terça-feira, 4 de outubro de 2011

Casemiro em xeque


“Ele joga muito. Mas tem que deixar de ser tão vagabundo e começar a marcar”. A frase sobre Casemiro tem um adjetivo forte e foi dita a este colunista por um ex-diretor influente do São Paulo em conversa informal no início de 2011. O que parecia ser um exagero naquele momento, aos poucos, tem se confirmado. A paciência dos tricolores tem sido cada vez mais curta com o volante, que teve contrato renovado recentemente e goza de prestígio de ser um dos principais jogadores da equipe.

Talentoso, de fato, Casemiro é. Tem uma qualidade técnica acima do comum para a posição, um corpo privilegiado que lhe dá condição de proteger a bola dos marcadores e uma arrancada interessante no último terço do campo. Tem faltado para ele, sim, é o mais fundamental para um volante: a marcação. A baixa média de desarmes por partida, de 3,5, fica muito distante dos principais volantes do país. Curioso que o São Paulo, mesmo atuando com três marcadores, tenha apenas o sexto melhor índice de roubadas de bola da Série A.

Detalhes na formação de Casemiro ajudam a explicar sua dificuldade em desarmar – muito mais por falta de empenho e posicionamento correto que por capacidade, aliás. Nos últimos tempos de base no São Paulo, ele era o volante mais defensivo de um time que tinha, à frente, os pegadores Zé Vítor e Jefferson, além de Lucas no papel de armador e Ronieli como atacante solidário na recomposição. Tudo isso somado a uma linha defensiva sólida faziam dele uma figura pouco importante na marcação e fundamental para fazer progredir em campo.

No Sul-Americano Sub-20, Casemiro ganhou ainda mais liberdade de Ney Franco, sobretudo pelo senso de cobertura apurado e a enorme doação de Fernando, seu companheiro no meio com sistema 4-2-3-1 de Lucas, Oscar e Neymar na armação. Para o Mundial, contra equipes mais bem dotadas tecnicamente, Ney se cansou de recuar Casemiro para a linha dos zagueiros e recheou o meio-campo com jogadores mais dinâmicos, caso de Alan. Ali, também pesou a dificuldade de Danilo e Gabriel Silva em marcar.

Recentemente, causou surpresa geral o fato de que Mano Menezes, nos jogos contra a Argentina pela Copa Roca, tenha optado por jogadores menos talentosos, caso de Paulinho na partida de ida e de Rômulo em Belém. Pelo sistema de jogo da equipe brasileira, entretanto, a decisão de Mano tem lógica, já que a marcação à frente da área é fundamental. Se quiser ter futuro na seleção, é bom Casemiro acordar para a realidade.

O que mais preocupa no fiel escudeiro de Lucas, ainda um jogador em formação, é sua aparente pouca preocupação em evoluir. As decisões táticas de Adílson dão mais liberdade que responsabilidades a Casemiro, cuja chegada à frente tem sempre impacto na defesa do rival – mas cuja indisciplina em campo sobrecarrega Wellington ou Denílson.

Essa postura dentro de campo já faz Casemiro, que brigou por meses para receber um aumento que parecia justo, começar a ganhar fama de mascarado. Mais um detalhe que ele terá de resolver para confirmar as expectativas de se tornar um volante de primeira linha internacional.

* Publicado no Olheiros

Um comentário:

Ze disse...

Pra mim, o Casemiro tem o potencial para ser um volante worldclass, a la Busquets, se ele quiser.

Mas em termos de maturidade quanto a posição, disciplina tática, workrate e posicionamento ele ainda está aquém de outros jovens volantes como o Fernando, Welligton, Rômulo, Allan e mesmo o Rodrigo Caio com sua pouca idade.

O agravante é que não tem quem o corrija. A diretoria do SPFC deveria se atentar que, para zelar dos seus talentos, precisa de mais do que um técnico que simplesmente coloque os meninos para jogar, mas que também contribua para a evolução deles, coisa que não acontece com o Adilson, que é conivente com a displicência do Casemiro e escala mal o Lucas.

Um treinador como o Tite, que exige maior aplicação tática e marcação por todos os jogadores seria o ideal para aprimorar os jovens são paulinos.