O brilhante texto abaixo reproduzido é de autoria de Frederico Lira. Com a propriedade de quem vive de perto a realidade do futebol pernambucano, escreve para me ajudar com um trabalho particular, mas não poderia deixar de incluir aqui. É enorme, mas é conciso. E vale a pena.
Visite aqui o blog do Futebol Pernambucano, tocado por Frederico, Hugo, Luiz Eduardo e Gabriel. Desculpem se faltou alguém.
"Pernambuco na Série A"
Entre 1971 (ano da primeira edição do campeonato brasileiro) e 2001, Pernambuco jamais havia deixado de ser representado na primeira divisão. O primeiro ano do novo milênio terminou com o rebaixamento dos dois times pernambucanos que disputavam a Série A àquela altura: Sport e Santa Cruz. Sucederam-se, então, quatro anos de sofrimento para os pernambucanos, com seus três principais clubes, outrora motivos de orgulho para o estado, na segundona.
Longos anos de sucessivas más administrações resultaram na deterioração dos patrimônios, no sucateamento das divisões de base, e imensas dívidas trabalhistas, responsáveis por tornar escassos os recursos para a gestão de futebol.
Apesar do quadro amplamente desfavorável, Náutico, Sport e Santa Cruz, sobreviveram. Amparados única e exclusivamente pela fidelidade de suas torcidas e o esforço - quase amador -de pessoas abnegadas que investiram do próprio bolso para prover o sustento dos clubes.
A impressão de quem acompanha de perto o futebol do estado, é que os clubes do Recife “pararam no tempo”. O novo modelo de gestão de futebol requer extremo profissionalismo, estrutura moderna de administração, marketing e sobretudo, auto-suficiência nos negócios. Equipara-se o clube a uma empresa, o futebol a um produto, e o torcedor ao mercado consumidor.
Tais práticas, porém, estão longe de serem atingidas, sendo praticamente ignoradas pelos mesmos dirigentes amadores que se perpetuam nos clubes há décadas. A falta de transparência na gestão profissional alcança patamares absurdos. São administrações nebulosas, não fiscalizadas e, agravando a situação, há muitos que usam os clubes como “trampolim” para aspirações políticas.
A estrutura de divisões de base foi por algum tempo esquecida e só agora, ainda timidamente, volta a receber investimentos. Pernambuco já revelou para o mundo jogadores como Ademir Menezes, Vavá, Rildo, Juninho Pernambucano e Rivaldo – de modo que soa incompreensível tamanho descaso com a “prata da casa”. Nesse início de novo milênio, pouquíssima gente saiu da terra para se destacar no cenário nacional. Cleber Santana, Jorge Henrique e Carlinhos Bala – oriundos das divisões de base de Sport, Náutico e Santa Cruz, respectivamente – foram aqueles que obtiveram algum êxito. Pouco, não?
Ainda assim, algumas peculiaridades e erros de planejamento foram decisivos para as más campanhas dos pernambucanos na Série A em 2006 e 2007.
Santa Cruz
2005 foi um ano mágico para o Santinha: Campeão estadual invicto saindo de uma fila de quase 10 anos no primeiro semestre; vice-campeão da Série B e retorno è elite do futebol nacional no segundo. Nada mais natural que o ano seguinte fosse cercado de enorme expectativa. A direção optou por dar respaldo ao elenco que conseguiu o acesso. Manteve o técnico Givanildo Oliveira e jogadores importantes como Carlinhos Bala, Rosembrick, Osmar e Adriano. Contudo, ao mesmo passo, renovou com jogadores de qualidade técnica muito discutível, criticados desde a disputa da segundona, e não repôs à altura a saída de alguns pilares da equipe: o seguro goleiro Cléber, o eficiente volante Andrade e o artilheiro Reinaldo.
Ainda assim, caminhava para um fácil bi-campeonato estadual, mesmo apresentando um futebol pouco convincente, até a saída de Givanildo, para o Atlético-PR. Para o seu lugar veio o pouco gabaritado Giba. O time perdeu o estadual, numa eletrizante disputa de pênaltis com o Sport, e a serenidade no trabalho implantado.
Daí pra frente, se sucederam inúmeros equívocos: dispensas precipitadas, constantes trocas no comando (foram 5 técnicos ao longo do brasileiro), contratações de jogadores sem a mínima condição técnica de disputar uma primeira divisão e, principalmente, atrasos de salários - os jogadores chegaram a ficar 4 meses sem ver a cor do dinheiro.
Veio o natural rebaixamento e a derrota do grupo que presidia o Santa, liderado por Romerito Jatobá, nas eleições do clube – pela primeira vez em 93 anos de história, a oposição foi vitoriosa, com o delegado de polícia aposentado Edson Nogueira, o ”Edinho”.
Sport
Saber dimensionar a si próprio e aos objetivos planejados é algo muito importante, e que jamais deve ser desprezado no futebol. Para o ano de 2007, o Sport manteve a base vitoriosa da Série B. Os principais jogadores ficaram, e os que saíram foram bem substituídos. O time ganhou o estadual com muita tranqüilidade, fruto, além do bom elenco, do trabalho bem feito de Alexandre Gallo. Talvez, isso tenha gerado uma confiança excessiva, a ponto do diretor de futebol, Homero Lacerda, dizer que a briga seria pelo título ou, no mínimo, pela vaga na Libertadores.
A torcida acreditou, e a eliminação na Copa do Brasil, para o modesto Ipatinga, na Ilha do Retiro, causou proporções devastadoras na Praça da Bandeira. O mau começo no brasileiro gerou um tremendo desconforto, que terá de ser muito bem administrado daqui pra frente.
Gallo saiu. Para o seu lugar, veio Giba – o mesmo que deixou o Santa cruz na lanterna da Série A, após 6 rodadas, no ano passado. Bastaram, outra vez, seis rodadas para que ele pedisse demissão, alegando que o grupo não estava plenamente comprometido com o Sport. Fato que aumentou as especulações de que o elenco estava dividido, com vários conflitos entre os jogadores.
Luciano Henrique e Vítor Júnior, dois dos destaques na conquista do estadual, também partiram. Agora, Geninho terá trabalho para controlar os egos e buscar as peças ideais para completar o elenco. Ao contrário dos rivais, o Sport conta com uma generosa cota do Clube dos 13 – algo em torno de 12 milhões de reais. Mas boa parte dessa cota foi adiantada para quitar débitos com o elenco do ano passado e com “investidores”, como os ex-dirigentes Luciano Bivar e Gustavo Dubeux, os quais colocaram muito dinheiro no clube para vê-lo de volta à Série A.
Náutico
Do elenco que conseguiu um histórico acesso à primeira divisão, após 12 anos de ausência, vários jogadores importantes saíram: o goleiro Eduardo, o zagueiro Leandro Euzébio, o volante Tozo e os meias Netinho e Nildo, por exemplo. Da cota de TV de aproximadamente 3,5 milhões de reais, boa parte foi logo antecipada para quitar débitos com jogadores, comissão técnica e credores.
Foi com esse cenário não muito animador que o Náutico começou o ano. O planejamento para a disputa da Série A, então, iria necessitar de minucioso cuidado e acertos substanciais na estruturação do elenco. Erros sucessivos, porém, minaram todo o planejamento do alvirrubro de Conselheiro Rosa e Silva, e as perspectivas não são das melhores.
Estima-se que tenham entrado nos cofres dos Aflitos, desde o começo do ano e descontadas as rendas dos jogos, cerca de 7 milhões reais. A extrema falta de transparência e incompetência da Diretoria faz com que os torcedores se questionem: onde foi parar esse dinheiro? Na estruturação do elenco, diversos erros foram cometidos, desde a total autonomia dada ao treinador Hélio dos Anjos – conhecido no Nordeste pela ligação a empresários do mundo futebolístico – para formação do plantel, passando pela contratação de jogadores totalmente desqualificados para defender a tradição centenária do Náutico.
Hélio foi pra Arábia Saudita, e PC Gusmão, um técnico com passagens em diversos clubes de ponta do país, e pouco sucesso obtido, foi seu substituto. Uma escolha que o tempo mostrou não ter sido das mais acertadas. Com apenas 5 pontos conquistados dentre 21 disputados, o Náutico vê-se agora na missão de remontar seu frágil elenco para a disputa do campeonato, e buscar uma difícil reação.
4 comentários:
Dassler, por que a quota do Sport é muito maior?
E o que dizer do futebol baiano? esse sim foi para o brejo.
Grande abraço
A situação dos pernambucanos é extremamente complicada e como bem citou o texto, só as apaixonadas torcidas podem tirar o time dessa situação.
O Giba conseguiu afundar duas equipes de Recife em dois anos. Nunca mostrou qualidade e não sei o que a diretoria do Sport quis com a contratação do técnico. Agora, com a chegada de Geninho creio que a situação possa se reverter.
Já o Naútico é um sério candidato ao rebaixamento. Apresentou até bons jogadores, como Acosta, Felipe e Elicarlos, no entanto, é muito pouco para um time se manter entre os 20 melhores.
Pelo que eu sei, a situação financeira pior é do Santa, que pode até não subir esse ano, mas pelo menos está fazendo um trabalho correto de valorizar jogadores da região. Na vitória de ontem por 1 a 0 frente ao Ituano, o gol da vitória foi marcado por Miro Bahia.
Ótimo dossiê. Agora, o seu blog é feito de seus trabalhos, portanto devem ser sempre postados aqui! Ainda mais com a qualidade de sempre.
Abraços!
Ótimo texto, dassler! Resumiu bem o passado recente daqui de PE. Mas o autor tem jeito de ser alvirrubro, hehehe. Primeiro pq criticou ferozmente a administração do nautico e usou um argumento no texto do Sport que só eles fazem: a crítica a Homero Lacerda, dirigente que mais incomoda os adversários, hehehe.
abraços
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