quinta-feira, 28 de julho de 2011

Todos os Ronaldinhos em Ronaldo Assis Moreira


O largo sorriso no rosto e uma aparente estafa com a rotina do futebol. Ronaldinho Gaúcho, por si só, já é um mistério. A cada momento da carreira, parece ser um jogador diferente. O que atuou na Vila Belmiro, na noite de quarta-feira, encantou como poucas vezes desde que tivemos o prazer de conhecê-lo melhor, em 1999. E mostrou que ele, em seu primeiro Campeonato Brasileiro desde aquele ano, encanta de uma nova maneira.

Vanderlei Luxemburgo, talvez inspirado por Lionel Messi, imaginou que Ronaldinho pudesse ser centroavante no Flamengo. Um falso camisa nove, como se diz. O Gaúcho, na maioria das vezes, não rendeu como podia, e deixá-lo também preso à ponta esquerda parece um desperdício nesse momento e nessa equipe. Na Vila, e assim tem sido, Roni foi segundo atacante: livre, voou.

Pertinho da meta de Rafael, apareceu para marcar o primeiro do Fla, mas foi sempre rondando a área e procurando a bola, com uma sede tremenda, que Ronaldinho desmontou a defesa santista. Contra um meio-campo leve, conseguiu jogar unindo seu talento a uma boa condição física. Foi o homem dos passes interessantes, do drible fácil e do perigo constante para o Santos.

Diferente como no Barcelona, quando era uma ponteiro esquerdo insinuante, abusado, de drible em velocidade, entradas em diagonal e inversões com Samuel Eto’o. Diferente do meia-atacante que surgiu no Grêmio, também. Diferente também do Milan, quando já tinha uma condição física similar a do momento, mas seguia na ponta e desmontava as defesas com passes e cruzamentos na maioria de seus bons momentos.

O Ronaldinho, segundo atacante no 4-3-1-2 do Fla, alternando para 4-3-2-1 em muitos momentos, é também o melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Disparado. Artilheiro, um dos principais garçons, o principal finalizador e destaque em dribles, passes e uma série de coisas. Joga sempre ao redor da área, livre e, principalmente, joga com vontade.

Essa é exatamente a questão chave quanto ao futuro de Ronaldinho, que completou 31anos nesta temporada e tem lenha para queimar, mas basta querer. Sua convocação para enfrentar a Argentina, em 2010, foi um ato falho e precipitado, sobretudo na condição de posicionamento a que foi submetido.

Mano Menezes precisa esperar um pouco mais, ver se Roni pode realmente se motivar a ponto de jogar em máxima exigência em nível internacional. No melhor dos cenários, a seleção ganha um reforço e tanto. Não mais o Ronaldinho de 2005-06, que lamentavelmente não pintou na Copa do Mundo da Alemanha. Mas ainda assim um novo Ronaldinho fantástico. Quem sabe o jogo épico da Vila Belmiro não possa ser lembrado no futuro de uma maneira diferente: o renascimento de um gênio da bola.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Elias não é jogador de Carlos Leite

Um rápido e importante esclarecimento: questionado se é agente do meia Elias, do Atlético de Madrid, Carlos Leite argumenta que não tem mais nenhuma ligação com o atleta, convocado por Mano Menezes novamente, agora para enfrentar a Alemanha no próximo dia 10 de agosto. Carlos teria apenas auxiliado o Corinthians, em 2008, na compra dos direitos econômicos do jogador junto à Ponte Preta.

Na época, a empresa Turbo Sports é que seria sócia na transação, mas desistiu de última hora. A atitude até deu início a um atrito entre dirigentes do clube paulista e da Turbo, que acusou o Corinthians de calote na negociação de André Santos, na qual tinha direito a uma porcentagem. Carlos Leite então interveio e colocou o dinheiro necessário para a compra de Elias, que teve sua transferência para a Espanha intermediada por Luizão, ex-jogador e ligado ao português Jorge Mendes.

André Santos, Lucas Leiva e Renato Augusto, sim, têm Carlos Leite como procurador. Assim, é claro, como o treinador Mano Menezes. Mas não de Elias, como costuma se dizer.

domingo, 24 de julho de 2011

A primeira conquista do Maestro


O dom de orientar esteve com Óscar Tabárez desde que ele era professor em escolas de Cerro, Paso de la Arena e La Teja. Daqueles tempos, herdou o apelido de Maestro e métodos que aplicaria no dia a dia do futebol. Campeão da Copa América no domingo, Tabárez conquistou seu primeiro troféu com a Celeste Olímpica. Ensinando e coordenando tudo, foi um dos heróis do título que realmente põe o Uruguai no radar das potências mundiais. Por mais que o quarto lugar na África do Sul tenha sido a senha, nada tem mais peso que uma taça na sala de troféus. É a confirmação.

Pela taça da Copa América, os uruguaios devem muito a Tabárez, que por alguns meses de desvantagem para Gerardo Martino, do Paraguai, não era também o treinador mais lôngevo da competição: estreou com quarto lugar na Copa América de 2007. O trabalho de longo prazo dá a ideia objetiva de quão preparado chegou o Uruguai ao torneio com a maior preparação entre as favoritas. Se Mano Menezes estava nos alicerces e Sergio Batista ainda procurava o terreno, ao Maestro só restava cobrir com o telhado. Martino não tinha todo o material necessário.

O Uruguai, com as peças certas, se formou durante a Copa América e com bases semelhantes ao que havia ficado da Copa do Mundo. Desta vez, com Cáceres na lateral e Coates na zaga, sinal de um time mais jovem. Sem Cavani, coube ao laziale Álvaro González guarnecer o flanco direito e oferecer campo para Diego Forlán, agora muito mais perto de Luis Suárez que na África do Sul. Cada vez mais maduro e pronto para façanhas ainda maiores, Luisito foi o comandante com o respaldo de Tabárez. No futuro, Cavani também deve assumir esse papel.

Há conquistas em que, por mais que tenham jogadores no protagonismo, também se nota um dedo ou a mão inteira do treinador. É o caso da Copa América de 2011. A Celeste Olímpica, como é habitual de suas raízes, joga de forma coletiva, ordenada e taticamente perfeita. A ponto de enfrentar a Argentina de Lionel Messi com um a menos por tanto tempo e conseguir propor o jogo de igual para igual. Que pena para os argentinos não terem um Tabárez...

Maestro desde os tempos em que frequentava os colégios como professor, o treinador também tem papel fundamental no momento do futebol local, de volta à Olimpíada após 84 anos e vice-campeão mundial sub-17 com talentos como o zagueiro Velázquez, nascido em 1994. A seleção se reflete nos clubes, com o Nacional forte como campeão uruguaio e o Peñarol vice da Copa Libertadores. Se reflete também no povo uruguaio, com o orgulho alto por seu momento esportivo e por sua equipe de que tanto pode se orgulhar.

sábado, 23 de julho de 2011

O imparável Corinthians e o adeus ao legado de Mano


Há dados e mais dados impressionantes neste Corinthians que não perde no Campeonato Brasileiro. Nas nove vitórias e um empate, só três jogos foram efetivamente como mandante no Pacaembu. O quarto foi o clássico com o São Paulo: placar de 5 a 0, o maior da história do Majestoso na Série A e igual ao do Paulista de 1996, vitória corintiana mais expressiva nos confrontos.

Não pare por aí: Tite, na somatória de seu terceiro Brasileiro com o Corinthians, se aproxima de Mário Sérgio, treinador corintiano com maior aproveitamento, de 77%. Se somarmos 2004, 2010 e 2011, o gaúcho tem 66%, índice de campeão, mas em 57 partidas de três diferentes anos. Em 2010, como agora, ele também não perdeu: cinco vitórias e três empates.

Hoje com dados impressionantes, a equipe corintiana soma 10 jogos sem levar gol com efetivamente bola rolando. Um de pênalti, dois de falta e outro após escanteio. Independente do que ocorrer no futuro, já escreveu uma página brilhante na história da competição.

Internamente no clube, se sabe que está sendo definitivamente inaugurado um novo ciclo. O time atual joga com a imagem de Tite, desprendido da sombra do sucesso de Mano Menezes e do fracasso de Adílson Batista. Dos títulos de 2009 com Mano, porém, ficaram lições importantes que hoje são aplicadas. Uma das principais é de que é muito difícil manter uma mesma equipe vitoriosa por muitos anos. Títulos trazem impactos positivos e também negativos.

Aquele Corinthians, campeão da Copa do Brasil, durou pouco. Com o passar do tempo, Elias já não marcava como antes e precisou ser adiantado para a meia. Dentinho já não buscava os gols com a mesma sede, Felipe já não vivia com a mesma simplicidade e as peças perdidas, André Santos, Cristian e Douglas, jamais foram repostas com a mesma qualidade. Por um ano e meio, o Corinthians, que até quase foi campeão brasileiro de 2010, viveu na sombra daquele time, mas nunca conseguiu iniciar um novo ciclo. É o que acontece agora.

Sem Roberto Carlos e Ronaldo, cujas presenças em campo traziam mais prejuízos que lucro, e também sem a Libertadores, Tite teve quatro ou cinco meses para remontar o time. Praticamente sem reforços em um primeiro momento, soube mudar alguns jogadores de patamar, como Leandro Castán, Ralf e Paulinho, principalmente. Fábio Santos evoluiu de forma incontestável, Willian rapidamente conquistou um espaço e, no fim das contas, Danilo foi recuperado. Liedson voltou como em 2003. Lideranças mais antigas, Alessandro, Chicão e Jorge Henrique serviram de alicerce.

Aos poucos, e com várias semanas cheias para treinamentos táticos e técnicos, além de cuidados com a parte física, o Corinthians se reformulou e ficou forte. Ao Brasileiro, chegou voando. Com Renan, Weldinho, Ramon, um surpreendente Edenílson e os experimentados Alex e Emerson, realizou um mercado preciso que não fazia há duas ou três temporadas. A base sólida do Paulista foi incrementada para um Campeonato Brasileiro que, embora seja acima das expectativas, não é apenas obra do acaso.

Com larga vantagem na primeira posição, o Corinthians também tem certeza de que, enfim, conseguiu se reformular para dar início a um novo ciclo. É o líder de desarmes da Série A. Solidário sem a bola e com uma recomposição defensiva impressionante, recupera a posse a todo instante e soma rapidez com um jogo extremamente vertical, que também ataca qualquer ponto de desorganização na defesa adversária. Características mais marcantes desta imparável equipe corintiana.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Uruguai e Paraguai na Copa América do equilíbrio


11 empates em 24 jogos já realizados fazem da Copa América 2011, a edição, claro, dos empates. É verdade que provavelmente será lembrada mais pelas quedas prematuras de Brasil e Argentina ou pela estarrecedora campanha da Venezuela - com bom futebol, a Vinotinto participou de cinco partidas e saiu sem ser derrotada. Se der Uruguai no domingo, o que soa como a alternativa mais provável, entrará mesmo para a história a liderança da Celeste Olímpica com 15 títulos.

Também há uma possibilidade concreta de título do Paraguai. Se eventualmente for nos pênaltis, será sim o primeiro campeão sem vitórias - já são cinco empates dos paraguaios em cinco jogos. O risco desse fato é se ridicularizar a seleção de Gerardo Martino, segunda colocada nas Eliminatórias para a Copa 2010 e quadrifinalista do Mundial. A equipe paraguaia não joga bem, o que é ocasional, mas tem trabalho de longo prazo e jogadores de muito potencial. O retorno do bom jogo ocorrerá naturalmente, quem sabe até mesmo na final. E avançar sem bom futebol, convenhamos, também é um mérito.

Na história, há exemplos de campeões que não fizeram tanto esforço. Na Copa América de 87, o Uruguai defendia o título e já iniciou o torneio na semifinal. Venceu argentinos e chilenos para ser campeão. Já em 93, a Argentina avançou à segunda fase com uma vitória e dois empates. Passou por quartas e semifinal com vitórias nos pênaltis e bateu o México na decisão. É a essas equipes que se junta o Paraguai de Gerardo Martino.

A lógica natural diz que o Uruguai será o campeão por alguns motivos: 1) Faz melhor campanha já desde a Copa. 2) Tem mais camisa e jogadores mais experimentados em grandes jogos. 3) Tem muito talento com Forlán e Suárez, o que falta aos paraguaios. 4) Seu treinador também tem mais bagagem. 5) Sua camisa é pesadíssima. Mas, sem jogar bem e sequer marcar gols, o Paraguai foi à final. Se você realmente quer uma resposta, só acompanhando a final no próximo domingo.