De novo Muricy Ramalho é personagem desse texto como encerramos os comentários sobre a temporada 2010. Na manhã do domingo, quando os brasileiros vão acordar cedo e recordar o pentacampeonato de 2002, Santos e Barcelona entram em campo para decidir o título mundial de clubes. O mesmo Estádio Internacional de Yokohama daquela final vai mostrar um jogo aguardadíssimo entre dois times que, em comum, só têm o fato de ter gênios da bola como protagonistas.
Grandes campeões continentais na temporada, Barcelona e Santos, segundo seus treinadores, enxergam o futebol de forma muito distinta. Curiosamente, são em seus países os times mais elogiados por suas categorias de base, justamente de onde saem todos os craques da decisão: Ganso e Neymar de um lado, Messi, Xavi, Fabregas e Iniesta do outro. Na prática, os times jogam e costumam vencer sob paradigmas opostos.
Em entrevistas, Muricy tem dito que o Santos precisará agredir o Barcelona e tentar equilibrar as ações, mas sequer conseguiu ter mais posse de bola que o atual campeão japonês: 52% para o Kashiwa Reysol, 48% para o time que tem Neymar e Ganso. O Barça, sim, sabe como fazer isso. Jogou com só dois titulares do meio para a frente e, diante do modesto Al Sadd, teve a bola em 75% do tempo.
Messi ou Ibra: quem seria seu centroavante, Muricy?
Pep prefere manter a posse e faz seus jogadores mais ofensivos marcarem como volantes carrapatos, o que talvez seja o maior segredo para uma equipe revolucionária. Não é a posse de bola espantosa o diferencial do Barcelona, mas sim a sede por roubá-la e iniciar a jogada seguinte. Muricy a oferece para os adversários e aposta nos passes de Ganso, na individualidade de Neymar e na finalização de Borges. Seu time não tem volume, não controla, não domina. Vence boa parte das vezes, claro.
As discussões em torno do Barcelona, mais uma vez frequentes no Footecon 2011, raramente tocam os pontos mais marcantes. Não é só a posse de bola, mas a capacidade de desmarcação dos jogadores e, essencialmente, como se desarma com sede, organização e facilidade. A bola não fica no pé só porque o passe é qualificado, mas porque é rapidamente recuperada. Muricy, após o jogo contra o Kashiwa, admitiu os problemas em sua defesa porque “Neymar não pode marcar”. Deveria observar o comportamento de Messi sem bola.
No Campeonato Brasileiro de 2011, o campeão Corinthians e os outros quatro melhores colocados (Vasco, Fluminense, Flamengo e Inter) estão entre os sete que mais desarmam na competição. A estatística passa a mensagem de que marcar de forma competente é um princípio quase decisivo para recuperar a posse de bola, jogar, fazer gols e vencer. Líder em roubadas, o Palmeiras teve campanha medíocre porque não basta desarmar, é preciso converter.
A equipe de Tite foi referência pela capacidade em roubar a bola sem cometer faltas e por atacar com intensidade. Inúmeros gols do Corinthians no Brasileiro surgem com desarmes, como nas vitórias sobre Ceará e Atlético-MG, momentos chaves na reta final da Série A. O ponto baixo do campeão foi não controlar os nervos, aflorados pelo início de campanha bem acima da expectativa. Mais frio e consciente, poderia ter vencido sem tantos percalços.
O grande mérito do treinador corintiano, reconhecido por ele próprio, é fazer seu time jogar de maneira coletiva, com e sem a bola. É outro ponto chave do Barcelona e também da Alemanha, seleção do momento até pela estafa natural dos espanhóis. A solidariedade sem a posse, o jogo de passes e as movimentações em campo são de uma equipe que joga em conjunto desde que tinha Fritz Walter como capitão e Sepp Herberger como treinador.
Atuar coletivamente é muito mais que ter raça e entrosamento e não combina com esse Santos, também merecedor do título porque tem jogadores raros como Ganso e Neymar, trabalhadores como Rafael, Arouca, Danilo, Durval e Léo, líderes como Edu Dracena e Elano. O Mundo Deportivo deste sábado usa o título “maestros do contragolpe”. Mais que um estilo de jogo, uma escolha do treinador.
- Texto de 2010: o que ensinam os campeões
Grandes campeões continentais na temporada, Barcelona e Santos, segundo seus treinadores, enxergam o futebol de forma muito distinta. Curiosamente, são em seus países os times mais elogiados por suas categorias de base, justamente de onde saem todos os craques da decisão: Ganso e Neymar de um lado, Messi, Xavi, Fabregas e Iniesta do outro. Na prática, os times jogam e costumam vencer sob paradigmas opostos.
Em entrevistas, Muricy tem dito que o Santos precisará agredir o Barcelona e tentar equilibrar as ações, mas sequer conseguiu ter mais posse de bola que o atual campeão japonês: 52% para o Kashiwa Reysol, 48% para o time que tem Neymar e Ganso. O Barça, sim, sabe como fazer isso. Jogou com só dois titulares do meio para a frente e, diante do modesto Al Sadd, teve a bola em 75% do tempo.
Muricy diz também que Guardiola só poderia ser chamado de melhor do mundo caso tivesse sucesso no futebol brasileiro. Será que o santista faria o Barcelona jogar como o adversário? Difícil imaginar um centroavante de 1,69 m a serviço de Muricy, um lateral como Daniel Alves ou um time sem zagueiros.
Messi ou Ibra: quem seria seu centroavante, Muricy?
Pep prefere manter a posse e faz seus jogadores mais ofensivos marcarem como volantes carrapatos, o que talvez seja o maior segredo para uma equipe revolucionária. Não é a posse de bola espantosa o diferencial do Barcelona, mas sim a sede por roubá-la e iniciar a jogada seguinte. Muricy a oferece para os adversários e aposta nos passes de Ganso, na individualidade de Neymar e na finalização de Borges. Seu time não tem volume, não controla, não domina. Vence boa parte das vezes, claro.
As discussões em torno do Barcelona, mais uma vez frequentes no Footecon 2011, raramente tocam os pontos mais marcantes. Não é só a posse de bola, mas a capacidade de desmarcação dos jogadores e, essencialmente, como se desarma com sede, organização e facilidade. A bola não fica no pé só porque o passe é qualificado, mas porque é rapidamente recuperada. Muricy, após o jogo contra o Kashiwa, admitiu os problemas em sua defesa porque “Neymar não pode marcar”. Deveria observar o comportamento de Messi sem bola.
No Campeonato Brasileiro de 2011, o campeão Corinthians e os outros quatro melhores colocados (Vasco, Fluminense, Flamengo e Inter) estão entre os sete que mais desarmam na competição. A estatística passa a mensagem de que marcar de forma competente é um princípio quase decisivo para recuperar a posse de bola, jogar, fazer gols e vencer. Líder em roubadas, o Palmeiras teve campanha medíocre porque não basta desarmar, é preciso converter.
A equipe de Tite foi referência pela capacidade em roubar a bola sem cometer faltas e por atacar com intensidade. Inúmeros gols do Corinthians no Brasileiro surgem com desarmes, como nas vitórias sobre Ceará e Atlético-MG, momentos chaves na reta final da Série A. O ponto baixo do campeão foi não controlar os nervos, aflorados pelo início de campanha bem acima da expectativa. Mais frio e consciente, poderia ter vencido sem tantos percalços.
O grande mérito do treinador corintiano, reconhecido por ele próprio, é fazer seu time jogar de maneira coletiva, com e sem a bola. É outro ponto chave do Barcelona e também da Alemanha, seleção do momento até pela estafa natural dos espanhóis. A solidariedade sem a posse, o jogo de passes e as movimentações em campo são de uma equipe que joga em conjunto desde que tinha Fritz Walter como capitão e Sepp Herberger como treinador.
Atuar coletivamente é muito mais que ter raça e entrosamento e não combina com esse Santos, também merecedor do título porque tem jogadores raros como Ganso e Neymar, trabalhadores como Rafael, Arouca, Danilo, Durval e Léo, líderes como Edu Dracena e Elano. O Mundo Deportivo deste sábado usa o título “maestros do contragolpe”. Mais que um estilo de jogo, uma escolha do treinador.
- Texto de 2010: o que ensinam os campeões
2 comentários:
Mas enquanto o ibra esteve no Barça ele nao foi o centro avante titular de Guardiola?
Foi no início, mas não se enquadrou na equipe em todos os sentidos e acabou como reserva, Henrique. Valeu!
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