sábado, 18 de outubro de 2008

Sábado com tática (2) - Seleção engaiolada

BRASIL DE DUNGA TRAVA NAS LINHAS DE QUATRO

Maicon e Elano: corredores fechados por duas linhas de quatro contra a seleção brasileira


Contra Bolívia e Colômbia, filmes parecidos para o Brasil de Dunga nas Eliminatórias Sul-Americanas. Diante do Equador, também no Rio de Janeiro, apesar da vitória por goleada, o que se viu também foi um time que se sentia amarrado na maior parte do tempo, sendo vaiado pela torcida e apenas construindo o resultado favorável a partir do talento individual – principalmente, de Kaká e Robinho.

Nem sempre, porém, a pura qualidade dos jogadores brasileiros irá resolver os problemas. Quando sobra espaço, e os jogos contra Chile e Venezuela testemunharam isso, o Brasil brilha. Robinho pode contra-atacar e driblar, Kaká pode usar e abusar de sua verticalidade e o bom futebol aparece. Quando se vem ao Brasil, todavia, a receita muda, e as fragilidades no trabalho de Dunga ficam à mostra. O catenaccio, futebol de marcação atrás e contragolpes, é característica de times frágeis tecnicamente – ou de treinadores medíocres.

Além de uma claríssima dificuldade nas bolas paradas ofensivas, seja para cabecear, ou mesmo para cobranças diretas, o time brasileiro é mal treinado. E diante de um sistema rígido de marcação, bem posicionado, a incapacidade de persuadir os adversários e chegar às situações de gol, da equipe de Dunga, é gritante.

Contra defesas bem fechadas e protegidas, como foram Bolívia, Equador e Colômbia, as soluções são deslocamentos rápidos, triangulações, trocas de posição e jogadas de surpresa. O Brasil, porém, excessivamente, depende de seus três meias – no último jogo, Elano, Kaká e Robinho –, mas estes estão sempre trancados pela marcação.

Aí, quando precisa de uma jogada de tabela pelas laterais, de um volante que arme o jogo – como Anderson -, que tenha personalidade – como Lucas -, que se desloque com inteligência – como Ramires -, ou que saiba bater de longe – como Hernanes -, o time se ressente.

Josué e Gilberto Silva são as grandes bolas fora de Dunga. Atuam distante do ataque, próximos da defesa, e a bola normalmente não passa pelos seus pés. Se Robinho e Kaká, contra a Colômbia, vinham até a intermediária defensiva para tentar algo, era porque a bola não chegava à frente. Ou, quando sim, em situação desfavorável.

As laterais, também, raramente oferecem uma solução ofensiva. Maicon, que até teve um bom início de Eliminatória, colaborando com passes para gol em três jogos consecutivos – Equador, Peru e Uruguai – já não vem tendo a mesma eficácia. Pela esquerda, vivemos às turras com as más fases de Gilberto e Kléber, e aguardando mais chances para Juan Maldonado, Marcelo ou, por que não, André Santos. A questão aqui, principalmente, passa pela pouquíssima liberdade que Dunga oferece aos seus laterais, ainda que respaldados por dois cães-de-guarda na cabeça da área.

As dificuldades residem, principalmente, em razão de os adversários se defenderem com pelo menos oito jogadores atrás da linha da bola. Laterais e meias externos se juntam pelas duas beiradas do campo, dois zagueiros vigiam um único atacante – seja Luís Fabiano, Jô ou qualquer outro – e os dois meias-centrais pegam o solitário meia-armador, que normalmente é Kaká. Ou seja, um problemão, já que os laterais não entram em diagonal, não fazem ultrapassagens freqüentes e, os volantes, sempre, não passam da intermediária ofensiva.

Uma análise fria sobre os resultados, despreparo psicológico, falta de treinamento, escolhas em convocações e principalmente postura em campo, após dez jogos de Eliminatórias, colocariam um fim sobre o trabalho pouco convincente de Dunga que, é dever lembrar, estréia na função ocupando o cargo mais cobiçado do planeta – sim, pois há uma camisa mais gloriosa e com mais talentos à disposição?

Como a classificatória terá um longo período de recesso – o segundo, aliás – é provável que Dunga, com vitórias esporádicas em amistosos, vá se mantendo no cargo. A questão é saber por quanto tempo mais aceitará conviver com suas próprias deficiências e incompetência. Sabendo da personalidade do capitão do tetra, é difícil imaginar que ele vá largar o osso, como fez Alfio Basile na quinta.

Então, o próximo martírio tem data marcada: dia 1º de abril, contra o Peru, em território brasileiro. Outra equipe que atua com duas linhas e virá trancada na defesa. Problemas à vista.


4 comentários:

Arthur Virgílio disse...

Você tocou no ponto chave, contra equipes que jogam na retranca, como foram Equador, Bolívia e Colômbia é preciso de um elemento surpresa e a seleção teve nos seus volantes e laterais, jogadores pragmáticos. Você citou diversos volantes, que se estivessem em campo, certamente, criaram algo novo e desta forma, melhorariam o poder de fogo do Brasil.

Saulo disse...

O que falta para a seleção brasileira é maior velocidade, tocar melhor a bola e rápida, se movimentar mais em campo, melhorar a finalização, ter mais vontade, raça, determinação por parte dos jogadores...
Enfim, falta tudo nessa seleção de Dunga. Falta também inteligência por parte de Dunga.

Anônimo disse...

O mais desesperador não é a forma burocrática de jogar da seleção brasileira.

O mais desesperador, sem dúvida, é ler "o Brasil de Dunga"...

http://www.mercadofutebol.com

André Rocha disse...

Observações precisas, como sempre. Agora cabe a quem comanda perceber e mudar. Seja o próprio treinador ou o seu patrão, mudando o profissional. Um abraço!