Muitas pessoas eram céticas em apontar a Croácia como a mais provável surpresa nas semifinais da Eurocopa. Se é que é possível apontar uma surpresa com antecedência, os croatas vêm justificando os comentários iniciais. No duelo contra a Alemanha, especificamente, jogaram como time grande, com um futebol técnico, tático e com o claro dedo de seu treinador: Slaven Bilic.
Após um ofensivo e ortodoxo 4-4-2 em linha na estréia, Bilic alterou o sistema tático croata para enfrentar os alemães. Com a entrada de Rakitic e a saída de Petric, passou a atuar em um 4-4-1-1, pondo Kranjcar para pressionar os meias-centrais alemães, Frings e Ballack. Com Srna e Corluka pela direita, Rakitic e Pranjic pela esquerda, a ofensividade dos flancos germânicos foi sufocada pelo jogo agressivo e ousado do time croata, que também contava com incursões eficientes de Modric.
Com um domínio territorial constrangedor para o favoritismo alemão, a Croácia de Bilic empurrou o Nationalef para o campo de defesa em boa parte dos 90 minutos. Seja com marcação apertada, seja com um toque de bola eficiente, especialmente de Modric, os croatas deixaram a segunda partida da Euro com a idéia nítida de que podem ir às semifinais, já que as quartas-de-final, possivelmente, colocarão um adversário acessível pela frente: Turquia ou República Tcheca.
É possível que a exibição desta quinta-feira tenha sido um momento ápice dos croatas, que haviam feito um jogo morno e auto-suficiente na estréia contra a anfitriã Áustria. Em outros momentos, seleções chegaram a se empolgar com partidas esporádicas e se perderam pelo caminho, como a Argentina na última Copa. Considerando que tchecos e/ou turcos, ainda que sem grande técnica, vão propor um jogo competitivo, a Croácia precisará atuar no limite mental e físico para ratificar a condição anunciada de ser a zebra da competição e atingir a semifinal.
A julgar pela seriedade que Slaven Bilic tinha dentro de campo, é difícil crer em um deslumbramento em razão desta vitória contra a Alemanha. Treinador jovem, Bilic vem comprovando virtudes na renovação da Seleção Croata, já bastante diferente em relação ao time de Zlavko Kranjcar, que para quem não se lembra, mediu forças com o Brasil na última Copa do Mundo e caiu diante da Austrália de Guus Hiddink.
À ocasião, a Croácia deixou a Copa do Mundo com a sensação de um futebol mecânico e baseado meramente na força física, especialmente do decadente Dado Prso, destaque no Monaco em uma Liga dos Campeões há quatro anos atrás. Bilic e jogadores como Modric, Kranjcar e Srna vêm resgatando a essência técnica que caracterizou o futebol iugoslavo.
Se há dez anos a Croácia vivia o seu momento especial com o terceiro lugar na Copa da França, o país tem perspectivas bem razoáveis de atingir a semifinal de outra grande competição internacional agora. Dependerá de repetir o futebol desta quarta, na vitória com autoridade sobre a maior favorita desta Eurocopa.
* Originalmente publicado na coluna Enchendo o Pé da Trivela
3 comentários:
Dassler, gosto bastante do meio-campo da Croácia. É equilibrado e técnico, com jogadores que marcam e saem para o jogo com qualidade.
Destaque para o Modric, que tem personalidade, fôlego e uma disciplina tática invejável.
Já tinha gostado do time do Bilic na estréia. Acho que eles foram surpreendidos pelo crescimento da Áustria na segunda etapa, mas seguraram bem, até porque têm o ótimo Simunic atrás, que garante a defesa.
Abraço!
Essa Croácia vai longe. Porque não uma final?
É um time arrumado e muito organizado, principalmente na meia cancha. E o Modric ainda precisa de uma boa partida pra embalar de vez.
O mais legal é ver como o Bilic se envolve com o jogo, como ele comemora os gols.
PS: Ahhhh se o Martin Taylor não tivesse quebrado a perna do Eduardo da Silva...
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