sábado, 15 de novembro de 2008

Sábado com tática (4) – O rodízio do Muricy

Mobilidade tática do meio-campo são-paulino ajuda a explicar sucesso no returno

Muricy: sempre com boas cartas na manga


Aos mais desatentos, pode parecer sempre o mesmo time. Afinal, Muricy Ramalho raramente tem mexido em sua equipe titular neste returno, formando a seqüência invicta de 14 jogos – a maior do Campeonato Brasileiro.

Nos últimos dez jogos, apenas André Lima (4), Bosco (2) e Jancarlos (1) conseguiram a titularidade. No mais, o onze de Muricy Ramalho varia de um grupo de doze jogadores: Rogério Ceni, Rodrigo, André Dias, Miranda, Joílson, Zé Luís, Jean, Hernanes, Hugo, Jorge Wagner, Borges e Dagoberto. A possibilidade de rodar todas essas “peças”, porém, é que normalmente passa despercebida. E é, diga-se de passagem, o que mais Muricy tem feito nos jogos do possível tricampeão brasileiro.

O próprio treinador merece receber os méritos por essas adaptações. Afinal, é dele a iniciativa de transformar Hernanes, meia de origem, em volante. Ou de ter empurrado Jorge Wagner, ainda no Internacional, para a lateral-esquerda. Ou de pedir que Rodrigo avance, como lateral, como faziam Breno e Alex Silva. Ou, ainda, em utilizar Zé Luís como volante, lateral-direito ou, ainda zagueiro.

Essa mobilidade de seus homens permite que Muricy Ramalho, discretamente, planeje enfrentar cada adversário de acordo com as exigências da partida. Tendo tempo de sobra para preparar o terreno para a maioria dos confrontos recentes, o treinador faz uso de seus conhecimentos e da versatilidade de seu elenco.

Diante do Vitória no Barradão no primeiro turno, por exemplo, Muricy sabia que o combustível para vencer a equipe de Vágner Mancini era fechar os lados do campo, e por isso atuou com duas linhas de quatro jogadores, trancando Marquinhos e Willians, e não oferecendo contragolpes. Justamente assim, com Dagoberto e Éder Luís inspirados, o São Paulo trouxe importantes três pontos de Salvador.

Outro momento taticamente interessante no campeonato foi o jogo com o Ipatinga. Sem poder contar com Dagoberto, o treinador são-paulino foi criticado por isolar Borges no ataque. Contudo, empurrou Hugo para atuar como enganche, à frente de uma linha de volantes e alas. Na tarde no Ipatingão, foi Jean quem, vindo de trás, brilhou e ajudou a construir os três pontos.

Diante do Palmeiras, no Parque Antártica, o São Paulo causou pavor em Vanderlei Luxemburgo. À frente dos zagueiros, Muricy tinha Zé Luís, Jean e Jorge Wagner. Atentos à marcação e ágeis com a bola, Hernanes e Hugo atacavam em diagonal, com inteligência, prendendo Elder Granja e Leandro, e confundindo os volantes. Em números, uma espécie de 3-3-2-2.

Nos dois últimos jogos, contra Internacional e Portuguesa, o São Paulo atuou de forma parecida. Com três zagueiros, Muricy posiciona um volante mais fixo – em um jogo foi Jean, no outro foi Zé Luís – e forma uma combativa e criativa linha de quatro meio-campistas. Assim, marca, arma e agride em bloco, com eficiência, e tranca os espaços dos adversários.

O elemento chave do time são-paulino nesta reação final, entretanto, é Hernanes. Cada dia mais completo e maduro, o pernambucano se transformou em um jogador praticamente completo em campo. De primeiro volante do time bicampeão em 2007, transformou-se, agora, no meio-campista mais criativo da equipe. Pode atuar na linha de meio-campistas, à direita, à esquerda ou, ainda, como meia destacado, em um 3-4-1-2. O que só é possível pelo fato de, além de ser ambidestro, Hernanes também saber atacar e defender com a mesma qualidade e naturalidade.

Todas essas variações fazem do São Paulo uma equipe sempre imprevisível e capaz de ser moldada para enfrentar adversários das mais diferentes características. Parte da explicação para uma reação fulminante rumo ao tricampeonato brasileiro.



2 comentários:

Saulo disse...

O Muricy é um treinador muito inteligente e sabe estudar muito bem os seus adversários. Ele consegue ver facilmente os pontos fracos dos adversários e portanto é um grande treinador.

Filipe Nunes disse...

Qta variação! Pra todas essas serem postas em prática com eficiência só com tempo pra treinar mesmo, como Muricy diz sempre.