sábado, 29 de janeiro de 2011

8 problemas táticos do Corinthians de Tite em 2011*


1) Bruno César é mais meia-atacante que meia armador. Em 4-2-3-1 contra defesas muito fechadas e meio-campos mais povoados, como contra Tolima e Noroeste, um atacante não serve para a função. Para Bruno, o pior ainda é não estar bem física e mentalmente. As críticas de Ronaldo sobre individualismo tinham o camisa 10 como principal alvo. Em 4-3-1-2, a armação tem o suporte de três volantes, então a responsabilidade diminui e o posicionamento é mais ofensivo.

2) A participação da dupla de volantes no sistema 4-2-3-1 é essencial, só que os sucessores de Elias e Cristian têm características diferentes. Jucilei não é tão dinâmico na transição quanto Elias, que jogava à direita, e ainda precisa definir melhor o passe decisivo, caprichar nas finalizações e chutar de média e longa distância. Pior ainda é para Ralf: essencialmente marcador, não consegue se sair bem em um posicionamento mais ofensivo. Não se desloca, não dá opções de triangulação e nunca chega à área rival. Serve melhor nos sistemas 4-3-1-2, 4-3-3 (ou 4-1-2-3) ou até 3-1-4-2.

3) O lado esquerdo corintiano tem sido absolutamente deficitário. Não sai jogo por ali. Em partes, a culpa é de Ralf, mas também de Roberto Carlos. O experiente lateral não infiltra à frente, muitas vezes afunila o jogo para dentro e ainda fica muito preso à primeira linha, o que curiosamente traz problemas defensivos ao time. Jucilei era seu escudo em 2010 quando Tite utilizava o meio em losango. Não à toa, o Corinthians cresceu sem Roberto e com Marcelo Oliveira, essencialmente um infiltrador, nos últimos dois jogos.

4) Sem o jogo fluindo por seu lado, Jorge Henrique tem sumido das partidas. O lépido atacante, que atua aberto à esquerda, depende muito da transição do lateral e do volante para combinar jogadas e se aproximar. Embora seu forte seja a velocidade, Jorge é competente dentro da área e bom finalizador. Armador pelo centro, como Adílson Batista já tentara no ano passado, é tudo que ele não é. Uma saída seria tentar se aproximar de Ronaldo, mas isso tem ocorrido pouco.

5) O isolamento de Ronaldo. Se o time não bola jogadas e não se aproxima da linha defensiva do adversário, o camisa 9 não participa. Ronaldo tem dado poucas opções, se movimenta com limitações e parece conformado com os problemas do time. Um sinal foi o segundo tempo contra o Tolima, quando ele resolveu tentar ajudar mais e criou as melhores situações. A indignação é essencial para o craque.

6) Ainda falta eficiência no jogo a partir da direita. Moacir teve certa iniciativa nos últimos dois jogos do qual participou. O jogador é ativo e isso não se discute, mas falta fundamento a ele, que poucas vezes realmente ajuda. Alessandro suportou só meia hora de futebol contra o Tolima. Na medida em que recupere sua boa forma, tende a resolver o problema. É firme na defesa e tem o arrojo para levar intranquilidade à linha defensiva do adversário.

7) Jogar à direita na linha de armadores é um problema para Dentinho, que idealmente deveria ficar do lado oposto. O atacante parece sem força e confiança para encarar os marcadores. Embora habilidoso, ele não tem também arranque e potência para bater dois adversários na corrida, por exemplo. É essencialmente um bom finalizador.

8) A falta de banco de reservas mais competente mina Tite por completo. Suas opções são de jogadores que foram emprestados, mas não têm estofo suficiente para suportar uma Libertadores, de reforços de perfil médio e de nomes que não convenceram em 2010. Por suas características, também acrescentam pouco para alguma eventual mobilidade tática.


* O campinho foi gentilmente cedido pelo companheiro André Rocha, do Olho Tático

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Projeto de poder


Arnaldo Tirone chega ao poder no Palmeiras suportado por quatro nomes fortíssimos na política do clube: Mustafá Contursi, seu grande mentor, presidente palmeirense por 12 anos, é o principal deles. O corretor imobiliário recebeu ainda as bençãos de Carlos Bernardo Facchina e Affonso Della Monica, os outros dois ex-mandatários vivos. Mas não foi só.

Frequentador do Palmeiras desde que era criança em 1955, Arnaldo Tirone teve Roberto Frizzo a seu lado como um grande catalisador de votos. Derrotado por Luiz Gonzaga Belluzzo em 2009, Frizzo na ocasião teve 123 das escolhas (contra 145 de Belluzzo), mas desta vez se juntou a Tirone.

Na prática, Roberto Frizzo, eleito o primeiro vice-presidente nesta quarta-feira, teve mais força nas urnas que o próprio Tirone, a quem apoiou. Frizzo, que será designado para o departamento de futebol, recebeu 168 votos, dez a mais que o presidente eleito. Esse número dá a dimensão do quanto o apoio de cardeais fortes fez de Arnaldo Tirone um candidato quase imbatível.

O segundo ponto fundamental foi a divisão entre Salvador Hugo Palaia (21 votos) e Paulo Nobre (96). É verdade que, juntos, eles não chegariam aos 158 votos de Tirone, mas também não tiveram jogo de cintura para se unir em apenas uma candidatura e trabalhar em prol dela. Foi justamente assim que Belluzzo, em 2009, derrotou Roberto Frizzo por uma margem apertadíssima. Eram apenas dois postulantes à presidência.

A cisão entre Palaia e Nobre também pode ser encarado como o último fracasso de Belluzzo no Palmeiras. Depois de passar por problema de saúde grave, o presidente retornou ao Palestra Itália com a missão de unir os dois adversários de Tirone, mas não obteve sucesso.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Com Ronaldinho, a última cartada para Luxemburgo


Vanderlei Luxemburgo teve um péssimo retorno ao Flamengo no último ano: conseguiu ser tão ruim ou pior que os antecessores Silas e Rogério Lourenço, não encontrou uma fórmula de jogo, flertou de perto com a zona do rebaixamento e só não chegou à última rodada do Campeonato Brasileiro com chances de queda por conta de uma combinação da tabela, que colocou Atlético-GO e Vitória no mesmo jogo. Mesmo assim, teve seu poder ampliado na Gávea.

Na surdina, Luxemburgo fez alterações sensíveis na comissão técnica, que até então só tinha dois membros de sua confiança: Antonio Mello e Antonio Lopes Júnior. Ao todo, demitiu seis profissionais que estavam no clube - alguns, há mais de uma década. A presidente Patrícia Amorim ainda lhe concedeu o direito de dispensar jogadores identificados com o clube, casos de Juan e Petkovic, por exemplo. Diogo, jovem de potencial que procurava a afirmação, foi liberado em nome da palavra que o técnico mais gosta: "meu projeto é de 18 meses e ele só tem seis de contrato", argumentou.

A debandada geral no Flamengo permitiu a Luxemburgo buscar nomes caros, de sua preferência, graças ao alívio na folha. Em especial, o goleiro Felipe e os meias Botinelli e Thiago Neves. A responsabilidade do treinador cresce ainda mais, é lógico, pela presença de Ronaldinho Gaúcho. Ele, que falhou em 1995 quando teve outro time dos sonhos na Gávea, tem agora provavelmente aquela que pode ser sua última grande cartada - sem trocadilhos com o jogo de pôquer - na carreira.

Para o sucesso rubro-negro, Luxemburgo certamente precisará ser um sujeito hábil no trabalho de dentro e fora de campo. Afinal, o clube mais popular do Brasil ainda procura o profissionalismo - justamente, aquele que faltou para Ronaldinho nos últimos três anos da carreira. Surgiram especulaçòes de que o novo camisa 10 teria direito a faltar em dois treinos matutinos por mês, por exemplo. Some a isso que o treinador, em seus clubes mais recentes, não conseguiu triunfar apesar de ter respaldo semelhante ao que recebe na Gávea.

Acomodar Ronaldinho e Thiago Neves na equipe também irá solicitar inteligência de Luxemburgo, que falhou de forma significativa em encontrar os sistemas ideais para o Flamengo e o Atlético-MG em 2010. Em que pese a diferença técnica brutal em relação aos mortais do futebol brasileiro, o Gaúcho já provou, no Milan, que não consegue mais brilhar a 100% em qualquer região do campo. Além disso, o elenco flamenguista tem lacunas defensivas importantes - o miolo de zaga e a lateral esquerda, principalmente.

Por todos os títulos que construiu em sua carreira indiscutivelmente vitoriosa, Luxemburgo merecia mais essa grande oportunidade que o Flamengo e Ronaldinho, com quem falhou em Sidney-2000, lhe oferecem. Será um momento ideal para notar se o treinador ainda tem a habilidade que mostrou, no passado, para lidar com as estrelas. Basta se recordar que os vestiários do Palmeiras, com ele, ferviam na década de 90. Mesmo assim, sempre receberam grandes conquistas. É disso que Luxa precisa.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

As aulas do Professor Mourinho

Mourinho: vencedor e provocador


Real Madrid x Villarreal, no último domingo. O que diriam os detratores que acusam José Mourinho de retranqueiro? O português, que de fato foi bastante defensivo em vários momentos na Inter de Milão, normalmente se defende argumentando que se adapta às características de cada cultura. Depois de vencer em Portugal, Inglaterra e Itália, ele parece entender perfeitamente o que pede o madridismo. Deixou isso muito claro no triunfo que encheu de entusiasmo o Santiago Bernabéu e a reafirmou a fase extraterrestre pela qual passa Cristiano Ronaldo.

Real Madrid do primeiro tempo: 4-2-3-1 e muita insegurança na primeira linha

As mexidas de Mourinho, seja de jogadores ou táticas, foram absolutamente decisivas para a vitória contra o Villarreal, que mesmo desfalcado de Nilmar conseguiu um primeiro tempo soberbo no Bernabéu. Enquanto o Madrid errava passes demais, o Submarino Amarillo se fartava: Borja Valero e Bruno bem trabalhavam a bola para Cani e Cazorla, sempre às costas de Sergio Ramos e Marcelo, fazerem a festa. Instável e sempre correndo riscos, os merengues dificilmente conseguiam controlar o jogo e atacar de forma ordenada e contínua. Um gol de Cristiano Ronaldo, nos acréscimos da etapa inicial, foi o golpe de sorte para um novo time na segunda etapa.


Após o intervalo: 3-4-1-2 e a retomada do domínio no jogo

Mourinho deu uma aula de como se usar três zagueiros: na primeira linha, definiu a marcação a Rubén e Rossi, deixando um homem na sobra e transformando Di María e Marcelo em alas. Khedira entrou para qualificar o passe que Lass Diarra teimava em entregar ao Villarreal e, ao lado de Xabi Alonso, também conseguiu retomar a posse de bola e atacar com agressividade e segurança. Com o time organizado, cresceu Özil. E assim cresceu o Real atrás da virada.

Juan Carlos Garrido, ao ver sua equipe nas cordas, tentou reorganizar: sacou Rubén, fez de Musacchio volante e liberou Borja Valero para organizar mais à frente, passando do 4-4-2 para o 4-2-3-1. Se tinha um homem a menos para marcar, Mourinho reapareceu: Khedira virou falso terceiro zagueiro e Albiol, que já era desnecessário, deu lugar a um leão adormecido no banco de reservas. Era Kaká, que ajudou a reavivar o madridismo, participou bem de jogadas na frente e, com a noite fantástica de Cristiano Ronaldo, definiu o 4 a 2.


O último ato: Khedira como falso terceiro zagueiro e Kaká para sufocar os volantes

Há pontos fundamentais para explicar o triunfo do Real Madrid: a atitude nos 45 minutos finais e a universalidade de Di María e dos alemães Khedira e Özil. Mourinho se mostrou, novamente, um hábil jogador e soube vencer a partida como um jogo de xadrez. Deixou claro que sistemas com três zagueiros, ocasionalmente, podem ser úteis para organizar a defesa e fazer a equipe jogar. Uma das tantas aulas do português, que um dia depois, com justiça, foi eleito o melhor treinador de 2010.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Olho grande em MATHEUS CARVALHO


Já está aí a Copa São Paulo e também já apareceu Matheus Carvalho. Na vitória tricolor diante do Sertãozinho, por 3 a 0, nenhuma estrela brilhou mais que a do atacante canhoto. Em um belo gol, seu segundo na partida, Matheus resumiu tudo o que um centroavante precisa ter: sorte, bom posicionamento, frieza e finalização precisa. É justamente assim que ele atua, já há seis anos, quando chegou ao Fluminense.

Observado de perto por Muricy Ramalho durante as lesões de Fred e Emerson, Matheus Carvalho chegou a sentar no banco de reservas, mas não entrou. A julgar pelo que o garoto vem fazendo, ele fará por merecer a oportunidade. Até pelo fato de Matheus, 18 anos, ser o avesso de jovens promessas mimadas e firulentas. Seu trabalho é simples e intenso, garantem as pessoas próximas. É como Muricy prefere.

Talvez por isso, nos últimos anos da base do Fluminense, tenha ficado sempre na sombra de outros jogadores mais badalados, como Dori, Wellington Nen e especialmente Wellington Silva e Pernão. Difícil achar alguém mais eficaz que Matheus Carvalho: foi autor do gol do título carioca sub-17 em 2009, do Taça Guanabara Sub-20, em 2010, e do Sul-Americano Sub-15, com a Seleção Brasileira, em 2007. Já foi o artilheiro da Copa Promissão, do Carioca Sub-15 e também do Sub-17.

E aí, Muricy? Não vai escalar o garoto?