quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A vila mais famosa não pode mais viver só da fama


Oito minutos foi o tempo que Rafael Marques, desacordado, demorou para chegar da grande área do Atlético-MG até a ambulância parada próxima ao gramado da Vila Belmiro. De maca móvel. Se Rafael tivesse sido vítima de um ataque cardíaco (toc toc toc...), seria o tempo suficiente para perder a vida. Felizmente, santistas e atleticanos perderam só o jogo, totalmente sem clima competitivo depois do acidente com o zagueiro do Galo e arrastado até o fim em 2 a 2. 

Salutar que o Santos tenha admitido a culpa no episódio e tomado providências imediatas, ao cuidar da rápida construção de uma rampa de acesso ao gramado. Serve sim como atenuante o fato de que vistorias foram realizadas pelas autoridades competentes (serão mesmo?) e que o problema, mais claro impossível, não foi identificado. Mas não pode parar por aí. 

Os terríveis oito minutos são novas evidências sobre a incapacidade para receber jogos de futebol, e para esse tipo de análise é preciso deixar o valor sentimental em segundo plano. Da mesma forma como a Gávea, as Laranjeiras, o Parque São Jorge e até o Estádio Olímpico (em 2013) não recebem mais. Os problemas são dos mais diversos, como acesso ao estádio, pontos cegos em praticamente todas as arquibancadas, insegurança para os profissionais dentro de campo e infraestrutura paupérrima para os visitantes. Para quem duvida, fica a recomendação de um passeio pelo vestiário número dois da Vila Belmiro. Por onde, inclusive, a imprensa só tem acesso depois de atravessar o campo (!). 

As dificuldades de trabalho para os jornalistas, na verdade, mereciam um capítulo à parte, mas não vêm tanto ao caso e não são prioridade. O próprio Santos aflige suas possibilidades de faturamento em um estádio tão pouco hospitaleiro, onde os números provam que seu torcedor cada vez menos tem vontade de frequentar e onde já não é possível sediar as partidas mais importantes. Até o trânsito da cidade (aqui escreve um morador de Santos) sofre o impacto da falta de obras para quem chega de São Paulo e enfrenta tráfego terrível, às vezes superior a uma hora de espera, de Cubatão até a Vila. 


Ninguém contesta de que a vila mais famosa do mundo registra alguns dos capítulos mais lindos da história do futebol do planeta. Parte disso, inclusive, está contado no belíssimo e cativante Memorial das Conquistas, construído sob as arquibancadas da própria Vila. Maracanã e Wembley, possivelmente os dois maiores templos do esporte bretão, já se adequaram ao futuro, o que a arquitetura não é capaz de fazer pelo estádio do Santos. Em tempo de mudanças drásticas no sentido do que são eventos esportivos no País, a direção santista está vagarosa. 




Nenhum comentário: