segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sete dias e a terra arrasada por Emerson Leão

Lucas, Rivaldo e Cícero: alvos de Leão

Em seus quase quatro anos de São Paulo, Muricy Ramalho costumava dizer, em entrevistas mais longas, que jamais pediu demissão de funcionário do clube. Citava que, entre seus antecessores, havia gente que em poucos meses mandou jardineiro, porteiro e outros membros do gênero para o olho da rua. A menção de Muricy tinha nome e sobrenome: Emerson Leão.

Mais de seis anos se passaram desde então e Leão, que colecionou praticamente só fiascos na carreira desde então, chegou a ficar mais de uma temporada desempregado. Juvenal Juvênio deu mais sinais de que definitivamente perdeu a mão e ofertou ao veterano treinador um contrato de dois meses. O grande problema não é o vínculo curto e nem a falta de ideias para o resto da temporada, mas a sensação de vazio no que Emerson Leão poderá deixar de legado para quem seja seu sucessor em 2012.

Os métodos de Leão, desde seus tempos de jogador, passam longe de ser os mais corretos. Felix e Ado contam que, em 1970, a convocação de um terceiro goleiro jovem foi um pedido de ambos a Zagallo, mas que ao chegar no México o novato exigiu a titularidade. Só receberia quatro anos depois, na Alemanha. Atitudes do gênero se repetem nesses 41 anos e também se repetiram nos últimos sete dias na Barra Funda.

Leão chegou sem relacionar Rivaldo, o que era direito seu, mas provavelmente uma ação orquestrada em conjunto com Juvenal. Cobrou Lucas publicamente, trocou farpas com Cícero via imprensa e, em um ato de enorme constrangimento, revelou ao microfone da TV Bandeirantes que Dagoberto já tinha pré-contrato firmado com o Internacional.

O fato extremamente antiético expõe de vez um atleta que, bem ou mal, presta serviços ao São Paulo há cinco temporadas. Na beirada do gramado em São Januário, reclamou quando Cañete, que acabara de entrar, se lesionou. "A gente dá a chance, mas ele se machuca". Será que Tite, Cristóvão ou Caio Júnior, os líderes do Brasileiro, fariam algo igual?

Em dois jogos, com uma derrota por 2 a 0 e um empate sem gols, Leão mostrou toda a limitação de seu repertório. No Paraguai, resgatou um sistema com dois volantes, dois meias e dois atacantes, tática que já era vista como atrasada na década de 90. Diante do Vasco, fez o São Paulo voltar aos tempos do 3-5-2. Atualmente, na Série A, o lanterna América-MG é a única equipe a jogar dessa forma, abandonada até mesmo por Muricy.

Para sua segunda semana de clube, Leão também resolveu mexer com a rotina do grupo e, pela primeira vez nos últimos tempos, programou todos os treinos, de terça até sexta-feira, às 9h da manhã. Nenhum dos treinadores do futebol paulista adota a tática, que faz os jogadores acordarem mais cedo e, claro, eventualmente evitarem noitadas. Que ele queira chacoalhar o ambiente, é compreensível. Difícil é saber se, com seus métodos peculiares, o treinador vai construir algo para o próximo ano. O passado bem recente indica que não.

No Corinthians-07, Leão, com contratações inexplicáveis como Wellington, Tamandaré, Gustavo, Daniel Paulista, Jean Carlos, Jean e Jaílson, começou de forma trágica a temporada que culminaria no rebaixamento. Em seu retorno ao Santos, para 2008, deixou no meio do ano a equipe que terminou na 15a posição, um ponto acima da zona de rebaixamento do Brasileiro. Em seguida, com o Sport, 3 vitórias, 2 empates e 6 derrotas e mais um time degolado ao fim do ano. Pelo Goiás, em 2010, 3 vitórias, 4 empates e 9 derrotas no Brasileiro. Resultado? queda para a Série B.

Por enquanto, Emerson Leão precisa já conviver com uma marca bastante negativa do time que dirige. São oito jogos sem vitória no Campeonato Brasileiro, o que significa a pior escrita do São Paulo em 40 anos na competição. Mais difícil que voltar a vencer ou até do que surpreender e estar na Libertadores 2012, é ver herança positiva para a formação de um time forte. O clube de Juvenal Juvêncio é a maior incógnita do Brasil.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Sul-Americana: tudo errado desde o começo


É sempre aquela história: longe da vaga à Copa Libertadores e do rebaixamento, alguns times do Campeonato Brasileiro adotam o discurso de "vamos buscar a Copa Sul-Americana". Mas, convenhamos e todos sabem, não se precisa muito além de fugir do descenço para se garantir na classe B do continente. Antes mesmo de começar, a Sul-Americana ja se desvaloriza por um grande erro.

A ideia de dar vaga a oito times do Campeonato Brasileiro é equivocada e, na prática, só serve para aumentar ainda mais o calendário nacional com duas datas para confrontos de mata-mata na Sul-Americana entre times...brasileiros! Se estivesse restrita a quinto, sexto, sétimo e oitavo colocados da Série A do ano anterior, o torneio já se iniciava com as equipes realmente fortes e teria um mata-mata mais dinâmico. A sensação de que qualquer time obtém a vaga só desvaloriza a Sul-Americana.

É claro que a falta de valor vai bem além disso: o torneio está mal posicionado no calendário e se encaixa, justamente, com as rodadas finais do Brasileiro. Os valores pagos pela Conmebol ainda são irrisórios, as torcidas geralmente não se empolgam e a cobrança, em muitos casos, é para se ignorar e não buscar o título. Tem sido difícil chegar.

O baixo astral geral quando o assunto é Sul-Americana é o que explica os vexames dos times brasileiros, sobretudo com Flamengo e Botafogo. Poucos clubes conseguem preservar titulares e, mesmo assim, manter a sensação de competitividade com quem vai a campo. Esse é o segredo do Vasco, que trouxe um resultado razoável da Bolívia com uma equipe quase C e, dentro de São Januário, construiu uma vitória marcante pelo gol de placa de Bernardo e o placar de 8 a 3.

Agora, restam oito times na Sul-Americana e um ingrediente curioso: três já têm vaga confirmada na Libertadores 2012 (Velez, Universidad do Chile e Vasco) e outros estão próximos, caso do Arsenal. Só mesmo a vontade de levantar a taça é o que deve fazer com que se mantenham empenhados até o fim. Empenho, também, para reverter a imagem de um torneio que já começa cheio de problemas e, acredite, já tem 10 edições realizadas.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

David não é mais um Silva


Mais que no esporte, de Adhemar Ferreira da Silva e de Tomás Soares da Silva, o Zizinho, o sobrenome Silva sempre esteve diretamente ligado à origem da sociedade brasileira. A revista Mundo Estranho conta que os Silva, que hoje têm o lutador Anderson como seu representante mais badalado, surgiram entre os escravos que buscavam o anonimato que aquele batismo podia oferecer.

David Josué Jiménez Silva não é brasileiro e seus pais, Fernando e Eva, também não têm DNA brasileiro até onde se consta. David nasceu em Arguineguín, que faz parte da província de Las Palmas, e hoje é o mais bem acabado produto das escolas de formação do futebol espanhol. O principal construtor no massacre histórico do Manchester City sobre o United, no domingo, revelado pelo Valencia, é mais um nome a personificar esse estilo encantador do tiki-taka que hoje faz parte do jogo consistente e sempre com profundidade do líder da Premier League.

As estatísticas, frias, dão a David Silva um gol e uma assistência no triunfo de 6 a 1 conquistado em Old Trafford, mas aconteceu muito mais. David participou de forma direta em outros três: nos dois primeiros, deixou Milner em condição de servir Balotelli, e no quarto cobrou o escanteio preciso que, desviado, chegou a Lescott e acabou na conclusão de Dzeko. Mas foi sua assistência para o sexto gol, também de Dzeko, o momento de maior requinte em seu jogo, perfeito do início ao fim.

No Campeonato Inglês, ninguém serviu tanto quanto David Silva, e considere apenas os passes diretos para gol, que foram seis em nove jogos disputados. O desempenho na grande campanha do City representa definitivamente a volta do bom futebol de quem, na Eurocopa 2008, aos 22 anos, teve papel importantíssimo. Reserva na África do Sul, Silva é hoje mais um desses jogadores cerebrais que, de trás, abrem qualquer defesa com um passe rápido e preciso.

Jogador fundamental que falta à seleção brasileira de Mano Menezes, David Silva sobra na Espanha de Xavi, Iniesta, Fabregas, Busquets, Cazorla e, aos poucos, de Thiago Alcântara. Sobra a ponto de os gigantes espanhóis, Real Madrid e Barcelona, prescindirem de sua mão de obra, hoje a serviço do City. David não é mais um, é um cracaço.

sábado, 22 de outubro de 2011

A gangorra dos mineiros vê o Galo subir e o Cruzeiro na rota da Série B


Já faz tempo que o Atlético-MG procurava uma vitória que realmente transforma o vestiário, muda o astral e encaminha novos bons resultados a curto prazo. Poderia ter sido contra o próprio Cruzeiro, na última rodada do turno, quando a produção dos dois times, apesar da vitória cruzeirense, mostrava superioridade do Galo. Foi neste sábado: Cuca conseguiu ter boa parte de seus titulares à disposição e o Fluminense, no Engenhão, foi abatido de maneira categórica em dia que a estratégia atleticana se mostrou muito mais acertada.

Por mais que não sejam brilhantes, Carlos César e Triguinho deram estabilidade à primeira linha da equipe e Pierre, na proteção da área e no cerco a Lanzini, reafirmou sua recuperação pessoal na carreira, e deu fôlego para Filippe Soutto jogar. O trabalho defensivo irretocável da equipe ainda teve em Bernard, aberto à esquerda, um nome fundamental. Revelação do título atleticano na última Taça BH, ele acabou com Mariano, sempre um protagonista das ações tricolores, e ainda criou a jogada crucial, convertida em penalidade com Daniel Carvalho, outro em evolução.

O Galo, que já dorme fora da zona do rebaixamento, indica uma inversão de papel com o seu maior rival, o que pode ficar claro neste domingo após o confronto com o Atlético-GO em Sete Lagoas. Incrível como as decisões do Cruzeiro são confusas e infelizes, da direção ao treinador. Vagner Mancini preteriu a proteção da defesa e apostou no ataque para tirar o time de situação ruim. Com ele, são duas derrotas e dois empates. Com Emerson Ávila, quatro derrotas e dois empates. São 11 partidas sem vencer somando a última de Joel Santana.

Nessa gangorra dos times mineiros, em que o Atlético afirma evolução e o Cruzeiro patina, o América-MG é um personagem intrigante. Por mais que fique evidente que a equipe americana é insuficiente para a Série A, os homens de Givanildo quase sempre se superam e conseguem resultados acima da expectativa.

Há duas semanas, segurou o Galo no 0 a 0. Depois, goleou o Ceará em 4 a 1 e endureceu até o fim em derrota contra o Figueirense no Orlando Scarpelli. Neste sábado, com 10, buscou igualdade com o Grêmio. O time talvez financeiramente mais prejudicado pela falta do Mineirão vai cair, mas merece aplausos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A joia 100% botafoguense


Ser líder pelo Campeonato Brasileiro pela primeira vez desde a 16ª rodada da temporada 2007 é tudo o que espera o Botafogo, nesta quarta-feira, contra o Santos e Neymar na Vila Belmiro. Voltar a pontear a Série A após quatro anos, e a oito jogos do fim da competição, tem um significado tremendo no processo de recuperação botafoguense que passa pelas finanças, pela infraestrutura, pelas categorias de base e, claro, pelo time principal. Nele, poucos brilham mais que o surpreendente Elkeson e seus oito gols na Série A.

O jogador é uma surpresa desde sua contratação, conseguida com força nos bastidores contra a concorrência fortíssima do Fluminense em negociação triangular com Vitória e o Benfica, de Portugal. Elkeson promete ser, no futuro, a primeira grande negociação do Botafogo com o exterior em muitos e muitos anos. E há algo ainda mais especial com ele: 100% de seus direitos econômicos são botafoguenses. Algo que, infelizmente, é coisa mais que rara no futebol brasileiro.

Vice-campeão da Copa do Brasil com o Vitória, que também tinha os pratas da casa Anderson Martins, ex-Vasco, e Wallace, do Corinthians, Elkeson teve segundo semestre difícil e não evitou a queda do rubro-negro para a Série B. No Botafogo, se reencontrou como meia-central no sistema de sempre do Botafogo, o 4-2-3-1, mas também brilha quando é deslocado para a ponta, como ocorreu contra o Corinthians. O chute firme e a potência física são as principais marcas de quem, na adolescência, assumiu ser gato em dois anos e mesmo assim não foi dispensado do Vitória.

Elkeson se sobressai também porque faz parte de um time organizado, onde as responsabilidades são bem repartidas e nomes experientes como Jefferson, Marcelo Mattos, Renato e Loco Abreu transmitem muitas coisas boas. Assim, a seguir nessa toada, ele tem tudo para render dois dígitos de milhões de euros em uma grande negociação com o exterior. Se agora ele e o Botafogo só pensam em liderar o Brasileiro, mais à frente podem colher ainda mais bons frutos. Elkeson é uma joia e, mais importante, 100% botafoguense.

- No Terra: confira 22 talentos fatiados do futebol brasileiro

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A decadência que leva Adilson Batista ao lugar comum


Adilson Batista chegou ao Corinthians, líder do Campeonato Brasileiro de 2010, com um roteiro traçado. Construir mais um trabalho longo, sólido e vitorioso, como fora no Cruzeiro, e só sair do Parque São Jorge para algo mais grandioso, como seguir os passos de Mano Menezes rumo à seleção. O plano de Adilson, que afirmou em entrevista a este blogueiro a ideia de ficar "uns cinco anos no Corinthians", era legítimo e embasado. Mas se foi completamente por terra.

O treinador fez do Cruzeiro, por dois anos e meio, um time sempre duríssimo, que vencia os adversários pela qualidade técnica, pela facilidade de envolver no ataque e por se renovar mesmo quando perdia jogadores importantes. Só foi derrotado uma vez para o Atlético-MG, foi bicampeão estadual, vice da Libertadores e, por dois anos seguidos, ficou entre os primeiros do Brasileiro. A partir de agora, com seus fracassos por Corinthians, Santos e São Paulo, além de Atlético-PR, Adilson precisará começar do zero. Ou até abaixo disso.

No Corinthians, ele teve um grande início, a ponto de vencer Fluminense e Santos, fora de casa, em jogos importantíssimos daquele Brasileiro. Seu time era mais vistoso que o de Mano, mas os desfalques, a insistência em uma proposta muito ousada e a dificuldade em administrar o elenco custaram caro. Andrés Sanchez quis demití-lo no Beira-Rio após perder para o Inter e cair para a vice-liderança. Foi demovido, esperou mais quatro jogos em que o time não venceu e o consenso interno é de que, se Tite chegasse antes, o Flu não teria vencido a Série A.

Adilson, como ocorre com outros treinadores como o próprio Tite, paga pela imagem que se criou em torno de si. É por isso que no Santos foi tão rapidamente demitido e criou uma atmosfera de trabalho tão ruim mesmo quando tinha 60% de aproveitamento. A situação no São Paulo não é tão diferente, mas a troca de comando é que tardou a acontecer. Adilson Batista foi vaiado na estreia e, provavelmente, em todos os jogos que se sucederam no Morumbi. Ninguém chegou tão queimado quanto ele, o pior comandante são-paulino do século em aproveitamento. E pensar que Adilson ainda tem participação quase decisiva no rebaixamento cada dia mais certo do Atlético-PR.

O momento para ele é de de buscar a possibilidade segura de fazer um trabalho longo e, principalmente, onde tenha confiança e possa aplicar suas ideias sem ser vaiado logo de cara. Situações como a perseguição da torcida são-paulina a Adilson criam um ambiente difícil de ser revertido, ainda mais em um clube com elenco complicado, jogadores em reta final de contrato e problemas da portaria à presidência. Hoje, ele é um ex-treinador promissor e de volta ao lugar comum.

No Terra - Adílson tem pior aproveitamento do século no São Paulo
Olho Tático - Equívocos táticos também derrubaram Adilson

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Todos os hat-tricks de Fred e o Flu em franca ascensão


Fred chegou a 200 gols e 10 hat-tricks na carreira ao fazer três contra o Coritiba na última quinta-feira. Se não parece ser o nome ideal para a seleção brasileira, seu pós-Copa América com o Fluminense é realmente muito bom. Superado o episódio de problemas com torcedores e a ameaça de deixar as Laranjeiras, ele parece até mais alinhado com os objetivos do clube e na busca por uma grande reta final de Campeonato Brasileiro.

Abel Braga, que parecia ter os dias contados após a derrota para o Botafogo, no último dia de agosto, redescobriu o Fluminense em setembro e outubro e conquistou 22 dos 30 pontos que disputou desde então. A reação se deve ao meio-campo mais dinâmico, com Edinho responsável pela marcação e Marquinho incumbido da transição, ideal quando Diguinho também joga. Rafael Sobis, Lanzini, Mariano e agora até Deco se destacam no crescimento do Flu.

O mais impressionante nos três gols de Fred contra o Coritiba é que todos nascem de jogadas conscientes e construídas de forma coletiva, com trabalho de bola que o time praticamente desconhecia nos tempos da ligação direta de Muricy. O Flu, embora seja sexto, tem só quatro pontos a menos que o líder. Também é candidato ao título Brasileiro.

Todos os hat-tricks da carreira de Fred:
23/02/03 - América-MG 6 x 1 URT (Mineiro)
21/06/03 - América-MG 4 x 1 CRB (Série B)
02/10/04 - Cruzeiro 5 x 0 Ponte Preta (Série A)
27/02/05 - Cruzeiro 4 x 0 América-MG (Mineiro)
11/03/05 - Cruzeiro 5 x 1 Valério (Mineiro)
18/05/05 - Cruzeiro 5 x 0 Baraúnas-RN (Copa do Brasil)
13/05/06 - Lyon 8 x 1 Le Mans (Campeonato Francês)
22/04/10 - Fluminense 3 x 2 Portuguesa (Copa do Brasil)
03/02/11 - Fluminense 3 x 1 Duque de Caxias (Carioca)
13/10/11 - Fluminense 3 x 1 Coritiba (Brasileiro)

Confira matéria completa sobre Fred no Terra

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

No Brasileirão das arrancadas, qual time tem a melhor sequência?


Tamanho equilíbrio no Campeonato Brasileiro faz com que praticamente todos os times tenham ótimos e preocupantes períodos dentro da competição. O momento atual é do Corinthians, que volta a liderar após quatro rodadas, mas principalmente do Flamengo, dono de 9 pontos nos últimos três jogos. Também é do Internacional, que fez 3 a 0 no então líder Vasco, do Coritiba, de boa atuação no sábado, e de Fluminense e Grêmio, derrotados nesse fim de semana.

No Pacaembu, o Corinthians teve 45 minutos fulminantes diante de um Atlético-GO que vinha de apenas uma derrota em 12 jogos. Antes um problema para Tite, a parceria entre Danilo e Alex, falso centroavante com os problemas de outros atacantes, virou o segredo do bom futebol que reapareceu. Com jogos apenas aos fins de semana, os corintianos crescem na parte física e conseguem jogar com a intensidade total, principal característica do time.

Impressionante também os 90 minutos do Internacional no Beira-Rio contra o líder Vasco. D'Alessandro fez a partida de seus melhores tempos da carreira e Ilsinho, contratação que inspirava pouca confiança, foi o terror para os laterais vascaínos Fagner e Jumar. No aguardo pelo retorno de Leandro Damião, o Inter sobe com quatro vitórias e quatro empates nos últimos 9 jogos. Hoje, a diferença para o quinto lugar que deve dar vaga na Libertadores 2012 é de três pontos.

Dono da principal arrancada de um campeão brasileiro na era dos pontos corridos, o Flamengo vai se credenciando novamente a brigar pelo título. São três vitórias em três jogos e uma sequência de tabela interessante (Palmeiras em casa, Ceará fora e Santos em casa) para encostar novamente na liderança. Contra o Flu, Bottinelli salvou a pele de Vanderlei Luxemburgo, infeliz na escalação da primeira etapa e inteligente outra vez nas substituições.

As arrancadas de Corinthians, Internacional e Flamengo no domingo permitem a pergunta: quais as melhores sequências do Campeonato Brasileiro de 2011? Corintianos e flamenguistas, justamente, têm os melhores índices por aqui. A equipe de Tite bateu sete vitórias seguidas no início da competição e o Fla, com nove vitórias e sete empates, somou invencibilidade de 16partidas.

Confira as arrancadas atuais na reta final do Brasileiro:
Coritiba - 6 vitórias, 4 empates e 3 derrotas em 13 jogos
Grêmio - 6 vitórias e 3 derrotas em 9 jogos
Internacional - 4 vitórias, 4 empates e 1 derrota em 9 jogos
Flamengo - 3 vitórias e 2 empates em 5 jogos
Fluminense - 6 vitórias, 1 empate e 2 derrotas em 9 jogos

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A volta ao Brasil: um desafio tão grande quanto a ida à Europa


Não faz tanto tempo assim, Dunga era o treinador da seleção brasileira e Denílson um titular de destaque do Arsenal de convocação constantemente solicitada pela opinião popular. No Campeonato Brasileiro atual, ninguém compromete tanto o setor de meio-campo do São Paulo quanto ele. Entradas bruscas, que no Campeonato Inglês possivelmente passariam despercebidas, já renderam três expulsões ao reforço de salário mais alto para a temporada após Luís Fabiano. A reafirmação de Denílson no futebol brasileiro ainda é uma incógnita, mas não é exclusividade dele.

A diferença de calendário em relação à Europa tem feito com que, novamente, muitos jogadores entrem com a Série A em andamento e sofram com as dificuldades de readaptação. As diferenças são tremendas e já começam no extracampo: uma ou duas concentrações por semana, viagens geralmente mais longas, a relação com a imprensa é diferente, a participação da torcida também não é pequena e a filosofia de treinamento totalmente oposta. A cobrança por desempenho, por outro lado, é enorme.

Por tudo isso, também, é que impressiona a readaptação de Renato ao futebol brasileiro e seu campeonato de alto nível com o Botafogo. Fisicamente bem, ele participou de 17 jogos consecutivos sem se lesionar nem ser suspenso, uma constante na carreira. Em todas as partidas, esteve em campo nos 90 minutos. Renato, o Renatinho para os santistas que não lhe esquecem pelas temporadas 2002, 03 e 04, passou sete anos no Sevilla, foi adiantado para a armação e voltou a ser volante como se nada tivesse acontecido.

No Botafogo que tem Herrera e Maicosuel abertos pelas pontas e Elkeson na armação, além de Loco Abreu enfiado, o trabalho dos volantes é árduo. Renato, com Marcelo Mattos, marca firme, com lealdade e é o homem que dá fôlego para o time sair de trás e chegar à frente com qualidade. Rômulo e Ralf, titulares da seleção na última semana, são os melhores da posição nesta Série A. Renato vem um degrau logo abaixo com gente como Léo Gago, Paulinho e Edinho, por exemplo.

O caso de Renato, mostra 2011 mais uma vez, é isolado. O futebol brasileiro é extremamente competitivo, duro dentro e fora de campo e cheio de particularidades que tornam essa reafirmação um desafio tão grande quanto a ida à Europa. Um caminho em que Denílson, até outro dia respeitadíssimo na Inglaterra, só tem encontrado pedras.

- Confira aqui: entrevista exclusiva com Renato no Portal Terra

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Por que empréstimo não é presente


Jogador emprestado pode ou não enfrentar o clube dono de seus direitos? Essa situação, bastante comum aos clubes brasileiros, foi novamente discutida antes do duelo entre Grêmio e Santos, na noite desta quarta-feira, no Olímpico. No fim das contas, Borges só jogou porque sua negociação com os santistas foi em definitivo, ainda que os gremistas tenham se comprometido a contribuir no pagamento de seus salários até o fim de 2011.

São sete prestações de R$ 50 mil para ajudar a bancar o artilheiro da Série A na Vila Belmiro. Grande negócio para o Santos e nem tão ruim para o Grêmio porque Marquinhos, envolvido na troca, é um dos destaques na grande campanha de reabilitação no returno do Brasileiro. O meia, que já é atleta gremista em definitivo, contribuiu para o êxito gremista com assistência para o único gol, marcado por Brandão.

Mas imaginemos que Marquinhos ainda fosse do Santos, estivesse só emprestado ao Grêmio e participasse de forma decisiva na partida. Que sentido teria os santistas pagarem o salário de um jogador que decidisse uma derrota deles próprios? Friamente, um clube só empresta jogador e contribui nas despesas para que ele possa roubar pontos dos concorrentes. Não faz sentido ser diferente.

Um caso muito curioso é do Corinthians, que tem vários jogadores emprestados em outros times da primeira divisão. Gols de Lulinha já fizeram o Bahia roubar pontos de Flamengo e Avaí, e gols de Souza tiveram o mesmo efeito para os baianos contra Atlético-MG, Flamengo e Fluminense. Bill, cedido ao Coritiba, já ajudou seu time a pontuar contra Fluminense, América-MG, Atlético-MG, Botafogo e Cruzeiro.

Os pontos perdidos sobretudo por Botafogo, Fluminense e Flamengo ajudam na campanha corintiana do Brasileiro e justificam o dinheiro gasto nos três jogadores. Só não faria sentido que eles jogassem contra o próprio Corinthians. Afinal, empréstimo não é presente.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A grande bola da vez no mercado para 2012


Dribles e mais dribles, velocidade e jogo objetivo e vertical. Osvaldo, atacante de 24 anos do Ceará, é uma das grandes novidades do Campeonato Brasileiro e responsável direto pela boa campanha de primeiro turno de seu time. Hoje, o Vozão patina e já não consegue se impor tanto quanto no início, mas a expectativa é de que esteja na Série A de 2012 pelo terceiro ano consecutivo. Nesta temporada, esse mérito pertence muito a Osvaldo.

Só no Brasileiro, o atacante participou com três gols e cinco assistências, a última delas no domingo em empate importante conquistado pelo Ceará diante do Atlético-MG, mas é de seus pés que surgem as jogadas diferentes, acima de tudo. É do tipo ideal para jogar pelas beiradas do campo com recomposição e chegada à frente.

O que mais chama a atenção em Osvaldo, jovem, é sua situação contratual: por descuido da equipe cearense, que conseguiu ampliar o vínculo de quase todos seus outros titulares durante 2011, ele fica livre para assinar com qualquer outra equipe para o próximo ano. Sem custos. A promessa é de que muitos entrem na briga, inclusive Corinthians e Palmeiras.

Osvaldo, curiosamente, é revelação da ótima fase do Fortaleza, hoje em um patamar abaixo e quase rebaixado na Série C. O atacante passou ainda por Al Ahli e pelo Braga, de Portugal. Reserva durante boa parte do Campeonato Cearense, ganhou a posição de Iarley no início do Campeonato Brasileiro e não saiu mais do time. Sua afirmação se deve muito ao treinador Vagner Mancini, que costuma deixar ótimo legado nesse sentido pelas equipes pelas quais passa, casos de Vitória e Santos, por exemplo.

Com pinta de jogador que vai vingar, Osvaldo só precisa se livrar da sombra de Misael, que surgiu em circunstâncias semelhantes pelo mesmo Ceará, em 2010, e fracassou ao se transferir para o Vasco no início desse ano. Não parece ser o caso de Osvaldo: sua personalidade e talento para fugir da marcação são características que chamam e muito a atenção. É a grande bola da vez no mercado de jogadores a custo zero.

Obs.: Confira esse trabalho nosso no Portal Terra com 44 jogadores e seis técnicos em reta final de contrato

Casemiro em xeque


“Ele joga muito. Mas tem que deixar de ser tão vagabundo e começar a marcar”. A frase sobre Casemiro tem um adjetivo forte e foi dita a este colunista por um ex-diretor influente do São Paulo em conversa informal no início de 2011. O que parecia ser um exagero naquele momento, aos poucos, tem se confirmado. A paciência dos tricolores tem sido cada vez mais curta com o volante, que teve contrato renovado recentemente e goza de prestígio de ser um dos principais jogadores da equipe.

Talentoso, de fato, Casemiro é. Tem uma qualidade técnica acima do comum para a posição, um corpo privilegiado que lhe dá condição de proteger a bola dos marcadores e uma arrancada interessante no último terço do campo. Tem faltado para ele, sim, é o mais fundamental para um volante: a marcação. A baixa média de desarmes por partida, de 3,5, fica muito distante dos principais volantes do país. Curioso que o São Paulo, mesmo atuando com três marcadores, tenha apenas o sexto melhor índice de roubadas de bola da Série A.

Detalhes na formação de Casemiro ajudam a explicar sua dificuldade em desarmar – muito mais por falta de empenho e posicionamento correto que por capacidade, aliás. Nos últimos tempos de base no São Paulo, ele era o volante mais defensivo de um time que tinha, à frente, os pegadores Zé Vítor e Jefferson, além de Lucas no papel de armador e Ronieli como atacante solidário na recomposição. Tudo isso somado a uma linha defensiva sólida faziam dele uma figura pouco importante na marcação e fundamental para fazer progredir em campo.

No Sul-Americano Sub-20, Casemiro ganhou ainda mais liberdade de Ney Franco, sobretudo pelo senso de cobertura apurado e a enorme doação de Fernando, seu companheiro no meio com sistema 4-2-3-1 de Lucas, Oscar e Neymar na armação. Para o Mundial, contra equipes mais bem dotadas tecnicamente, Ney se cansou de recuar Casemiro para a linha dos zagueiros e recheou o meio-campo com jogadores mais dinâmicos, caso de Alan. Ali, também pesou a dificuldade de Danilo e Gabriel Silva em marcar.

Recentemente, causou surpresa geral o fato de que Mano Menezes, nos jogos contra a Argentina pela Copa Roca, tenha optado por jogadores menos talentosos, caso de Paulinho na partida de ida e de Rômulo em Belém. Pelo sistema de jogo da equipe brasileira, entretanto, a decisão de Mano tem lógica, já que a marcação à frente da área é fundamental. Se quiser ter futuro na seleção, é bom Casemiro acordar para a realidade.

O que mais preocupa no fiel escudeiro de Lucas, ainda um jogador em formação, é sua aparente pouca preocupação em evoluir. As decisões táticas de Adílson dão mais liberdade que responsabilidades a Casemiro, cuja chegada à frente tem sempre impacto na defesa do rival – mas cuja indisciplina em campo sobrecarrega Wellington ou Denílson.

Essa postura dentro de campo já faz Casemiro, que brigou por meses para receber um aumento que parecia justo, começar a ganhar fama de mascarado. Mais um detalhe que ele terá de resolver para confirmar as expectativas de se tornar um volante de primeira linha internacional.

* Publicado no Olheiros

domingo, 2 de outubro de 2011

Posição: atacante. Principal função: marcar


Curiosa a estratégia de Tite para enfrentar o Vasco em São Januário em jogo crucial para as pretensões dos dois times no Campeonato Brasileiro, mas sobretudo para um Corinthians que poderia ficar a cinco pontos do líder em caso de derrota. Sem um centroavante de ofício disponível, o treinador utilizou seus dois atacantes com condições de jogo (Willian e Jorge Henrique) pelo lado do campo e transformou Alex no homem mais avançado do desenho tático. Não era fundamental ter um homem na área, mas sim marcação firme pelas extremidades para proteger a zaga.

O plano do treinador, de sucesso na somatória dos 90 minutos, tinha um objetivo claro e está perfeitamente alinhado à tendência atual do futebol brasileiro: bloquear os laterais do adversário, origem de boa parte das jogadas de nove entre cada 10 times do país (comprovado matematicamente), e dificultar uma saída de bola limpa. O raciocínio é de que para jogar é preciso roubar a bola e impedir o rival de progredir com tranquilidade. Melhor é ter Willian, que marca tão bem quanto Jorge Henrique e ataca de forma vertical e com qualidade.

No Brasileiro, com a aplicação repetitiva dessa receita de jogo, o Corinthians é líder no ranking de desarmes, com 34,3 em média por jogo, e possui a segunda melhor defesa da competição - à frente, só o Palmeiras, que rouba bolas com competência mas não consegue construir. Em São Januário, a semana de treinamento do treinador corintiana teve reflexo e o time novamente marcou demais. Mesmo sem centroavante, a equipe de Tite conseguiu criar com posse de bola e encaixotou o Vasco (também em 4-2-3-1) na maior parte do tempo, salvo o contragolpe que virou gol de Fagner.

O raciocínio de que desarmar é fundamental é o que explica tantas equipes que atuam no mesmo sistema de jogo, mas nenhuma aplica a receita tão bem quanto o Corinthians de Tite. Há outras fórmulas para vencer: o toque de bola qualificadíssimo do Vasco, o jogo vertical e envolvente do Botafogo ou o São Paulo que é explosivo no último terço do campo. Hoje, a pinta é de que corintianos e vascaínos têm mais time para disputar o título nos jogos finais.

sábado, 1 de outubro de 2011

Dedé, Cortês, Volta Redonda e Nova Iguaçu: a vitória do futebol do Rio


Dedé, na Argentina, e Bruno Cortês, em Belém, estiveram entre os melhores em campo da Copa Roca. Mais do que um par de afirmações para a seleção, o sucesso dos dois jogadores, também os melhores em suas posições no Campeonato Brasileiro, diz muito para o futebol do Rio de Janeiro. Não só pelo fato de serem jogadores de Vasco, também de Rômulo e Diego Souza, e Botafogo, que ainda teve Jefferson na equipe titular e Elkeson entre os reservas. Mas também porque a trajetória de ambos se dá toda no Campeonato Carioca.

Cria da base do Volta Redonda, Dedé subiu aos profissionais com 17 anos. Em 2005, era reserva no bom time do Voltaço que foi vice-campeão carioca. Passou rapidamente pelo Fluminense, fracassou em testes na Udinese e, de volta, foi um dos melhores zagueiros do Estadual de 2009, dali para o Vasco. Cortês pintou no Nova Iguaçu, um dos times do Rio com melhor estrutura para a formação de jogadores, e se afirma com incrível personalidade no Botafogo de Caio Júnior.

Faz tempo que não se via surgir bons jogadores assim nos times menores do Rio. Com Romário, no Olaria da década de 80, e com Ronaldo, pelo São Cristóvão nos anos 90, o futebol carioca se mostrava ainda capaz de prospectar e encontrar os atletas com mais potencial. Fluminenses e revelações recentes do futebol brasileiro como os volantes Ramires, Jucilei e Rafael Carioca, entretanto, surgiram em clubes de outros estados, o que dá a percepção de que o Rio de Janeiro, com quatro times grandes, não encontrou aqueles potenciais.

Cortês e Dedé são casos diferentes e com toda a história percorrida dentro do estado do Rio de Janeiro. Equipes como Tigres, Nova Iguaçu, Volta Redonda e Resende trabalham a formação de atletas em ótimo nível. Deste último, por exemplo, saíram no último Campeonato Carioca os irmãos Guilherme e Gabriel Appelt, que flertou com Flamengo e Corinthians. Ambos acabaram negociados diretamente com a Juventus, de Turim. Têm 17 e 18 anos respectivamente.

Hoje, é possível dizer que os quatro clubes grandes do Rio de Janeiro, inclusive o Botafogo, realizam ótimos trabalhos de formação de atletas, o que vai reduzir a chance de se repetirem casos como os de Ramires e Jucilei. Mas nenhuma vitória é maior que a de Dedé e Cortês, duas realidades e estrelas crescentes do futebol brasileiro em 2011.