domingo, 3 de junho de 2007

Como a própria casa


Não fossem duas marcações bastante equivocadas de Leonardo Gaciba e o Paraná Clube terminaria a quarta rodada na liderança isolada do Brasileirão. A entrevista abaixo foi cedida pelos amigos do Futeblog Pernambucano (veja link ao lado) e mostra a maneira peculiar com que é tocado o clube que tem se mantido na dianteira dos clubes do Brasil.

Gestão aparentemente bem oposta à que pede o futebol moderno, a teoria paranista parece ser a de administrar o clube como uma chácara e manter relações amigas com outras agremiações maiores. Romantismo barato ou não, a verdade é que tem dado certo, jogue quem jogar.

Em tempo: obrigadíssimo aos amigos do Futeblog Pernambucano.

Qual é o segredo do Paraná?

José Carlos de Miranda(Presidente do Paraná): É a estrutura familiar. Temos aqui o mesmo grupo desde 2003. Administramos como donas-de-casa. Só gastamos o que podemos arrecadar. Outro dia, o Henrique, um apoiador aqui, veio me dizer que queria ganhar trinta (R$ 30 mil). Eu disse "você não quer trinta, você quer ir embora". Pode ir embora.

Trinta mil aqui é uma fortuna, ninguém ganha isso. E nos dedicamos ao clube. Eu vou a todos os jogos. Agora são 18h de segunda-feira. Eu cheguei de Belo Horizonte às 16h. E às 17h já estava aqui na sede em reunião. E mudamos também o estatuto. Hoje o clube tem eleição direta.

Qual é a folha salarial do clube?

JCM: O futebol inteiro - incluído aí divisões de base e comissões técnicas, custa entre R$ 520 mil e R$ 550 mil. Se fossemos falar só da folha do futebol profissional seria bem menos que isso... mas temos que incluir INSS, salários dos outros profissionais etc. Quem diz que é menos que isso está querendo enganar. Ou sonegar. E aqui somos muito transparentes.

Mas por que o time do Paraná muda tanto? Do time que conquistou a vaga na Libertadores para o time atual, seis meses depois, restaram apenas dois jogadores.

JCM: Nosso lema aqui é "só joga quem estiver feliz". O jogador de futebol é um artista - tem que estar feliz para ir bem. Não morremos de amores por ninguém, não somos fiéis. Não é porque o jogador foi revelado aqui no infantil que não vamos fazer um bom negócio. O Eltinho, que é um menino atrevido e bom de bola por exemplo, começou no profissional no ano passado, despertou interesse... e cedemos 30% do passe dele para o Japão. Mas ele ainda não está jogando lá.

Como o time continua funcionando apesar de tanto rodízio de jogadores?

JCM: Não podemos segurar ninguém. Mas o salário não atrasa. Pagamos em dia... e procuramos manter uma estrutura. O Flávio (goleiro) e o Beto (meia) estão conosco há quatro anos. Só que nossa dura realidade exige escolhas certas. Chamamos o Zetti... para que ele investisse na carreira dele - treinando numa Libertadores. Veio o Fortaleza oferecendo R$ 60 mil reais... ele balançou mas ficou. Veio o Atlético oferecendo 120, 150 mil... aí não teve jeito. Segue a vida.

O Paraná não se incomoda de se sentir como vitrine?

JCM: O empresário do Peter, lateral revelado pelo Cruzeiro, pediu que colocássemos o jogador aqui. Ele começou a jogar no Brasileiro, com salário bem reduzido, foi bem... e aí foi picado pela mosca azul. No início do ano foi se oferecer para Botafogo, Fluminense e Cruzeiro... Ninguém quis... acabou indo para o Ipatinga e depois para o São Caetano. Veja o caso do Dinélson, por exemplo. Ele ficou abalado com o interesse do Flamengo agora... o que vamos fazer? Não vamos dizer não, pode ir. Ainda mais para o Flamengo, que é nosso parceiro. Temos que saber nossa realidade. Lutamos de estilingue contra gente que tem metralhadora.

Como assim?

JCM: São Paulo, Flamengo, Corinthians, Palmeiras e Vasco recebem seis vezes mais dinheiro da TV do que o Paraná. Quem menos recebe... Atlético-PR, Goiás e Coritiba... recebe três vezes mais do que nós. É uma luta desigual.

Qual o motivo da parceria com o Flamengo?

JCM: É uma parceria política. Para nós é muito interessante. Precisamos de um padrinho forte.
O grande objetivo da nossa gestão é a inclusão do Paraná no Clube dos 13. E a maior força política deste país - maior até do que o PT - é o Flamengo. O presidente da CBF é flamenguista de carteirinha. E, no campo do futebol, recebemos alguns jogadores que eles não aproveitam lá... e podem ser úteis aqui como o Vinícius Pacheco. E cedemos alguns como o Leonardo.

E até onde vai o Paraná? Qual é o objetivo do clube nesse Brasileiro?

JCM: Vamos lutar pelo título, pela Libertadores, o que vier. O Campeonato Brasileiro é o mais equilibrado do mundo. Quem acreditaria que times grandes como Palmeiras, Atlético-MG e Grêmio poderiam ser rebaixados? Mas... é estilingue contra metralhadora.

O Paraná tem eleições em novembro. O senhor vai tentar um novo mandato?

JCM: Eu até queria. Tentamos mudar o estatuto para permitir uma nova reeleição – aqui o mandato é de apenas dois anos com uma reeleição possível. Mas não conseguimos. Não queria ficar por anos sem fim... como um Dualib ou o Ricardo Teixeira... mas achávamos que o trabalho poderia continuar. O Conselho não entendeu assim, tudo bem.

3 comentários:

Diego disse...

Dá inveja esse tipo de estrutura. Quando li que a folha salarial gira em torno de 120 a 150 mil reais pensem que um único jogador ganhasse isso. Aí reli e vi que é time todo, aliás menos que um time todo!
Tem dado certo mesmo esse esquema mas acho que se liberassem mais grana (não muita, só um pouco mesmo) pro time conseguiriam chegar à altura dos grandes times fácil, fácil. Ainda mais garimpando jogadores medianos que têm tudo pra evoluir e sair do anonimato. Esses times "pequenos" adoram e quase sempre conseguem proezas desse tipo.

Abraço e é mais uma vez um retorno meu aqui!

Sidarta Martins disse...

P q o bandeira do jogo Paraná vs SPFC não ganhou a atenção da grande imprensa do jeito que encheram a paciência da Ana Paula?

Gostei do blog. Parabéns!

Futeblogpe: disse...

Grande Dassler Marques, eu é que agradeço pela menção à nossa equipe do Futeblog Pernambucano! ;)

Obrigado por toda a força que você tem nos dado, e parabéns por esse excelente espaço que mantém aqui. Genial mesmo.

Grande abraço, cara.

Frederico Lira