sábado, 25 de dezembro de 2010

Leonardo, Rafa e um cenário de traições


A temporada em questão é 2003/04 e a Internazionale está em momento conturbado. Héctor Cúper, de ótimo trabalho no Valencia, está de partida e os nerazzurri recorrem a um ex-treinador do Milan. É Alberto Zaccheroni, campeão italiano com os rossoneri em 1999, que chega a Appiano Gentile para um trabalho tampão e de nenhum sucesso. Impossível não comparar o momento anterior ao atual, em que a Inter novamente aposta em um milanista para tentar sua temporada. Desde Cúper, aliás, Massimo Moratti não sacava um treinador durante o Campeonato Italiano.

Leonardo é o quinto técnico a trabalhar nos dois maiores rivais do futebol italiano. Antes dele, fizeram o caminho Ilario Castagner (1946-49 no Milan e 58 na Inter), Giuseppe Bigogno (1982 no Milan e 84 na Inter), Giovanni Trapattoni (1976 no Milan e 1986-91 na Inter) e o próprio Alberto Zaccheroni (1998-2001 no Milan e 2003-04 na Inter). Curioso perceber que todos os cinco vestiram rossonero antes de defender os nerazzurri.

O começo da história de Leonardo é mais parecido com o de Trapattoni, que foi jogador do Milan por 12 anos e começou no mesmo clube a carreira de treinador. Venceu duas Ligas dos Campeões e dois Italianos como milanista e, depois de fazer sucesso na Juventus, ganhou a Serie A e uma Copa da Uefa como interista.

A tradição interista de olhar para o quintal do inimigo é o que leva Leonardo para Appiano Gentile. O contrato de 18 meses com a atual campeã europeia é uma vitória pessoal para o treinador, que mostrou personalidade ao discordar de interferências superiores enquanto comandante do Milan. No seu trabalho inicial, Léo teve boas ideias, cometeu erros em momentos importantes, mas deixou uma impressão promissora. Perdeu dois clássicos para a Inter e caiu de forma humilhante contra o Manchester United na Liga dos Campeões, mas se sabia das muitas fragilidades do elenco rossonero.

Se Leonardo poderá dar uma grande banana para Berlusconi, Rafa Benítez sai bastante chamuscado da Inter. Venceu só metade dos jogos que disputou, teve atrito com jogadores, direção e viu seu elenco acumular um total de impressionantes 48 lesões em só seis meses de trabalho. O ultimato à direção em Abu Dhabi foi a maneira encontrada por ele para tentar melhorar sua reputação pública e ter mais respaldo para 2011. O espanhol não podia ser mais infeliz. Deve levar 3 milhões de euros pela rescisão, muito pouco para o vexame que passou.

Para o torcedor interista, o futuro também não se desenha animador. Sétimo lugar no Italiano, o clube não tem a menor pinta de que poderá conquistar um título expressivo em 2010/2011. O elenco da Tríplice Coroa está envelhecido e aparentemente sem condições de arremeter após a crise em que se enfiou. O pior é que Leonardo tem 18 meses de contrato e não parece pronto para um trabalho de campeão. A Inter precisará esperar mais para ter uma temporada como a última.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os árbitros de hoje não são piores que os de ontem


O combate ao saudosismo exagerado - o que pessoas, por interesses próprios ou convicções radicais, podem chamar de valorização da história - é uma das bandeiras deste humilde blog. Curiosamente, até os árbitros de hoje em dia são atingidos por esse tipo de sentimento, o que jamais pode ser mensurado de uma forma objetiva. Nesse momento, a Espanha discute o desempenho do juiz Clos Gómez, de participação desastrosa no duelo de Real Madrid x Sevilla no domingo. No último Campeonato Brasileiro, o desempenho de nossos apitadores também gerou comentários.

Utilizar o argumento simplista que as arbitragem estão cada vez piores é enxergar a realidade justamente ao contrário. Inicialmente, o que pode se dizer de forma bastante objetiva é que as análises sobre o trabalho dos juízes é que são feitas com muito mais rigor. A tecnologia à disposição é esmagadora e em 99,99% dos casos esgota qualquer tipo de discussão com argumentos inteiramente convincentes. Não há, salvo exceção absurda, um impedimento sobre o qual recaiam dúvidas. Nos últimos tempos, até fotografias foram utilizadas para apontar os erros de árbitros.

A contrapartida oferecida aos homens do apito é simplesmente ridícula. Árbitros vivem sem a certeza do trabalho, dependentes do sorteio nem sempre justo - e honesto -, sem qualquer tipo de apoio, registro, espaço físico para a preparação cotidiana e com uma rotina profissional paralela ao futebol. Se cobram mais critérios, mas será que existe alguma orientação ou iniciativa para isso? Nossa cultura é estimular, justamente, que se ludibrie a arbitragem. Se diz que ganhar roubado é mais gostoso.

Rodrigo Cintra, que apita em São Paulo, trabalha com gestão esportiva na Bahia. No próximo Paulistão, precisará atravessar o país para fazer seus jogos. Quem trabalha assim? A falta do profissionalismo à arbitragem gera até momentos absurdos: tente esquecer o polêmico pênalti marcado por Sandro Meira Ricci em Corinthians e Cruzeiro. O fato é que Ricci era o melhor árbitro da Série A e ficou de fora da penúltima rodada por um compromisso profissional alheio ao futebol. Já pensou se Conca não pudesse enfrentar o Palmeiras, na mesma jornada, por que é um professor e tinha seus compromissos? Enxergando de uma forma radical, foi o que aconteceu.

A aposentadoria de Leonardo Gaciba é um claro exemplo da evolução sensível do futebol brasileiro na escolha da arbitragem. Gaciba era tecnicamente acima da média e tinha uma postura exemplar, mas sempre teve problemas com sua parte física - há quem garanta que o gaúcho é fumante incondicional. De tantas reprovações, ele precisou parar de apitar. Não se admitem mais, na maioria grande dos casos, juízes que não cheguem em cima do lance. Não funcionava assim no passado.

O que ainda não há dentro do esporte é a cultura de se estimular o crescimento da profissão árbitro de futebol. Não se trata com disposição, até hoje, a entrada da tecnologia em campo. Só se cobra que o juiz acerte e pronto. Por isso, todos são favoráveis às mudanças. Também não se oferecem condições de trabalho, carteira assinada e escala fixa, mas se cobra assiduidade, bom preparo físico e dedicação.

Carlos Eugênio Simon, Evandro Rogério Roman, Wilton Pereira Sampaio ou qualquer um de todos os outros árbitros que estiveram no Brasileirão podem errar. Por que um deles erra mais que o outro? Ou erra tudo em um dia e acerta na outro? Pelo mesmo motivo que Rogério Ceni está sujeito a tomar um frango, Dorival Júnior pode errar uma substituição ou Ronaldo pode perder cinco gols na mesma partida.

Todos são humanos, mas no universo do futebol só há um sujeito que não é profissional. E é tão ou mais cobrado que os outros participantes. Enquanto tudo isso acontece, há quem consiga afirmar: "é incrível como os árbitros estão cada vez piores". Não é verdade.


- No El País, os 13 erros de Clos Gómez em Sevilla x Madrid. Clique aqui.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O amadorismo nos departamentos de futebol


Ao mesmo tempo em que vão atrás de reforços, vários clubes brasileiros travam outra luta no mercado: aliviar suas folhas salariais, justamente, para poder gastar mais. Corinthians, Palmeiras, Flamengo e Grêmio são os casos mais nítidos. Ao ver seu clube ser eliminado pelo Goiás na Copa Sul-Americana, o palestrino Wlademir Pescarmona, diretor de futebol, disse que o orçamento alviverde era de time europeu, mas o elenco era de Série B.

Assim, o Palmeiras luta para se livrar de jogadores caros como Pierre, Vítor, Lincoln e Ewerthon, especialmente. O Corinthians, por sua vez, já emprestou três ao Bahia: Dodô, Boquita e Souza, que tem Edu ao seu lado entre os quatro salários mais altos do clube em 2010. Este é outro que não poderá ficar em 2011, inclusive. Ao longo do ano, eram mais de 15 jogadores emprestados a clubes das três primeiras divisões - em muitos, os vencimentos eram completados pelo dinheiro corintiano.

Pelo Flamengo, a meta é liberar a folha salarial para Vanderlei Luxemburgo fazer sua sonhada reformulação - Angelim, Juan e possivelmente Diogo não ficam. No Grêmio, o desespero se dá principalmente com os ex-são-paulinos Borges, Leandro e Souza, todos ganhando em torno de R$ 200 mil mensais. Hugo fazia parte deste grupo, mas foi negociado durante o inverno. A nova direção gremista já procurou os atletas para propor redução salarial, mas o falastrão Souza negou com veemência - e muita razão. Papel assinado é papel assinado.

O que acontece nesse momento com os quatro clubes supracitados, e possivelmente outros, se dá pela contínua falta de profissionalismo nos departamentos de futebol. Não por acaso, todos tiveram reformulações durante o ano, entra e sai de diretores e ausência de um executivo com formação para desempenhar o cargo. Assim, as contratações são feitas sem planejamento adequado, os contratos são mal formulados e a pressão externa faz com que loucuras aconteçam.

Foi dessa forma que o Palmeiras trouxe Lincoln e principalmente o Flamengo, sob o comando de Zico, pagou milhões para ter Deivid e Diogo - bons jogadores, mas que não podem em nenhuma circunstância ganhar mais que Adriano e Vagner Love juntos. No Brasil, os dirigentes que cobram profissionalismo ainda são amadores. Uma economia que vira prejuízo no fim do ano.

Os departamentos de futebol em 2010:

No Palmeiras - Gilberto Cipullo saiu no fim de setembro, assumiu Wlademir Pescarmona

No Flamengo - Marcos Brás, Zico e Luís Augusto Veloso passaram pelo comando

No Grêmio - Luiz O. Meira ficou até agosto. Assumiu Alberto Guerra, que saiu recentemente

No Corinthians - Mário Gobbi acumulava cargos no depto desde abril de 2009. Se demitiu

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Choque de ordem no vestiário do Santos

Aí está uma expressão da moda: choque de ordem. É o processo que se encaminha para 2011 no Santos, que terá novo treinador, jogadores mais experientes e um cenário que se anuncia favorável para o amadurecimento que se espera de Neymar. O camisa 11 indiscutivelmente sempre foi o mais prejudicado - e é claro que tem sua parcela de culpa - pelos excessos correntes no elenco santista.

Nos bastidores, Adílson Batista sempre trabalhou com rigidez a questão disciplinar nos clubes onde passou. Em conversas informais no seu tempo de Corinthians, o treinador deixava clara a pessoas próximas que discordava com veemência das atitudes de Neymar. Adílson inclusive chegou a utilizar expressões do tipo "comigo seria diferente" e por aí vai. Obsessivamente avesso a polêmicas, porém, jamais seria capaz de se manifestar publicamente, por exemplo, como fez Renê Simões dentro da Vila Belmiro.

É notório que a movimentação do Santos por reforços experientes, o que naturalmente se dá pelas exigências de Copa Libertadores, também tira o peso da ala jovem que tomou para si a voz de comando no vestiário. Jogadores como Léo, Marquinhos (que pode ser negociado) e principalmente o capitão Edu Dracena terão mais espaço e respaldo diante da turma de Neymar.

O camisa 11, inclusive, já perdeu força com a saída de André, no meio do ano, e Madson, agora emprestado ao Atlético-PR. O interesse nítido é por negociar Zé Eduardo e até o goleiro Felipe, famoso pelas afirmações descabidas na webcam, vem sendo ventilado no exterior. Esse processo certamente irá consumir ainda Zezinho, totalmente sem espaço dentro do Santos. Só mesmo a força de seu agente, Gustavo Arribas, poderá lhe dar sobrevida. Marcel, sem clima, foi liberado e saiu sem alarde apesar de ser útil em alguns momentos.


Os bons reforços que vão ao Santos também endossam essa choque de ordem. Elano é respeitadíssimo, do porteiro ao presidente, e irá se tornar uma liderança do vestiário ao natural. Charles é homem de confiança do treinador, o que geralmente confere prestígio - ou ao menos respeito - dentro de um elenco. A reaproximação com Ganso, que voltará ao convívio do grupo, é outro ponto favorável para que Neymar mantenha seu bom comportamento.

Esse cenário atual é absolutamente diferente do momento da queda de Dorival Júnior, que já antes da Copa do Mundo tinha dificuldades em manter a disciplina de Neymar, Zé Eduardo, Madson e companhia. Me lembro bem da fisionomia e das palavras do ex-treinador ao ter sua saída confirmada: "tirei um caminhão das costas", chegou a falar. Foi assim que surgiu o desgaste que foi consumindo a permanência do técnico que obtinha resultados fabulosos dentro de campo.

A presença de um interino ao longo dos últimos meses do ano foi como empurrar o problema com a barriga. Com Adilson Batista, a tendência é que as coisas caminhem de forma mais tranquila em 2011. O vestiário já não é terra de um homem só.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A internacionalização do Mundial de Clubes, Roth e seu bigode


Além de trágica, uma derrota como a inacreditável do Internacional é perigosa. Pode fazer um clube que caminha em bom prumo tomar atitudes exageradas. Mas o que aconteceu com os colorados diante do Mazembe é mesmo daquelas coisas que não podem passar - e não passam - despercebidas no futebol.

Por mais que não se falasse publicamente na possibilidade de um tropeço diante do Mazembe, isso deveria ter sido tratado com muito mais cuidado. Em 2005, o Al-Ittihad havia vendido sua derrota de 3 a 2 ao São Paulo por um preço nem um pouco módico. Os egípcios do Al-Ahli, no ano seguinte, também seguraram um empate com o próprio Inter até os 72 minutos de jogo. Em 2007, o Milan precisou suar sangue contra o Urawa Red Diamonds, então com Washington em seu ataque. A zebra que acomete os colorados vinha em processo de amadurecimento.

O que se viu no Mohammed Bin Zayed Stadium, em Abu Dhabi, é o amadurecimento do que a própria Copa do Mundo mostrara: as escolas estão cada vez mais próximas e a preparação física, a disciplina tática e a globalização do futebol fazem com que partidas de alto nível muitas vezes estejam sujeitas às dificuldades que o Internacional enfrentou contra o Mazembe. O time africano foi um marcador implacável e teve a ousadia para sempre manter uma pitada de intranquilidade no gol defendido por Renan. Desde o início do jogo, diga-se.

A grande questão na vitória do Mazembe é o caráter de internacionalização, com o perdão do trocadilho com os colorados, que ganha o Mundial da Fifa. O triunfo do bicampeão continental, que já eliminara o Pachuca, é um sopro de vida do futebol de clubes da África, 20 anos depois do que Camarões havia iniciado entre seleções na Copa do Mundo da Itália. As dancinhas inconfundíveis, a alegria de jogar e a ousadia de ameaçar um gigante quando no ataque: o Todo Poderoso Mazembe não tem tanto de diferente para os Leões Indomáveis, salvo a evolução natural do esporte em duas décadas.

É consenso, apesar disso tudo, que a derrota colorada é um grande vexame. E é difícil não lembrar de Celso Roth e seu bigode, reverenciados no último post. Roth provou que ainda está um degrau abaixo dos grandes treinadores e, nesse momento, sua continuidade seria um erro. Não por falta de capacidades ou por ser o único responsável pela queda em Adu Dhabi, mas porque já começaria 2011 com a corda apertada ao pescoço. A pressão ao seu trabalho seria brutal e dificilmente reversível.

A boa notícia para o torcedor do Inter é que todas as últimas trocas de treinadores foram feitas com calma e trouxeram resultados. Em 2008, Tite assumiu o posto de Abel Braga e foi atrás da Copa Sul-Americana. No ano seguinte, Mário Sérgio chegou em momento complicado e conseguiu o vice do Brasileiro. Desta vez, foi Roth quem pegou o trabalho de Jorge Fossati e venceu a Libertadores. Parece ser o momento de nova alteração.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Celso Roth sem bigode

O paladar de Celso Roth quase nunca conheceu o sabor das grandes conquistas no futebol, cujos códigos são muito mais feitos por curvas que retas. Quanta ironia o treinador de tantos bons trabalhos, quase 100% das vezes acima da expectativa inicial, não ter títulos de expressão em seu currículo. Esses são já tempos passados para o durão Roth, que vai de colorado a partir desta terça-feira tentar a maior façanha para um técnico de futebol brasileiro.

Roth nem sempre teve o reconhecimento que vai conquistando. Em 97, com o Inter, foi campeão gaúcho, fez 5 a 2 no Grêmio dentro do Estádio Olímpico e chegou até as semifinais do Brasileiro. No ano seguinte, colocou o próprio Grêmio, com elenco limitadíssimo, entre os oito da Série A. Lançou Ronaldinho Gaúcho de vez no ano seguinte, voltou à semifinal na Copa João Havelange e foi ao Palmeiras para substituir Luiz Felipe Scolari. De novo sem material humano, ficou entre os quatro da Libertadores. Só sucumbiu para o Boca Juniors de Riquelme.

A essa altura, o carimbo de retranqueiro já estava colado na testa de Celso, que passou rapidamente pelo Santos e teve a sensibilidade de promover Diego e Robinho, respectivamente 16 e 17 anos, ao elenco profissional. Em 2003, foi sétimo do Brasileiro com o Atlético-MG, que só repetiria essa posição com ele, sete temporadas depois. Nesse intervalo, Roth deixou ótima impressão pelo Goiás, fez um Vasco que tinha Perdigão e Leandro Amaral sonhar com a Libertadores. Liderou a Série A por 17 rodadas com um Grêmio cheio de limitações em 2008. Perdeu para o São Paulo e ganhou mais cornetas.

Celso Roth foi resgatado pelo Internacional quando se preparava para fazer possivelmente outro trabalho elogiável sem títulos. Ele próprio derrubara Jorge Fossati do comando colorado e, durante a parada da Copa do Mundo, foi escolhido para dar novas cores ao Colorado. Instituiu o 4-2-3-1 e foi brutalmente superior a dois times copeiros como São Paulo e Chivas, tomando a América de forma inapelável com um estilo de jogo convincente, bonito e moderno.



O treinador Celso Roth mudou demais. Não foi só o bigode tipicamente gaudério que ele deixou pra trás, mas também o apreço pelo futebol defensivo. Incorporou mais tranquilidade no trato com a imprensa e até mesmo com os jogadores. A abertura a novas ideias, a habilidade para conduzir o vestiário e, esperam os colorados, para ficar com mais um título de máxima amplitude.

Só não lhe peça, como fizeram muitos torcedores do Inter, para readotar o bigode. Este é um novo Celso Roth, treinador de grandes trabalhos e também de título. De cara limpa.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O que ensinam os campeões

A medalha de campeão brasileiro está novamente no peito de Muricy Ramalho e isso merece uma reflexão. Afinal, nos últimos seis anos, ele levou quatro vezes e só não as outras duas por detalhes mínimos, já que liderou com o Palmeiras/09 por tanto tempo e só caiu com o Internacional/05 pela diferença de um nariz. Se o mesmo treinador consegue tantas vitórias, algo de especial geralmente tem. É claro que Muricy não é uma exceção.

O ponto aqui é tentar entender o que suas equipes ensinarão para o futebol. Em que espaço exatamente da história os times de Muricy Ramalho ficam encaixados? Na receita para a conquista deste Brasileiro com o Fluminense, o treinador tinha muitos ingredientes diferentes à disposição, mas novamente se utilizou dos mesmos procedimentos. Sinal de que não é um cozinheiro de grandes pratos, mas eficiente em absoluto. Muricy não ficará registrado pela forma como ganhou. Será lembrado porque ganhou.

Em outro tricolor, ele repetiu procedimentos há muito tempo conhecidos, mas aos quais ainda não se consegue superar nesta competição. Uniu em torno de si um clube onde as diferenças começam no portão de entrada, passam pelo vestiário e chegam até o gabinete do presidente. Com seu fico, Muricy reafirmou a envergadura moral que seu nome é capaz de sustentar. Forte, executou a proposta de jogo que atropela os adversários, um a um, quando o assunto é Campeonato Brasileiro em pontos corridos.

Isso ocorre principalmente se o intervalo entre as partidas é grande. Muricy consegue ter seus jogadores em ótimas condições físicas, treina à exaustão sobre as deficiências do adversário e faz variações táticas que normalmente deixam seu time confortável dentro de campo. O não dito à CBF foi um bem para o futebol brasileiro em todos os aspectos: primeiramente, trouxe mais senso de honestidade em um meio descrente. Depois, enrijeceu o Fluminense. Por fim, permitiu à seleção que tivesse um treinador mais ajustado às suas aspirações.

O perigo que chega com as conquistas de Muricy é o de que sua proposta seja a única capaz de se sobressair no futebol brasileiro. Sérgio Guedes, hoje treinador da Portuguesa, costuma dizer que sempre haverá um campeão, e que as pessoas tendem a achar ser aquela a receita do sucesso. É possível que haja 20 clubes na disputa e nenhum seja exemplo a ser seguido. Então, fundamental é absorver cada conquista com aquilo que ela ensina. José Mourinho triunfou por Internazionale, Chelsea e Porto com propostas absolutamente diferentes.


No Footecon, realizado dois dias após a conquista do Fluminense, os times mais mencionados eram a Espanha da Copa do Mundo e essencialmente o Barcelona de Guardiola, Xavi e Messi - essas são equipes que se incluem na história pela forma como conquistam seus triunfos. São os conjuntos que ensinam por que o passe é o fundamento mais importante do futebol. Desarmes, bolas aéreas, dribles, finalizações e todos os outros vêm depois. Se falou pouco além desse básico. Se esqueceu o Flu e as tantas vitórias de Muricy. Por que acontecem tanto?

As ideias discutidas no principal congresso de futebol do país, infelizmente, não saem do superficial. Resistimos a conceitos específicos, não falamos sobre tática, sobre preparação física e ainda achamos que só o craque resolve sozinho. Se justifica o comentário recente de Mano Menezes: até quando se dará risada quando alguém disser que tal time joga no sistema 4-1-4-1, por exemplo? Achamos mesmo que só existem 4-4-2, 4-3-3 e 4-5-1?

Vamos pouco além do óbvio e ainda achamos que os ex-jogadores são os mais capacitados fora de campo para transmitir o que aprenderam dentro dele. Daí a pertinência da pergunta do tetracampeão e estudioso Paulo Sérgio, a Carlos Alberto Parreira, durante uma palestra na Soccerex: será que nossos ex-atletas se prepararam para ocupar as posições importantes que normalmente desejam ocupar?

Com que conhecimento técnico, além do que fez de forma fantástica dentro de campo, Carlos Alberto Torres pode dizer que não houve nada novo na Copa do Mundo de 2010? Que o Campeonato Brasileiro atual é uma porcaria? Que Neymar nunca pode ser obrigado a marcar o lateral do outro time? Messi não faz isso em todos os jogos do Barcelona? Por que Neymar não pode fazer? Talvez por esse pensamento é que um clube europeu ainda resista a pagar mais do que 7 milhões de euros para um jogador da qualidade técnica de Elias, por exemplo.

Não se assiste tevê de alta definição nas telas de preto e branco. Não se operam mais pessoas com os instrumentos médicos da década de 70. Não se costuram mais roupas nos dias de hoje com os aparelhos do passado. Não se enviam mais reportagens com máquinas de escrever. Não se escreve atualmente com o dicionário de décadas passadas. Por que o futebol precisa ficar preso a velhos paradigmas e não ser visto como um esporte em constante mutação? Afinal, é feito por seres humanos.

Nesse sentido, ninguém está mais na história que o Barcelona de Lionel Messi, time que marcou 32 gols nos últimos 7 jogos pelo Espanhol. Será muito difícil olhar ao passado e encontrar mais do que três ou quatro equipes tão à frente de seu tempo em ideias e estratégias. É também o caso de Muricy Ramalho no Brasil: não encanta ao conquistar. Mas tem tantas conquistas que se torna um sujeito e profissional encantador. Cada campeão tem seu ensinamento.

PS.: Os 11 melhores do Brasileiro para este blog são: Fábio, Mariano, Dedé, Leandro Euzébio e Roberto Carlos; Elias e Jucilei; Montillo e Conca; Neymar e Jonas. Téc: Muricy Ramalho.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Dois dos melhores

Os últimos dias não têm sido nada fáceis, mas sempre busco um tempo que seja para não deixar esse blog. Os amigos sabem que podem me acompanhar no Olheiros e no Terra, de onde trago dois conteúdos muito especiais que publicamos nos últimos dias com um par de destaques do Campeonato Brasileiro.


Primeiro, simplesmente o melhor jogador desta edição da Série A. Dario Conca fala a fase maravilhosa de sua carreira, explica o porquê de não vingar na Argentina e dá mais detalhes da identificação com Muricy Ramalho e o Fluminense.

Confira aqui:
Da casa de Conca, Terra conta segredos do melhor jogador do Brasileiro
Conca e Montillo: de esquecidos na Argentina a astros no Brasil


Depois, uma conversa com o corintiano Julio Cesar, uma das maiores surpresas do Brasileiro. Sem dúvida, Julio esteve entre os jogadores que mais evoluíram nos últimos meses, deixando para trás o rótulo de reserva eterno para se transformar em uma das referências entre os arqueiros desta Série A.

Confira aqui:
De reserva quase eterno a destaque do ano: saiba mais de Julio Cesar