segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os árbitros de hoje não são piores que os de ontem


O combate ao saudosismo exagerado - o que pessoas, por interesses próprios ou convicções radicais, podem chamar de valorização da história - é uma das bandeiras deste humilde blog. Curiosamente, até os árbitros de hoje em dia são atingidos por esse tipo de sentimento, o que jamais pode ser mensurado de uma forma objetiva. Nesse momento, a Espanha discute o desempenho do juiz Clos Gómez, de participação desastrosa no duelo de Real Madrid x Sevilla no domingo. No último Campeonato Brasileiro, o desempenho de nossos apitadores também gerou comentários.

Utilizar o argumento simplista que as arbitragem estão cada vez piores é enxergar a realidade justamente ao contrário. Inicialmente, o que pode se dizer de forma bastante objetiva é que as análises sobre o trabalho dos juízes é que são feitas com muito mais rigor. A tecnologia à disposição é esmagadora e em 99,99% dos casos esgota qualquer tipo de discussão com argumentos inteiramente convincentes. Não há, salvo exceção absurda, um impedimento sobre o qual recaiam dúvidas. Nos últimos tempos, até fotografias foram utilizadas para apontar os erros de árbitros.

A contrapartida oferecida aos homens do apito é simplesmente ridícula. Árbitros vivem sem a certeza do trabalho, dependentes do sorteio nem sempre justo - e honesto -, sem qualquer tipo de apoio, registro, espaço físico para a preparação cotidiana e com uma rotina profissional paralela ao futebol. Se cobram mais critérios, mas será que existe alguma orientação ou iniciativa para isso? Nossa cultura é estimular, justamente, que se ludibrie a arbitragem. Se diz que ganhar roubado é mais gostoso.

Rodrigo Cintra, que apita em São Paulo, trabalha com gestão esportiva na Bahia. No próximo Paulistão, precisará atravessar o país para fazer seus jogos. Quem trabalha assim? A falta do profissionalismo à arbitragem gera até momentos absurdos: tente esquecer o polêmico pênalti marcado por Sandro Meira Ricci em Corinthians e Cruzeiro. O fato é que Ricci era o melhor árbitro da Série A e ficou de fora da penúltima rodada por um compromisso profissional alheio ao futebol. Já pensou se Conca não pudesse enfrentar o Palmeiras, na mesma jornada, por que é um professor e tinha seus compromissos? Enxergando de uma forma radical, foi o que aconteceu.

A aposentadoria de Leonardo Gaciba é um claro exemplo da evolução sensível do futebol brasileiro na escolha da arbitragem. Gaciba era tecnicamente acima da média e tinha uma postura exemplar, mas sempre teve problemas com sua parte física - há quem garanta que o gaúcho é fumante incondicional. De tantas reprovações, ele precisou parar de apitar. Não se admitem mais, na maioria grande dos casos, juízes que não cheguem em cima do lance. Não funcionava assim no passado.

O que ainda não há dentro do esporte é a cultura de se estimular o crescimento da profissão árbitro de futebol. Não se trata com disposição, até hoje, a entrada da tecnologia em campo. Só se cobra que o juiz acerte e pronto. Por isso, todos são favoráveis às mudanças. Também não se oferecem condições de trabalho, carteira assinada e escala fixa, mas se cobra assiduidade, bom preparo físico e dedicação.

Carlos Eugênio Simon, Evandro Rogério Roman, Wilton Pereira Sampaio ou qualquer um de todos os outros árbitros que estiveram no Brasileirão podem errar. Por que um deles erra mais que o outro? Ou erra tudo em um dia e acerta na outro? Pelo mesmo motivo que Rogério Ceni está sujeito a tomar um frango, Dorival Júnior pode errar uma substituição ou Ronaldo pode perder cinco gols na mesma partida.

Todos são humanos, mas no universo do futebol só há um sujeito que não é profissional. E é tão ou mais cobrado que os outros participantes. Enquanto tudo isso acontece, há quem consiga afirmar: "é incrível como os árbitros estão cada vez piores". Não é verdade.


- No El País, os 13 erros de Clos Gómez em Sevilla x Madrid. Clique aqui.

Um comentário:

Admsports disse...

Olá,
A verdade é que o futebol esta sendo arbitrado por profissionais, quer dizer, amadores cada vez com menos critérios, porem os criterios sempre acabam interferindo, o grande problema esta no reconhecimento ou fatos que poderiam ser feitos por um reconhecimento dos profissionais e nao sao feitos.

Tenha um grande final de ano, com muitas felicidades, saúde e sucesso...que o ano a se iniciar seja repleto de realizações!!

um feliz natal e um próspero anos novo!

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