quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Juvenal, o Sombra e os vaselinas

Eduardo Uram: o dono de três entre os cinco nomes do pacotão são-paulino

Há um motivo de esperança de dias melhores no Morumbi. Não é o trabalho de Emerson Leão, não são os dribles de Lucas, os gols de Luís Fabiano ou as defesas de Rogério Ceni. Também não é a versão 2012 do pacotão de reforços, claro. A esperança é porque Dagoberto já está bem distante, mais precisamente no Beira-Rio. A felicidade é tão grande que a direção fez questão de anunciar os valores: por R$ 2,2 milhões, ele será do Internacional no próximo ano.

Dagoberto é o grande símbolo dos jogadores que, em sua impagável e inflamada entrevista na terça-feira, Juvenal Juvêncio intitulou vaselina. Dagoberto é um vaselina no São Paulo há bastante tempo. Minou treinadores, fez atritos, jogou quando quis, sumiu quando quis. Uma diálogo flagrado por Sérgio Baresi entre ele e Marlos marcou sua passagem pelo time principal em 2010: "não te falei que eu ia dar migué? Ia e dei mesmo", disse Dago no vestiário. Sem retaguarda, Baresi sacou o vaselina, mas o ambiente era terrível e ele terrivelmente cru.

O São Paulo de 2012 não terá um treinador verde, muito pelo contrário. Emerson Leão, sem multa rescisória e sob a sombra de Paulo Autuori para maio, precisará mostrar muito mais do que no último Campeonato Brasileiro. Para isso, terá reforços de personalidade, especialmente Fabrício, que chegam com a missão de mudar o ambiente e a atitude da equipe em campo - sem Dagoberto e certamente sem Marlos, a tarefa fica mais acessível. Juan, Casemiro e Henrique, que também se enquadram no perfil de vaselina, estão na alça de mira.

A incógnita, se já não bastasse os últimos terríveis trabalhos de Leão, é a qualidade do time a se formar. Os reforços chegam com o carimbo de Eduardo Uram, empresário que dominou o futebol carioca no início da década e trabalhava com mais de 15 jogadores do Figueirense. Se o São Paulo de 2005 a 2010 era de Juan Figger, hoje é de Uram. Apelidado de Sombra por sua discrição nos bastidores, ele foi quem intermediou os contratos de Maicon, Edson Silva e Cortês. Eles se juntam a Cícero, Juan, João Filipe e Luiz Eduardo. Sete jogadores do mesmo agente.

Ter muitos nomes do mesmo empresário dentro do elenco, o ex-diretor de futebol Juvenal Juvêncio sabe que é sempre um perigo. Daí sua implicância quando Marlos, Dagoberto e Miranda, de Marcos Malaquias, estavam juntos em campo. A aproximação de Uram se deu na ascensão de Adalberto Baptista, do marketing ao futebol, e já rendeu um fruto. Luiz Eduardo, promessa de Cotia para a defesa, assinou com o agente, que pela segunda temporada consecutiva transformou o Orlando Scarpelli em um grande supermercado da bola.

Cristóvão Borges, que comandou o inesquecível Vasco-2011, costumava dizer na reta final da temporada: o mais difícil não é montar um time forte, mas sim construir um grupo. Desde que Muricy Ramalho deixou o Morumbi, o São Paulo, com seus vaselinas, com os jovens e com os pacotões, reúne bons jogadores, mas nunca tem uma equipe de verdade. A versão 2012, com Emerson Leão, não passa segurança até aqui.

sábado, 17 de dezembro de 2011

O que ensinam os campeões – parte 2


De novo Muricy Ramalho é personagem desse texto como encerramos os comentários sobre a temporada 2010. Na manhã do domingo, quando os brasileiros vão acordar cedo e recordar o pentacampeonato de 2002, Santos e Barcelona entram em campo para decidir o título mundial de clubes. O mesmo Estádio Internacional de Yokohama daquela final vai mostrar um jogo aguardadíssimo entre dois times que, em comum, só têm o fato de ter gênios da bola como protagonistas.

Grandes campeões continentais na temporada, Barcelona e Santos, segundo seus treinadores, enxergam o futebol de forma muito distinta. Curiosamente, são em seus países os times mais elogiados por suas categorias de base, justamente de onde saem todos os craques da decisão: Ganso e Neymar de um lado, Messi, Xavi, Fabregas e Iniesta do outro. Na prática, os times jogam e costumam vencer sob paradigmas opostos.

Em entrevistas, Muricy tem dito que o Santos precisará agredir o Barcelona e tentar equilibrar as ações, mas sequer conseguiu ter mais posse de bola que o atual campeão japonês: 52% para o Kashiwa Reysol, 48% para o time que tem Neymar e Ganso. O Barça, sim, sabe como fazer isso. Jogou com só dois titulares do meio para a frente e, diante do modesto Al Sadd, teve a bola em 75% do tempo.

Muricy diz também que Guardiola só poderia ser chamado de melhor do mundo caso tivesse sucesso no futebol brasileiro. Será que o santista faria o Barcelona jogar como o adversário? Difícil imaginar um centroavante de 1,69 m a serviço de Muricy, um lateral como Daniel Alves ou um time sem zagueiros.

Messi ou Ibra: quem seria seu centroavante, Muricy?

Pep prefere manter a posse e faz seus jogadores mais ofensivos marcarem como volantes carrapatos, o que talvez seja o maior segredo para uma equipe revolucionária. Não é a posse de bola espantosa o diferencial do Barcelona, mas sim a sede por roubá-la e iniciar a jogada seguinte. Muricy a oferece para os adversários e aposta nos passes de Ganso, na individualidade de Neymar e na finalização de Borges. Seu time não tem volume, não controla, não domina. Vence boa parte das vezes, claro.

As discussões em torno do Barcelona, mais uma vez frequentes no Footecon 2011, raramente tocam os pontos mais marcantes. Não é só a posse de bola, mas a capacidade de desmarcação dos jogadores e, essencialmente, como se desarma com sede, organização e facilidade. A bola não fica no pé só porque o passe é qualificado, mas porque é rapidamente recuperada. Muricy, após o jogo contra o Kashiwa, admitiu os problemas em sua defesa porque “Neymar não pode marcar”. Deveria observar o comportamento de Messi sem bola.

No Campeonato Brasileiro de 2011, o campeão Corinthians e os outros quatro melhores colocados (Vasco, Fluminense, Flamengo e Inter) estão entre os sete que mais desarmam na competição. A estatística passa a mensagem de que marcar de forma competente é um princípio quase decisivo para recuperar a posse de bola, jogar, fazer gols e vencer. Líder em roubadas, o Palmeiras teve campanha medíocre porque não basta desarmar, é preciso converter.

A equipe de Tite foi referência pela capacidade em roubar a bola sem cometer faltas e por atacar com intensidade. Inúmeros gols do Corinthians no Brasileiro surgem com desarmes, como nas vitórias sobre Ceará e Atlético-MG, momentos chaves na reta final da Série A. O ponto baixo do campeão foi não controlar os nervos, aflorados pelo início de campanha bem acima da expectativa. Mais frio e consciente, poderia ter vencido sem tantos percalços.

O grande mérito do treinador corintiano, reconhecido por ele próprio, é fazer seu time jogar de maneira coletiva, com e sem a bola. É outro ponto chave do Barcelona e também da Alemanha, seleção do momento até pela estafa natural dos espanhóis. A solidariedade sem a posse, o jogo de passes e as movimentações em campo são de uma equipe que joga em conjunto desde que tinha Fritz Walter como capitão e Sepp Herberger como treinador.


Eles merecem

Atuar coletivamente é muito mais que ter raça e entrosamento e não combina com esse Santos, também merecedor do título porque tem jogadores raros como Ganso e Neymar, trabalhadores como Rafael, Arouca, Danilo, Durval e Léo, líderes como Edu Dracena e Elano. O Mundo Deportivo deste sábado usa o título “maestros do contragolpe”. Mais que um estilo de jogo, uma escolha do treinador.


- Texto de 2010: o que ensinam os campeões

domingo, 20 de novembro de 2011

Flu de Fred e Abel já está entre os maiores


Com a convincente vitória sobre o Figueirense, neste domingo em Florianópolis, o Fluminense confirmou o título do segundo turno do Campeonato Brasileiro de 2011. Com 37 pontos no returno, o Flu tem seis de vantagem para a própria equipe catarinense, vice-líder da segunda metade da competição.

O aproveitamento atual de 72% pode colocar o time de Fred, Deco e Abel Braga entre os maiores da história do returno do Brasileiro na era dos pontos corridos. Caso vença os últimos dois compromissos (Vasco e Botafogo), o Fluminense sobe sua porcentagem para 75%.

Campeão de 2003, o Cruzeiro levou o segundo turno com aproveitamento de 76% e jamais foi superado. O aproveitamento daquela equipe é também o maior da história de uma time em um turno (seja primeiro ou segundo) do Campeonato Brasileiro. No ano passado, o Grêmio reagiu sob o comando de Renato Gaúcho e chegou perto dos cruzeirenses com aproveitamento de 75% e vaga na Copa Libertadores.

Confira todos os campeões de returno do Campeonato Brasileiro*

1º - Cruzeiro (2003) - 53 pontos em 23 jogos (76%)
2º - Grêmio (2010) - 43 pontos em 19 jogos (75%)
3º - São Paulo (2008) - 42 pontos em 19 jogos (73%)
3º - Fluminense (2011) - 37 pontos em 17 jogos (73%)**
5º - Flamengo (2009) - 40 pontos em 19 jogos (70%)
5º - São Paulo (2006) - 40 pontos em 19 jogos (70%)
7º - Santos (2004) - 48 pontos em 23 jogos (69%)
8º - Inter (2005) - 41 pontos em 21 jogos (65%)
9º - São Paulo (2007) - 37 pontos em 19 jogos 64%

* Considera apenas o período desde a adoção dos pontos corridos
** Ainda tem dois jogos por fazer: Vasco (casa) e Botafogo (fora)

Confira todos os campeões de 1º turno do Brasileiro

1º - Grêmio (2008) - 41 pontos em 19 jogos (72%)
2º - São Paulo (2007) - 40 pontos em 19 jogos (70%)
3º - Cruzeiro (2003) - 47 pontos em 23 jogos (68%)
4º - São Paulo (2006) - 38 pontos em 19 jogos (66%)
4º - Fluminense (2010) - 38 pontos em 19 jogos (66%)
6º - Corinthians (2011) - 37 pontos em 19 jogos (65%)
6º - Internacional (2009) - 37 pontos em 19 jogos (65%)
8º - Corinthians (2005) - 39 pontos em 21 jogos (61%)
9º - Santos (2004) - 41 pontos em 23 jogos (59%)

- Publicado no Terra

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O jogo que escancara virtudes e defeitos do provável campeão


Vencer uma partida com desempenho irregular ou perder com domínio são situações que fazem parte do futebol, mas o líder tem abusado dos opostos. O Corinthians, com tempos absolutamente distintos contra o Ceará na quarta-feira, deu um passo importantíssimo na busca pelo título brasileiro. Mais interessante é que o duelo caldeirão do Presidente Vargas deixou bem escancaradas as virtudes e os defeitos daquele que, se conservar o atual aproveitamento nas três rodadas finais, será o justo campeão brasileiro.

Em 45 minutos, o Corinthians foi lento e dispersivo na frente, o que tem relação direta com o cansaço de Liedson e Danilo, quase sempre os mais prejudicados nos jogos às quartas-feiras, a ausência de Paulinho, tecnicamente muito superior a Edenílson, seu substituto, e do posicionamento de Osvaldo e Felipe Azevedo, que jogaram, com inteligência, em cima de Alessandro e Fábio Santos. Sem equilíbrio para fazer a transição defesa-ataque e sem posse de bola ofensiva, o líder foi dominado. O rojão estourou diversas vezes lá atrás e Júlio César fez milagres e teve sorte.

Tite, o mais subestimado dos bons treinadores deste Campeonato Brasileiro, é o grande responsável pela subida de produção após o intervalo. Mesmo sem Jorge Henrique, Alex e Adriano (pois é), ele tirou um coelho da cartola com a entrada de Morais, o que empurrou Danilo para o corredor esquerdo e Emerson para a função mais avançada. Com paciência para trabalhar a bola, escorada na qualidade do toque de Morais (de 21 passes, acertou 20 e foi o segundo maior passador da etapa final), a equipe controlou o jogo à frente e só não ameaçou tanto a Fernando Henrique em função das atuações tecnicamente muito ruins de Willian e Emerson.

O segundo ato de brilho do treinador foi a entrada de Ramírez para dar novo fôlego ao corredor esquerdo de ataque, que já tinha Danilo sem pernas. Bingo! Na primeira jogada à frente, o peruano recebeu de Ralf (repare como muitos gols do Corinthians começam em seus desarmes), levou o zagueiro com facilidade e chutou por baixo para definir três pontos que são, na prática, a vantagem para o Vasco, com dois pontos e duas vitórias a menos.

O Corinthians tem tudo para ser o justo campeão brasileiro, afinal lidera a competição em 24 das 35 rodadas e é superior nos confrontos diretos contra todos os times do topo da tabela, salvo o Figueirense, mas precisará de muito mais em 2012 na Copa Libertadores - a vitória sobre o Ceará já assegurou presença ao menos na fase qualificatória.

O time de Tite, que tem culpa no cartório também por isso, é excessivamente tenso e muito coração e pouco cérebro em campo, o que se relaciona de forma direta com a perda do título de 2010 e a expectativa criada com o início surreal de 2011. Raramente consegue controlar até partidas teoricamente fáceis, como contra o Atlético-PR no último domingo, e erros desse tipo não são permitidos em jogos de Libertadores. No Brasileiro, não devem ser suficientes para tirar o título do Parque São Jorge.

domingo, 13 de novembro de 2011

Beleza americana


Há times que realmente se preparam para chegar até a Série A: é o caso do Coritiba, de temporada que consolida a evolução de um trabalho com orçamento modesto e de qualidade. Não é o caso do surpreendente Figueirense, todo remodelado em relação a 2010 e, acredite, com força para chegar na Copa Libertadores pela primeira vez na história. Tampouco é o caso do América-MG, que tem entre suas poucas seis vitórias apresenta cartel positivo contra Vasco, Corinthians e, duas vezes, o Fluminense. O último contra o Flu, sábado no Engenhão, foi o primeiro triunfo como mandante.

Graças aos gols do veterano Fábio Júnior e de um time bem arrumado por Mauro Fernandes, o América-MG arrancou na reta final da última Série B e confirmou uma promoção totalmente fora dos prognósticos. Mesmo na calmaria que é disputar o Campeonato Mineiro, a equipe sofreu transformações sucessivas, como na queda de Mauro, na troca de Flávio por Neneca no gol ou na saída de Irênio dos titulares. A trajetória errante ajuda a explicar o rebaixamento 99% certo, mas o Coelho pode dizer que cai de pé.

De longe, o América-MG é quem tem o orçamento mais modesto da elite nacional: é, ao lado de Ceará, Avaí, Figueirense e Atlético-GO, prejudicado pelo abismo das cotas de televisão para não membros do Clube dos 13. Some a isso a renda paupérrima por atuar longe de sua torcida: R$ 1,781.880 de renda em todo o Brasileiro. Mais da metade dessa fatia (R$ 961 mil) foram arrecadados contra o Corinthians em Uberlândia, o que expõe um fluxo de caixa ainda menor durante a competição.

Mesmo sem se planejar devidamente para chegar forte à Série A e com limitações orçamentárias claras, o América-MG deve retornar para a segunda divisão com a ideia de que cumpriu seu dever. Os resultados do time de Givanildo quase sempre são acima das expectativas, como no empate em 2 a 2 contra o Grêmio, com um jogador a menos, ou também em empates contra Cruzeiro, Atlético-MG, Bahia e Palmeiras, todos de setembro pra cá. Ou até na sofrida derrota de virada, por 2 a 1, contra o Figueirense no Orlando Scarpelli. São 12 jogos em que a equipe americana levou gol quando tinha a vantagem no placar e deixou de pontuar mais.

Givanildo, aliás, tem aproveitamento de 38% após 20 jogos, o que deixaria o América-MG de fora da zona do rebaixamento por uma pequena porcentagem. A grande noite no Engenhão, contra um Fluminense que esperava liderar o Brasileiro (ao menos no sábado), pela primeira vez, ratifica a sensação de dever cumprido para os mineiros.

A defesa a três foi firme, especialmente com Willian Rocha e o ótimo goleiro Neneca. A saída para a frente, com Marcos Rocha inspirado pela direita e Kempes e Rodriguinho na aproximação a Fábio Júnior, levaram perigo ao Flu a todo instante. A vitória foi justíssima. Uma beleza americana.

domingo, 6 de novembro de 2011

Tudo que conspira para o raro equilíbrio do Campeonato Brasileiro


A Bundesliga, quando não tem o Bayern de Munique a 100%, é o campeonato que tem quatro ou cinco candidatos ao título. No Inglês e no Italiano, raramente sai de um grupo de três concorrentes, cenário ainda mais restrito na Espanha. Esqueça a ideia de que o Brasileiro é o melhor do mundo, mas a classificação a cinco jogos do fim mostra que equilíbrio existe mesmo é por aqui. São cinco times separados por uma diferença de três pontos e, embora o Corinthians lidere 22 das 33 rodadas, não há garantias na mesa.

O que ajuda a explicar essa situação tão peculiar do futebol brasileiro é o desequilíbrio cotidiano de nossos clubes. Uma equipe que ontem era presa fácil rapidamente se torna competitiva, como são os casos de Fluminense e Atlético-MG, provavelmente os grandes vencedores da rodada 33. Por sorte, enfrentar os times certos na hora certa ajuda a explicar sequências positivas na competição, caso exato do líder Corinthians.

Um time que teve força e incrível competência para somar 27 pontos em 10 partidas contra uma série de equipes em momentos instáveis, mas é irregular já desde o fim de julho. São mais de três meses sem duas vitórias seguidas e você provavelmente nem se deu conta.

Se não há torneio nacional equilibrado como a Série A, também não há tantos clubes sujeitos a turbulências quanto os grandes brasileiros. Administrações mal estruturadas, sujeitas a interferência de torcidas organizadas e de imprensa nas decisões, sobretudo trocas de treinadores e de jogadores, ajudam e muito a compor esse cenário que resulta na classificação a cinco rodadas do fim. Mesmo o Flamengo, desacreditado em uma semana que pipocaram os inacreditáveis atrasos nos salários de Ronaldinho, tem totais possibilidades e empurrou o Cruzeiro para a zona do rebaixamento.

Contra os cariocas, em tese, pesa a tabela de clássicos nas rodadas finais. O Vasco tem três clássicos, o Flu e o Botafogo têm dois e o Flamengo (atenção ao detalhe) apenas um, contra os vascaínos, em sua última partida. Mas, no dia em que o líder perde para um time virtualmente rebaixado com atuação muito abaixo da crítica, como fazer prognósticos?

Os confrontos diretos entre cariocas podem favorecer, mas a série final do Corinthians (Ceará, Atlético-MG, Figueirense e Palmeiras), que parecia acessível há duas semanas, hoje se anuncia muito dura. É a imprevisibilidade do Campeonato Brasileiro sem favoritos confiáveis.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O novo Pedro que Guardiola encontrou na terceira divisão


Isaac Cuenca não estava entre as grandes promessas do Barcelona, mas é surpresa altamente positiva dos últimos três jogos: Granada, Mallorca e, nesta terça-feira, Viktoria Plzen. Lançado surpreendentemente por Pep Guardiola, ocupou a ponta direita com futebol disciplinado e de talento que, dentro de um time bem organizado e costumeiramente brilhante, apareceu. Cuenca fez o primeiro gol pelo Barça no sábado e, agora pela Liga dos Campeões, contribuiu com assistência.

A história da grande surpresa do Barça nas últimas semanas é muito similar a de Pedro, lugar de quem justamente Cuenca ocupa - Alexis Sánchez e Afellay completam o trio de atacantes lesionados. Fora dos planos de Luis Enrique para o time B na última temporada, Isaac foi cedido e teve destaque com o CE Sabadell, pequeno time catalão que atuou, e conseguiu acesso pela primeira vez em 18 anos, na terceira divisão espanhola. O retorno ao Barcelona era natural, mas as chances com Guardiola nem tanto.

Pedro Rodríguez, o mais operário dos titulares barcelonistas, também surgiu para o time principal de maneira surpreendente e em circunstâncias parecidas com Cuenca. Quando Guardiola dirigia o time B na terceira divisão, Pedro fez os gols que decretaram, com o UD Cassà, as duas únicas derrotas dos azuis-grenás que subiriam de divisão. Foi contratado mas, por não se impor, chegou a ter a dispensa definida por dirigentes. Pep disse não e, em 2009, levou Pedrito para o time de cima. Não saiu mais.

Issac Cuenca, 20 anos e titular em três jogos consecutivos, com gol e assistência, vai pelo mesmo caminho e cava seu espaço no elenco.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sete dias e a terra arrasada por Emerson Leão

Lucas, Rivaldo e Cícero: alvos de Leão

Em seus quase quatro anos de São Paulo, Muricy Ramalho costumava dizer, em entrevistas mais longas, que jamais pediu demissão de funcionário do clube. Citava que, entre seus antecessores, havia gente que em poucos meses mandou jardineiro, porteiro e outros membros do gênero para o olho da rua. A menção de Muricy tinha nome e sobrenome: Emerson Leão.

Mais de seis anos se passaram desde então e Leão, que colecionou praticamente só fiascos na carreira desde então, chegou a ficar mais de uma temporada desempregado. Juvenal Juvênio deu mais sinais de que definitivamente perdeu a mão e ofertou ao veterano treinador um contrato de dois meses. O grande problema não é o vínculo curto e nem a falta de ideias para o resto da temporada, mas a sensação de vazio no que Emerson Leão poderá deixar de legado para quem seja seu sucessor em 2012.

Os métodos de Leão, desde seus tempos de jogador, passam longe de ser os mais corretos. Felix e Ado contam que, em 1970, a convocação de um terceiro goleiro jovem foi um pedido de ambos a Zagallo, mas que ao chegar no México o novato exigiu a titularidade. Só receberia quatro anos depois, na Alemanha. Atitudes do gênero se repetem nesses 41 anos e também se repetiram nos últimos sete dias na Barra Funda.

Leão chegou sem relacionar Rivaldo, o que era direito seu, mas provavelmente uma ação orquestrada em conjunto com Juvenal. Cobrou Lucas publicamente, trocou farpas com Cícero via imprensa e, em um ato de enorme constrangimento, revelou ao microfone da TV Bandeirantes que Dagoberto já tinha pré-contrato firmado com o Internacional.

O fato extremamente antiético expõe de vez um atleta que, bem ou mal, presta serviços ao São Paulo há cinco temporadas. Na beirada do gramado em São Januário, reclamou quando Cañete, que acabara de entrar, se lesionou. "A gente dá a chance, mas ele se machuca". Será que Tite, Cristóvão ou Caio Júnior, os líderes do Brasileiro, fariam algo igual?

Em dois jogos, com uma derrota por 2 a 0 e um empate sem gols, Leão mostrou toda a limitação de seu repertório. No Paraguai, resgatou um sistema com dois volantes, dois meias e dois atacantes, tática que já era vista como atrasada na década de 90. Diante do Vasco, fez o São Paulo voltar aos tempos do 3-5-2. Atualmente, na Série A, o lanterna América-MG é a única equipe a jogar dessa forma, abandonada até mesmo por Muricy.

Para sua segunda semana de clube, Leão também resolveu mexer com a rotina do grupo e, pela primeira vez nos últimos tempos, programou todos os treinos, de terça até sexta-feira, às 9h da manhã. Nenhum dos treinadores do futebol paulista adota a tática, que faz os jogadores acordarem mais cedo e, claro, eventualmente evitarem noitadas. Que ele queira chacoalhar o ambiente, é compreensível. Difícil é saber se, com seus métodos peculiares, o treinador vai construir algo para o próximo ano. O passado bem recente indica que não.

No Corinthians-07, Leão, com contratações inexplicáveis como Wellington, Tamandaré, Gustavo, Daniel Paulista, Jean Carlos, Jean e Jaílson, começou de forma trágica a temporada que culminaria no rebaixamento. Em seu retorno ao Santos, para 2008, deixou no meio do ano a equipe que terminou na 15a posição, um ponto acima da zona de rebaixamento do Brasileiro. Em seguida, com o Sport, 3 vitórias, 2 empates e 6 derrotas e mais um time degolado ao fim do ano. Pelo Goiás, em 2010, 3 vitórias, 4 empates e 9 derrotas no Brasileiro. Resultado? queda para a Série B.

Por enquanto, Emerson Leão precisa já conviver com uma marca bastante negativa do time que dirige. São oito jogos sem vitória no Campeonato Brasileiro, o que significa a pior escrita do São Paulo em 40 anos na competição. Mais difícil que voltar a vencer ou até do que surpreender e estar na Libertadores 2012, é ver herança positiva para a formação de um time forte. O clube de Juvenal Juvêncio é a maior incógnita do Brasil.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Sul-Americana: tudo errado desde o começo


É sempre aquela história: longe da vaga à Copa Libertadores e do rebaixamento, alguns times do Campeonato Brasileiro adotam o discurso de "vamos buscar a Copa Sul-Americana". Mas, convenhamos e todos sabem, não se precisa muito além de fugir do descenço para se garantir na classe B do continente. Antes mesmo de começar, a Sul-Americana ja se desvaloriza por um grande erro.

A ideia de dar vaga a oito times do Campeonato Brasileiro é equivocada e, na prática, só serve para aumentar ainda mais o calendário nacional com duas datas para confrontos de mata-mata na Sul-Americana entre times...brasileiros! Se estivesse restrita a quinto, sexto, sétimo e oitavo colocados da Série A do ano anterior, o torneio já se iniciava com as equipes realmente fortes e teria um mata-mata mais dinâmico. A sensação de que qualquer time obtém a vaga só desvaloriza a Sul-Americana.

É claro que a falta de valor vai bem além disso: o torneio está mal posicionado no calendário e se encaixa, justamente, com as rodadas finais do Brasileiro. Os valores pagos pela Conmebol ainda são irrisórios, as torcidas geralmente não se empolgam e a cobrança, em muitos casos, é para se ignorar e não buscar o título. Tem sido difícil chegar.

O baixo astral geral quando o assunto é Sul-Americana é o que explica os vexames dos times brasileiros, sobretudo com Flamengo e Botafogo. Poucos clubes conseguem preservar titulares e, mesmo assim, manter a sensação de competitividade com quem vai a campo. Esse é o segredo do Vasco, que trouxe um resultado razoável da Bolívia com uma equipe quase C e, dentro de São Januário, construiu uma vitória marcante pelo gol de placa de Bernardo e o placar de 8 a 3.

Agora, restam oito times na Sul-Americana e um ingrediente curioso: três já têm vaga confirmada na Libertadores 2012 (Velez, Universidad do Chile e Vasco) e outros estão próximos, caso do Arsenal. Só mesmo a vontade de levantar a taça é o que deve fazer com que se mantenham empenhados até o fim. Empenho, também, para reverter a imagem de um torneio que já começa cheio de problemas e, acredite, já tem 10 edições realizadas.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

David não é mais um Silva


Mais que no esporte, de Adhemar Ferreira da Silva e de Tomás Soares da Silva, o Zizinho, o sobrenome Silva sempre esteve diretamente ligado à origem da sociedade brasileira. A revista Mundo Estranho conta que os Silva, que hoje têm o lutador Anderson como seu representante mais badalado, surgiram entre os escravos que buscavam o anonimato que aquele batismo podia oferecer.

David Josué Jiménez Silva não é brasileiro e seus pais, Fernando e Eva, também não têm DNA brasileiro até onde se consta. David nasceu em Arguineguín, que faz parte da província de Las Palmas, e hoje é o mais bem acabado produto das escolas de formação do futebol espanhol. O principal construtor no massacre histórico do Manchester City sobre o United, no domingo, revelado pelo Valencia, é mais um nome a personificar esse estilo encantador do tiki-taka que hoje faz parte do jogo consistente e sempre com profundidade do líder da Premier League.

As estatísticas, frias, dão a David Silva um gol e uma assistência no triunfo de 6 a 1 conquistado em Old Trafford, mas aconteceu muito mais. David participou de forma direta em outros três: nos dois primeiros, deixou Milner em condição de servir Balotelli, e no quarto cobrou o escanteio preciso que, desviado, chegou a Lescott e acabou na conclusão de Dzeko. Mas foi sua assistência para o sexto gol, também de Dzeko, o momento de maior requinte em seu jogo, perfeito do início ao fim.

No Campeonato Inglês, ninguém serviu tanto quanto David Silva, e considere apenas os passes diretos para gol, que foram seis em nove jogos disputados. O desempenho na grande campanha do City representa definitivamente a volta do bom futebol de quem, na Eurocopa 2008, aos 22 anos, teve papel importantíssimo. Reserva na África do Sul, Silva é hoje mais um desses jogadores cerebrais que, de trás, abrem qualquer defesa com um passe rápido e preciso.

Jogador fundamental que falta à seleção brasileira de Mano Menezes, David Silva sobra na Espanha de Xavi, Iniesta, Fabregas, Busquets, Cazorla e, aos poucos, de Thiago Alcântara. Sobra a ponto de os gigantes espanhóis, Real Madrid e Barcelona, prescindirem de sua mão de obra, hoje a serviço do City. David não é mais um, é um cracaço.

sábado, 22 de outubro de 2011

A gangorra dos mineiros vê o Galo subir e o Cruzeiro na rota da Série B


Já faz tempo que o Atlético-MG procurava uma vitória que realmente transforma o vestiário, muda o astral e encaminha novos bons resultados a curto prazo. Poderia ter sido contra o próprio Cruzeiro, na última rodada do turno, quando a produção dos dois times, apesar da vitória cruzeirense, mostrava superioridade do Galo. Foi neste sábado: Cuca conseguiu ter boa parte de seus titulares à disposição e o Fluminense, no Engenhão, foi abatido de maneira categórica em dia que a estratégia atleticana se mostrou muito mais acertada.

Por mais que não sejam brilhantes, Carlos César e Triguinho deram estabilidade à primeira linha da equipe e Pierre, na proteção da área e no cerco a Lanzini, reafirmou sua recuperação pessoal na carreira, e deu fôlego para Filippe Soutto jogar. O trabalho defensivo irretocável da equipe ainda teve em Bernard, aberto à esquerda, um nome fundamental. Revelação do título atleticano na última Taça BH, ele acabou com Mariano, sempre um protagonista das ações tricolores, e ainda criou a jogada crucial, convertida em penalidade com Daniel Carvalho, outro em evolução.

O Galo, que já dorme fora da zona do rebaixamento, indica uma inversão de papel com o seu maior rival, o que pode ficar claro neste domingo após o confronto com o Atlético-GO em Sete Lagoas. Incrível como as decisões do Cruzeiro são confusas e infelizes, da direção ao treinador. Vagner Mancini preteriu a proteção da defesa e apostou no ataque para tirar o time de situação ruim. Com ele, são duas derrotas e dois empates. Com Emerson Ávila, quatro derrotas e dois empates. São 11 partidas sem vencer somando a última de Joel Santana.

Nessa gangorra dos times mineiros, em que o Atlético afirma evolução e o Cruzeiro patina, o América-MG é um personagem intrigante. Por mais que fique evidente que a equipe americana é insuficiente para a Série A, os homens de Givanildo quase sempre se superam e conseguem resultados acima da expectativa.

Há duas semanas, segurou o Galo no 0 a 0. Depois, goleou o Ceará em 4 a 1 e endureceu até o fim em derrota contra o Figueirense no Orlando Scarpelli. Neste sábado, com 10, buscou igualdade com o Grêmio. O time talvez financeiramente mais prejudicado pela falta do Mineirão vai cair, mas merece aplausos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A joia 100% botafoguense


Ser líder pelo Campeonato Brasileiro pela primeira vez desde a 16ª rodada da temporada 2007 é tudo o que espera o Botafogo, nesta quarta-feira, contra o Santos e Neymar na Vila Belmiro. Voltar a pontear a Série A após quatro anos, e a oito jogos do fim da competição, tem um significado tremendo no processo de recuperação botafoguense que passa pelas finanças, pela infraestrutura, pelas categorias de base e, claro, pelo time principal. Nele, poucos brilham mais que o surpreendente Elkeson e seus oito gols na Série A.

O jogador é uma surpresa desde sua contratação, conseguida com força nos bastidores contra a concorrência fortíssima do Fluminense em negociação triangular com Vitória e o Benfica, de Portugal. Elkeson promete ser, no futuro, a primeira grande negociação do Botafogo com o exterior em muitos e muitos anos. E há algo ainda mais especial com ele: 100% de seus direitos econômicos são botafoguenses. Algo que, infelizmente, é coisa mais que rara no futebol brasileiro.

Vice-campeão da Copa do Brasil com o Vitória, que também tinha os pratas da casa Anderson Martins, ex-Vasco, e Wallace, do Corinthians, Elkeson teve segundo semestre difícil e não evitou a queda do rubro-negro para a Série B. No Botafogo, se reencontrou como meia-central no sistema de sempre do Botafogo, o 4-2-3-1, mas também brilha quando é deslocado para a ponta, como ocorreu contra o Corinthians. O chute firme e a potência física são as principais marcas de quem, na adolescência, assumiu ser gato em dois anos e mesmo assim não foi dispensado do Vitória.

Elkeson se sobressai também porque faz parte de um time organizado, onde as responsabilidades são bem repartidas e nomes experientes como Jefferson, Marcelo Mattos, Renato e Loco Abreu transmitem muitas coisas boas. Assim, a seguir nessa toada, ele tem tudo para render dois dígitos de milhões de euros em uma grande negociação com o exterior. Se agora ele e o Botafogo só pensam em liderar o Brasileiro, mais à frente podem colher ainda mais bons frutos. Elkeson é uma joia e, mais importante, 100% botafoguense.

- No Terra: confira 22 talentos fatiados do futebol brasileiro

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A decadência que leva Adilson Batista ao lugar comum


Adilson Batista chegou ao Corinthians, líder do Campeonato Brasileiro de 2010, com um roteiro traçado. Construir mais um trabalho longo, sólido e vitorioso, como fora no Cruzeiro, e só sair do Parque São Jorge para algo mais grandioso, como seguir os passos de Mano Menezes rumo à seleção. O plano de Adilson, que afirmou em entrevista a este blogueiro a ideia de ficar "uns cinco anos no Corinthians", era legítimo e embasado. Mas se foi completamente por terra.

O treinador fez do Cruzeiro, por dois anos e meio, um time sempre duríssimo, que vencia os adversários pela qualidade técnica, pela facilidade de envolver no ataque e por se renovar mesmo quando perdia jogadores importantes. Só foi derrotado uma vez para o Atlético-MG, foi bicampeão estadual, vice da Libertadores e, por dois anos seguidos, ficou entre os primeiros do Brasileiro. A partir de agora, com seus fracassos por Corinthians, Santos e São Paulo, além de Atlético-PR, Adilson precisará começar do zero. Ou até abaixo disso.

No Corinthians, ele teve um grande início, a ponto de vencer Fluminense e Santos, fora de casa, em jogos importantíssimos daquele Brasileiro. Seu time era mais vistoso que o de Mano, mas os desfalques, a insistência em uma proposta muito ousada e a dificuldade em administrar o elenco custaram caro. Andrés Sanchez quis demití-lo no Beira-Rio após perder para o Inter e cair para a vice-liderança. Foi demovido, esperou mais quatro jogos em que o time não venceu e o consenso interno é de que, se Tite chegasse antes, o Flu não teria vencido a Série A.

Adilson, como ocorre com outros treinadores como o próprio Tite, paga pela imagem que se criou em torno de si. É por isso que no Santos foi tão rapidamente demitido e criou uma atmosfera de trabalho tão ruim mesmo quando tinha 60% de aproveitamento. A situação no São Paulo não é tão diferente, mas a troca de comando é que tardou a acontecer. Adilson Batista foi vaiado na estreia e, provavelmente, em todos os jogos que se sucederam no Morumbi. Ninguém chegou tão queimado quanto ele, o pior comandante são-paulino do século em aproveitamento. E pensar que Adilson ainda tem participação quase decisiva no rebaixamento cada dia mais certo do Atlético-PR.

O momento para ele é de de buscar a possibilidade segura de fazer um trabalho longo e, principalmente, onde tenha confiança e possa aplicar suas ideias sem ser vaiado logo de cara. Situações como a perseguição da torcida são-paulina a Adilson criam um ambiente difícil de ser revertido, ainda mais em um clube com elenco complicado, jogadores em reta final de contrato e problemas da portaria à presidência. Hoje, ele é um ex-treinador promissor e de volta ao lugar comum.

No Terra - Adílson tem pior aproveitamento do século no São Paulo
Olho Tático - Equívocos táticos também derrubaram Adilson

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Todos os hat-tricks de Fred e o Flu em franca ascensão


Fred chegou a 200 gols e 10 hat-tricks na carreira ao fazer três contra o Coritiba na última quinta-feira. Se não parece ser o nome ideal para a seleção brasileira, seu pós-Copa América com o Fluminense é realmente muito bom. Superado o episódio de problemas com torcedores e a ameaça de deixar as Laranjeiras, ele parece até mais alinhado com os objetivos do clube e na busca por uma grande reta final de Campeonato Brasileiro.

Abel Braga, que parecia ter os dias contados após a derrota para o Botafogo, no último dia de agosto, redescobriu o Fluminense em setembro e outubro e conquistou 22 dos 30 pontos que disputou desde então. A reação se deve ao meio-campo mais dinâmico, com Edinho responsável pela marcação e Marquinho incumbido da transição, ideal quando Diguinho também joga. Rafael Sobis, Lanzini, Mariano e agora até Deco se destacam no crescimento do Flu.

O mais impressionante nos três gols de Fred contra o Coritiba é que todos nascem de jogadas conscientes e construídas de forma coletiva, com trabalho de bola que o time praticamente desconhecia nos tempos da ligação direta de Muricy. O Flu, embora seja sexto, tem só quatro pontos a menos que o líder. Também é candidato ao título Brasileiro.

Todos os hat-tricks da carreira de Fred:
23/02/03 - América-MG 6 x 1 URT (Mineiro)
21/06/03 - América-MG 4 x 1 CRB (Série B)
02/10/04 - Cruzeiro 5 x 0 Ponte Preta (Série A)
27/02/05 - Cruzeiro 4 x 0 América-MG (Mineiro)
11/03/05 - Cruzeiro 5 x 1 Valério (Mineiro)
18/05/05 - Cruzeiro 5 x 0 Baraúnas-RN (Copa do Brasil)
13/05/06 - Lyon 8 x 1 Le Mans (Campeonato Francês)
22/04/10 - Fluminense 3 x 2 Portuguesa (Copa do Brasil)
03/02/11 - Fluminense 3 x 1 Duque de Caxias (Carioca)
13/10/11 - Fluminense 3 x 1 Coritiba (Brasileiro)

Confira matéria completa sobre Fred no Terra

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

No Brasileirão das arrancadas, qual time tem a melhor sequência?


Tamanho equilíbrio no Campeonato Brasileiro faz com que praticamente todos os times tenham ótimos e preocupantes períodos dentro da competição. O momento atual é do Corinthians, que volta a liderar após quatro rodadas, mas principalmente do Flamengo, dono de 9 pontos nos últimos três jogos. Também é do Internacional, que fez 3 a 0 no então líder Vasco, do Coritiba, de boa atuação no sábado, e de Fluminense e Grêmio, derrotados nesse fim de semana.

No Pacaembu, o Corinthians teve 45 minutos fulminantes diante de um Atlético-GO que vinha de apenas uma derrota em 12 jogos. Antes um problema para Tite, a parceria entre Danilo e Alex, falso centroavante com os problemas de outros atacantes, virou o segredo do bom futebol que reapareceu. Com jogos apenas aos fins de semana, os corintianos crescem na parte física e conseguem jogar com a intensidade total, principal característica do time.

Impressionante também os 90 minutos do Internacional no Beira-Rio contra o líder Vasco. D'Alessandro fez a partida de seus melhores tempos da carreira e Ilsinho, contratação que inspirava pouca confiança, foi o terror para os laterais vascaínos Fagner e Jumar. No aguardo pelo retorno de Leandro Damião, o Inter sobe com quatro vitórias e quatro empates nos últimos 9 jogos. Hoje, a diferença para o quinto lugar que deve dar vaga na Libertadores 2012 é de três pontos.

Dono da principal arrancada de um campeão brasileiro na era dos pontos corridos, o Flamengo vai se credenciando novamente a brigar pelo título. São três vitórias em três jogos e uma sequência de tabela interessante (Palmeiras em casa, Ceará fora e Santos em casa) para encostar novamente na liderança. Contra o Flu, Bottinelli salvou a pele de Vanderlei Luxemburgo, infeliz na escalação da primeira etapa e inteligente outra vez nas substituições.

As arrancadas de Corinthians, Internacional e Flamengo no domingo permitem a pergunta: quais as melhores sequências do Campeonato Brasileiro de 2011? Corintianos e flamenguistas, justamente, têm os melhores índices por aqui. A equipe de Tite bateu sete vitórias seguidas no início da competição e o Fla, com nove vitórias e sete empates, somou invencibilidade de 16partidas.

Confira as arrancadas atuais na reta final do Brasileiro:
Coritiba - 6 vitórias, 4 empates e 3 derrotas em 13 jogos
Grêmio - 6 vitórias e 3 derrotas em 9 jogos
Internacional - 4 vitórias, 4 empates e 1 derrota em 9 jogos
Flamengo - 3 vitórias e 2 empates em 5 jogos
Fluminense - 6 vitórias, 1 empate e 2 derrotas em 9 jogos

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A volta ao Brasil: um desafio tão grande quanto a ida à Europa


Não faz tanto tempo assim, Dunga era o treinador da seleção brasileira e Denílson um titular de destaque do Arsenal de convocação constantemente solicitada pela opinião popular. No Campeonato Brasileiro atual, ninguém compromete tanto o setor de meio-campo do São Paulo quanto ele. Entradas bruscas, que no Campeonato Inglês possivelmente passariam despercebidas, já renderam três expulsões ao reforço de salário mais alto para a temporada após Luís Fabiano. A reafirmação de Denílson no futebol brasileiro ainda é uma incógnita, mas não é exclusividade dele.

A diferença de calendário em relação à Europa tem feito com que, novamente, muitos jogadores entrem com a Série A em andamento e sofram com as dificuldades de readaptação. As diferenças são tremendas e já começam no extracampo: uma ou duas concentrações por semana, viagens geralmente mais longas, a relação com a imprensa é diferente, a participação da torcida também não é pequena e a filosofia de treinamento totalmente oposta. A cobrança por desempenho, por outro lado, é enorme.

Por tudo isso, também, é que impressiona a readaptação de Renato ao futebol brasileiro e seu campeonato de alto nível com o Botafogo. Fisicamente bem, ele participou de 17 jogos consecutivos sem se lesionar nem ser suspenso, uma constante na carreira. Em todas as partidas, esteve em campo nos 90 minutos. Renato, o Renatinho para os santistas que não lhe esquecem pelas temporadas 2002, 03 e 04, passou sete anos no Sevilla, foi adiantado para a armação e voltou a ser volante como se nada tivesse acontecido.

No Botafogo que tem Herrera e Maicosuel abertos pelas pontas e Elkeson na armação, além de Loco Abreu enfiado, o trabalho dos volantes é árduo. Renato, com Marcelo Mattos, marca firme, com lealdade e é o homem que dá fôlego para o time sair de trás e chegar à frente com qualidade. Rômulo e Ralf, titulares da seleção na última semana, são os melhores da posição nesta Série A. Renato vem um degrau logo abaixo com gente como Léo Gago, Paulinho e Edinho, por exemplo.

O caso de Renato, mostra 2011 mais uma vez, é isolado. O futebol brasileiro é extremamente competitivo, duro dentro e fora de campo e cheio de particularidades que tornam essa reafirmação um desafio tão grande quanto a ida à Europa. Um caminho em que Denílson, até outro dia respeitadíssimo na Inglaterra, só tem encontrado pedras.

- Confira aqui: entrevista exclusiva com Renato no Portal Terra

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Por que empréstimo não é presente


Jogador emprestado pode ou não enfrentar o clube dono de seus direitos? Essa situação, bastante comum aos clubes brasileiros, foi novamente discutida antes do duelo entre Grêmio e Santos, na noite desta quarta-feira, no Olímpico. No fim das contas, Borges só jogou porque sua negociação com os santistas foi em definitivo, ainda que os gremistas tenham se comprometido a contribuir no pagamento de seus salários até o fim de 2011.

São sete prestações de R$ 50 mil para ajudar a bancar o artilheiro da Série A na Vila Belmiro. Grande negócio para o Santos e nem tão ruim para o Grêmio porque Marquinhos, envolvido na troca, é um dos destaques na grande campanha de reabilitação no returno do Brasileiro. O meia, que já é atleta gremista em definitivo, contribuiu para o êxito gremista com assistência para o único gol, marcado por Brandão.

Mas imaginemos que Marquinhos ainda fosse do Santos, estivesse só emprestado ao Grêmio e participasse de forma decisiva na partida. Que sentido teria os santistas pagarem o salário de um jogador que decidisse uma derrota deles próprios? Friamente, um clube só empresta jogador e contribui nas despesas para que ele possa roubar pontos dos concorrentes. Não faz sentido ser diferente.

Um caso muito curioso é do Corinthians, que tem vários jogadores emprestados em outros times da primeira divisão. Gols de Lulinha já fizeram o Bahia roubar pontos de Flamengo e Avaí, e gols de Souza tiveram o mesmo efeito para os baianos contra Atlético-MG, Flamengo e Fluminense. Bill, cedido ao Coritiba, já ajudou seu time a pontuar contra Fluminense, América-MG, Atlético-MG, Botafogo e Cruzeiro.

Os pontos perdidos sobretudo por Botafogo, Fluminense e Flamengo ajudam na campanha corintiana do Brasileiro e justificam o dinheiro gasto nos três jogadores. Só não faria sentido que eles jogassem contra o próprio Corinthians. Afinal, empréstimo não é presente.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A grande bola da vez no mercado para 2012


Dribles e mais dribles, velocidade e jogo objetivo e vertical. Osvaldo, atacante de 24 anos do Ceará, é uma das grandes novidades do Campeonato Brasileiro e responsável direto pela boa campanha de primeiro turno de seu time. Hoje, o Vozão patina e já não consegue se impor tanto quanto no início, mas a expectativa é de que esteja na Série A de 2012 pelo terceiro ano consecutivo. Nesta temporada, esse mérito pertence muito a Osvaldo.

Só no Brasileiro, o atacante participou com três gols e cinco assistências, a última delas no domingo em empate importante conquistado pelo Ceará diante do Atlético-MG, mas é de seus pés que surgem as jogadas diferentes, acima de tudo. É do tipo ideal para jogar pelas beiradas do campo com recomposição e chegada à frente.

O que mais chama a atenção em Osvaldo, jovem, é sua situação contratual: por descuido da equipe cearense, que conseguiu ampliar o vínculo de quase todos seus outros titulares durante 2011, ele fica livre para assinar com qualquer outra equipe para o próximo ano. Sem custos. A promessa é de que muitos entrem na briga, inclusive Corinthians e Palmeiras.

Osvaldo, curiosamente, é revelação da ótima fase do Fortaleza, hoje em um patamar abaixo e quase rebaixado na Série C. O atacante passou ainda por Al Ahli e pelo Braga, de Portugal. Reserva durante boa parte do Campeonato Cearense, ganhou a posição de Iarley no início do Campeonato Brasileiro e não saiu mais do time. Sua afirmação se deve muito ao treinador Vagner Mancini, que costuma deixar ótimo legado nesse sentido pelas equipes pelas quais passa, casos de Vitória e Santos, por exemplo.

Com pinta de jogador que vai vingar, Osvaldo só precisa se livrar da sombra de Misael, que surgiu em circunstâncias semelhantes pelo mesmo Ceará, em 2010, e fracassou ao se transferir para o Vasco no início desse ano. Não parece ser o caso de Osvaldo: sua personalidade e talento para fugir da marcação são características que chamam e muito a atenção. É a grande bola da vez no mercado de jogadores a custo zero.

Obs.: Confira esse trabalho nosso no Portal Terra com 44 jogadores e seis técnicos em reta final de contrato

Casemiro em xeque


“Ele joga muito. Mas tem que deixar de ser tão vagabundo e começar a marcar”. A frase sobre Casemiro tem um adjetivo forte e foi dita a este colunista por um ex-diretor influente do São Paulo em conversa informal no início de 2011. O que parecia ser um exagero naquele momento, aos poucos, tem se confirmado. A paciência dos tricolores tem sido cada vez mais curta com o volante, que teve contrato renovado recentemente e goza de prestígio de ser um dos principais jogadores da equipe.

Talentoso, de fato, Casemiro é. Tem uma qualidade técnica acima do comum para a posição, um corpo privilegiado que lhe dá condição de proteger a bola dos marcadores e uma arrancada interessante no último terço do campo. Tem faltado para ele, sim, é o mais fundamental para um volante: a marcação. A baixa média de desarmes por partida, de 3,5, fica muito distante dos principais volantes do país. Curioso que o São Paulo, mesmo atuando com três marcadores, tenha apenas o sexto melhor índice de roubadas de bola da Série A.

Detalhes na formação de Casemiro ajudam a explicar sua dificuldade em desarmar – muito mais por falta de empenho e posicionamento correto que por capacidade, aliás. Nos últimos tempos de base no São Paulo, ele era o volante mais defensivo de um time que tinha, à frente, os pegadores Zé Vítor e Jefferson, além de Lucas no papel de armador e Ronieli como atacante solidário na recomposição. Tudo isso somado a uma linha defensiva sólida faziam dele uma figura pouco importante na marcação e fundamental para fazer progredir em campo.

No Sul-Americano Sub-20, Casemiro ganhou ainda mais liberdade de Ney Franco, sobretudo pelo senso de cobertura apurado e a enorme doação de Fernando, seu companheiro no meio com sistema 4-2-3-1 de Lucas, Oscar e Neymar na armação. Para o Mundial, contra equipes mais bem dotadas tecnicamente, Ney se cansou de recuar Casemiro para a linha dos zagueiros e recheou o meio-campo com jogadores mais dinâmicos, caso de Alan. Ali, também pesou a dificuldade de Danilo e Gabriel Silva em marcar.

Recentemente, causou surpresa geral o fato de que Mano Menezes, nos jogos contra a Argentina pela Copa Roca, tenha optado por jogadores menos talentosos, caso de Paulinho na partida de ida e de Rômulo em Belém. Pelo sistema de jogo da equipe brasileira, entretanto, a decisão de Mano tem lógica, já que a marcação à frente da área é fundamental. Se quiser ter futuro na seleção, é bom Casemiro acordar para a realidade.

O que mais preocupa no fiel escudeiro de Lucas, ainda um jogador em formação, é sua aparente pouca preocupação em evoluir. As decisões táticas de Adílson dão mais liberdade que responsabilidades a Casemiro, cuja chegada à frente tem sempre impacto na defesa do rival – mas cuja indisciplina em campo sobrecarrega Wellington ou Denílson.

Essa postura dentro de campo já faz Casemiro, que brigou por meses para receber um aumento que parecia justo, começar a ganhar fama de mascarado. Mais um detalhe que ele terá de resolver para confirmar as expectativas de se tornar um volante de primeira linha internacional.

* Publicado no Olheiros

domingo, 2 de outubro de 2011

Posição: atacante. Principal função: marcar


Curiosa a estratégia de Tite para enfrentar o Vasco em São Januário em jogo crucial para as pretensões dos dois times no Campeonato Brasileiro, mas sobretudo para um Corinthians que poderia ficar a cinco pontos do líder em caso de derrota. Sem um centroavante de ofício disponível, o treinador utilizou seus dois atacantes com condições de jogo (Willian e Jorge Henrique) pelo lado do campo e transformou Alex no homem mais avançado do desenho tático. Não era fundamental ter um homem na área, mas sim marcação firme pelas extremidades para proteger a zaga.

O plano do treinador, de sucesso na somatória dos 90 minutos, tinha um objetivo claro e está perfeitamente alinhado à tendência atual do futebol brasileiro: bloquear os laterais do adversário, origem de boa parte das jogadas de nove entre cada 10 times do país (comprovado matematicamente), e dificultar uma saída de bola limpa. O raciocínio é de que para jogar é preciso roubar a bola e impedir o rival de progredir com tranquilidade. Melhor é ter Willian, que marca tão bem quanto Jorge Henrique e ataca de forma vertical e com qualidade.

No Brasileiro, com a aplicação repetitiva dessa receita de jogo, o Corinthians é líder no ranking de desarmes, com 34,3 em média por jogo, e possui a segunda melhor defesa da competição - à frente, só o Palmeiras, que rouba bolas com competência mas não consegue construir. Em São Januário, a semana de treinamento do treinador corintiana teve reflexo e o time novamente marcou demais. Mesmo sem centroavante, a equipe de Tite conseguiu criar com posse de bola e encaixotou o Vasco (também em 4-2-3-1) na maior parte do tempo, salvo o contragolpe que virou gol de Fagner.

O raciocínio de que desarmar é fundamental é o que explica tantas equipes que atuam no mesmo sistema de jogo, mas nenhuma aplica a receita tão bem quanto o Corinthians de Tite. Há outras fórmulas para vencer: o toque de bola qualificadíssimo do Vasco, o jogo vertical e envolvente do Botafogo ou o São Paulo que é explosivo no último terço do campo. Hoje, a pinta é de que corintianos e vascaínos têm mais time para disputar o título nos jogos finais.

sábado, 1 de outubro de 2011

Dedé, Cortês, Volta Redonda e Nova Iguaçu: a vitória do futebol do Rio


Dedé, na Argentina, e Bruno Cortês, em Belém, estiveram entre os melhores em campo da Copa Roca. Mais do que um par de afirmações para a seleção, o sucesso dos dois jogadores, também os melhores em suas posições no Campeonato Brasileiro, diz muito para o futebol do Rio de Janeiro. Não só pelo fato de serem jogadores de Vasco, também de Rômulo e Diego Souza, e Botafogo, que ainda teve Jefferson na equipe titular e Elkeson entre os reservas. Mas também porque a trajetória de ambos se dá toda no Campeonato Carioca.

Cria da base do Volta Redonda, Dedé subiu aos profissionais com 17 anos. Em 2005, era reserva no bom time do Voltaço que foi vice-campeão carioca. Passou rapidamente pelo Fluminense, fracassou em testes na Udinese e, de volta, foi um dos melhores zagueiros do Estadual de 2009, dali para o Vasco. Cortês pintou no Nova Iguaçu, um dos times do Rio com melhor estrutura para a formação de jogadores, e se afirma com incrível personalidade no Botafogo de Caio Júnior.

Faz tempo que não se via surgir bons jogadores assim nos times menores do Rio. Com Romário, no Olaria da década de 80, e com Ronaldo, pelo São Cristóvão nos anos 90, o futebol carioca se mostrava ainda capaz de prospectar e encontrar os atletas com mais potencial. Fluminenses e revelações recentes do futebol brasileiro como os volantes Ramires, Jucilei e Rafael Carioca, entretanto, surgiram em clubes de outros estados, o que dá a percepção de que o Rio de Janeiro, com quatro times grandes, não encontrou aqueles potenciais.

Cortês e Dedé são casos diferentes e com toda a história percorrida dentro do estado do Rio de Janeiro. Equipes como Tigres, Nova Iguaçu, Volta Redonda e Resende trabalham a formação de atletas em ótimo nível. Deste último, por exemplo, saíram no último Campeonato Carioca os irmãos Guilherme e Gabriel Appelt, que flertou com Flamengo e Corinthians. Ambos acabaram negociados diretamente com a Juventus, de Turim. Têm 17 e 18 anos respectivamente.

Hoje, é possível dizer que os quatro clubes grandes do Rio de Janeiro, inclusive o Botafogo, realizam ótimos trabalhos de formação de atletas, o que vai reduzir a chance de se repetirem casos como os de Ramires e Jucilei. Mas nenhuma vitória é maior que a de Dedé e Cortês, duas realidades e estrelas crescentes do futebol brasileiro em 2011.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Kaká: mais do que possível, imprescindível ao Real


Primeiro, as mãos chacoalhando. Depois, batidas no peito. Por fim, um soco ar. A efusiva comemoração de Kaká, depois de marcar seu primeiro gol na Liga dos Campeões após dois anos, tem justificativa. A grande atuação com o Real Madrid, terça-feira diante do Ajax, mostrou que ele pode jogar sim na equipe titular de José Mourinho. Mais que isso: precisa ser o titular.

Sacado do time para a entrada do brasileiro, Di María é um jogador tático, importante na marcação (anulou Daniel Alves em quase todos os duelos da temporada passada) e que compensa a presença de Cristiano Ronaldo, pouco exigido na recomposição defensiva. Mas se quer ter um time mais poderoso, agressivo e com pedigree para vencer qualquer um, José Mourinho tem de encontrar alternativas para encaixar Kaká no lugar do argentino.

Para ter Özil (à direita), Kaká (ao centro) e Ronaldo (à esquerda) juntos no 4-2-3-1 que termina com Benzema centroavante, Mourinho precisará fazer ajustes importantes. Os gols contra o Ajax foram construídos no contragolpe e, mesmo no Santiago Bernabéu, o Real foi superado em posse de bola: 51% a 49% para os holandeses. Inofensivo na frente e com problemas defensivos sérios, o time de Frank de Boer foi presa fácil, mas adversários de outro quilate poderiam causar mais danos ao Real com esse índice de posse.

Com Kaká, aos poucos, o Real Madrid precisará se acostumar a trabalhar mais a bola no pé dos volantes (Khedira e Xabi Alonso), incluir os laterais no trabalho ofensivo e fazer de Özil, mesmo fora da posição central, um protagonista na organização de jogo. Kaká e Cristiano Ronaldo, muito mais verticais, devem participar mais da conclusão que da construção de jogadas. E, para que a defesa não viva sob pressão, é necessário que ambos também se sacrifiquem mais na marcação, o que não ocorreu contra o Ajax e sua posse de 51%.

Nesse momento, o mais importante para o Real é ter Kaká novamente disponível para jogar em alto nível. Se o último gol pela Liga dos Campeões foi em 30 de setembro de 2009, de pênalti, o último com bola rolando foi pelo Milan, em 6 de novembro de 2007. Os números dão a dimensão da importância da partida contra o Ajax para o ex-melhor do mundo. Com seu talento, caráter de vestiário e poder de decisão, Kaká é imprescindível. Aos 29 anos, está vivo.

domingo, 25 de setembro de 2011

O monstro atropelador da grande área


Três exibições de gala em uma semana mudaram de patamar a temporada de Diego Souza e colocaram o Vasco na liderança do Campeonato Brasileiro com dois pontos de vantagem sobre o vice-líder Corinthians. Em muitos momentos do ano, Diego era o estorvo a impedir a aproximação do talismã Bernardo à condição de protagonista do time. Agora, é quem pode fazer terminar com dobradinha uma temporada que já é inesquecível para os cruzmaltinos.

Diego Souza havia sido o melhor em campo contra o Grêmio e autor de um golaço, mas pareceu mais motivado que de costume no empate contra o Atlético-GO na última quinta. Fez de cabeça para livrar a cara de uma equipe que parecia perdida em campo. Acertou a trave em outra cabeçada que tinha tudo para valer três pontos. Mas foi mesmo neste domingo que Diego mostrou que ainda pode voltar a ser aquele jogador de 2009. Três gols sobre o Cruzeiro, com direito a golaço, uma bicicleta linda e um chapéu no gol que fechou o caixão mineiro.

O que há em comum nos cinco gols que Diego Souza fez em três jogos num intervalo de oito dias? A força física aliada à técnica e ao oportunismo em todos eles, sempre na grande ou na pequena área. Com o Vasco, já são 14 gols de Diego na somatória dos quatro torneios da temporada. Apenas uma vez o gol saiu de fora da área. Assim costuma ser nos melhores momentos de sua carreira.

Quase um volante no time em que surgiu, o Fluminense campeão carioca e vice da Copa do Brasil em 2005, Diego Souza se descobriu de verdade como jogador no Grêmio de Mano Menezes, vice da Libertadores 2007. Contratado para ser o reserva de Lucas Leiva, que iria disputar o Sul-Americano Sub-20 naquele ano, ele virou jogador de ponta ao ser adiantado. Mano, que bem conhece Diego Souza, fez dele um meia-atacante na linha de armadores que tinha Tcheco e Carlos Eduardo abertos. Sempre capaz de romper à força a marcação de qualquer volante.

É ali, atuando na sombra de um centroavante, que Diego pode ser um jogador a definir os rumos do Campeonato Brasileiro. A seleção parece ser demais para ele, que terá 29 anos na Copa do Mundo de 2014 e precisa sempre estar pleno fisicamente para decidir. Mas não só o Vasco campeão nacional seria digno de um roteiro cinematográfico. Ter Diego Souza como protagonista desse eventual título seria fantástico para quem, até hoje, ainda procura ser aquele jogador de 2009 e de uma taça que escapou por entre os dedos do Palmeiras.

sábado, 24 de setembro de 2011

A bola te puniu, Muricy

Wellington Nem, o camisa 17: grande Brasileiro com o Figueirense

Na base do Fluminense, Wellington Nem sempre foi um jogador precioso. Nas seleções sub-15 e sub-17, também. Foi campeão sul-americano por ambas. Mas 2010 foi um ano difícil, de lesões e de desprezo por parte de Muricy Ramalho, que preferiu resgatar Tartá, Willians e dar chances até ao argentino Ezequiel González. Com Muricy, Wellington nunca jogou, a ponto de ser emprestado ao Figueirense para que pudesse estrear como profissional já prestes a completar 20 anos.

Este sábado, de gosto amargo para Muricy e o fim de sua sequência positiva com o Santos, teve sabor especial para Wellington Nem. Na Vila Belmiro, fez gol, sofreu pênalti que decretou a vitória do Figueirense e foi o melhor em campo. Apenas mais um capítulo em sua grande participação no primeiro Campeonato Brasileiro da vida.

No surpreendente Figueira de Jorginho, sempre no top 10, Wellington Nem é um dos nomes mais importantes. São cinco gols, uma assistência e um pênalti sofrido nas últimas nove partidas, sequência que confirma sua afirmação e faz o Fluminense já planejar o retorno dele às Laranjeiras para 2012. Sem Muricy por lá, Elivélton, Matheus Carvalho e Lucas Patinho vão sendo preparados para se juntar ao grupo profissional de uma vez.

Muricy Ramalho, que costuma dizer que a bola pune, está perto de completar seis meses à frente do Santos, período em que nenhum jogador das categorias de base se afirmou no elenco profissional, reforçado com o aval do treinador por jogadores classe B como Roger Gaúcho, Richelly, Leandro Silva e Éder Lima. Depois de Felipe Anderson superar a desconfiança do próprio treinador, a base foi obrigada a ouvir do técnico que ele tinha "defeito de fabricação".

Os títulos e os resultados positivos dão respaldo a Muricy, mas exemplos como o de Wellington Nem mostram que os clubes por onde ele passa continuam pagando um preço muito alto para vencer com o futebol de força física e bola aérea poderosa. É de se perguntar onde estariam hoje Lucas e Casemiro se não fossem Sérgio Baresi e sobretudo PC Carpegiani. Muricy, um vencedor, nada tem a ver com o DNA santista.

O mais subestimado dos grandes treinadores da Europa


Bastian Schweinsteiger era um meia-externo interessante, mas aparentemente estagnado na carreira com o Bayern de Munique. Passava longe de ser o que é hoje: um dos três - quiçá o melhor - volantes do mundo. De forma equivocada, sua incrível transição da beirada à faixa central do meio-campo costuma ser atribuída a Louis van Gaal, mas é um treinador menos badalado, e em grande fase, o responsável. Jupp Heynckes, com 66 anos e em sua terceira passagem no comando dos bávaros, tem essas e muitas outras grandes histórias a contar.

"Achava que o talento do Schweinsteiger era desperdiçado pelo lado do campo e o coloquei como volante, mas ele se descobriu na posição com sua própria qualidade. Hoje se encontra no mesmo patamar de Xavi, Iniesta e Busquets, todos de classe mundial", conta Heynckes, que passou rapidamente para apagar o incêndio aberto por Klinsmann em 2009 e preparou o terreno para Louis van Gaal, com Schweinsteiger na faixa central e exigindo protagonismo, levar o Bayern de volta à decisão da Liga dos Campeões.

Jupp também pode contar histórias de jogador, como a de terceiro maior artilheiro da história da Bundesliga, ou campeão da Eurocopa 72 e da Copa do Mundo de 74, ambas na reserva de Gerd Müller. Mas foi como treinador, bicampeão alemão em 89 e 90 pelo Bayern, que ele se afirmou internacionalmente. A começar pela Liga dos Campeões de 1998, que recolocou o Real Madrid no topo da Europa depois de 32 anos no inesquecível gol de Mijatovic contra a Juventus.

Heynckes, que também teve seus momentos de baixa na carreira, está com tudo. A passagem de dois anos não deu um sonhado título grande ao Bayer Leverkusen, mas os fez fortes novamente a ponto de retornar à Liga dos Campeões com o vice-campeonato nacional de 2010-11. Jupp conseguiu levar ao Leverkusen o então promessa Tony Kroos, e fez dele o grande nome da Bundesliga 2009/10. Vidal, Renato Augusto, Derdiyok e Kiessling se tornaram jogadores de relevo sob seu comando. "É o melhor com quem já trabalhei", contou Renato a este blogueiro em recente entrevista.

Substituir a Louis van Gaal era questão de justiça para Jupp Heynckes, que já acumula oito vitórias consecutivas no Bayern de Munique, sendo cinco pela Bundesliga. Este sábado apresenta um desafio e uma ocasião especial, que é o reencontro com o Bayer Leverkusen que tenta se ajustar com Robin Dutt, ex-Freiburg.

O treinador não conseguiu Vidal e Alex Costa para montar o time de seus sonhos, mas com Neuer, Rafinha e Boateng, já aumentou o poder de fogo do elenco vice-campeão europeu há dois anos. O jovem centroavante Nils Petersen, 22 anos e ex-Cottbus, vai se mostrando uma aposta eficaz.

Jupp Heynckes não é badalado como Jürgen Klopp ou Joachim Löw, mas não se surpreenda se ele conseguir um feito incrível em maio de 2012: vencer a Liga dos Campeões, cuja final será em Munique. Experiência, qualidade e material humano parecem não faltar. "Temos que chegar todos os anos às semifinais", exige.


Agradecimentos: Roberto Piantino

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Copa Roca: mais ou menos como bater em bêbado

Diego Souza: esquecíveis 45 minutos na altitude contra a Bolívia em 2009


Imaginar o futuro não é um exercício simples e objetivo, mas tente pensar supondo que você está em julho de 2014 na Copa do Mundo. Qual a chance de ver Borges, Diego Souza, Emerson, Renato Abreu e Cícero com a camisa da seleção brasileira em uma partida mundialista? Pois os nomes mais surpreendentes e criticáveis das duas listas de Mano Menezes para a Copa Roca dão o tom da inutilidade das partidas contra uma Argentina que, apenas com seus nomes caseiros, tem nível inferior a pelo menos um terço dos times do Campeonato Brasileiro.

Criticar Mano Menezes por levar jogadores com esse perfil para a seleção brasileira é o mais natural e até deve se fazer, mas é importante colocar a questão em um patamar mais amplo. Qual a real necessidade dos jogos contra a Argentina nessas condições? Se por um lado a cobrança sobre Mano por futebol de resultados deve existir, é difícil imaginar que seu trabalho fosse colocado em dúvida com resultados ruins. A Copa Roca é como bater em bêbado: as chances de prejuízo são bem maiores que as de ter algum lucro.

Erros de planejamento como neste caso, por sinal, são o grande defeito da gestão Mano Menezes. Da mesma forma como se perde tempo e cria o risco de desgaste com dois jogos inúteis, ele também pecou ao acreditar que poderia enfrentar, cedo demais, adversários muito mais bem preparados, caso claro da Alemanha que expôs o Brasil ao ridículo em Stuttgart. O treinador, vale recordar, não recebeu (ou abdicou de) um diretor de seleções mais experiente, desejo que havia sido exposto no início do trabalho na CBF.

É possível argumentar que todos os jogadores chamados por Mano para enfrentar a Argentina, salvo alguma exceção, vivem ótimos momentos, caso de Borges, goleador da Série A. Seleção, entretanto, não é prêmio de honra ao mérito. É necessário projetar quem pode chegar bem em 2014 ou, em casos bem específicos como o de Lúcio, podem ajudar na formação de um grupo carente de afirmação. Nem para isso serve a Copa Roca. No fundo, apenas dois jogos para cobrir a grade de televisão esvaziada neste mês de setembro.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Wellington: a revelação do Campeonato Brasileiro fugiu do Corinthians


José Geraldo de Oliveira, supervisor das divisões de base do São Paulo, lembra bem do dia em que recebeu um telefonema do pai de Wellington, hoje titular absoluto do meio-campo tricolor. Foi em 2005 e o garoto jogava no Corinthians. Com só 14 anos, ele formava na equipe sub-15 corintiana, mas estava insatisfeito com as condições de trabalho no Parque São Jorge.

"Quando ele me falou que era aquele neguinho do Corinthians, fiquei arrepiado", conta Geraldo com sorriso de orelha a orelha, feliz pela afirmação do pupilo que enfrentará os corintianos nesta quarta-feira, no Morumbi.

O pai de Wellington queria que o São Paulo aceitasse seu filho para testes. "Meu senhor, seu filho nem precisa ser testado. Pode trazer ele aqui porque está aprovado", respondeu José Geraldo. O resto é história: no ano seguinte, já ao lado de Oscar, foi campeão da duríssima etapa mundial da Copa Nike Sub-15. Foi quando pipocaram matérias a respeito dele, comparado a Mineiro por sua vitalidade na marcação e a forma como desliza bom futebol em campo com passe preciso e uma disciplina impressionante.

Depois, de forma similar, Henrique chegou do Atlético-PR para formar o tridente chave para a marcante geração /91 da base tricolor, bicampeã sub-17 em Albacete, na Espanha. "Jogador assim não precisa ser testado, você já conhece", costuma repetir Geraldo. Lucas, na temporada seguinte a Wellington, repetiria o caminho Parque São Jorge-Morumbi. Logo, dois dos cinco pratas da casa que Adílson Batista deve escalar nesta quarta-feira, saíram do Corinthians, que só terá o goleiro Júlio César.

Neste Campeonato Brasileiro, difícil encontrar revelação tão grande quanto Wellington, que atuou em 22 dos 24 jogos do São Paulo na competição. Segundo maior ladrão de bolas do time na Série A, superou uma lesão séria de joelho que sofreu em 2010, trocou a camisa da seleção sub-20 pela do tricolor e não para de crescer. Também deixou para trás os tempos em que Muricy Ramalho e Ricardo Gomes, de forma infeliz, o colocavam para atuar na lateral. Wellington é volante e dos bons. Para muitos e muitos anos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O beque-matador e o time mais faltoso da Série A


Um gol a cada cinco jogos em 2011. Essa é a média de Emerson, zagueiro do Coritiba que, ao marcar contra o Internacional no último domingo, chegou ao 10º gol em 50 partidas no ano. Nenhum defensor de equipe da Série A se aproxima dele, perigosa arma ofensiva do time de Marcelo Oliveira. Dedé, do Vasco, e Rafael Marques, do Grêmio, marcaram sete vezes e são os que mais chegam perto.

Regular defensivamente, Emerson é acima da média mesmo quando vai ao ataque. Pelo Avaí no último ano, o agora coxa-branca marcou 9 - marca já superada em nove meses dessa temporada com o Coritiba, que tem Léo Gago, Tcheco e Marcos Aurélio como seus homens da bola parada.

A impulsão de Emerson é a maior arma do Coritiba, que só não faz mais gols de bola aérea no Brasileiro que o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari e Marcos Assunção: 10 para os palmeirenses, nove para os coxa-brancas, Atlético-MG e Fluminense.

A força pelo alto é mais um exemplo do viril time do Coritiba, o mais faltoso do Campeonato Brasileiro - média de 21,3 infrações por jogo. Retrato de um time que joga duro, com linha defensiva de laterais marcadores, um tridente com Leandro Donizete-Tcheco-Léo Gago e os velozes Rafinha e Marcos Aurélio no suporte a Bill. Um 4-3-2-1.

Esqueça o time insinuante que tinha Davi no lugar de Tcheco no primeiro semestre. O Coxa desta Série A é mais rígido e depende muito das bolas altas, especialmente para Emerson. Apesar de ele cumprir seu papel, dificilmente o Coritiba vai passar da parte média da classificação em um ano já marcante em sua história recente.

domingo, 18 de setembro de 2011

O real valor de 17 rodadas na frente e o líder Vasco sempre igual


Só dois times lideraram tanto o Campeonato Brasileiro quanto o atual Corinthians e não foram campeões na fase de pontos corridos. Em 2008, o Grêmio comandou a Série A por 17 rodadas, mas foi ultrapassado pelo São Paulo, tricampeão. Ocorreu também em 2009, com o Palmeiras que ficou à frente por 19 rodadas. São períodos similares ao que os corintianos tinham na liderança, cuja perda era anunciada e se concretizou neste fim de semana com derrota para o Santos após cinco anos de invencibilidade nos clássicos do Pacaembu.

Hoje, só a matemática e o futebol das 10 primeiras rodadas podem dar esperança ao Corinthians em queda livre. A produção da equipe não é tão ruim para justificar tantos resultados ruins: nos últimos 14 jogos, são 7 derrotas e três empates. O último triunfo em domingo foi no dia 10 de julho, contra o Atlético-GO.

Há explicações para tudo isso: a concentração defensiva já não é a mesma, os gols em bolas aéreas se repetem e o lado esquerdo, com o vulnerável Ramon e Leandro Castán em fase ruim, virou o mapa da mina para os adversários. Foi por esse setor que Danilo e Alan Kardec, se aproveitando de um Neymar cirúrgico como meia-atacante, construíram o triunfo santista.

O Vasco chega à liderança do Campeonato Brasileiro pela segunda vez na história dos pontos corridos, mas com muito mais pinta de campeão que naquela 5ªrodada de 2007. No fim de semana com a grande notícia de que Ricardo Gomes voltou para casa, os vascaínos amassaram o Grêmio em São Januário com contra-ataques fulminantes liderados por Diego Souza, com Eder Luís novamente insaciável pela ponta direita e uma marcação fortíssima de Eduardo Costa, Rômulo e Fellipe Bastos, os vértices defensivos de um habitual losango que se repete desde PC Gusmão.

Impressiona nos cruzmaltinos, com Cristóvão discreto e eficiente, é a capacidade de serem fortes independente da equipe que entre em campo. Se o Corinthians se perde sem um ou outro nome importante, o Vasco é sempre competitivo. A unidade do elenco é enorme a ponto de superar a falta de um lateral esquerdo confiável, a ausência de Alecsandro ou até os desfalques de Juninho Pernambucano e Felipe.

A história recente do Campeonato Brasileiro e os números dos líderes mostram que o cenário de 2011 está totalmente em aberto. Em 2009, o Flamengo só assumiu a ponta a duas rodadas do fim, e levou a taça, que ficou para o Fluminense no ano seguinte depois de 24 jornadas em primeiro lugar. Ao Corinthians, nesse momento, ter ficado na frente por 17 vezes já não vale quase nada.

OS LÍDERES EM PONTOS CORRIDOS

2003
Quem liderou mais? Cruzeiro em 40 de 46 rodadas
Quem foi campeão? Cruzeiro

2004
Quem liderou mais? Santos em 20 de 46 rodadas
Quem foi campeão? Santos

2005
Quem liderou mais? Corinthians em 20 de 42 rodadas
Quem foi campeão? Corinthians

2006
Quem liderou mais? São Paulo em 28 de 38 rodadas
Quem foi campeão? São Paulo

2007
Quem liderou mais? São Paulo em 22 de 38 rodadas
Quem foi campeão? São Paulo

2008
Quem liderou mais? Grêmio em 17 de 38 rodadas
Quem foi campeão? São Paulo, que liderou por 6 rodadas

2009
Quem liderou mais? Palmeiras em 19 de 38 rodadas
Quem foi campeão? Flamengo, que liderou por 2 rodadas

2010
Quem liderou mais? Fluminense em 24 de 38 rodadas
Quem foi campeão? Fluminense

2011
Quem já liderou? Corinthians por 17, São Paulo por 4 e Atlético-MG, Flamengo e Vasco por 1 rodada

domingo, 4 de setembro de 2011

Felipão é o analgésico do Palmeiras


Sabe aqueles conselhos, quase lendas populares, que todo mundo repete mas nunca viu acontecer? "Jamais ponha a colher na boca e depois no pote de maionese". Nunca vi maionese estragar por isso. Ou então: "panela quente não pode ir na geladeira". Balela. Outro desses é de que analgésicos demais, aqueles que curam dor de cabeça, fazem mal à saúde. Para mim, por mais que o doutor Fulano ou o cientista Beltrano provem, não fazem mal.

O torcedor do Palmeiras, porém, sabe que analgésicos proporcionam os tais "efeitos colaterais". "Basta olhar para seu banco de reservas", diria eu franzindo a testa e assoprando os lábios como Luiz Felipe Scolari. Felipão, o pentacampeão do mundo, é o remédio que cura a dor de cabeça palestrina, mas que impede o time de ir além. Vamos aos fatos.

Diga-me quais os times que têm um líder e um goleiro como Marcos? Um zagueiro do potencial de Henrique, um lateral esquerdo promissor (coisa raríssima) como Gabriel Silva ou um chutador como Marcos Assunção? Por que Valdivia, o herói do último título do Palmeiras, não joga como jogava em 2008? Por que Kleber não faz tantos gols quanto fazia no Cruzeiro? Por que Wellington Paulista não foi o mesmo 9 do mesmo Cruzeiro? Por que Maikon Leite ainda não aconteceu? Por que Luan, um atacante talentoso no São Caetano, virou um mero marcador de laterais direitos? Por que da ótima geração 91/92 da base ninguém vingou? Por que Lincoln chegou ao Avaí e fez dois gols em dois jogos? Lincoln, aliás, que disse no Redação Sportv que não era o único insatisfeito com as ideias felipônicas. Hmm...

Perguntas como essas poderiam ser feitas a Luiz Felipe Scolari, mas raramente se fazem. Não se sabe como ele poderia reagir, é verdade. A um repórter da Rádio Globo, no ano passado, chamou palhaço. A um fotógrafo, recentemente, agrediu. Bandeirinhas, árbitros, jornalistas, adversários (lembra do soco em Dragutinovic? E em Luxemburgo?)...Felipão coleciona atritos na mesma toada como colecionou títulos intermináveis em grandes torneios de mata-mata e tropeçou quando se exigiu mais talento, versatilidade, estratégias em pontos corridos. Com Portugal, foi fabuloso nas Copas e patinou em Eliminatórias.

Não sou louco de pensar que Felipão deva sair do Palmeiras. É quem acalma a torcida e os opositores, é quem tira o foco dos problemas extracampo quando é preciso e também é quem põe a autoestima palmeirense acima em ou outro momento. Não queria Felipão como sogro ou como técnico do meu time, mas assistir a uma entrevista coletiva com ele é quase sempre um bom programa. Respostas atravessadas, ironias, boas histórias, gestuais divertidos...Scolari é um personagem e tanto no nosso futebol. Isso talvez explique a falta de senso crítico a seu trabalho.

No Palmeiras, Felipão é um analgésico, ou qualquer tipo de remédio que dá efeitos colaterais. Cura problemas sérios, que nenhum outro treinador poderia curar, mas em seus defeitos esbarram as ambições da equipe. Não apostaria R$ 1 contra ele neste Campeonato Brasileiro, mas quem apostaria R$ 1 no título do Palmeiras? Só no dia em que aquela maionese da qual falamos azedar.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Corinthians de Tite entre os piores*

Se levada em conta a era dos pontos corridos, desde 2003, só dois dos oito times já campeões do primeiro turno do Campeonato Brasileiro são superados pelo Corinthians de Tite. A equipe, líder após 19 rodadas mesmo com duas derrotas consecutivas, só tem melhor desempenho que o Santos de 2004 e o próprio Corinthians de 2005, times que que sagrariam campeões também ao fim da competição.

O Corinthians deste ano, ao fim do primeiro turno, soma 37 pontos e 65% de aproveitamento, mesmo índice do Internacional de 2009. Curiosamente, aquela equipe também tinha Tite como treinador, e terminou o Brasileiro como vice-campeã, já dirigida por Mário Sérgio nas rodadas finais.

Com Celso Roth em 2008, o Grêmio conseguiu aquele que é até hoje o melhor aproveitamento de campeão de turno a partir de 2003. O índice de 72%, entretanto, não foi sustentado no returno e o São Paulo levou o tri, com os gremistas ficando em segundo. São Paulo de 2007 e Cruzeiro de 2003 são os outros principais campeões de turno em índice de pontos conquistados.

O Corinthians de Tite, campeão do turno em 2011, teve 93% de aproveitamento nas 10 primeiras rodadas, com um empate e nove vitórias. Nas rodadas seguintes, esse índice caiu para 33%: são duas vitórias, três empates e quatro derrotas. Os únicos triunfos foram contra América-MG e Atlético-MG, último e penúltimo colocados do Brasileiro.

O ranking dos campeões de turno na Era dos pontos corridos:

- Grêmio-08 - 41 pontos em 19 jogos (72%)
- São Paulo-07 - 40 pontos em 19 jogos (70%)
- Cruzeiro-03 - 47 pontos em 23 jogos (68%)
- São Paulo-06 - 38 pontos em 19 jogos (66%)
- Fluminense-10 - 38 pontos em 19 jogos (66%)
- Corinthians-11 - 37 pontos em 19 jogos (65%)
- Internacional-09 - 37 pontos em 19 jogos (65%)
- Corinthians-05 - 39 pontos em 21 jogos (61%)
- Santos-04 - 41 pontos em 23 jogos (59%)

* Publicado no Terra

domingo, 28 de agosto de 2011

Nos clássicos paulistas, quem está mais próximo de ser um Barcelona?


Contra o Villarreal, neste domingo, o Barcelona inicia sua caçada por aquele que seria o segundo tetracampeonato espanhol de toda sua história. No elenco de Pep Guardiola, reforçado por Cesc Fabregas, um recorde: 11 jogadores formados em casa, o que é exatamente metade do grupo principal barcelonista. Suficiente para formar um time todo de canteranos. Valdés, Puyol, Busquets, Piqué e Fontás; Xavi, Thiago Alcântara e Fabregas; Pedro, Messi e Iniesta.

É verdade que Barcelona só tem um, mas os clássicos paulistas também deste domingo mostram que, no futebol de São Paulo, há dois clubes que pensam de maneira similar, e se enfrentam na Vila Belmiro. Em Presidente Prudente, os outros dois que vão a campo, têm conceitos muito diferentes aos barcelonistas.

Juntos, Santos e São Paulo devem colocar desde o início um total de nove ou dez crias da casa. De um lado, Rafael, Adriano, Elano, Ganso e Neymar podem sair jogando com Muricy Ramalho. E, do outro, Rogério Ceni, Juan, Casemiro, Wellington e Lucas são presenças asseguradas no onze titular de Adílson Batista. Não à toa, os dois clubes foram a base principal do Brasil Sub-20, campeão continental e mundial em 2011.

O ainda líder Corinthians e o Palmeiras, sexto colocado, vivem uma realidade completamente oposta e precisam gastar muito mais para ter times competitivos como o de seus dois rivais paulistas. No elenco corintiano - veja, elenco e não time - apenas Júlio César representa um abandonado Terrão que não revela mais ninguém. A base palmeirense, que não encontra em Luiz Felipe Scolari exatamente um aliado, só terá o lateral Gabriel Silva desde o início no Dérbi. Se você pensou em Patrik, possível substituto de Maikon Leite, esqueça: ele é cria do São Caetano.

Prospectar, formar e revelar são os verbos que constituem o trabalho de uma categoria de base de sucesso, o que se verá no clássico San-São, mas não no Dérbi. Criar seus jogadores em casa é algo que geralmente está no DNA. Por isso, o Barcelona faz seu próprio craque, Messi, e o Real Madrid compra o seu, Cristiano Ronaldo. É assim no México, com o Chivas que revela e o América que compra, e em tantas outras rivalidades do futebol mundial. Na do futebol paulista, por exemplo, hoje as divisões estão muito claras.