quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Jovens italianos e o sub-17


O ótimo texto que reproduzo abaixo tem a assinatura do amigo Braitner Moreira, do não menos ótimo blog Quatro Tratti. Braitner fala sobre o insucesso dos azzurrini na história da categoria sub-17 e sobre a árdua vida dos jovens jogadores italianos para se firmar entre os grandes da Serie A. A leitura é imperdível!

"Azzurrini (ou a falta deles)"

29 de março. A equipe sub-17 italiana não conseguiu bater a Ucrânia e ficou de fora da fase final do Campeonato Europeu da categoria, que garantia vagas ao Campeonato Mundial. Estranho? Nem tanto. Os azzurrini não têm qualquer história na competição, tendo disputado apenas quatro das doze edições (uma delas em casa), e chegado, em sua melhor participação, em quarto lugar.

Sob o comando de Luca Gotti - técnico jovem, porém com trabalho interessante nas categorias de base do Milan no fim da década de 90 - os azzurrini caíram para a Ucrânia no último jogo do grupo. Por ironia do destino, o único gol da partida foi do artilheiro Korkishko, após falha de Alessandro Tuia. O zagueiro, produto das divisões laziali, é tido como o sucessor de Alessandro Nesta, e ainda o nome mais conhecido do grupo. Outros destaques do time decepcionaram na partida, como o trequartista ítalo-argentino Forestieri (Genoa) e o veloz atacante Caturano (Empoli).

Nem todos já ouviram falar destes jovens, ou ainda de outros nomes importantes dessa geração, como Fiorillo (Sampdoria), Albertazzi (Bologna) e Romizi (Fiorentina). Por outro lado, outras seleções européias levaram a campo jogadores mais conhecidos do grande público, como Moses (Inglaterra), Kroos (Alemanha), Mérida e Bojan (Espanha). Jogadores, inclusive, com mais experiência, seja em jogos oficiais ou mesmo em concentrações e treinamentos com profissionais. A questão é: por que os azzurrini não conseguem repetir as boas participações da seleção principal?

Compensa voltar um pouco no tempo, dois anos, no mundial de 2005. Entre os jogadores da campanha italiana (caíram nas quartas-de-final), apenas Foti (Sampdoria) e De Silvestri (Lazio) tiveram oportunidades reais em seus clubes. Pouco, se comparado aos outros dois representantes europeus da competição: na Holanda, pelo menos quatro jogadores já fizeram cinco ou mais partidas na Eredivisie, sendo que Pieters (Utrecht) e Emnes (Sparta Rotterdam) já se estabilizaram como titulares. Entre os turcos, Nuri Şahin fez mais de quarenta partidas pelo Borussia Dortmund, e foi negociado com o Fenerbahçe. O armador Caner Erkin se firmou como titular do CSKA Moscou e Anıl Taşdemir é opção frequente no Ankaraspor.

Não existem coincidências. Há fatores que retardam o surgimento de novas estrelas na Itália. Um deles, o imediatismo da torcida. O melhor exemplo é Alessio Cerci, revelado pela Roma e atualmente emprestado ao Pisa. Após quatro partidas irregulares em um mal momento da equipe, de luta contra o rebaixamento, se queimou. De nada adiantou o fato de Bruno Conti ir à mídia pedir paciência com aquele que seria a maior revelação romanista desde Totti. Outro problema crônico são os jovens jogadores sem apoio psicológico que chegam com panca em seu novo clube e acabam tornando-se sonoras decepções. Como a lamentável passagem de Bruno Cirillo na Internazionale, após destacar-se na Reggina.

O calcio exige muita força física, velocidade e aceleração de seus atletas, e já virou clichê dizer isso. Jogadores franzinos não conseguem se adaptar bem ao nível do campeonato, mesmo aqueles com boa técnica. Wilhelmsson é um exemplo recente. Jogadores sub-20, quando ofensivos, páram na forte marcação rival. Quando defensivos, não conseguem parar os adversários. Rolando Bianchi era artilheiro de incontáveis torneios primavera, mas só conseguiu se firmar na Reggina, seis anos após sua estréia pela Atalanta.

E o alto contingente de estrangeiros também estraga a fornada de todos os clubes. Lançar um jovem exige paciência, espera de resultados, e ainda é uma loteria - na maioria das vezes, não dará certo. Assim, na ânsia de resultados em curto prazo, é mais prático contratar alguém com mais "cancha".

Como na Inter da última temporada, por exemplo. Como escalar Andreolli de titular quando se tem Samuel, Materazzi, Córdoba e Burdisso para a posição? Não importa a fase dos mais experientes, há inclusive a questão de recursos humanos: não é confortável para Mancini deixar no banco algum jogador que ganha mais de €100 mil por mês para promover a entrada de outro que leva um ano para conseguir isso. No fim, Andreolli partiu para Trigoria. Mesmo caso para o promettente Slavkovski - fica difícil entrar num time que já tem Ibrahimovic, Crespo, Suazo, Julio Cruz e, vá lá, Adriano.

Torneios que envolvem seleções tão jovens são imprevisíveis. Resultados atípicos, convocações que parecerão estranhas daqui a cinco anos ou mesmo belas exibições de algum jogador que não sairá da terceira divisão. O espaço cada vez mais restrito aos jovens na Serie A pode estar interferindo de forma importante no selecionado azzurrino. Talvez a experiência que alguns deles poderiam adquirir nos clubes de ponta nem seja o fator-chave desse mau rendimento. Por outro lado, a desconfiança e o baixo investimento nos jovens são sim questões muito preocupantes.