terça-feira, 18 de novembro de 2008

Papo com René Simões


De time medroso e inseguro com Cuca, o Fluminense hoje é um poço de confiança com René Simões. E já consegue ver a zona de rebaixamento apenas olhando para baixo. São quatro vitórias e um empate nos sete jogos com o novo treinador, que apenas lamenta não ter chegado antes às Laranjeiras. "Brigaríamos lá em cima com esse aproveitamento", aponta.

Nesta segunda-feira, dois dias após colher os louros pela virada contra a Portuguesa, o técnico do Fluminense atendeu, por telefone, este blogueiro. E concedeu uma agradável entrevista. Leia os melhores momentos do papo logo abaixo.

E, para ler coluna sobre René Simões no Olheiros, clique aqui:

O que explica essa melhora do Fluminense com você? Parte psicológica, também?

Tenho uma forma de trabalhar em que, com a comissão técnica, primeiro a gente equilibra o grupo para que eles saibam o potencial deles. E depois você cria uma série de mecanismos para que eles coloquem esse potencial em campo. Só conversa não adianta, é preciso treinamento, eles precisam saber como vão aproveitar esse potencial.

É como você pegar um motorista, dizer que ele é muito bom, mas não dar um carro para ele. Tem que treinar todas essas situações que ele vai encontrar no jogo, para ele saber como se sair. E o que faz a diferença é que temos um método em que treinamos como vamos jogar e isso se reflete.

Imaginando que fosse começar, hoje, um novo Campeonato Brasileiro. Onde esse time do Fluminense chegaria?

Fica fácil ter essa resposta pegando os sete jogos comigo. O aproveitamento de 62% é para brigar lá em cima, ao lado do Grêmio.

Você é um cara de trabalhos muito bons, mas só agora está, de fato, em um clube de ponta. Qual o motivo?

É simples: sempre optei por família. Já tive convites de São Paulo, Palmeiras, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Goiás, mas sempre optei pelo exterior. Aqui o longo prazo acaba com uma derrota. Na quarta derrota acabou o treinador.

Como eu faria com minhas filhas pequenas? Eu conheço minhas filhas, sei como elas estão, vi elas crescerem. Hoje vivem a vida delas e não tenho mais problema nenhum em trabalhar nos grandes clubes. Minha opção foi por causa disso.

Na Jamaica, mesmo com um elenco que não era exatamente tomado por jovens, você de certa forma teve que formar os jogadores?

Não existe a situação de que o cara é só um grande motivador. Esquecem talento e trabalho. Mas é óbvio que o trabalho psicológico é importante como muitos outros, como nutricionista ou fisiologista. Foi o que fizemos na Jamaica. Montamos essa estrutura e os resultados apareceram.

Como foi sua relação com o Keirrison no Coritiba? Você chegou a deixá-lo no banco.

Ele chegou a ficar até fora do banco! Os empresários ficaram nervosos, mas hoje me encontram e me agradecem. Hoje o Keirrison é concentrado. Jovens têm problema em se concentrar e aproveitam pouco do treino por causa disso. Gosto de treinar 1 hora e meia e gosto que ele tenha o desgaste total de todo aquele tempo. Se aquilo soou como uma brincadeira, ele não tirou nada de bom.

E a experiência em gerir ambientes, de certa forma, te credencia a trabalhar com jovens jogadores?

Costumo dizer que sou treinador de pessoas. Acho me dou bem com as pessoas. E o jovem ele tem particularidades e você tem que ter atenção com isso. Ele se desiquilibra mais com algumas coisas. Em razão da Lei Pelé, ele sai de um salário de 1 mil reais pra ganhar 15 mil. De repente ele pode fazer tudo no dia seguinte.
Isso faz parte de um processo que desiquilibra o jovem jogador. Terapia de choque é voltar para a base, fazer com que jogue embaixo, dê uma pensada.

3 comentários:

Maurício disse...

O Renê é um cara que ficou com a pecha de 'técnico da Jamaica', e às vezes é como se ele não conseguisse fazer nada além disso. Mostrou o contrário agora - e só queria entender como esse time conseguiu ficar tão mal no campeonato. Tem um baita elenco!

abs

André Rocha disse...

Boa, Dassler! A entrevista e a coluna no "Olheiros". Gosto do René. É um profissional que procura trabalhar diferente, mas com simplicidade. Chegou ao Flu, colocou cada jogador onde rende melhor e o time progrediu naturalmente. Ainda não está livre, mas deve se safar.

Abraço!

Arthur Virgílio disse...

Ótima entrevista. Só fico com dúvida numa coisa. Afinal, qual o acento correto do Rene, é René? ou Renê?