terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ele é um diamante


“Estou muito feliz pela conquista do Henrique (eleito o melhor do Mundial), mas para mim o Oscar foi a grande figura da nossa equipe”. A frase, extremamente corajosa, honesta e rara no meio do futebol, saiu da boca de Ney Franco em entrevista para a Rádio Gaúcha. Certamente, o treinador da seleção sub-20 não teve como base apenas os gols marcados contra Portugal, na decisão do Mundial.

Oscar foi soberbo em praticamente todos os momentos da competição, sobretudo o duelo contra a Espanha, em que deixou o campo por fadiga muscular. Mostrou-se competitivo ao extremo, algo raro até mesmo para ele, um talentoso meia marcado muito mais pela qualidade de seu toque na bola do que pelo envolvimento com a partida. Ao acrescentar novos ingredientes a seu jogo, o camisa 11 brasileiro se tornou imprescindível. De fato, como disse Ney, o grande nome do Mundial Sub-20.

Por trás de seu discurso, certamente, o treinador da seleção carrega um orgulho pessoal pela afirmação de Oscar. Afinal, ao longo do Sul-Americano Sub-20, bancou a titularidade do meia mesmo com atuações irregulares. Aos poucos, fez com que ele se sentisse mais à vontade na equipe, se agrupasse mais aos volantes e ganhasse status de protagonista na posse de bola. Exatamente o que ocorreu no Mundial, em que Coutinho fracassou na ideia de ser o líder do time.

O trabalho delicado e habilidoso de Ney Franco com Oscar é uma lição para os turrões, como Muricy Ramalho. Ney teve sensibilidade em perceber um jogador especial e introvertido, marca maior da personalidade do camisa 11. Se no São Paulo ele foi deixado em terceiro plano diante de jogadores como Léo Lima e Carlinhos Paraíba, na seleção sub-20 foi destacado dos demais, apontado como alguém especial.

Oscar, que sempre fugiu dos holofotes, também sempre os atraiu. Desde 2007 e sua fuga liderada por Juvenal Juvêncio. O Manchester United, atento ao que o meia havia feito no Mundialito Sub-17 da Espanha, naquela ocasião, desejava tirá-lo do Morumbi a qualquer custo. Juvenal o deixou escondido em território espanhol até que completasse 16 anos em 9 de setembro daquele ano. A história é uma das boas histórias que o envolvem e foram contadas pelo Olheiros, que em outubro de 2008 já profetizava um futuro craque.

O projeto craque demorou mais do que se esperava para se consolidar. Se hoje a ponte Cotia-Barra Funda funciona a pleno vapor, àquela época era raro um jovem da base ganhar espaço. Muricy, um admirador confesso de Oscar, não teve coragem para lançá-lo na Copa Libertadores do ano seguinte. Ricardo Gomes também deu poucas oportunidades, apesar de um lindo passe de calcanhar do meia, no Pacaembu, que terminou com gol de Richarlyson em dia de derrota para o Corinthians.

Oscar descobriu que, no futebol brasileiro, esteja no clube em que estiver, o jogador da base sempre será menos valorizado que alguém que venha de fora. Assim, após tantos meses de disputas e de ter feito brotar por si um ódio tremendo de todos os são-paulinos, desembarcou no Beira-Rio. Para que ele pudesse brilhar em 2011, o Inter até topou vender sua outra joia, Giuliano, herói da Libertadores. Tudo para que Oscar, a grande aposta de Fernando Carvalho, tivesse espaço.

Foi Falcão, sujeito tão sensível e simples quanto Ney Franco, que percebeu logo que Oscar, então fazendo trabalho de fortalecimento muscular, poderia ajudá-lo muito mais. Deu conselhos importantes de quem brilhou no futebol graças ao talento e à personalidade, nem tanto pelo físico.

Hoje já se vê Oscar aceso, vencendo bolas divididas, trombando com volantes truculentos e continuando em pé. Com a bola no pé. Assim, Oscar é tão bom quanto qualquer outro. Um diamante. Uma joia que, Mano Menezes já avisou a interlocutores, terá espaço no grupo que tenta o ouro olímpico em Londres-2012.

* Publicado no Olheiros

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