quarta-feira, 30 de junho de 2010

Qual o real efeito da Jabulani?*


Com 56 dos 64 jogos disputados, já se pode tentar identificar a real interferência que a polêmica bola Jabulani teve na Copa do Mundo 2010. Na comparação de dados do Campeonato Brasileiro com Mundial da África do Sul, é possível notar principalmente a grande diminuição de gols marcados em cobrança de falta.

Com a Jabulani, fabricada pela Adidas, foram quatro gols de falta marcados em um total de 123, o que representa um índice de 3,25% do total. O número é completamente diferente em relação ao Campeonato Brasileiro de 2010.

Na Série A, com a bola Total 90 Pitch, fabricada pela Nike, foram marcados 16 gols de falta em um total de 169. Isso representa praticamente o triplo em relação à Copa do Mundo: 9,47%.
Se feita a mesma comparação em um total de gols marcados de fora da área também com bola rolando, a diferença passa a ser quase nula. No Brasileiro, 27 em um total de 169, o que significa 16,26%. Na Copa do Mundo, 20 de 123, índice de 15,90%.

Na Copa 2010, três gols quatro gols de falta marcados foram por asiáticos: Honda e Endo, do Japão, fizeram contra a Dinamarca, e Park Chu-Young, da Coreia do Sul, marcou diante da Nigéria. Kalu Uche, nigeriano, fez contra a Grécia.

* Publicado originalmente no Terra

terça-feira, 29 de junho de 2010

Na terça-feira, os dois melhores times venceram: bom para a Copa


Pense pelo futebol: não seria justo a Espanha não vencer. Se não foi brilhante, o time de Vicente del Bosque foi quase sempre mais seguro que Portugal, fruto de uma identidade de jogo que nunca muda. Isso só aconteceu pelo trabalho que é feito nos clubes e nas seleções de base espanholas, por uma união de conceitos que privilegiam a parte técnica e procuram sempre encaixar a maior quantidade de talentos juntos possíveis. Quem realmente gosta do futebol (e claro, não torce pelos portugueses) não pode dar as costas ao time de Xavi e Iniesta.

Para um duelo de mata-mata contra um time altamente técnico, estava escrito que Carlos Queiroz não ia alterar a identidade que deu para sua equipe nos últimos dois anos. O Portugal competitivo de Felipão se transformou em um time excessivamente defensivo, que não marcou (e também não sofreu) gols em três dos quatro jogos do Mundial. Cristiano Ronaldo deve ouvir algumas críticas, mas está nítido que o sistema de jogo lhe prejudica e muito. Está quase sempre só e, naturalmente, cercado por muitos marcadores. Se o time tivesse presença ofensiva, ele teria muito mais espaço.

Del Bosque não mudou suas convicções até aqui e, provavelmente, se manterá da mesma forma para o(s) próximo(s) jogo(s). Sempre há um espaço grande entre Fernando Torres e o meio-campo, porque Xavi recua até a intermediária e Iniesta nunca guarda o flanco direito - prefere afunilar e abrir o corredor para Sergio Ramos. O sistema dificulta ainda mais as coisas para Torres, em quem se confia para os momentos mais agudos. Junto a David Villa, o jogador mais decisivo do Mundial até aqui, ele pode ser o que falta para a Espanha realmente se credenciar ao título.

A vitória espanhola indica mais bom futebol vivo na Copa, o que é positivo para a fase final. O objetivo de repetir a Copa de 50, e ficar pela segunda vez na história entre os quatro, é bastante possível.

ESPANHA (4-2-3-1) x PORTUGAL (4-3-3)
Melhor em campo: David Villa
Melhor de Portugal: Eduardo
O leão: Sergio Ramos
O preguiça: Fernando Torres
A imagem do jogo: Espanhóis embolados, tocando rápido de em pé, até o gol de Villa

Gerardo Martino deve ter se preocupado com o que viu do Japão diante da Dinamarca e armou Paraguai em sua partida mais defensiva dos últimos tempos. É verdade que, de certa forma, deu certo, mas uma eliminação poderia alvejar, e muito, o competente treinador argentino. Durante as Eliminatórias, os paraguaios se caracterizaram como um time dominador, salvo contra oponentes mais fortes que jogassem em casa, o que não é o caso do ótimo time japonês. Não
fosse um mata-mata (ou morre-morre, como diria o outro), Martino teria jogado mais à frente.

Para os japoneses, a Copa se encerra com um saldo bastante positivo. Vários jogadores importantes da equipe têm idade para disputar o Mundial de 2014 em bom nível e há, inclusive, gente surgindo. Caso nítido do oportunista atacante Okazaki, preterido por conta das ideias de Takeshi Okada e pelo bom futebol de Matsui, Honda e Okubo. Cabe aprimorar mais um plano B com mais atletas à frente sem que desguarneça a defesa e acompanhar mais nomes ganhando espaço no cenário de clubes europeus.

O Paraguai certamente venderá caro uma derrota para a Espanha, como sempre foi em sua história nos mata-matas recentes em Copas. Chegar entre os oito melhores do Mundial, porém, dá o tom do bom trabalho que vem sendo realizado, mesmo com os atacantes atuando abaixo do esperado. Nenhum jogador paraguaio de frente, cabe lembrar, balançou as redes até aqui. Barrios é o único que pode dizer ter feito bons jogos.

PARAGUAI (4-3-3) x JAPÃO (4-1-4-1)
Melhor em campo: Endo
Melhor do Paraguai: Paulo da Silva
O leão: Tanaka
O preguiça: Roque Santa Cruz
A imagem do jogo: Komano, desolado, após perder seu pênalti

A grande história de Jonathan Mensah


Aos 19 anos, o jovem zagueiro de Gana, campeão mundial sub-20 há um ano, chegou até a Copa desacreditado. Vinha jogando em um clube da quinta divisão espanhola, cedido pela Udinese. Jonathan Mensah, entre os mais de 700 jogadores inscritos, é quem pertence ao mais baixo escalão de times. O que, diga-se, não lhe impediu de atuar de forma exuberante quando acionado e concorrer ao prêmio de revelação entregue pela Fifa.

Para valorizar o conteúdo do Olheiros, onde está o texto, deixo o link para quem quiser ler na íntegra. Clique AQUI.

Do jeito que Dunga gosta


Mais que qualquer outra partida na Copa, a vitória sobre o Chile tem a cara do velho e competitivo time de Dunga. Como em nenhum outro confronto, os brasileiros jogaram fechadinhos, mas sem correr grandes riscos em 90 minutos, principalmente pela boa saída de bola e por uma sutil alteração tática.

Sem Felipe Melo e Elano, os substitutos Ramires e Daniel Alves atuaram mais próximos de Gilberto Silva, o que configurou um até então esquecido 4-3-1-2. Mais protegido e na sua, Gilberto Silva teve um grande jogo. Juan e Lúcio, novamente, realizaram partidas exemplares. Mesmo com o corredor aberto devido ao sistema, Maicon, assediado por Beausejour e Mark González, guardou posição. O sistema defensivo foi perfeito.

Fechado atrás, o Brasil só poderia encontrar seus gols da maneira mais convencional: nada de posse de bola, como na primeira fase. Marcou duas vezes em contra-ataque - agora, chegou a 43 dos 127 gols nos últimos quatro anos em contragolpes. Também fez o 17º em jogadas aéreas de bola parada. Maicon, com a assistência para Juan, se tornou o líder desse ranking, com 11 passes para gol na Era Dunga.

O Brasil, definitivamente, arranca para a final da Copa.

BRASIL (4-3-1-2) x CHILE (4-2-3-1)
Melhor em campo: Juan
Melhor do Chile: Alexis Sánchez
O leão: Gilberto Silva
O preguiça: Suazo
A imagem do jogo: Desespero de Bielsa no segundo gol brasileiro

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Holanda e Argentina: vencer e não jogar bem, até onde um problema?


São 23 jogos sem perder, quatro vitórias no Mundial e dois dos melhores jogadores do momento atuando em alto nível. Afinal, há motivos para essa Holanda se preocupar além do fato de agora ter o Brasil como adversário? Não parece o caso, afinal o problema dos holandeses não é tático, técnico ou físico. É uma mera questão de intensidade nas partidas, o que pode ser amenizado pelo fato de os adversários terem exigido muito pouco ou quase nada do time de Bert van Marwijk.

A Eslováquia jogou mais de uma hora sem acertar o gol de Stekelenburg, que depois respondeu bem com duas ótimas defesas. Durante praticamente todo o tempo, a Holanda tinha o passe correto, a cadência ideal e a área muito bem protegida por uma recomposição exemplar de seus jogadores. A estratégia eslovaca de recuar Hamsik para o início das jogadas não funcionou e tê-lo para o segundo ou terceiro passe foi desperdício. Melhor seria entre Stoch e Jendrisek, próximo a Vittek. O erro de Vladimir Weiss também ajudou os holandeses.

Para a preocupação brasileira, Sneijder e Robben se mostraram afinadíssimos. Depois de levarem seus clubes até a final da Liga dos Campeões, eles jogaram juntos e fizeram a festa. O primeiro acertou um lançamento maravilhoso para o gol inicial, marcado em jogada preciosa de Arjen, que teve desenvoltura e nem pareceu o jogador que vinha lesionado. A dupla mais quente do momento em um grande dia e o sonho do hexa pode ficar para 2014.

HOLANDA (4-2-3-1) x ESLOVÁQUIA (4-2-3-1)
Melhor em campo: Robben
Melhor da Eslováquia: Weiss
O leão: Kuyt
O preguiça: Van Persie
A imagem do jogo: Lançamento de 50 metros de Robben para Sneijder

Preguiçosa e desinteressada na etapa final e dominada até marcar o primeiro gol. Pode parecer má vontade, mas a Argentina ainda precisa convencer mais na Copa do Mundo. Terá pela frente a Alemanha, como em 2006. Aquele time argentino, cabe frisar, era absolutamente superior a esse, que segue sobrevivendo com base em seus talentos individuais. Nesse sentido, nem o time de quatro anos atrás, nem nenhum outro da Copa, supera a equipe de Messi.

A estratégia mexicana foi passar do 4-3-3 ao 4-4-2, com Torrado próximo de Messi, Rafa Márquez liberado para iniciar a jogada e Javier Hernández sempre penetrando entre Mascherano e os zagueiros titulares. Assim, em meia de hora de jogo, foram ao menos três ótimas ocasiões para o time de Aguirre. Como o futebol nunca é linear, bastou um erro feio de arbitragem, um cochilo imperdoável de Osorio e a vaga foi pelo ralo. De que adiantaria voltar do intervalo determinado se havia Tévez do outro lado para marcar um golaço?

Ao contrário da Holanda, o fato de não jogar bem deve preocupar os argentinos. Não dá para imaginar o time de Maradona vencendo esta Alemanha atuando a 60% ou 70% de seu potencial como fez contra o México. Será preciso muita dedicação, conjunto e feroz disciplina a todos os aspectos do jogo. Sob o risco de pôr novamente pelo ralo mais uma geração fantástica de jogadores.

ARGENTINA (4-1-3-2) x MÉXICO (4-4-2)
Melhor em campo: Tévez
Melhor do México: Javier Hernández
O leão: Maxi Rodríguez
O preguiça: Bautista
A imagem do jogo: Heinze agredindo a câmera após o segundo gol

domingo, 27 de junho de 2010

Alemanha combina jogo objetivo e plasticidade


A quantidade de passes indica que a Inglaterra quis ser protagonista do jogo: foram 357 contra 273 dos alemães. Oras, fica clara a estratégia de Capello: impedir o time de Özil de articular. Mas de que adianta tocar de pé em pé e não incomodar? Os dois times finalizaram praticamente a mesma coisa: 16 chutes ingleses contra 14 alemães.

Não dá para criticar a Alemanha por jogar nos contra-ataques, com beleza e eficiência. Se deve, sim, alvejar o English Team pela falta de profundidade, de iniciativa e de coração. Claro que fica a ressalva quanto à trapalhada da arbitragem. É possível especular o que aconteceria com um trepidante empate inglês, mas não se pode admitir uma Inglaterra tão pouco vibrante. Também nisso, a equipe de Löw foi superior.

Não dá para fechar os olhos para o que fizeram Schweinsteiger, Müller, Özil e Klose. Diante da Inglaterra, ficou evidenciada a "Nova Alemanha", mas também há traços da velha mentalidade linear e personalidade vencedora. O time que não se abate com a pressão, com adversidades e com as trocas de passes dos rivais. Recupera a bola, sai tocando e chega na área. Exatamente tudo o que a Inglaterra não teve novamente.

ALEMANHA (4-2-3-1) x INGLATERRA (4-4-2)
Melhor em campo: Thomas Müller
Melhor da Inglaterra: Lampard
O leão: Schweinsteiger
O preguiça: Rooney
A imagem do jogo: Senhores Larrionda e Espinoza, preciso responder?

A preparação física é a lição nos jogos do sábado


ESTADOS UNIDOS (4-4-2) x GANA (4-1-4-1)
Melhor em campo: Kevin-Prince Boateng
Melhor dos Estados Unidos: Dempsey
O leão: Asamoah Gyan
O preguiça: Altidore
A imagem do jogo: comemoração de ganenses com bandeira do país pós-jogo

Estados Unidos e Gana fecharam suas participações na primeira fase da Copa no mesmo dia, a última quarta-feira. Mas quando a bola rolou para a prorrogação em Rustemburgo, a sensação é de que os africanos tinham muito mais fôlego e força mental. Se justifica, afinal os estadunidenses tiveram verdadeiras epopéias em seus três primeiros jogos do Mundial e ainda um segundo
tempo heroico contra os ganenses.

Gana dominou não só pela parte física. Fez um primeiro tempo exemplar, em que novamente Estados Unidos pareceu mal escalado de início. Kevin-Prince Boateng foi um monstro, marcando como volante e atacando como meia para esquecer Annan atrás e se juntar a Kwadwo Asamoah na armação. Bradley novamente mexeu como precisava e os Ianques fizeram, pelo terceiro jogo seguido, um excepcional segundo tempo. Dempsey comandou o ataque e até ofuscou Donovan.

A prorrogação é um jogo diferente, com a tensão ainda mais evidenciada. Um erro custa a vaga. Gana não permitiu nada aos Estados Unidos, que perderam o fôlego, a posse de bola e uma vaga que parecia deles antes de o jogo começar.

URUGUAI (4-3-1-2) x COREIA DO SUL (4-2-3-1)
Melhor em campo: Luis Suárez
Melhor da Coreia do Sul: Chung Young-Park
O leão: Diego Pérez
O preguiça: Kim Jae-Sung
A imagem do jogo: Uruguaios fazendo a festa sob a chuva em Port Elizabeth

Se defender para garantir um resultado faz parte do DNA uruguaio. Poucas escolas se fecham tão bem e conseguem transformar a grande área em um território impenetrável. Prova real disso são os mais de 300 minutos sem sofrer gol na Copa, sem tantas intervenções de Muslera.

A retranca celeste depois de bom primeiro tempo foi demasiada. Durante a etapa final, a impressão era de que Cavani, Forlán e Álvaro Pereira, os homens que fazem o time respirar, não aguentavam com as próprias pernas. Park Chu-Young, Park Ji-Sung e Lee Chung-Yong comandaram uma reação que além de técnica e tática, claro, também foi física.

Oscar Tabarez demorou demasiadamente a trocar um ou dois jogadores e só o fez quando a coisa apertou. Coincidência ou não, com Lodeiro, e sem a vantagem, o Uruguai recuperou a posse de bola e comprovou ser tecnicamente melhor que a boa equipe sul-coreana. No fim das contas, nada iguala a técnica. E Luis Suárez, uma estrela em ascensão, definiu. É ótimo quando o talento se sobrepõe a outros aspectos.

Giovani dos Santos e sua volta por cima


Do ostracismo na segunda divisão inglesa para as oitavas de final da Copa do Mundo em menos de um ano. Foi o caminho percorrido pelo jovem mexicano Giovani dos Santos, um dia comparado a Ronaldinho, mas cujos momentos de glória haviam desaparecido até a chegada na África do Sul.

Para o pai Zizinho, nascido no Brasil, a explicação para a volta por cima do filho passa pela confiança que o treinador Javier Aguirre deposita nele. "No Galatasaray (atual clube) ele estava bem, mas não jogava muito. Quando tem sequência, se firma como titular da equipe e ganha segurança", disse em entrevista ao Terra.

"O treinador tem deixado ele em campo os 90 minutos em todos os jogos, isso é uma grande confiança. Ele está bem preparado fisicamente, joga e corre bem até o fim, tem tido um rendimento importante", destaca o pai, nascido em São Paulo e que fez toda a carreira de jogador no futebol mexicano.

Subindo e descendo no futebol

Giovani dos Santos, um dos principais valores do México na Copa do Mundo, conseguiu a volta por cima na carreira nas últimas semanas. Dono de grande atuação diante da Itália em amistoso pré-Mundial, jogou os 270 minutos de sua seleção até aqui na África do Sul. Com ótimo futebol, já começa a despertar olhares para si. Aqueles que atraiu quando foi campeão mundial Sub-17, em 2005, sendo eleito o melhor jogador da competição.

Aos 21 anos, o jovem mexicano já se encontrava hoje longe dos holofotes. Revelação do Barcelona, onde se esperava que pudesse ser o grande jogador do time, ficou apenas um ano entre os profissionais e acabou negociado com o Tottenham.

Mal por lá também, passou pela segunda divisão inglesa, no Ipswich Town, e depois foi enviado para o Galatasaray, da Turquia. Seu pai concorda que a Copa do Mundo era uma oportunidade para não se desperdiçar.

"Ele é um moleque de 21 anos e não sei onde poderá jogar depois do Mundial. Mas vejo ele mais maduro, preparado até para a Copa de 2014. Será um líder da seleção mexicana", aposta o pai, claro, otimista a respeito de seu pupilo. Apesar do ótimo futebol, Giovani dos Santos ainda busca o primeiro gol na Copa.

A maldição do quinto jogo

Já se vão cinco Copas do Mundo com o México sempre caindo nas oitavas de final. Desde 1990, a esperança de jogar a quinta partida de um Mundial é um mito para os mexicanos, que terão mais uma vez a Argentina pela frente. Apesar do 100% de aproveitamento dos adversário, Zizinho prefere aguardar mais um pouco.

"A Argentina é um time favorito, muito grande, mas acho que o México pode surpreender. São 11 contra 11", filosofa o brasileiro. O fato de perder contra o Uruguai a primeira posição do Grupo A ainda é algo que incomoda os mexicanos. "Devíamos ter ganhado esse jogo", lamenta. Com uma vitória, o adversário deste sábado seria a Coreia do Sul.

* Publicado no Terra

A mais jovem Alemanha desde 1934*


A data é 20 de junho de 2000 e o palco é o Feijenoord Stadion, na Holanda. Uma das camisas mais pesadas do futebol mundial está com a moral arrasada. Sofreu três gols de um português quase anônimo chamado Sergio Conceição e a participação na Eurocopa foi fechada de maneira melancólica com duas derrotas e um empate. Os alemães, já humilhados pela Croácia na Copa de 1998, precisavam de uma reconstrução. Não existe talento e a média de idade do elenco é de 28,5 anos de idade.

A Alemanha então soube seguir sua história de grandes voltas por cima. A data, agora, é 23 de junho de 2010. Se passou uma década e mais três dias. Com a camisa alemã em campo, no Mundial, estão seis jogadores com menos de 24 anos. Ninguém com mais de 30. É o elenco mais jovem dos germânicos em uma Copa desde 1934. É o time que bate Gana com um golaço de Mesut Özil e avança em primeiro do Grupo D na África do Sul.

Analisar esse período é essencial para comprovar como a Alemanha se reergueu das cinzas. Apostou na formação de talentos e não para de colher frutos. Em 2009, se tornou a primeira nação europeia a unificar os títulos continentais Sub-17, Sub-19 e Sub-21. Neste último, Özil foi eleito o principal jogador e tinha Neuer, Boateng, Khedira, Aogo e Marin: todos os seis na África do Sul.

Como se achar craques

A volta por cima da Alemanha para formar jovens jogadores foi basicamente combinando investimento e trabalho. O dinheiro injetado nas categorias de base aumentou de forma considerável e a Federação e a Bundesliga (entidade que opera como um Clube dos 13) ampliaram seu diálogo. O objetivo, claro, foi reduzir a invasão de estrangeiros na liga alemã e fazer os clubes revelarem.

Atualmente, são 5 mil jogadores (de 12 a 18 anos) que compõem o sistema de formação coordenado pela Federação Alemã. Dados estatísticos mostram que 15% dos atletas utilizados na primeira divisão do Campeonato Alemão têm menos de 23 anos. Em 2000, o ano do fiasco, esse dado era de 6%.

Acrescente aí que a Alemanha se antenou às realidades. Na época em que grandes e pequenas seleções disputam jogadores talentosos com dupla nacionalidade, os alemães não deram chance. Buscaram três poloneses (Klose, Podolski e Trochöwski), um brasileiro (Cacau) e ainda venceram os assédios por Boateng, Khedira, Gómez e Aogo.

Sobrenatural foi o esforço para ter Mesut Özil, filho de imigrantes turcos. O camisa 8 da Alemanha, autor do gol da classificação, foi bastante cobiçado para defender a Turquia, cujo passado mostrava uma série de jogadores "tirados" dos alemães. Özil foi uma vitória particular da Federação e provocou até reações políticas.

O que ajuda, e muito, é também o poder econômico do futebol alemão. Apenas Inglaterra, Itália e Alemanha mantém em suas ligas os 23 jogadores convocados na África do Sul. Enquanto ingleses e italianos possuem elencos envelhecidos, os germânicos apostam na juventude e se dão ao luxo de não vender estrelas cobiçadas como o francês Franck Ribéry, do Bayern de Munique. Assim, o esporte nacional cresce como um todo.

Como se confiar nos craques

De nada adianta o trabalho se não há a cultura em trabalhar jovens jogadores, confiá-los responsabilidades e fazê-los crescer como homens. Por isso, é fundamental o técnico Joachim Löw - desde que assumiu o cargo de Jürgen Klinsmann, há quatro anos, vêm apostando nos garotos de olhos fechados.

A cultura, diga-se, não nasce na seleção, mas sim nos clubes. Campeão alemão, da Copa da Alemanha e vice da Liga dos Campeões, o Bayern encantou a Europa na última temporada. Quatro de seus 11 titulares eram formados em casa. O melhor jogador no Alemão, o jovem meia Toni Kroos, emprestado ao Leverkusen, também nasceu nas categorias de base do clube da Bavária. Os cinco também estão no elenco de Löw.

Neste domingo, a jovem armada alemã, jamais vencida em um duelo de oitavas de final, parte para Bloemfontein, onde mede forças com a Inglaterra por um lugar entre os oito melhores da Copa. O inimigo não é desconhecido dos jogadores germânicos. Na decisão do Europeu Sub-21 disputada há um ano, os adversários eram justamente os ... ingleses. O placar daquela decisão? Alemanha 4 x 0 Inglaterra.

* Publicado no Terra

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Resumos: Grupo G e Grupo H


GRUPO G: Brasil 7 pts - Portugal 5 pts - Costa do Marfim 4 pts - Coreia do Norte 0 pt

BRASIL
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 4-2-3-1 / 4-2-3-1
Nota do time: 7,5
Nota do treinador: Dunga - 7,5
Melhor jogador: Maicon
Melhor jogo: Brasil 3 x 0 Costa do Marfim
Também foram bem: Juan, Elano, Kaká e Robinho
Decepção: Michel Bastos
O que deve melhorar: Objetividade na frente
Até onde vai: final

Há poucas surpresas a respeito do desempenho brasileiro nesta primeira fase. Não se podia esperar que o time de Dunga não terminasse na liderança, ou que não tivesse dificuldades contra a retranca norte-coreana, e tampouco que não somasse os pontos nos jogos importantes. A Seleção atual é assim: segura atrás, equilibrada no meio e prática na frente. Sempre, em todos os momentos agudos, um osso duríssimo de roer. Competitiva ao extremo, um time com a cara de seu treinador.

Pontos importantes precisam ser melhorados. A coluna de Júlio César merece atenção, Michel Bastos não pode ser tão nulo, Felipe Melo deve ouvir verdades e reconsiderar, Kaká tem que manter o papel de dono da equipe. No pobre jogo contra Portugal, vimos todos o quanto ele é indispensável, o quanto precisamos de sua técnica e de sua liderança nas ações ofensivas. O mais importante é que todos que fazem parte do ambiente têm essa noção.

Ao Brasil, o chaveamento se apresenta favorável nas oitavas. Das sete seleções que brigam pela final, só a Holanda, em condições normais, pode tirar os brasileiros da decisão. Pondere então que, apesar da grande fase do conjunto e de craques como Sneijder e Robben, os holandeses têm uma camisa leve como uma pluma. E como o Brasil em peso, técnica e mentalidade vitoriosa, só Itália e Alemanha. Felizmente, longe do percurso canarinho.

PORTUGAL
Sistemas táticos: 4-3-3 / 4-3-3 / 4-3-3
Nota do time: 6,5
Nota do treinador: Carlos Queiroz - 7,0
Melhor jogador: Raul Meireles
Melhor jogo: Portugal 7 x 0 Coreia do Norte
Também foram bem: Eduardo, Coentrão, Tiago e Cristiano Ronaldo
Decepção: Deco
O que deve melhorar: Defender não basta, é preciso saber atacar
Até onde vai: oitavas

Mesmo depois de três jogos, não é exatamente possível saber quem é Portugal, quais as intenções de Carlos Queiroz e o que esse time pretende dentro de campo. A estreia, sob tensão, foi marcada por um certo domínio marfinense, algo como 60% a 40%. Depois, uma enxurrada de gols contra a pobre Coreia do Norte, perdida sem saber o que fazia depois de buscar a bola duas vezes no fundo da rede. E diante dos brasileiros, uma equipe com todos atrás da linha da bola torcendo por um 0 a 0. Mesmo com um potencial técnico muito interessante, este parece ser o time com dificuldades em ser protagonista em um grande confronto. Assim, fica difícil ir longe na mesma chave de Espanha, Alemanha e Inglaterra.

COSTA DO MARFIM
Sistemas táticos: 4-3-3 / 4-1-4-1 / 4-3-3
Nota do time: 5,5
Nota do treinador: Sven-Goran Eriksson
Melhor jogador: Yaya Touré
Melhor jogo: Costa do Marfim 0 x 0 Portugal
Também foram bem: Barry e Tiene
Decepção: Kalou

Não foi de toda ruim a participação de Costa do Marfim na Copa, especialmente se considerarmos que Drogba jogou com problemas importantes e que Eriksson chegou à África com o avião alçando voo. O azar esteve mais uma vez alguns meses antes, no sorteio, que novamente deixou o país em maus lencóis - em um grupo mais simples, seria possível embalar e chegar com força ao mata-mata. Mesmo assim, segue sendo uma seleção com as mesmas mazelas de outras vizinhas. Futebol excessivamente tático, pouca inspiração e jogo baseado em individualidades.

COREIA DO NORTE
Sistemas táticos: 5-3-1-1 / 5-3-1-1 / 5-3-1-1
Nota do time: 5,0
Nota do treinador: Kim Jong Hun - 5,0
Melhor jogador: Jong Tae Se
Melhor jogo: Brasil 2 x 1 Coreia do Norte
Também foram bem: Pak Chol Jin e Ji Yun Nam
Decepção: Hong Yong Jo

Mesmo com o desconhecimento da imprensa geral, por motivos óbvios, já se sabia a proposta de jogo excessivamente defensiva dos norte-coreanos. É importante que o país tenha jogado o Mundial, o que sempre traz reflexos importantes para o futebol local, gera algum tipo de investimento e assim também alguma evolução. Por enquanto, o time que jogou com cinco zagueiros fixos em sua primeira linha, um losango no meio e só um homem à frente, não possui argumentos para jogar uma Copa. Em que pese a ótima impressão deixada por Tae-Se, um jogador digno de atenção de equipes médias da Europa.

GRUPO H: Espanha 6 pts - Chile 6 pts - Suiça 4 pts - Honduras 1 pt

ESPANHA
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 4-2-3-1 / 4-2-3-1
Nota do time: 7,0
Nota do treinador: Vicente del Bosque - 5,5
Melhor jogador: David Villa
Melhor jogo: Espanha 2 x 1 Chile
Também foram bem: Piqué, Capdevilla e Xabi Alonso
Decepção: Xavi
O que deve melhorar: Recuperar a confiança pré-Copa e se impor
Até onde vai: semifinal

Passou o susto da estreia, quando espanhóis bateram sem parar na muralha suíça, mas ainda não chegou na África do Sul o futebol que se esperava dos homens de Del Bosque. Dois parecem os problemas: a Fúria se sentia tão confiante que desabou após a primeira derrota e até agora não recobrou sua real consciência. O sistema de jogo também deixa Xavi, o elemento fundamental, em posição incômoda. No 4-2-3-1, ele não possui vocação para ser o meia centralizado que precisa romper a marcação, o que isola o atacante e deixa um buraco, já que Xavi retorna até o meio para receber a bola. Apesar dos percalços, a questão mental parece ainda mais decisiva. Vencer Portugal com uma grande atuação se anuncia a melhor cura.

CHILE
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 3-3-1-3 / 3-3-1-3
Nota do time: 7,5
Nota do treinador: Marcelo Bielsa - 8,5
Melhor jogador: Alexis Sánchez
Melhor jogo: Chile 1 x 0 Suiça
Também foram bem: Isla, Carmona e Valdívia
Decepção: Suazo
O que deve melhorar: Ter mais segurança dentro de campo
Até onde vai: oitavas

Existiam dúvidas sobre a capacidade de o time de Bielsa se impor como nas Eliminatórias, mas o Chile fez exatamente o que dele se esperava. Acuou Honduras com dificuldades, envolveu a Suíça até não poder mais e fez questão de ser protagonista diante da Espanha - claro, foi suicida como se jogar de uma montanha. A dificuldade em fazer partidas seguras e resguardar sua defesa é a maior mazela desse time tão interessante. Contra adversários de médio porte, poderia ir bem longe na África do Sul. Diante do Brasil em um mata-mata, o Chile só pode fazer as malas e se dizer feliz, com razão, pela papel realizado.

SUÍÇA
Sistemas táticos: 4-4-2 / 4-4-2 / 4-4-2
Nota do time: 5,5
Nota do treinador: Ottmar Hitzfeld - 5,0
Melhor jogador: Benaglio
Melhor jogo: Suiça 1 x 0 Espanha
Também foram bem: Ziegler, Gelson Fernandes e Derdiyok
Decepção: Inler

Que um time se proponha a ser defensivo, é um direito do futebol e a Suíça se provou competente nessa estratégia. Venceu a Espanha, por pouco não segurou um empate com o Chile (mesmo cerca de uma hora com 10 jogadores) e chegou à última rodada precisando vencer a esforçada Honduras. Na hora do plano B, em que precisou de dois gols de vantagem, o defeito no trabalho de Hitzfeld apareceu. A Suíça, apesar de possuir jogadores talentosos como Inler, Barnetta e Derdiyok, não tem mecânica ofensiva alguma. Não sabe jogar à frente e acuar o adversário. Imagine a cara dos suíços quando souberam que tinham de marcar duas vezes...

HONDURAS
Sistemas táticos: 4-1-4-1 / 4-1-4-1 / 4-1-4-1
Nota do time: 5,0
Nota do treinador: Reinaldo Mendoza - 5,0
Melhor jogador: Valladares
Melhor jogo: Honduras 0 x 0 Suíça
Também foram bem: Álvarez
Decepção: Palacios

Os hondurenhos se mostraram quase uma Suíça piorada. Muita retranca, quase sempre no 4-1-4-1, e chutão para o alto para tentar achar um gol na frente. Seria mais interesse se os times fracos tentassem manter a identidade, como fez a Nova Zelândia. Jogando atrás, os hondurenhos fizeram partidas dignas contra Chile e Espanha, mas não pontuaram. Mais animados no terceiro jogo, só não arrancaram uma vitória por falta de sorte e incompetência da arbitragem. Que sirva de lição.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Resumos: Grupo E e Grupo F


GRUPO E: Paraguai 5 pts - Eslováquia 4 pts - Nova Zelândia 3 pts - Itália 2 pts

PARAGUAI
Sistemas táticos: 4-4-2 / 4-3-3 / 4-3-3
Nota do time: 7,0
Nota do treinador: Gerardo Martino - 8,0
Melhor jogador: Vera
Melhor jogo: Paraguai 2 x 0 Eslovênia
Também foram bem: Alcaraz, Morel Rodríguez, Riveros e Barrios
Decepção: Cardozo
O que deve melhorar: Regularidade nas partidas
Até onde vai: quartas

A vitória segura e contundente sobre a Eslováquia trouxe um grande entusiasmo acerca do Paraguai, promissor desde as Eliminatórias. O ótimo Juan Pablo Varsky, do argentino La Nación, chegou a colocar a seleção sul-americana entre as melhores do planeta. De fato, os paraguaios vêm em grande forma e parecem maduros o suficiente para uma grande campanha. A ressalva a ser feita foi a fraca e desinteressada partida de encerramento contra a Nova Zelândia, mas ainda assim a equipe guarani promete ser outra no mata-mata. Tem talento em todas as suas linhas, jogadores experimentados e um treinador dos mais competentes da América Latina.

ESLOVÁQUIA
Sistemas táticos: 4-1-3-2 / 4-1-3-2 / 4-2-3-1
Nota do time: 6,5
Nota do treinador: Vladimir Weiss - 6,5
Melhor jogador: Vittek
Melhor jogo: Eslováquia 3 x 2 Itália
Também foram bem: Skrtel, Hamsik e Jendrisek
Decepção: Weiss
O que deve melhorar: Manter o nível da terceira apresentação
Até onde vai: oitavas

O surpreendente empate arrancado pelos neozelandeses na estreia escondeu a boa atuação que a Eslováquia já havia realizado. Pois o time se reergueu, Vladimir Weiss fez ajustes importantes, Hamsik enfim brilhou e os três pontos diantes da Itália foram justos, coroarando um elenco com algumas virtudes. Entre elas, a compactação defensiva e a capacidade que todos os meio-campistas têm em fazer múltiplas funções. Os eslovacos ainda possuem Vittek, um dos artilheiros do Mundial da África do Sul.

NOVA ZELÂNDIA
Sistemas táticos: 3-4-3 / 3-4-3 / 3-4-3
Nota do time: 7,5
Nota do treinador: Ricki Herbert - 8
Melhor jogador: Lochhead
Melhor jogo: Nova Zelândia 1 x 1 Itália
Também foram bem: Smith, Elliot e Smeltz
Decepção: Paston

Deixar a Copa do Mundo sem nenhuma derrota era a quase perspectiva mais animadora para a Nova Zelândia, cujo futebol é realmente semi-amador - havia um bancário entre os 23 convocados de Ricki Herbert. Os méritos do treinador são principalmente em fazer os jogadores acreditarem no impossível e, ao contrário de outros times bastante limitados, não ter exagerado no defensivismo. Os neozelandeses tiveram bons momentos, como a pressão sobre a Eslováquia nos últimos minutos, e toda a partida contra a Itália. Se o objetivo da Fifa era desenvolver o futebol da Oceania jogando a Austrália para a Ásia, pode se dizer que ele foi cumprido.

ITÁLIA
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 4-4-2 / 4-3-3
Nota do time: 3,0
Nota do treinador: Marcello Lippi - 2,0
Melhor jogador: De Rossi
Melhor jogo: Paraguai 1 x 1 Itália
Também foram bem: Montolivo e Quagliarella
Decepção: Gilardino

As convicções contestadas de Marcello Lippi foram definitivamente por água abaixo no Ellis Park. A derrota contra a Eslováquia, em especial o primeiro tempo lamentável, serviu para reforçar problemas crônicos do futebol italiano, como a dificuldade em se renovar e encontrar talento surgindo. Nos últimos dois anos, entre buscar algo novo ou tentar utilizar ao máximo a base de 2006, Lippi optou pelo conservadorismo.

Mesmo abdicando de Fabio Grosso e Luca Toni, insistiu em Cannavaro, Camoranesi e Iaquinta até onde foi possível. Morreu abraçado com operários como Pepe e Di Natale e se frustrou com Criscito e Marchisio, suas esperanças por sangue novo na áfrica do Sul. Em nenhum momento, os italianos se mostraram suficientemente organizados para vencer com tática e técnica. Com uma atuação heroica de Quagliarella no segundo tempo diante da Eslováquia, por pouco ainda assim a Azzurra não buscou a vaga nas oitavas. Seria a vitória da camisa, de quem nunca pode se esperar que resolva as coisas sozinha.

GRUPO F: Holanda 9 pts - Japão 6 pts - Dinamarca 3 pts - Camarões 0 pt

HOLANDA
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 4-2-3-1 / 4-2-3-1
Nota do time: 8,0
Nota do treinador: Bert Van Marwijk
Melhor jogador: Sneijder
Melhor jogo: Holanda 2 x 0 Dinamarca
Também foram bem: Van der Wiel, Kuyt, Van Persie e Elia
Decepção: Ninguém
O que deve melhorar: Jogar com mais intensidade
Até onde vai: quartas

Chamar essa Holanda de pragmática é fechar os olhos para o talento de jogadores brilhantes como Sneijder e Van Persie, mas de fato a Holanda somou nove pontos sem jogar um grande futebol. Cá entre nós, parece tê-lo reservado para as oitavas. Até aqui, fica na memória os últimos 20 minutos contra a Dinamarca, o início do segundo tempo contra o Japão e alguns lances diante de Camarões. Com Robben chegando ao time titular para o mata-ata e a adrenalina lá em cima, se espera que a Oranje jogue com toda sua intensidade. Mesmo assim, sem forçar, já não perde há 21 partidas.

JAPÃO
Sistemas táticos: 4-3-3 / 4-1-4-1 / 4-1-4-1
Nota do time: 8,0
Nota do treinador: Takeshi Okada - 8,0
Melhor jogador: Honda
Melhor jogo: Japão 3 x 1 Dinamarca
Também foram bem: Endo, Okubo e Matsui
Decepção: Nakamura
O que deve melhorar: Não exagerar no defensivismo
Até onde vai: oitavas

Uma partida para a história do futebol japonês. Daqui 100 anos, sabe-se lá como no cenário internacional, o Japão se lembrará do que realizou nesta quinta-feira diante da Dinamarca. Foi a mistura da melhor compactação defensiva, arma maior para dar trabalho à Holanda, sem perder o gosto pelo ataque. Foi a combinação da disciplina oriental com o talento do qual o esporte não abdica. O surgimento de um jogador como Honda dá sinais de que os Samurais cada vez mais entendem melhor como se forma um craque, como se trabalha dentro e fora de campo e como se conseguem grandes vitórias nos aspectos coletivo e individual. Passar das oitavas é uma perspectiva mínima, mas o trabalho de qualquer forma já foi feito. Muito bem feito.

DINAMARCA
Sistemas táticos: 4-1-4-1 / 4-2-3-1 / 4-2-3-1
Nota do time: 4,5
Nota do treinador: Morten Olsen - 4,0
Melhor jogador: Kjaer
Melhor jogo: Dinamarca 2 x 1 Camarões
Também foram bem: Agger e Rommedahl
Decepção: Sorensen

É maldade dizer que a Dinamarca de 2010 é o time de 1998 sem os irmãos Laudrup e Schmeichel, mas de fato impressionou a dificuldade que a seleção nórdica teve em formar mais jogadores nos últimos anos. Claro, não inclua aí a ótima dupla Kjaer-Agger, o que de melhor o país apresentou na África do Sul. Mas a linha de três meias formada por Rommedahl, Tomasson e Jorgensen, por vezes ainda com Gronkjaer, é de desesperar. Todos já deixaram o cenário internacional há alguns anos e a única novidade do meio para a frente é o atabalhoado Bendtner. A falta de talento se refletiu em campo e a eliminação da emperrada Dinamáquina foi justíssima.

CAMARÕES
Sistemas táticos: 4-3-3 / 4-3-1-2 / 4-3-1-2
Nota do time: 2,0
Nota do treinador: Paul Le Guen - 3,0
Melhor jogador: Samuel Eto'o
Melhor jogo: Dinamarca 2 x 1 Camarões
Também foram bem: Souleymanou e Enoh
Decepção: Assou-Ekotto

Para entender mais do fracasso da Nigéria, basta também uma olhada para Camarões. Outra seleção que absorveu alguns aspectos táticos importantes, mas esqueceu do seu talento e atua sem conjunto e união. Paul Le Guen, de grande passagem pelo Lyon, deu novos sinais de decadência na carreira. Primeiro na arrumação da equipe, sem criação no meio e com Eto'o mau posicionado em campo. Depois, ao perder a mão do vestiário e ter dificuldades enormes em controlar as reivindicações dos jogadores. A África precisa repensar seus conceitos e a forma mais nítida de encontrar os problemas é olhar para a participação camaronesa no Mundial.

Jogador de seleção


Prova de que a Copa do Mundo é um torneio peculiar é o sucesso até aqui de jogadores praticamente irrelevantes no cenário de clubes. Giovani dos Santos, Donovan, Altidore, Asamoah Gyan, Klose e Podolski fazem parte desse grupo que geralmente só aparece bem de dois em dois anos, ou no caso de alguns até de quatro em quatro.

Difícil é encontrar explicação para esse fenômeno, mas se presume que tudo seja uma questão de ambiente. No vestiário, na concentração, nos treinos e em campo, tais jogadores se sentem mais à vontade. Possivelmente recebem um certo mimo. São melhores acomodados taticamente. Se sentem motivados a carregar a reputação do próprio país adiante. Eis algumas das explicações - subjetivas, é verdade.

Giovani dos Santos é um iniciante nesse cenário. O mexicano, sempre comparado a Ronaldinho Gaúcho pela semelhança física e pelo estilo de jogo, foi um fiasco em todas as equipes que jogou. Foi prejudicado pelos ambientes, é verdade. Pegou clubes em queda, treinadores que provavelmente não apostaram nele. Na chegada à África do Sul, se transformou. É o único jogador mexicano realmente inventivo, capaz de sair da jogada previsível. É o que tem feito com o México. Agora resta saber se alguma equipe europeia de bom porte aceitará apostar nele outra vez.

Caso consolidado de jogador de Copa é Landon Donovan. Uma rápida passagem pelo Bayer Leverkusen, recentemente um pulinho no Everton, mas nunca se viu aquele monstro que veste a camisa ianque e encanta pela terceira Copa seguida. Na Ásia, menino, levou os Estados Unidos às quartas. Maduro na Alemanha, fez boa participação, mas a equipe não ajudava. Hoje, o dono da equipe, brilha com intensidade na África do Sul. Como afirmou Feilhaber em entrevista pós-jogo, é dele que os companheiros esperam o gol decisivo. Exatamente o que ele fez.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Resumos: Grupo C e Grupo D


GRUPO C: Estados Unidos 5 pts - Inglaterra 5 pts - Eslovênia 4 pts - Argélia 1 pt

ESTADOS UNIDOS
Sistemas táticos: 4-4-2 / 4-4-2 / 4-4-2
Nota do time: 7,5
Nota do treinador: Bob Bradley - 8
Melhor jogador: Landon Donovan
Melhor jogo: Eslovênia 2 x 2 Estados Unidos
Também foram bem: Howard, Bradley e Dempsey
Decepção: Onyewu
O que deve melhorar: Presença ofensiva
Até onde vai: quartas

A heroica classificação dos Estados Unidos já ficou nos principais capítulos da Copa do Mundo de 2010. Cabe observar o espírito bastante competitivo dos estadunidenses, que fizeram três jogos com puro coração e, claro, algumas qualidades. Bradley é um jogador maduro ainda jovem, Howard respondeu bem em todos os momentos e Donovan conduziu o time como se espera de alguém do seu calibre. Se veem avanços muito interessantes nos ianques, que por natureza contam com o que podemos chamar de espírito vitorioso e um jogo sempre coletivo. Claro que o grupo não foi tão difícil, mas a impressão desde já é muito boa.

INGLATERRA
Sistemas táticos: 4-4-2 / 4-4-2 / 4-4-2
Nota do time: 5,0
Nota do treinador: Fabio Capello - 5
Melhor jogador: Glen Johnson
Melhor jogo: Inglaterra 1 x 0 Eslovênia
Também foram bem: Ashley Cole e Gerrard
Decepção: Lampard
O que deve melhorar: Quase tudo, mas o bom jogo diante da Eslovênia mostrou progressos
Até onde vai: oitavas

Após dois jogos ridículos, a Inglaterra parece ter adquirido a química que pede uma Copa do Mundo. O jogo contra a Eslovênia, apesar do placar magro, apresentou um grande progresso especialmente no setor de criação, com Gerrard encostando na frente, Rooney se sentindo confortável ao lado de Defoe e a defesa, mais uma vez, funcionando muito bem. O pecado para os ingleses é encarar a Alemanha nas oitavas, o que também pode ser um primeiro passo para a campanha que realmente se esperava do time de Fabio Capello.

ESLOVÊNIA
Sistemas táticos: 4-4-2 / 4-4-2 / 4-4-2
Nota do time: 8,0
Nota do treinador: Matjaz Kek - 8,0
Melhor jogador: Handanovic
Melhor jogo: Eslovênia 2 x 2 Estados Unidos
Também foram bem: Brecko, Jokic, Birsa e Koren
Decepção: Novakovic

Como pode um time eliminado ter recebido nota 8? Pois, no caso da Eslovênia, é bastante justo. O pequeno país, localizado entre o Leste e o Centro da Europa, ainda pode se dizer um incipiente no esporte e mesmo assim fez um grande papel. Mostrou virtudes como o toque de bola no meio, a segurança por todos os pontos do sistema defensivo e o talento de Birsa, revelação do Auxerre, como um possível fio condutor para um time mais forte no futuro. Por dois minutos, não ficou entre os 16 melhores do planeta.

ARGÉLIA
Sistemas táticos: 3-4-2-1 / 3-4-2-1 / 3-4-2-1
Nota do time: 4,0
Nota do treinador: Rabah Saadane - 3,0
Melhor jogador: Belhadj
Melhor jogo: Estados Unidos 1 x 0 Argélia
Também foram bem: Bougherra
Decepção: Chaouchi

Nenhum gol marcado e uma postura muito, muito covarde. A Argélia também é dos times que não ficarão na memória da Copa de uma forma positiva e dá a impressão que só chegou à África do Sul graças ao inchaço de nações africanas neste Mundial. Claro, a equipe teve muita bravura e certamente orgulhou seu povo, mas em nenhum momento deu a sensação de que poderia jogar as oitavas. A rigidez defensiva ainda é pouco para ver o crescimento do futebol argelino. Curioso para quem eliminou a fortíssima equipe do Egito nas Eliminatórias.

GRUPO D: Alemanha 6 pts - Gana 4 pts - Austrália 4 pts - Sérvia 3 pts

ALEMANHA
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 4-2-3-1 / 4-2-3-1
Nota do time: 7,5
Nota do treinador: Joachim Löw - 7,5
Melhor jogador: Mesut Özil
Melhor jogo: Alemanha 4 x 0 Austrália
Também foram bem: Lahm, Schweinsteiger, Khedira e Müller
Decepção: Podolski
O que deve melhorar: Eficiência no ataque
Até onde vai: semifinal

A equipe desta vez montada pela Alemanha possui aspectos diferentes do tradicional futebol germânico. Há muito toque de bola horizontal, sempre chamando volantes e laterais para participar do jogo, em um ritmo que passa sempre pelo pé de Özil, o jogador a decidir qual a melhor iniciativa. Eventualmente ele aciona Müller e Podolski para dar profundidade, ou faz o jogo curto para aproximar a equipe. Como em tudo que fazem, os alemães já são extretamente obedientes a essa mentalidade, o que ficou claro em 270 minutos de Copa. Diante uma Inglaterra sempre dura de Capello, resta saber até onde pode ir esse Nationalelf técnico e por vezes insinuante. A aposta do blog é que vai longe.

GANA
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 4-1-4-1 / 4-2-3-1
Nota do time: 6,0
Nota do treinador: Milovan Rajevac - 6,5
Melhor jogador: Asamoah Gyan
Melhor jogo: Gana 1 x 1 Austrália
Também foram bem: Kingson, Kevin-Prince Boateng, Ayew
Decepção: Tagoe
O que deve melhorar: Imposição técnica, ainda muito abaixo do que pode
Até onde vai: oitavas

A seleção ganense do sérvio Milovan Rajevac é a africana que mais preservou sua identidade e também por isso deve ser a única a disputar a segunda fase. Ainda assim, Gana joga tecnicamente muito abaixo do que pode, buscando sempre o contato físico como a solução em alguns momentos. A partir do instante que os Estrelas Negras entram mais na partida, tocam a bola e fazem o jogo de triangulações inteligentes, aproximando Kwadwo Asamoah de Boateng e acionando seus dois ponteiros, o adversário se vê em dificuldade. Na raça e na força, será difícil bater os Estados Unidos. A chance de jogar as quartas é na qualidade.

AUSTRÁLIA
Sistemas táticos: 4-4-1-1 / 4-2-3-1 / 4-2-3-1
Nota do time: 6,0
Nota do treinador: Pim Verbeek - 4,5
Melhor jogador: Holman
Melhor jogo: Austrália 2 x 1 Sérvia
Também foi bem: Culina
Decepção: Cahill

O australiano está no rol dos esportistas que, mesmo quando falta técnica, não se pode duvidar. Não fosse o massacre alemão na primeira partida, seria bem possível que o país jogasse novamente as oitavas de final. A Austrália precisa com urgência se renovar, encontrar jogadores talentosos, pois Kewell, Cahill e Bresciano não vão durar para sempre. Se achar mais qualidade, os Cangurus podem se tornar uma nação de médio porte no futebol. As partidas contra Sérvia e Gana deixaram limpa a imagem do time goleado na abertura, mas que pelejou até o último momento do Mundial.

SÉRVIA
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 4-1-4-1 / 4-1-4-1
Nota do time: 4,0
Nota do treinador: Radomir Antic - 4,0
Melhor jogador: Jovanovic
Melhor jogo: Sérvia 1 x 0 Alemanha
Também foram bem: Vidic, Krasic e Zigic
Decepção: Dejan Stankovic

Pela terceira Copa seguida, a Sérvia (claro, antes Sérvia e Montenegro e antes Iugoslávia) decepcionou. Não que tenha sido o desempenho ridículo de 2006, mas se esperava muito mais da equipe de Radomir Antic. Dona de uma invejável campanha nas Eliminatórias e de jogadores talentosos em todos os setores do campo, o time pecou especialmente na estreia, quando atuou engessado e sem vibração. Nos jogos seguintes, um triunfo interessante sobre a Alemanha e um jogo com deficiências grandes na finalização diante da Austrália. O grupo se anunciava complicado e os sérvios não tiveram a eficácia que a ocasião pedia. Uma falha que o futebol normalmente não perdoa.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Resumos: Grupo A e Grupo B


GRUPO A: Uruguai 7 pts - México 4 pts - África do Sul 4 pts - França 1 pts

URUGUAI
Sistemas táticos: 3-4-1-2 / 4-3-1-2 / 4-3-1-2
Nota do time: 7,5
Nota do treinador: Oscar Tabarez - 7,0
Melhor jogador: Luis Suárez
Melhor jogo: Uruguai 3 x 0 África do Sul
Também foram bem: Maxi Pereira, Victorino e Diego Forlán
Decepção: Lodeiro
O que deve melhorar: Aproximação dos volantes na frente
Até onde vai: quartas

MÉXICO
Sistemas táticos: 4-3-3 / 4-3-3 / 4-3-3
Nota do time: 6,5
Nota do treinador: Javier Aguirre - 5,5
Melhor jogador: Rafa Márquez
Também foram bem: Salcido, Giovani dos Santos e Javier Hernández
Decepção: Franco
O que deve melhorar: Criação do meio-campo
Até onde vai: oitavas

O México jogou menos que podia, isso é uma ideia clara. Há talento em abundância no elenco azteca, que pagou por escolhas infelizes de Aguirre. O treinador foi conservador demais com Guardado e Hernández, apenas opções de segundo tempo para ele, mas os diferenciais técnicos da equipe. Para avançar às quartas desta vez, contra a 100% Argentina, os mexicanos precisarão de uma grande evolução coletiva em um curto espaço de tempo. Parece difícil.

ÁFRICA DO SUL
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 4-2-3-1 / 4-3-2-1
Nota do time: 7,0
Nota do treinador: Carlos Alberto Parreira - 7,0
Melhor jogador: Tshabalala
Também foram bem: Dikgacoi e Mphela
Decepção: Pienaar

A África do Sul fez tudo o que poderia e teve um pouquinho de falta de sorte. A avaliação de Parreira, justamente essa, é correta. O sorteio não foi generoso com os donos da casa, que atuaram de forma competitiva nos três jogos, mas não souberam matar os adversários quando foi preciso. Faltou um pouco de técnica e um pouco de maturidade, mas os Bafana Bafana se despediram de forma honrosa.

FRANÇA
Sistema tático: 4-3-3 / 4-2-3-1 / 4-3-3
Nota do time: 1,0
Nota do treinador: Raymond Domenech - 0
Melhor jogador: Diaby
Também foram bem: Lloris e Malouda
Decepção: Gourcuff

Os aspectos técnicos e táticos ficam em terceiro plano. O vexame francês na Copa do Mundo, por um ambiente terrível e por confusões ridículas, é inaceitável. O grupo pareceu sem qualquer compromisso e o comando de Domenech se mostrou extremamente frágil. A imagem ruim é tão grande que até o governo precisou intervir, mas internacionalmente, hoje, a França tem sua reputação arranhada pelo que aconteceu na África do Sul. Um fim trágico para uma classificação que só aconteceu graças a um erro extremo de arbitragem.

GRUPO B: Argentina 9 pts - Coreia do Sul 4 pts - Grécia 3 pts - Nigéria 1 pt

ARGENTINA
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 4-3-1-2 / 4-3-1-2
Nota do time: 8,5
Nota do treinador: Diego Maradona - 7,5
Melhor jogador: Lionel Messi
Melhor jogo: Argentina 4 x 1 Coreia do Sul
Também foram bem: Heinze, Mascherano, Tevez
Decepção: Demichelis
O que deve melhorar: Aspectos coletivos e sistema defensivo
Até onde vai: semifinal ou final

Três vitórias na primeira fase como só havia ocorrido em 1998. A Argentina superou as expectativas ao atropelar em um grupo fácil, fazer Messi jogar como nunca e se sentir à vontade, e transformar uma equipe que se anunciava defensiva jogando ao ataque. Há de se aguardar testes maiores para o sistema defensivo, que apresentou falhas crônicas em todos os jogos, e observar a evolução de aspectos coletivos, já que os argentinos venceram muito mais nas individualidades até aqui.

COREIA DO SUL
Sistemas táticos: 4-2-3-1 / 4-2-3-1 / 4-2-3-1
Nota do time: 7,0
Nota do treinador: Huh Jung-Moo - 7,0
Melhor jogador: Lee Chung-Yong
Melhor jogo: Coreia do Sul 2 x 0 Grécia
Também foram bem: Lee Jung-Soo, Lee Young-Pyo, Ki Sung-Yong e Park Ji-Sung
Decepção: Nenhuma
O que deve melhorar: Marcação no meio-campo
Até onde vai: oitavas

Muito positivo a Coreia do Sul retornar ao grupo dos 16 melhores do futebol mundial. A melhor seleção asiática ao longo de toda a década evolui de forma nítida em vários aspectos, inclusive o físico e o técnico. Os sul-coreanos dificilmente passarão pelo Uruguai, mas certamente estarão competitivos. Destaque para o ótimo externo Lee Chung-Yong, cheio de saúde pelo lado direito do meio-campo.

GRÉCIA
Sistemas táticos: 4-4-2 / 3-4-2-1 / 3-4-2-1
Nota do time: 4,5
Nota do treinador: Otto Rehhagel - 4,0
Melhor jogador: Gekas
Melhor jogo: Grécia 2 x 1 Nigéria
Também foram bem: Tzorvas, Katsouranis e Salpingidis
Decepção: Seitaridis

Esqueça a sólida e competitiva campeã europeia de 2004. Os gregos retornaram à Copa depois de 16 anos, mas ainda jogam sob as ideias do time que surpreendeu Portugal. Pareceu uma fórmula um tanto quanto anacrônica, embora a oferta de talento ainda seja muito baixa. A Grécia está entre as seleções que não deixarão saudades desta vez.

NIGÉRIA
Sistemas táticos: 4-3-3 / 4-4-2 / 4-2-3-1
Nota do time: 5,0
Nota do treinador: Lars Lagerback - 5,5
Melhor jogador: Kalu Uche
Melhor jogo: Nigéria 2 x 2 Grécia
Também foram bem: Enyeama e Odiah
Decepção: Yakubu

Aparentemente, Lars Lagerback, que chegou ao cargo em cima da hora, tinha boas ideias para a Nigéria, mas a escola africana que mais encantou na década passada é também uma das mais travadas do momento. Os atacantes, quase todos, têm cintura dura, e não há um sequer meio-campista talentoso. Os nigerianos fizeram três partidas competitivas, mas deixam o Mundial com um só ponto por não saber se impor tecnicamente contra os adversários.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A vitória pessoal de Tiago Mendes


Há jogadores fadados ao sucesso apenas por suas seleções, como Klose e Asamoah Gyan têm mostrado na África do Sul. O caso de Tiago Mendes foi sempre o contrário: quando vestia a cor da camisa de Portugal, seu futebol sumia. Por isso, mesmo em momentos onde parecia seu momento de assumir a titularidade, Tiago falhou. Grande jogador português no expressivo triunfo sobre a Coreia do Norte, o meio-campista teve um grande vitória pessoal nesta segunda-feira na Cidade do Cabo.

Prova disso é que, até os dias de hoje, ele tinha 52 jogos com a seleção portuguesa e um só gol - contra os norte-coreanos, fez dois. Mais que isso, mostrou a Carlos Queiroz que é a hora de Deco retornar ao banco de reservas. Entre as quatro trocas realizadas por Queiroz no time que empatou com Costa do Marfim, nenhuma foi tão certeira quanto a entrada de Tiago.

Afinado com Raul Meireles, foi responsável por furar a retranca asiática com um passe milimétrico em uma bela jogada combinada. Reapareceu em momentos importantes do segundo tempo e marcou o quarto na vitória por 7 a 0 em uma finalização de quem sabe das coisas.

Tiago, aos 29 anos, chegou à África do Sul com a missão de consolidar a guinada que sua carreira havia dado nos últimos meses, quando foi essencial para a boa campanha do Atlético de Madrid em 2010. Mais que isso, reagiu após anos terríveis pela Juventus e recuperou o futebol dos melhores dias no Chelsea.

A vitória de 7 a 0 sobre a Coreia do Norte não foi só de Portugal. Foi também de Tiago.


Dica
Para saber o que cada seleção precisa fazer para se classificar, leia matéria especial clicando AQUI

domingo, 20 de junho de 2010

O Brasil de Dunga sempre vence e convence nos jogos importantes

Dunga não mandou jornalistas chuparem, mas o pós-jogo foi de novo atrito com a imprensa


Questione os métodos de Dunga, mas os resultados são para se engolir goela abaixo. Mais uma vez, em um momento agudo, a seleção brasileira não deu nenhuma chance para o adversário e repetiu o histórico dos últimos quatro anos: se o jogo é importante, não tem para ninguém. A Costa do Marfim correu atrás o tempo inteiro e foi dominada, seja em contra-ataques ou com a bola trabalhada, nascente dos três gols deste domingo.

Se cobrava tanto uma grande atuação da dupla Kaká e Luís Fabiano, inclusive aqui neste espaço, e ambos foram soberbos. O primeiro soube jogar em alto nível mesmo sem espaços para conduzir a bola em velocidade, criando alternativas e invadindo a área com força e técnica, o que gerou dois gols. O segundo esteve com uma atitude diferente e marcou duas vezes numa clara demonstração de confiança e evolução. Foram os pilares de um resultado fantástico, que dá a classificação antecipada, o que só holandeses haviam conseguido, mas em uma chave muito mais tranquila.

Tem sido assim desde o primeiro momento de pressão, na Copa América. Foi nas Eliminatórias com resultados convincentes fora de casa contra Chile, Uruguai e Argentina (contra eles, no total, três vitórias e um empate em quatro anos). Também se repetiu na Copa das Confederações, especialmente após o revés de 45 minutos contra os Estados Unidos. Aconteceu até em amistosos, como contra Portugal, em Brasília, no fim de 2008. Se repetiu contra Costa do Marfim, quando uma derrota poderia até complicar a classificação.

O triunfo absoluto amplia ainda mais o sucesso brasileiro contra as equipes africanas. Agora são 25 jogos, com 23 vitórias, um empate (contra a Argélia) e uma derrota (contra Camarões). Em Copas, a sexta vitória em seis jogos: 3 a 0 contra o Zaire em 74, 1 a 0 contra a Argélia em 86, 3 a 0 contra Camarões em 94, 3 a 0 contra Marrocos em 98 e 3 a 0 contra Gana em 2006. Drogba impediu que o placar mais comum se repetisse.

As atuais finalistas em frangalhos pela falta de renovação repetem a história


Italianos e franceses chegaram de forma bastante convincente à decisão da Copa do Mundo de 2006, superando adversários poderosos e com destaques individuais expressivos e ambas com conjuntos muito sólidos. Apesar do sucesso, estava claro que se tratava do fim de duas gerações (Itália tinha média de 29 anos e França de 29,2) - e a falta de renovação dá sinais muito claros na África do Sul. Os Bleus dificilmente avançam e a Squadra Azzurra corre riscos muito razoáveis.

A Eurocopa realizada há dois anos já mostrou, na prática, a decadência dos dois países. Posicionados no mesmo grupo ao lado de Holanda e Romênia, apresentaram um futebol horroroso. Ambos empataram com os romenos e perderam por três gols de diferença para os holandeses. Alguém tinha que avançar e a Itália superou a França no confronto direto, mas logo parou nas quartas. Estava claro que algo precisava ser feito, mas o recado não foi compreendido.

A França inexplicavelmente manteve Raymond Domenech, que se propunha transformar a seleção com nomes como Nasri, Benzema, Flamini e Gourcuff. Apenas o último caminhou até a África do Sul, mas o plano de torná-lo um protagonista fracassou. Pior que a crise técnica e o trabalho de quatro anos só o ambiente. A seleção francesa com mais negros de sua história tem conflitos internos que refletem a sociedade do país e nos remetem à Holanda da década de 90.

É verdade que os italianos fizeram uma mudança, mas não para a frente. Roberto Donadoni foi sacado e a solução foi retornar para Marcello Lippi, que levou oito campeões mundiais para a África do Sul e disse não ao talento de Cassano e Balotelli, espécies em extinção no anacrônico Calcio atual. As caras novas são jogadores limitados e rompedores como Pepe, Di Natale e Iaquinta. Até nomes interessantes como Marchisio e Criscito não vêm bem.

O sofrimento após o fim de uma grande geração é comum na história de quase todas as seleções. O Brasil ficou 24 anos sem títulos quando Pelé parou, até hoje a Argentina sem Maradona não sabe o que é uma grande conquista, a Inglaterra sofreu por muito tempo sem seus belos nomes da década de 60 e a própria França perdeu dois mundiais consecutivos quando Platini e companhia deixaram o cenário internacional. Inclusive médios como Hungria, Polônia, Bulgária, Bélgica, República Tcheca e Turquia procuram novos grandes times. Exceção mesmo só a Alemanha.

Aparentemente, o recado enfim foi entendido pelas federações de Itália e França, que anunciaram respectivamente Cesare Prandelli e Laurent Blanc para assumir suas seleções após o Mundial. Ambos são jovens, reconhecidamente competentes e prontos para um trabalho de médio e longo prazo. Pelo que se anuncia na África do Sul, é do zero que assumirão seus cargos.

O que falta ao Brasil: Kaká e Luís Fabiano

Chuva de troféus para a dupla na África há um ano: hora de repetir

Só um adversário bastante competitivo e um jogo com contornos decisivos para medir realmente o atual momento da seleção brasileira. A Costa do Marfim certamente marcará atrás, como a Coreia do Norte fez, mas será natural que busque o ataque em muitos momentos, até porque a vaga com cinco pontos está longe de ser uma garantia. Entre tantas respostas que se espera do time de Dunga, a maior delas se espera de Kaká e Luís Fabiano.

O tempo concedido para a recuperação física e agora principalmente técnica de Kaká vai se esgotando. Foi principalmente dele que o Brasil sentiu falta diante da fechada Coreia do Norte. Embora seja sempre um jogador que precisa dos espaços, esperava-se que ele assumisse a condição de armador centralizado, buscando a bola e optando pela melhor iniciativa. Como em momentos importantes, que arriscasse a tabela, o sempre perfeito chute de fora da área. Em 90 minutos, só foi um arremate de Kaká.

Não se sabe até que ponto o meia do Real Madrid tem progredido em sua recuperação. Os relatos dos treinos são limitados e os três jogos realizados desde que a seleção brasileira se reuniu não deram muitos argumentos positivos. Contra a Tanzânia, a melhor apresentação de Kaká, seria impossível lhe dar uma nota acima de 6.

Luís Fabiano teve problemas físicos menos importantes durante a última temporada, mas esteve sempre flertando entre os coletivos e o departamento médico. A contusão muscular que sofreu não deveria, mas tem limitado bastante os seus movimentos. Raramente o camisa nove confiável dos últimos dois anos tem oferecido opção aos companheiros, finalizado com confiança e principalmente dado trabalho aos zagueiros.

Contra equipes muito fechadas, tônica em comum a quase todos que estão na África do Sul, a presença de um camisa 9 atuante é essencial. Se leva dois zagueiros consigo, Luís Fabiano abre espaços para Elano e principalmente Kaká e Robinho. Em um time no qual os volantes nunca chegam até a área e o lateral esquerdo não ultrapassa a linha intermediária, a capacidade de desarticular a marcação do rival fica ainda menor.

Curiosamente, como bem recorda um ótimo texto assinado pelo colega Luis Augusto Simon na última Revista Espn, Kaká e Luís Fabiano fizeram afinadíssima dupla pelo São Paulo em 2001, 2002 e 2003. Saíram pela porta dos fundos em um momento difícil e graças à tolice de meia dúzia de torcedores.

Naquela época, faltou o título para coroar grandes equipes são-paulinas. Se Kaká e Luís Fabiano não se recuperarem rapidamente, dificilmente a história com a seleção de 2010 será diferente.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Por que brasileiros e espanhóis sofreram

Muitos, muitos passes foram dados por brasileiros e espanhóis em suas primeiras participações na Copa do Mundo. Precisamente, 595 do time de Dunga e 527 do time de Vicente del Bosque. Olhando friamente para os números, você ainda verá que os dois times finalizaram bastante, mas a verdade é que chegaram poucas vezes em condição de marcar. O post traz duas imagens do excelente site Zonal Marking.net.

Criar oportunidades diante de nove jogadores fielmente posicionados atrás da linha da bola, como ficaram os norte-coreanos e os suíços, não é uma tarefa fácil. Exige muita movimentação, profundidade nos passes, algum improviso, entrosamento e uma dose de atitude. Brasileiros e espanhóis jogaram com formações parecidas, mas erraram de forma diferente.

Os momentos difíceis do Brasil foram geralmente graças à falta de um articulador, porque tinha dois volantes que não chegam à área, o que é sempre a melhor arma de se furar uma retranca. Além disso, os brasileiros tinham meia (Kaká) que depende de espaços para jogar em velocidade e dois homens abertos que ficam muito distantes do centroavante.

Não foram poucas vezes ainda que Maicon passou e não recebeu, ou que Michel Bastos, preocupado com Mun In Guk e Jong Tae-se, não saiu da defesa. O espaço só apareceu graças a uma linda inversão de bola de Felipe Melo (imagem abaixo).


O mais importante para o Brasil, no fim das contas, acabou sendo somar três pontos, o que Costa do Marfim e Portugal provavelmente também farão. Ressalva feita, claro, ao perigo: em caso de um empate no próximo jogo e uma vitória portuguesa por dois gols, será inevitável ter que vencer os lusos.

Na comparação com o Brasil, a Espanha não venceu porque enfrentou um time superior à Coreia do Norte e também por não ter tido a mesma sorte, vide os gols quase feitos por Xabi Alonso e Piqué. No caso espanhol, havia gente demais para organizar e pouca penetração, quase nenhuma entrada na área e, ainda, raras finalizações.


A entrada de Fernando Torres devia ter se dado no intervalo, o que prova uma crença demasiada dos espanhóis no estilo de jogo da posse de bola na intermediária ofensiva (imagem acima). O positivo é que, desta vez, ao contrário de outras “amareladas” da Espanha, a derrota veio em tempo para uma reação. E de se repensar algumas ideias.

BRASIL (4-2-3-1) x COREIA DO NORTE (5-3-1-1)
Melhor em campo: Maicon
Melhor da Coreia do Norte: Jong Tae-Se
O leão: Elano
O preguiça: Gilberto Silva
A imagem do jogo: abraço entre Elano e Maicon no primeiro gol

CHILE (4-3-3) x HONDURAS (4-1-4-1)
Melhor em campo: Isla
Melhor de Honduras: Alvarez
O leão: Valladares
O preguiça: Palacios
A imagem do jogo: defesa histórica do hondurenho Valladares

ESPANHA (4-2-3-1) x SUÍÇA (4-4-2)
Melhor em campo: Derdiyok
Melhor da Espanha: David Villa
O leão: Ziegler
O preguiça: Busquets
A imagem do jogo: Piqué sangrando no gol suíço

terça-feira, 15 de junho de 2010

Quem mais revelou brasileiros que jogaram Copas do Mundo?

Para responder a pergunta que dá nome ao post, me uni aos amigos Carlos Eduardo R. de Moura e Leandro Stein, em um extenso trabalho de pesquisa publicado no nosso Olheiros.net e que traça um raio-x decisivo na história do trabalho de formação no Brasil.

Adiantando um pouquinho do que há no ranking, a liderança é do Flamengo e bastante absoluta. São Paulo e Inter completam o pódio, mas ainda há muita informação interessante por lá.

Para ler o ranking completo, vá ao texto aqui:

Contra as críticas à Copa


É bastante correto dizer que o bom futebol ainda não chegou à África do Sul, salvo o convincente triunfo alemão, mas é importante fazer algumas ponderações que diminuem tantas críticas. É esse o gancho que o blog pegará para falar mais sobre os três jogos da segunda-feira e os dois primeiros desta terça. Cabe um pouco de otimismo para as próximas fases.

Portugal e Costa do Marfim fizeram um jogo realmente pouco vistoso. Nos africanos foi possível notar a diferença que faria Didier Drogba inteiro, empurrando o inspirado Gervinho para a direita e aumentando a pressão sobre Coentrão, que se saiu bem contra Dindane. O time de Eriksson é muito firme e dificultará a vida do Brasil – que claro, segue favorito. Os portugueses sentem falta de armação e viram Deco sobrecarregado na caça ao bom Tiene. Melhor seria retomar o 4-2-3-1 de Felipão, ou tentar jogar com mais posse de bola e ultrapassagens dos laterais. Depender só dos lances de Cristiano Ronaldo é pouco.

COSTA DO MARFIM (4-3-3) x PORTUGAL (4-3-3)
Melhor em campo: Cristiano Ronaldo
Melhor da Costa do Marfim: Gervinho
O leão: Tiene
O preguiça: Deco
A imagem do jogo: Larrionda inspecionando o gesso de Drogba antes da entrada em campo

NOVA ZELÂNDIA (3-4-2-1) x ESLOVÁQUIA (4-1-3-2)
Melhor em campo: Vittek
Melhor da Nova Zelândia: Elliot
O leão: Reid
O preguiça: Hamsik
A imagem do jogo: celebração de Reid com direito a cartão amarelo

Foi possível ainda ver aspectos muito positivos no empate entre italianos e paraguaios. Muita disputa, força e, sim, algum talento – como bem disseram os amigos do Uol, parecia um jogo de Libertadores. A Itália de Lippi mostrou progressos inegáveis e, embora o posicionamento de Marchisio mereça ajustes, Criscito, Montolivo e Pepe merecem elogios. Do Paraguai sempre irá se esperar um jogo duro, como nos bons tempos, mas agora sim contando com bons valores no ataque. Ainda falta Cardozo para se alinhar a Barrios.

ITÁLIA (4-2-3-1) x PARAGUAI (4-4-2)
Melhor em campo: De Rossi
Melhor do Paraguai: Alcaraz
O leão: Pepe
O preguiça: Barrios
A imagem do jogo: comemoração paraguaia no gol

Camarões, assim como a Costa do Marfim, pegou o Japão em um 4-3-3 bastante engessado e que sequer aproveita as melhores características de seus jogadores. Paul Le Guen, que trabalhou bem esse sistema no Lyon, tem sido infeliz também ao deixar Eto’o no lado do campo. Melhor seria tê-lo enfiado, voltando para buscar o jogo e abrindo espaços entre a defesa. Se os camaroneses foram a nota negativa do dia, foi possível ver muitas virtudes no time japonês.

Os samurais tiveram uma abnegação tática incrível, em especial com Matsui, Honda e Okubo, em uma formação de 4-4-2 muitas vezes próxima a um 4-3-3. A disposição e disciplina, porém, não impediram lances de talento, especialmente do próprio Matsui, dando enorme trabalho a Ekotto. Não pode ser descartado o time japonês para um provavelmente decisivo confronto de terceira rodada contra a Dinamarca.

JAPÃO (4-4-2) x CAMARÕES (4-3-3)
Melhor em campo: Matsui
Melhor de Camarões: Mbia
O leão: Okubo
O preguiça: Webo
A imagem do jogo: a bola no travessão de Mbia

A Holanda enfrentou um adversário que lhe impôs fortes dificuldades táticas e, na primeira etapa no Soccer City, apareceu bem dentro da área em três ocasiões nítidas de gol, sempre no contra-ataque. Esse tipo de situação gera alguma instabilidade à equipe, mas a Orange sempre esteve dona da partida. Faltou mais chegada de um dos volantes, já que Van der Wiel e Bronckhorst foram mais exigidos na marcação, e também faltou Robben.

Não só por sua qualidade, mas também característica. Perceba que os holandeses só tomaram conta da partida quando Elia foi lançado em campo e o time passou a jogar pelos dois lados. Com seu melhor jogador, ainda prejudicado por uma lesão, a Holanda teria feito isso desde o início e certamente teria aberto mais espaços na defesa da esforçada, e carente de talento, Dinamarca.

HOLANDA (4-2-3-1) x DINAMARCA (4-1-4-1)
Melhor em campo: Wesley Sneijder
Melhor da Dinamarca: Daniel Agger
O leão: Dirk Kuyt
O preguiça: Kahlenberg
A imagem do jogo: O pique de Elia no segundo gol holandês

domingo, 13 de junho de 2010

Alemanha: líder de passes e de show após oito jogos


Foram 16 times em campo até aqui na Copa do Mundo, exatamente a metade dos participantes, mas é verdade que o bom futebol ainda não chegou: a média de gols contabilizando apenas oito primeiras partidas é a pior da história dos Mundiais e foram precisos 624 minutos para um atacante marcar um gol. Quando o terceiro dia mundialista estava pronto para se encerrar, surgiu uma Alemanha que quebrou todos os paradigmas.

Os alemães fizeram quatro gols, o dobro do que o melhor ataque havia marcado até então. Mais que isso, mostraram virtudes importantes contra a Austrália: a posse de bola e o jogo objetivo. Até aqui, nenhum dos 16 times passou tanto a bola de pé em pé quanto o Nationalelf: foram 472 passes, sendo que quatro jogadores (Lahm, Friedrich, Mertesacker e Schweinsteiger) estão entre os sete líderes no fundamento em toda a Copa.

Além disso, muitos toques e com objetividade, o que é melhor: a Alemanha teve 16 chutes a gol, apenas quatro a menos que a Argentina, a melhor no quesito. Teve os deslocamentos de Lahm, a bola sempre saindo dos pés de Özil, a entrada fulminante de Müller, e Klose e Podolski, dois fiascos por clubes, mostrando que mudam de figura quando vestem a camisa germânica.

Interessante notar uma mudança tão grande de estilo e perspectivas em tão pouco tempo. Há 10 anos, a Alemanha estava enterrada por que não formava jogadores, havia sido humilhada pela Croácia na Copa da França e perdido seus três jogos da Eurocopa. Hoje põe seis titulares sub-24 em campo, toca a bola de pé em pé, dribla, desloca e dá show.

Abaixo, dos seis jogos dos últimos dois dias, o resumo que se pretende fazer nas 64 pelejas mundialistas:

ALEMANHA (4-2-3-1) x AUSTRÁLIA (4-4-1-1)
Melhor em campo: Mesut Özil
Melhor da Austrália: Schwarzer
O leão: Thomas Müller
O preguiça: Tim Cahill
A imagem do jogo: O gol do brasileiro Cacau no primeiro toque na bola

SÉRVIA (4-4-2) x GANA (4-2-3-1)
Melhor em campo: Asamoah Gyan
Melhor da Sérvia: Jovanovic
O leão: André Ayew
O preguiça: Kuzmanovic
A imagem do jogo: Desespero de Kuzmanovic após cometer pênalti

ESLOVÊNIA (4-4-2) x ARGÉLIA (4-2-3-1)
Melhor em campo: Koren
Melhor da Argélia: Belhadj
O leão: Birsa
O preguiça: Chaouchi
A imagem do jogo: torcedor argelino fazendo festa montado na torre de refletores

INGLATERRA (4-4-2) x ESTADOS UNIDOS (4-4-2)
Melhor em campo: Tim Howard
Melhor da Inglaterra: Glen Johnson
O leão: Gerrard
O preguiça: Green
A imagem do jogo: Robert Green desolado após o frangaço

ARGENTINA (4-2-3-1) x NIGÉRIA (4-4-2)
Melhor em campo: Messi
Melhor da Nigéria: Enyeama
O leão: Messi
O preguiça: Jonás Gutiérrez
A imagem do jogo: argentinos correndo para abraçar Verón após assistência para Heinze

COREIA DO SUL (4-4-2) x GRÉCIA (4-4-2/4-3-3)
Melhor em campo: Ji Sung-Park
Melhor da Grécia: Gekas
O leão: Lee Chung-Yong
O preguiça: Vyntra
A imagem do jogo: disciplinados sul-coreanos cercando o árbitro neozelandês após pênalti não marcado

sábado, 12 de junho de 2010

Sábado: dois favoritos em campo


Por mais que não seja prudente desqualificar as chances de quem jogou duas das últimas três finais de Copa, a França não consta entre os cotados para levantar a taça. Esse grupo tem a Argentina de Lionel Messi, mesmo com terríveis Eliminatórias, e a Inglaterra de Fabio Capello, 100% de aproveitamento enquanto buscava a vaga no Mundial. Dois peixes grandes para um sábado mundialista.

A Argentina de Maradona vive um dilema ideológico: será o 3-3-1-3 de treinamentos recentes ou o 4-1-3-2 bem trancado que venceu a Alemanha em Munique? Não são estilos parecidos de se jogar e não é um time bem entrosado, o que pode trazer problemas por tanto antagonismo, mas em qualquer das duas escolhas o talento de nomes como Messi, Verón e Di María poderá trazer soluções. Inclusive porque a Nigéria, de pouco tempo para absorver as boas ideias de Lars Lagerback, carece da qualidade que lhe marcou na década anterior.

Internamente, o elenco e a comissão técnica da Argentina trabalham para diminuir a cobrança sobre os ombros de Messi, o que é um bom plano. Também ajudará ao melhor do mundo se a escolha de Maradona for por uma equipe ofensiva. Com mais companheiros na frente, a tendência é que Lionel tenha mais espaço e menos marcação.

Os ingleses, glorificados por um sorteio camarada, certamente terão pela frente um adversário extremamente competitivo. Nunca é demais lembrar, há um ano na mesma África do Sul, os EUA venceram a então invicta Espanha e abriram 2 a 0 de vantagem sobre o Brasil. Contra um adversário que é puro coração, os homens de Capello precisarão de um certo pragmatismo.

Fica também a expectativa pelo encaixe de certos detalhes no English Team: com Gerrard mais à esquerda e Lampard por dentro, protegido por um volante, ambos terão espaço para brilhar? Rooney, afeito a ser o único à frente do Manchester United, fará bom par ao lado de um parceiro trombador?Olhos abertos neste sábado.

França: encaixotada pelo Uruguai e por suas próprias fraquezas


Para nós que reclamamos quando um time brasileiro atua entrincheirado, com três zagueiros e dois volantes, fica a lição de que não é só por aqui que isso ocorre. Sem a posse de bola, Oscar Tabarez planejou um Uruguai com três zagueiros (Victorino, Lugano e Godín) para vigiar apenas Anelka, com os dois alas (Maxi e Alvaro Pereira) acompanhando Govou e Ribéry e dois volantes (Diego Pérez e Arévalo) para encaixar a marcação no sonolento Gourcuff.

O jeito para a França se livrar disso? Nada do que deveria acontecer. Sagna e Evra não se mandaram muito, Diaby não se deslocou até a frente, Ribéry e Govou não se soltaram das pontas para encostar mais em Anelka. Sinais de uma equipe, como se esperava, bastante desarticulada, sem mecânica de jogo, sem muitas alternativas e até mesmo fria.

O Uruguai, sobretudo diante de um adversário com tantos problemas, como já se anunciava desde as Eliminatórias, não precisava ser tão medroso e estender seu jejum de vitórias mundialistas que já chega a duas décadas. Há talento brotando nos gramados celestes, como o volante Gargano, prescindido por dois brucutus, o técnico ala Fucile e principalmente Cavani e Lodeiro – tolamente expulso, diga-se. Com essa postura, é difícil imaginar que ambos possam ir longe na África do Sul.

RESUMO
Melhor em campo: Maxi Pereira
Melhor da França: Patrice Evra
O leão: Maxi Pereira
O preguiça: Govou
A imagem do jogo: Henry pedindo toque de mão uruguaio dentro da área

México, prejudicado por Aguirre; África do Sul na procura pela bola


A obsessão pela bola dos times de Carlos Alberto Parreira foi tão grande, em momentos da história recente, que se tornou algo repetidamente chato, sempre citado por nós da imprensa em geral. Então chega a ser gritante quando o adversário, um México mais aceso, embora desarticulado, é que fique com a posse, adiante suas linhas e passe a criar alternativas.

O pecado do México foi oferecer um contragolpe de manual aos sul-africanos. Bola roubada rapidamente, passe perfeito do bom volante Dikgacoi e Tshabalala, depois de correr atrás de Aguilar por 45 minutos, deu o troco. Disparou até a grande área e soltou um belíssimo petardo. Justiça feita a ele particularmente, já que era o único dos Bafana Bafana a incomodar no ataque.

Aguirre, então, reviu escolhas infelizes de seu onze inicial: principalmente, deixar Guardado e Javier Hernández de fora. Do 4-3-3 engessado e sem articulação, o México se voltou a duas linhas bem encaixadas, com Giovani dos Santos, melhor em campo, à direita, e o próprio Guardado à esquerda.

De lá, o mexicano do La Coruña brilhou em sua especialidade, encontrando Rafa Márquez solto. Não deixe de notar a participação de Hernández, impedindo o quarto-zagueiro sul-africano de se aproximar de Márquez. Fica a lição para o México, que atuou bem, mas poderia ter feito mais diante de um adversário, no fim das contas, bastante limitado.

RESUMO
Melhor em campo: Giovani dos Santos
Melhor da África do Sul: Tshabalala
O leão: Dikgacoi
O preguiça: Pienaar
A imagem do jogo: a bola na trave de Modise

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Chegar ao quinto jogo? Só vencendo o Grupo A


Só duas vezes na história das Copas o México terminou entre os oito melhores. Se você foi perspicaz, logo sacou que foi em 1970 e 86, as duas vezes em que recebeu o Mundial. Por isso, entre os mexicanos, a cisma de que é preciso disputar o quinto jogo na África do Sul. Ou seja, romper a barreira das oitavas que persiste há quatro mundiais: 1994 (perdeu para a Bulgária), 98 (para a Alemanha), 2002 (para os EUA) e 2006 (para a Argentina).

O sorteio da Copa, ainda em dezembro, deixou algo bastante claro para os mexicanos: jogar as quartas de final provavelmente só seria possível com o primeiro lugar do Grupo A. Sim, porque apesar dos tropeços nas Eliminatórias e das dúvidas em torno de uma ideologia de jogo, a Argentina de Maradona deve fazer ao menos sete pontos enfrentando Nigéria, Grécia e Coreia do Sul. Reviver o filme de Leipzig, há quatro anos, com o golaço de Maxi Rodríguez (foto), é tudo que os mexicanos menos querem.

Estrear com três pontos sobre a anfitriã África do Sul, há 12 jogos sem perder desde a volta de Parreira, é a demonstração de força que o México tem que dar. Apesar da Eliminatória instável, o time parece bem encaixado após os 28 jogos que Javier Aguirre pode fazer desde junho de 2009. Sob o comando do melhor técnico mexicano, La Tri venceu 18 e empatou seis. Com autoridade, acuou a Itália há uma semana em amistoso disputado na Bélgica.

O grande dilema de Aguirre é optar pela juventude de Giovani dos Santos, Vela e 'Chicarito' Hernández, o tridente que brilhou contra a Azzurra, ou ceder à pressão de Franco e aos apelos por Blanco. Encontrar a resposta certa é o que fará o México chegar, ou não, ao quinto jogo, e aí ouvir a velha frase: jogamos como nunca, perdemos como sempre.

O problema da França: depender de Gourcuff e Domenech


O corte de Lassana Diarra trouxe mais problemas à França que todos poderiam imaginar. A equipe era irregular, mas ganhou sérias discussões em torno de sua parte tática, algo que não ocorria desde a consolidação do 4-2-3-1, ponto chave em 2006, e retomado após o fiasco na Eurocopa há dois anos. Raymond Domenech, e não é a primeira vez, fez escolhas bastante equivocadas.

Imaginou que teria tempo suficiente para reorganizar o time para um 4-3-3, promovendo Govou na ponta direita para o posto de Lass em um meio a três: Toulalan preso e suportado por Gourcuff e Malouda - na frente, Anelka enfiado e Ribery, como ele mesmo deseja, à esquerda. O resultado foi tétrico e as mudanças tiveram seu fracasso determinado com a derrota para a China.

Horas antes da estreia contra o Uruguai, a expectativa é sobre o que fará Domenech na reorganização da equipe. O ideal é o arroz com feijão, retomando o 4-2-3-1 que protege Toulalan, sobretudo com Alou Diarra ou Diaby como seu companheiro. E aí não resta escolha que não seja apostar todas as fichas em Gourcuff, alijado como volante-meia do fracassado 4-3-3, mas ideal para fazer o papel que era de Zidane em 2006.

A questão é que confiar em Gourcuff nunca é recomendável. A despencada do Bordeaux na reta final do Campeonato Francês arranharam a reputação do meia, sem dúvida o mais talentoso do elenco, mas também o mais instável. Ainda assim, com o que Domenech tem em mãos, aparenta ser a única saída para se impor sobre um Uruguai que já se anuncia defensivo.

Se esse fosse o único problema dos Bleus, vá lá, mas a autonomia de Domenech já foi desafiada pelos mais experientes do elenco, que pedem um Henry do qual já se poderia prescindir entre os titulares nesse momento. Ainda há a forma física de Gallas, que inspira dúvidas, e um grupo extremamente competitivo.

Imaginar que o atrapalhado treinador conserte tudo isso e que Goucurff tome as rédeas da equipe são os grandes problemas da França.

Se Suazo não jogar, Paredes é um bom plano B


Quase não há seleção às vésperas da Copa que tenha um desfalque ou uma dúvida sequer. No Chile, o problema de Marcelo Bielsa é saber se poderá, ou não, escalar Humberto Suazo, seu camisa nove mais efetivo, já na estreia contra Honduras, dia 16. El Loco acompanha bem a recuperação do Chupete, como o atacante é chamado, e acredita que poderá utilizá-lo. Se Suazo falhar, também não há tantos motivos para se preocupar. Esteban Paredes, seu reserva direto, já se mostrou muito útil.

Atacante do Colo-Colo, Paredes tem no currículo o fato de ter substituído à altura o grande ídolo Lucas Barrios - curiosamente, o substituto de Suazo. O hoje reserva de La Roja, que marcou na vitória por 2 a 0 sobre a Nova Zelândia, sempre entrou bem quando Bielsa precisou dele. São 6 gols em 11 jogos disputados nos últimos dois anos pelo Chile, alguns deles importantes, como na vitória sobre o Paraguai em Assunção.

É indiscutível a importância de Suazo, que adicionou experiência internacional ao seu currículo de goleador ao fazer boa temporada em um semestre emprestado ao Zaragoza, onde foi um dos heróis da permanência no Espanhol. Absoluto na Era Bielsa, ele pode precisar de um substituto até ficar 100% e não há ninguém mais apropriado que Paredes.

Para vencer a Honduras na estreia está mais que suficiente. O Chile vem em boa fase, com quatro triunfos seguidos e um entrosamento e opções de jogo que poucas seleções possuem. Vidal e Alexís Sanchez, titularíssimos, vivem momentos especiais. La Roja pode ser a zebra do Mundial.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Na volta do blog, os problemas de Fossati e dos treinadores estrangeiros que passam pelo Brasil


O tempo de pausa foi além dos 30 dias prometidos, portanto o primeiro post dessa volta precisa trazer de cara um pedido de desculpas. Como estamos nas portas da Copa do Mundo, e o Papo de Craque trará muitos textos a partir de agora, vamos pular alguns assuntos importantes que ocorreram no período.

Já não vale mais falar da convocação de Dunga, da eliminação corintiana na Libertadores e do ressurgimento no Brasileiro, dos promissores confrontos de reta final da Copa do Brasil e da mesma Libertadores e de como o Cruzeiro vai se desfazendo de suas boas peças. Entre tantos temas perdidos pela parada, vamos pescar apenas um: a dificuldade que Jorge Fossati teve em se adaptar ao futebol brasileiro, algo bastante comum aos treinadores estrangeiros que têm passado por esses campos.

Analisando apenas de forma objetiva, os defensores de Fossati poderão dizer que ele não foi mal no Beira-Rio. Afinal, o objetivo era chegar até a semifinal da Libertadores, e isso ele fez, e no Gauchão ficou a um gol do título e venceu dois dos três Gre-Nais que jogou. A questão é que, na prática, o uruguaio fracassou, sim, no futebol brasileiro.

Teve momentos críticos no Estadual, como derrotas contundentes para São José e Caxias, e só venceu a Taça Fábio Koff com uma virada inacreditável contra o Pelotas. Fora do país, foi incapaz de vencer os medíocres Cerro-URU, Emelec e Deportivo Quito, sempre empatando. No mata-mata, foi duas vezes até a Argentina e perdeu para Banfield e Estudiantes. No Brasileiro, fez quatro jogos e foi batido em três, fechando a trajetória de 33 partidas com uma humilhante virada imposta por um Vasco, se prova dia após dia, muito enfraquecido.

Fossati, ao contrário do que se pode pensar, não é treinador ruim. Só não serve ao futebol brasileiro. Por que o treinador, antes de tudo, precisa entender a alma do jogador, e o uruguaio não entendia bem sobre o nosso jogador ainda que tivesse cinco estrangeiros no elenco. Suas preleções eram longas e enfadonhas, a pré-temporada foi quase toda preenchida por treinos táticos e ele impunha métodos por aqui incomuns como acordar cedo no dia de jogo e realizar longas sessões de aquecimento às 9h da manhã.

Não foram também poucas as ocasiões em que Fossati perdeu a linha diante da imprensa gaúcha e isso certamente arrasou a imagem do uruguaio. Só na reta final de sua passagem pelo Brasil é que o treinador contratou uma empresa para cuidar de sua reputação e orientar por trás das câmeras, mas a caveira já estava pronta. Ele jamais se conformou com o tom provocador e que sempre lhe questionava por mais resultados, em que pese seu trabalho ainda estivesse na fase de curto prazo. O que se vê e se pensa do futebol no Brasil, não compreendeu o ex-técnico do Inter, é diferente de toda a cultura dos outros países latinos.

Como se não bastasse o extracampo, Fossati também se perdeu na arrumação da equipe. A cada vez que tentou recuar o time e jogar pelo resultado, geralmente atuando com três homens atrás, não atingiu objetivos. Não faz parte da cultura brasileira se defender e conseguir resultados dessa forma, por mais que o futebol gaúcho tenha suas peculiaridades e uma disciplina tática superior ao resto do país.

Variações de três para quatro defensores não são assimiladas com tanta facilidade e o uruguaio também tentava isso com naturalidade. Na frente, variou entre 4-2-2-2, 4-2-3-1 e 4-3-1-2, mas o sistema ofensivo jamais se mostrou suficientemente mecanizado para envolver os rivais.

No fim das contas, acertou e teve sorte o Internacional ao mantê-lo até onde manteve, situação idêntica a de Tite em 2009. A parada para a Copa do Mundo é tempo de encontrar um treinador que extraia o máximo do ótimo elenco. Se fechar com Adílson Batista, o Colorado acerta em cheio.

NÚMEROS DE FOSSATI NO INTER
33 jogos
18 vitórias
6 empates
9 derrotas
Gols pró: 59 / gols contra: 37
Artilheiro: Alecsandro, 13 gols em 26 partidas
Esquema tático mais utilizado: 3-4-1-2