entrevista com Peter no Terra, leia aqui . Em breve, também teremos entrevista com Julio Bueno.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A interinidade no futebol brasileiro



Fábio Carille fará sua estreia como treinador do Corinthians na quarta-feira, contra o Vasco, com a perspectiva real de dirigir a equipe nos 10 jogos que restam no Campeonato Brasileiro. Se não houver acordo com Carlos Alberto Parreira e a equipe voltar a conquistar os pontos que deve, Carille fica até que se encontre um nome forte para o próximo ano.

No Parque São Jorge, o interino é visto como alguém com ideias próximas às de Mano Menezes no que diz respeito ao futebol. Gosta de equipes organizadas na defesa e que se posicionem bem em campo - um alento para quem vinha traumatizado com Adílson. Carille começou como auxiliar do Barueri, fez estágio no Corinthians e acabou convidado por Mano, em março de 2009, para continuar. Atuava em conjunto com Sidnei Lobo e Mauro próximo ao ex-treinador.

Em um clube onde claramente o elenco tem mais poder que o normal - e quase sempre faz bom uso dele, é verdade - um interino muitas vezes tende a funcionar. Se Carille ganhar o vestiário e não cometer erros, cresce no Parque São Jorge a chance de permanecer neste ano. Em que pesem as experiências infelizes com Zé Augusto e Ademar Braga nos anos passados.

É importante notar a força que esse tipo de atitude vem ganhando no Brasil. Deixar um interino por algum tempo traz efeitos positivos: se ganha tempo para tentar acertar no próximo treinador, o ambiente sempre melhora e o próprio tampão evolui profissionalmente. As experiências adquiridas por nomes como Martelotte e Sérgio Baresi, é bem possível, irão se refletir no futuro. Especialmente porque continuam como funcionários de seus clubes e constroem um lastro para saltar de função na hora correta.

O ponto negativo é que a prática denota a exaustiva troca de treinadores no futebol brasileiro, o que sempre impede progressos esportivos e administrativos. De 20 clubes da elite, só quatro não foram dirigidos por interinos em ao menos um jogo neste ano: Cruzeiro, Grêmio, Atlético-MG e Vitória, se não considerarmos Ricardo Silva um deles.

TODOS OS TIPOS DE INTERINO QUE PASSARAM PELA ELITE EM 2010:

Wladimir Araújo (Goiás) - 3 jogos - 2 empates e 1 derrota
Coutinho (Atlético-GO) - 1 jogo - 1 vitória
Reinaldo Gueldini (Atlético-GO) - 1 jogo - 1 empate
Dimas (Ceará) - 9 jogos - 3 vitórias, 4 empates e 2 derrotas
Edson Neguinho (Avaí) - 6 jogos - 1 vitória, 3 empates e 2 derrotas
Leandro Niehues (CAP) - 18 jogos - 8 vitórias, 4 empates e 6 derrotas
Enderson Moreira (Inter) - 3 jogos - 1 vitória, 1 empate e 1 derrota
Waguinho (Guarani) - 2 jogos - 1 vitória, 1 derrota
Márcio Barros (Prudente) - 2 jogos - 2 derrotas
Fábio Giuntini (Prudente) - 4 jogos - 1 vitória, 1 empate e 2 derrotas
Gaúcho (Vasco) - 10 jogos - 6 vitórias, 1 empate e 3 derrotas
Rogério Lourenço (Fla) - 20 jogos - 7 vitórias, 6 empates e 7 derrotas
Toninho Barroso (Fla) - 1 jogo - 1 derrota
Mário Marques (Flu) - 1 jogo - 1 vitória
Jair Ventura (Botafogo) - 1 jogo - 1 vitória
Parraga (Palmeiras) - 5 jogos - 1 vitória, 2 empates e 2 derrotas
Martelotte (Santos) - 6 jogos - 3 vitórias, 1 empate e 2 derrotas
Sérgio Baresi (SPFC) - 14 jogos - 5 vitórias, 3 empates e 6 derrotas

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Caça a Neymar*


As confusões que arrumou nas últimas semanas fizeram aumentar a quantidade de faltas sofridas por Neymar no Campeonato Brasileiro. Na terça, contra o Vasco, o atacante santista foi parado com infrações oito vezes, exatamente o mesmo número que já havia sido cometido pelo Cruzeiro no último sábado. Esse índice das últimas partidas faz de Neymar, neste momento, o jogador mais caçado da competição.

A média do atacante santista agora é de 4,89 faltas sofridas por partida, tendo ultrapassado assim o palmeirense Kléber, o segundo do ranking com 4,81 de índice. Os dados são do Footstats.

Outro dado importante é que Neymar, desde a partida contra o Grêmio, quando passou a não contar mais com a companhia do contudido Paulo Henrique Ganso, dribla muito mais. Nesses oito jogos desde então, ele tenta 8,5 dribles por jogo. Nas 11 partidas anteriores, a média era abaixo da metade: 3,3 tentativas.

Por isso, Neymar já é também o segundo jogador que mais dribla no Brasileiro, atrás apenas do cruzeirense Montillo. O santista atingiu média de 5,5 tentativas de fintas por jogo.

Diante do Vasco, Neymar arrancou o cartão amarelo e a expulsão de Jumar, seu marcador individual, mas não evitou a derrota por 3 a 1. Um dado que os torcedores do Santos podem comemorar é que, pelo terceiro jogo seguido, desde a queda de Dorival Júnior, o garoto não recebeu amarelo. No somatório da temporada, ele ainda lidera esse ranking no elenco santista com 17 advertências.

* Publicado no Terra

A vingança de Palaia*


Só uma pessoa era capaz de segurar Gilberto Cipullo por tanto tempo na presidência: Luiz Gonzaga Belluzzo, grato pela composição política feita por Cipullo que o ajudou a assumir o Palmeiras no início de 2009. As complicações de saúde do presidente abriram espaço para Salvador Hugo Palaia, membro famoso da política palestrina e que teve um início de gestão nada pacífico ao dissolver todo o departamento de futebol.

Na novela do Palmeiras, Palaia é o homem que ressurge para dar novos contornos à trama. O novo presidente é inimigo de Cipullo desde que foi sucedido por ele no departamento de futebol, em 2007, e ouviu acusações de que a terra estava arrasada. Hoje, Salvador Hugo Palaia rebate apontando para as dívidas que cresceram e para o desempenho esportivo ruim da equipe como argumento para fazer trocas.

Sob a gestão de Cipullo, o Palmeiras ocupa uma posição modesta no Campeonato Brasileiro, só conquistou um título, o Paulista de 2008, e tem números polêmicos na gestão financeira. As contas de agosto, por exemplo, foram reprovadas no início desta semana. A folha salarial, com atrasos, só concorre com a do Corinthians de Ronaldo e Roberto Carlos no futebol brasileiro. Foram contratados 71 jogadores em três anos.

Cipullo era contrário às contratações de Valdívia e Kléber, bastante onerosas aos cofres, mas vistas pela presidência como fundamentais para recuperar o orgulho dos palmeirenses. Foi também contra a saída de Vanderlei Luxemburgo em 2009 e à permanência de Muricy para 2010. A forma como tudo isso aconteceu diz muito sobre a perda de poder do vice de futebol.

Palaia, de uma vez só, conseguiu vingar Cipullo e se colocar em evidência. O Palmeiras tem diversos pretendentes à presidência para 2011 e o interino é um deles. No cargo provavelmente até o fim desta temporada, quer mostrar que pode, enfim, comandar o clube. No final de 2006, ele deixou o departamento de futebol visto como um sujeito atrapalhado e folclórico.

Com um estilo que lembra o do antigo Poder Moderador, usado na época do Império, Salvador Palaia contou com um aliado importante. Fábio Raiola, ex-diretor financeiro que deixou o cargo ao lado de Vanderlei Luxemburgo, se juntou ao novo presidente e terá espaço no conselho gestor indicado pelo próprio Palaia, união que ficará responsável pelo departamento de futebol até o fim de 2010.

Gilberto Cipullo, formalmente, foi convidado para compor o grupo no qual estarão vários dos que lhe queriam fora do comando do futebol. Aceitar isso é um milagre tão grande quanto o que levou Palaia ao comando do clube: o inesperado problema de saúde que afastou Belluzzo da cruzada em defesa de Cipullo.

* Publicado no Terra

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Andrés Sanchez tem um pouquinho de Eurico


A cena é uma das mais emblemáticas que já vi no futebol. O Corinthians acaba de dar adeus ao sonho da Copa Libertadores, contra o Flamengo, e torcedores descem das numeradas para deixar o Pacaembu. Chorando como criança, mais que qualquer outro no espaço, desce também Andrés Sanchez, que assim se dirige até a sala de imprensa e faz um pronunciamento emocionado. Sua melhor atitude: negar os apelos para a queda de Mano Menezes e reformulação no elenco que hoje lidera o Campeonato Brasileiro.

O torcedor de futebol médio não espera que o presidente de seu time seja exatamente íntegro. Para quem acha que vencer com gol roubado é mais gostoso, ter um dirigente que dá porrada em seus rivais é um delírio. E Andrés, convenhamos, sabe jogar para a galera. Foi com estratégias parecidas que Eurico Miranda se manteve no poder Vasco por quase duas décadas. Enquanto ninguém acreditava como isso era possível, os euriquistas eram um grupo enorme dentro de São Januário e espalhado por todo o Brasil.

Andrés e Eurico não são exatamente pessoas parecidas. O corintiano, ao que tudo indica, deixa seu cargo no fim do próximo ano, mas já tem tudo para estar entre os maiores dirigentes da história do Parque São Jorge. Truculento com repórteres, dono de negócios obscuros, amigo e incentivador de Kia Joorabchan, fiel escudeiro de Ricardo Teixeira....ele tinha tudo para ser mais um dirigente à moda antiga. Mas não é.

Em dois anos e alguns meses de cargo, Andrés fez o Corinthians ser superavitário em 2008 e 2009. Transformou um elenco ridículo em um dos mais fortes do país. Atingiu quase R$ 50 milhões anuais em patrocínio de uniforme. Deu espaço para um departamento de marketing que, de tão atuante, chega a ser brega em alguns momentos. Juntou Ronaldo e Roberto Carlos. Não vendeu nenhum jogador para o exterior neste ano. Constrói um Centro de Treinamento exemplar e promete entrar definitivamente para a história se o estádio de Itaquera sair do papel.

De Eurico Miranda, Andrés herdou o lado bom: com seus problemas e desvios, conquista os torcedores e associados a tal ponto que a oposição sequer tem corpo dentro do Parque São Jorge. Hoje, o presidente corintiano poderá escolher: Rosenberg, Mário Gobbi e André Negão. Um dos três assumirá o clube em 2012. Provavelmente, com um legado enorme para dar sequência. Eis aí a diferença para Eurico.

OLHO GORDO em LAÉRCIO


A fase é terrível e o Avaí vem pagando muito caro por isso, inclusa até uma demissão de Antonio Lopes que parecia inesperada por isso. Mesmo assim, o garoto Laércio vem se mostrando uma grata revelação, um atacante interessante que merece ser seguido mais de perto. Com 20 anos, marcou três gols nesta temporada.

Ele pertence a uma ótima geração de jogadores nascidos em /90 e /91 formados pelo Avaí, que foi semifinalista da Copa São Paulo de 2009. Nomes como o goleiro Renan, o volante Marcos Paulo (hoje no Coritiba), os laterais Renan Oliveira e Medina, além do atacante Cristian.

Dificilmente, Laércio se tornará um grande craque, mas é um jogador interessante. Pode desempenhar qualquer função ofensiva: centroavante, segundo atacante, ou aberto pelos dois lados. Na crise que o Avaí atravessa, uma solução que deveria ser vista com mais carinho.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Luxemburgo é o último sobrevivente


Dorival Júnior caiu e enquanto o Papo de Craque aguarda elementos suficientemente claros para abordar o tema, vale uma observação importante e até mesmo curiosa: entre os 20 clubes da Série A em 2010, agora o único a manter seu treinador desde o início do ano é o Atlético-MG. Sim, Vanderlei Luxemburgo, na zona de rebaixamento do Brasileiro, é o sobrevivente final desta "disputa".

Com as duas quedas diante de Atlético-PR e Vitória, Luxemburgo se aproxima de ter mais derrotas que vitórias no Galo. São 21 triunfos contra 17 insucessos, além de 11 empates. Resta saber quanto tempo o projeto entre ele e Alexandre Kalil resiste.

Independente disso, o dado aponta uma regressão tremenda na relação entre treinadores e clubes da elite brasileira. Em 2009, Hélio dos Anjos (Goiás), Adílson Batista (Cruzeiro), Silas (Avaí), Mano Menezes (Corinthians) completaram a temporada. Em 2008, Nelsinho Baptista (Sport), Adílson Batista (Cruzeiro), Vanderlei Luxemburgo (Palmeiras), Muricy Ramalho (São Paulo) e Dorival Júnior (Coritiba). O número era cinco na temporada retrasada e caiu para quatro no ano passado. Hoje, em setembro, é de apenas um.

Dorival, aliás, não era demitido desde 2006, quando deixou o Avaí. Em seguida, passou pelo São Caetano e foi vice-campeão paulista de 2007, se transferindo para o Cruzeiro. Cumpriu o contrato até o fim, levando o time mineiro para a Libertadores. Foi para o Coritiba e, em seguida, para o Vasco, onde também trabalhou do início ao fim da temporada.

domingo, 19 de setembro de 2010

Flu perde a liderança porque tem limitações


O que se encaminhava desde a rodada do meio de semana ocorreu neste domingo. O Fluminense não conseguiu bater o Flamengo e, assim, vê o Corinthians com dois pontos à frente e um jogo por fazer. A queda na tabela da equipe de Muricy Ramalho, que só venceu um de seus últimos sete jogos, tem relação direta com o futebol ruim e escolhas discutíveis do treinador.

O Flu, que marcou dois de seus três gols neste domingo por meio da bola aérea no escanteio, tem limitações à frente e praticamente só sabe jogar em dois sistemas táticos - no futebol de hoje, este é um artifício letal para ser neutralizado pelo adversário. Foi o que fez neste domingo o Flamengo, que deixou Willians preso à Conca e praticamente restringiu a Rodriguinho a condição de fazer algo diferente no ataque do Tricolor.

Os volantes do Fluminense são burocráticos e apenas marcadores. Veja o Corinthians, com Jucilei e Paulinho, ou o Cruzeiro, de Henrique e Fabrício. A chegada à frente era mérito exclusivo de Diguinho, que só poderia ser substituído neste momento por Belletti, em péssima forma. Refém de Fernando Bob, Diogo e Valencia, o time de Muricy sobrecarrega Conca. Deco é outro que ainda alterna bons e maus momentos dentro das partidas e tem sempre à frente jogadores de pouca movimentação.

O estilo competitivo de Muricy tem seu preço e o Palmeiras de 2009 conhece bem. Quando o jogo não encaixa e a defesa dá vacilos, exatamente como ocorreu contra Corinthians e Fla, surge a necessidade de um time criativo. O Flu, especialmente neste momento de pressão, é exatamente o oposto.

Cuca e seu quebra-cabeça


Neste momento, não há no Campeonato Brasileiro um fenômeno maior que o Cruzeiro de Cuca. Cotado para demissão após cair em casa contra o Vitória, o treinador arrancou para uma invencibilidade de oito jogos, com seis vitórias e empates contra Vasco e Botafogo como visitante. Saiu da oitava posição para a briga real pelo título, levemente prejudicada graças a uma infeliz arbitragem de Heber Roberto Lopes no Engenhão.

Além do talento de Montillo e uma base muito bem montada por Adílson Batista, o que empurra o Cruzeiro tabela acima é o elenco, o que também põe um desafio nas mãos de Cuca. São muitas opções a administrar e, dependendo da escolha, muda ainda o desenho da equipe. Contra o Botafogo, a opção por Roger entre os titulares deu muito mais talento ao time, mas o treinador só pôde escalar dois de seus ótimos volantes. Na frente, inevitavelmente, sobrará alguém entre os cinco atacantes de muito bom nível.

Aparentemente, esse quebra-cabeça é o famoso problema que todo treinador quer ter, mas na prática as coisas funcionam de outra forma. No Cruzeiro, Adílson precisou sempre conviver com jogadores insatisfeitos com a reserva, como Fabinho, Roger e Wellington Paulista, e muitas vezes deixou claro que esse era um problema na Toca da Raposa. Além disso, conviver com um elenco cheio de boas opções não é algo com o qual Cuca esteja acostumado.

Cuca: quase 1 mês sem derrota no Cruzeiro

25/08 - 1 x 0 Corinthians (Montillo)
28/08 - 1 x 1 Vasco (Fernando - contra)
01/09 - 1 x 0 Flamengo (Robert)
05/09 - 3 x 2 Palmeiras (Roger, Montillo, Farías)
08/09 - 1 x 0 Internacional (Everton)
12/09 - 2 x 1 Avaí (Roger, Thiago Ribeiro)
15/09 - 4 x 2 Guarani (Rômulo, Wallyson, Fabinho, Farías)
18/09 - 2 x 2 Botafogo (Montillo, Montillo)

sábado, 18 de setembro de 2010

Preservem Neymar


Em contraste com a delicada situação atual, Neymar tem um histórico absolutamente limpo ao longo de quase toda sua passagem pelo futebol. Evangélico e muito próximo dos pais, cultivou até bem pouco tempo uma imagem cristalina e por isso conquistou tantas crianças e admiradores do mundo do futebol. O desvio de comportamento recente deve ser analisado sob outro prisma.

Neymar passa por um período de transição na vida e na carreira. Já não é visto mais como promessa e precisa decidir todos os jogos. Sem companheiros como André, Robinho, Wesley e Ganso por perto, tem um vestiário que já não é mais tão familiar. Em campo, é perseguido e caçado. No dia a dia do clube, é ainda mais cobrado, com justiça, depois de recusar o Chelsea e ganhar sensível aumento contratual.

É importante observar que são raros os jogadores que conseguem lidar com tudo o que Neymar atravessou na adolescência de atleta. Jovens adorados na faixa dos 16, 17 anos, sofrem desvios de comportamentos seríssimos que quase sempre levam para o resto da vida. Adriano Gerlin, Adiel, Harrison, Carlos Alberto, Léo Lima...semanalmente, o futebol apresenta exemplos como esses.

Neymar está muito bem cercado e vem repensando suas atitudes, mostram os fatos. Deve ser tratado com pulso firme e carinho. Deve ter comportamento de homem cobrado. Deve entender que é muito visado, patrulhado e não pode fazer tudo que vem à cabeça. Hoje, é titular da seleção brasileira, o único grande jogador do Santos e um dos mais caros do país.

Uma joia que o Brasil deve lapidar em vez de jogar na lata do lixo. Que tem um passado limpo e atravessa uma fase bastante difícil da vida.