quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Caça a Neymar*


As confusões que arrumou nas últimas semanas fizeram aumentar a quantidade de faltas sofridas por Neymar no Campeonato Brasileiro. Na terça, contra o Vasco, o atacante santista foi parado com infrações oito vezes, exatamente o mesmo número que já havia sido cometido pelo Cruzeiro no último sábado. Esse índice das últimas partidas faz de Neymar, neste momento, o jogador mais caçado da competição.

A média do atacante santista agora é de 4,89 faltas sofridas por partida, tendo ultrapassado assim o palmeirense Kléber, o segundo do ranking com 4,81 de índice. Os dados são do Footstats.

Outro dado importante é que Neymar, desde a partida contra o Grêmio, quando passou a não contar mais com a companhia do contudido Paulo Henrique Ganso, dribla muito mais. Nesses oito jogos desde então, ele tenta 8,5 dribles por jogo. Nas 11 partidas anteriores, a média era abaixo da metade: 3,3 tentativas.

Por isso, Neymar já é também o segundo jogador que mais dribla no Brasileiro, atrás apenas do cruzeirense Montillo. O santista atingiu média de 5,5 tentativas de fintas por jogo.

Diante do Vasco, Neymar arrancou o cartão amarelo e a expulsão de Jumar, seu marcador individual, mas não evitou a derrota por 3 a 1. Um dado que os torcedores do Santos podem comemorar é que, pelo terceiro jogo seguido, desde a queda de Dorival Júnior, o garoto não recebeu amarelo. No somatório da temporada, ele ainda lidera esse ranking no elenco santista com 17 advertências.

* Publicado no Terra

A vingança de Palaia*


Só uma pessoa era capaz de segurar Gilberto Cipullo por tanto tempo na presidência: Luiz Gonzaga Belluzzo, grato pela composição política feita por Cipullo que o ajudou a assumir o Palmeiras no início de 2009. As complicações de saúde do presidente abriram espaço para Salvador Hugo Palaia, membro famoso da política palestrina e que teve um início de gestão nada pacífico ao dissolver todo o departamento de futebol.

Na novela do Palmeiras, Palaia é o homem que ressurge para dar novos contornos à trama. O novo presidente é inimigo de Cipullo desde que foi sucedido por ele no departamento de futebol, em 2007, e ouviu acusações de que a terra estava arrasada. Hoje, Salvador Hugo Palaia rebate apontando para as dívidas que cresceram e para o desempenho esportivo ruim da equipe como argumento para fazer trocas.

Sob a gestão de Cipullo, o Palmeiras ocupa uma posição modesta no Campeonato Brasileiro, só conquistou um título, o Paulista de 2008, e tem números polêmicos na gestão financeira. As contas de agosto, por exemplo, foram reprovadas no início desta semana. A folha salarial, com atrasos, só concorre com a do Corinthians de Ronaldo e Roberto Carlos no futebol brasileiro. Foram contratados 71 jogadores em três anos.

Cipullo era contrário às contratações de Valdívia e Kléber, bastante onerosas aos cofres, mas vistas pela presidência como fundamentais para recuperar o orgulho dos palmeirenses. Foi também contra a saída de Vanderlei Luxemburgo em 2009 e à permanência de Muricy para 2010. A forma como tudo isso aconteceu diz muito sobre a perda de poder do vice de futebol.

Palaia, de uma vez só, conseguiu vingar Cipullo e se colocar em evidência. O Palmeiras tem diversos pretendentes à presidência para 2011 e o interino é um deles. No cargo provavelmente até o fim desta temporada, quer mostrar que pode, enfim, comandar o clube. No final de 2006, ele deixou o departamento de futebol visto como um sujeito atrapalhado e folclórico.

Com um estilo que lembra o do antigo Poder Moderador, usado na época do Império, Salvador Palaia contou com um aliado importante. Fábio Raiola, ex-diretor financeiro que deixou o cargo ao lado de Vanderlei Luxemburgo, se juntou ao novo presidente e terá espaço no conselho gestor indicado pelo próprio Palaia, união que ficará responsável pelo departamento de futebol até o fim de 2010.

Gilberto Cipullo, formalmente, foi convidado para compor o grupo no qual estarão vários dos que lhe queriam fora do comando do futebol. Aceitar isso é um milagre tão grande quanto o que levou Palaia ao comando do clube: o inesperado problema de saúde que afastou Belluzzo da cruzada em defesa de Cipullo.

* Publicado no Terra

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Andrés Sanchez tem um pouquinho de Eurico


A cena é uma das mais emblemáticas que já vi no futebol. O Corinthians acaba de dar adeus ao sonho da Copa Libertadores, contra o Flamengo, e torcedores descem das numeradas para deixar o Pacaembu. Chorando como criança, mais que qualquer outro no espaço, desce também Andrés Sanchez, que assim se dirige até a sala de imprensa e faz um pronunciamento emocionado. Sua melhor atitude: negar os apelos para a queda de Mano Menezes e reformulação no elenco que hoje lidera o Campeonato Brasileiro.

O torcedor de futebol médio não espera que o presidente de seu time seja exatamente íntegro. Para quem acha que vencer com gol roubado é mais gostoso, ter um dirigente que dá porrada em seus rivais é um delírio. E Andrés, convenhamos, sabe jogar para a galera. Foi com estratégias parecidas que Eurico Miranda se manteve no poder Vasco por quase duas décadas. Enquanto ninguém acreditava como isso era possível, os euriquistas eram um grupo enorme dentro de São Januário e espalhado por todo o Brasil.

Andrés e Eurico não são exatamente pessoas parecidas. O corintiano, ao que tudo indica, deixa seu cargo no fim do próximo ano, mas já tem tudo para estar entre os maiores dirigentes da história do Parque São Jorge. Truculento com repórteres, dono de negócios obscuros, amigo e incentivador de Kia Joorabchan, fiel escudeiro de Ricardo Teixeira....ele tinha tudo para ser mais um dirigente à moda antiga. Mas não é.

Em dois anos e alguns meses de cargo, Andrés fez o Corinthians ser superavitário em 2008 e 2009. Transformou um elenco ridículo em um dos mais fortes do país. Atingiu quase R$ 50 milhões anuais em patrocínio de uniforme. Deu espaço para um departamento de marketing que, de tão atuante, chega a ser brega em alguns momentos. Juntou Ronaldo e Roberto Carlos. Não vendeu nenhum jogador para o exterior neste ano. Constrói um Centro de Treinamento exemplar e promete entrar definitivamente para a história se o estádio de Itaquera sair do papel.

De Eurico Miranda, Andrés herdou o lado bom: com seus problemas e desvios, conquista os torcedores e associados a tal ponto que a oposição sequer tem corpo dentro do Parque São Jorge. Hoje, o presidente corintiano poderá escolher: Rosenberg, Mário Gobbi e André Negão. Um dos três assumirá o clube em 2012. Provavelmente, com um legado enorme para dar sequência. Eis aí a diferença para Eurico.

OLHO GORDO em LAÉRCIO


A fase é terrível e o Avaí vem pagando muito caro por isso, inclusa até uma demissão de Antonio Lopes que parecia inesperada por isso. Mesmo assim, o garoto Laércio vem se mostrando uma grata revelação, um atacante interessante que merece ser seguido mais de perto. Com 20 anos, marcou três gols nesta temporada.

Ele pertence a uma ótima geração de jogadores nascidos em /90 e /91 formados pelo Avaí, que foi semifinalista da Copa São Paulo de 2009. Nomes como o goleiro Renan, o volante Marcos Paulo (hoje no Coritiba), os laterais Renan Oliveira e Medina, além do atacante Cristian.

Dificilmente, Laércio se tornará um grande craque, mas é um jogador interessante. Pode desempenhar qualquer função ofensiva: centroavante, segundo atacante, ou aberto pelos dois lados. Na crise que o Avaí atravessa, uma solução que deveria ser vista com mais carinho.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Luxemburgo é o último sobrevivente


Dorival Júnior caiu e enquanto o Papo de Craque aguarda elementos suficientemente claros para abordar o tema, vale uma observação importante e até mesmo curiosa: entre os 20 clubes da Série A em 2010, agora o único a manter seu treinador desde o início do ano é o Atlético-MG. Sim, Vanderlei Luxemburgo, na zona de rebaixamento do Brasileiro, é o sobrevivente final desta "disputa".

Com as duas quedas diante de Atlético-PR e Vitória, Luxemburgo se aproxima de ter mais derrotas que vitórias no Galo. São 21 triunfos contra 17 insucessos, além de 11 empates. Resta saber quanto tempo o projeto entre ele e Alexandre Kalil resiste.

Independente disso, o dado aponta uma regressão tremenda na relação entre treinadores e clubes da elite brasileira. Em 2009, Hélio dos Anjos (Goiás), Adílson Batista (Cruzeiro), Silas (Avaí), Mano Menezes (Corinthians) completaram a temporada. Em 2008, Nelsinho Baptista (Sport), Adílson Batista (Cruzeiro), Vanderlei Luxemburgo (Palmeiras), Muricy Ramalho (São Paulo) e Dorival Júnior (Coritiba). O número era cinco na temporada retrasada e caiu para quatro no ano passado. Hoje, em setembro, é de apenas um.

Dorival, aliás, não era demitido desde 2006, quando deixou o Avaí. Em seguida, passou pelo São Caetano e foi vice-campeão paulista de 2007, se transferindo para o Cruzeiro. Cumpriu o contrato até o fim, levando o time mineiro para a Libertadores. Foi para o Coritiba e, em seguida, para o Vasco, onde também trabalhou do início ao fim da temporada.

domingo, 19 de setembro de 2010

Flu perde a liderança porque tem limitações


O que se encaminhava desde a rodada do meio de semana ocorreu neste domingo. O Fluminense não conseguiu bater o Flamengo e, assim, vê o Corinthians com dois pontos à frente e um jogo por fazer. A queda na tabela da equipe de Muricy Ramalho, que só venceu um de seus últimos sete jogos, tem relação direta com o futebol ruim e escolhas discutíveis do treinador.

O Flu, que marcou dois de seus três gols neste domingo por meio da bola aérea no escanteio, tem limitações à frente e praticamente só sabe jogar em dois sistemas táticos - no futebol de hoje, este é um artifício letal para ser neutralizado pelo adversário. Foi o que fez neste domingo o Flamengo, que deixou Willians preso à Conca e praticamente restringiu a Rodriguinho a condição de fazer algo diferente no ataque do Tricolor.

Os volantes do Fluminense são burocráticos e apenas marcadores. Veja o Corinthians, com Jucilei e Paulinho, ou o Cruzeiro, de Henrique e Fabrício. A chegada à frente era mérito exclusivo de Diguinho, que só poderia ser substituído neste momento por Belletti, em péssima forma. Refém de Fernando Bob, Diogo e Valencia, o time de Muricy sobrecarrega Conca. Deco é outro que ainda alterna bons e maus momentos dentro das partidas e tem sempre à frente jogadores de pouca movimentação.

O estilo competitivo de Muricy tem seu preço e o Palmeiras de 2009 conhece bem. Quando o jogo não encaixa e a defesa dá vacilos, exatamente como ocorreu contra Corinthians e Fla, surge a necessidade de um time criativo. O Flu, especialmente neste momento de pressão, é exatamente o oposto.

Cuca e seu quebra-cabeça


Neste momento, não há no Campeonato Brasileiro um fenômeno maior que o Cruzeiro de Cuca. Cotado para demissão após cair em casa contra o Vitória, o treinador arrancou para uma invencibilidade de oito jogos, com seis vitórias e empates contra Vasco e Botafogo como visitante. Saiu da oitava posição para a briga real pelo título, levemente prejudicada graças a uma infeliz arbitragem de Heber Roberto Lopes no Engenhão.

Além do talento de Montillo e uma base muito bem montada por Adílson Batista, o que empurra o Cruzeiro tabela acima é o elenco, o que também põe um desafio nas mãos de Cuca. São muitas opções a administrar e, dependendo da escolha, muda ainda o desenho da equipe. Contra o Botafogo, a opção por Roger entre os titulares deu muito mais talento ao time, mas o treinador só pôde escalar dois de seus ótimos volantes. Na frente, inevitavelmente, sobrará alguém entre os cinco atacantes de muito bom nível.

Aparentemente, esse quebra-cabeça é o famoso problema que todo treinador quer ter, mas na prática as coisas funcionam de outra forma. No Cruzeiro, Adílson precisou sempre conviver com jogadores insatisfeitos com a reserva, como Fabinho, Roger e Wellington Paulista, e muitas vezes deixou claro que esse era um problema na Toca da Raposa. Além disso, conviver com um elenco cheio de boas opções não é algo com o qual Cuca esteja acostumado.

Cuca: quase 1 mês sem derrota no Cruzeiro

25/08 - 1 x 0 Corinthians (Montillo)
28/08 - 1 x 1 Vasco (Fernando - contra)
01/09 - 1 x 0 Flamengo (Robert)
05/09 - 3 x 2 Palmeiras (Roger, Montillo, Farías)
08/09 - 1 x 0 Internacional (Everton)
12/09 - 2 x 1 Avaí (Roger, Thiago Ribeiro)
15/09 - 4 x 2 Guarani (Rômulo, Wallyson, Fabinho, Farías)
18/09 - 2 x 2 Botafogo (Montillo, Montillo)

sábado, 18 de setembro de 2010

Preservem Neymar


Em contraste com a delicada situação atual, Neymar tem um histórico absolutamente limpo ao longo de quase toda sua passagem pelo futebol. Evangélico e muito próximo dos pais, cultivou até bem pouco tempo uma imagem cristalina e por isso conquistou tantas crianças e admiradores do mundo do futebol. O desvio de comportamento recente deve ser analisado sob outro prisma.

Neymar passa por um período de transição na vida e na carreira. Já não é visto mais como promessa e precisa decidir todos os jogos. Sem companheiros como André, Robinho, Wesley e Ganso por perto, tem um vestiário que já não é mais tão familiar. Em campo, é perseguido e caçado. No dia a dia do clube, é ainda mais cobrado, com justiça, depois de recusar o Chelsea e ganhar sensível aumento contratual.

É importante observar que são raros os jogadores que conseguem lidar com tudo o que Neymar atravessou na adolescência de atleta. Jovens adorados na faixa dos 16, 17 anos, sofrem desvios de comportamentos seríssimos que quase sempre levam para o resto da vida. Adriano Gerlin, Adiel, Harrison, Carlos Alberto, Léo Lima...semanalmente, o futebol apresenta exemplos como esses.

Neymar está muito bem cercado e vem repensando suas atitudes, mostram os fatos. Deve ser tratado com pulso firme e carinho. Deve ter comportamento de homem cobrado. Deve entender que é muito visado, patrulhado e não pode fazer tudo que vem à cabeça. Hoje, é titular da seleção brasileira, o único grande jogador do Santos e um dos mais caros do país.

Uma joia que o Brasil deve lapidar em vez de jogar na lata do lixo. Que tem um passado limpo e atravessa uma fase bastante difícil da vida.

O blog de volta


Enfim retomando o blog após longa parada por razões profissionais, inicio trazendo material exclusivo do nosso trabalho no Terra. Na quinta-feira, menos de 24 horas após a grande vitória corintiana sobre o Fluminense no Engenhão, estive no Parque São Jorge com Adílson Batista para uma entrevista exclusiva.

Sem pressa e muito gentil, o treinador corintiano evidenciou algumas características próprias: estava com um humor excelente, mas foge de polêmicas e respostas mais longas como o diabo da cruz.

Além do papo com Adílson, recomendo a matéria a respeito do jovem Ryder: com 17 anos, esse baiano de Seabra marcou dois gols na pré-temporada da Fiorentina, onde atua há alguns anos pelas categorias de base, e se prepara para defender a equipe principal de Sinisa Mihajlovic.

- Entrevista com Adílson Batista
- Ryder, o Messi brasileiro