Associar a Venezuela como a pior seleção sul-americana, sempre, foi algo natural e justificável. Ao mesmo tempo, se ouvia falar que o país – e é verdade – nunca deu muita atenção para o futebol, dada a paixão maior pelo beisebol. Nos últimos anos, porém, Richard Paéz esteve à frente de um processo que, nos últimos meses, vem consolidando a Vinotinto como uma nação de médio porte no cenário das Eliminatórias.
Os venezuelanos em geral, porém, não se deram conta de que nenhum país, do dia pra noite, se torna forte, ou mesmo médio, no futebol. Richard Paéz, com mais de seis anos no banco da Vinotinto, deixou o cargo em virtude da pressão que tinha ao seu redor. Uma decisão que pode incidir e comprometer diretamente o desenvolvimento da seleção.
Se enquadrar e definir reais e possíveis pretensões, quase nunca, é algo usual no esporte bretão. Seja no Brasil, seja na Venezuela. Imaginar que - em virtude da evolução em que estão inseridos - os venezuelanos poderiam vencer qualquer adversário com facilidade, não é algo nada real. O pedido de demissão de Paéz, dias após a disputada partida contra a Bolívia (vencida por 5-3), surgiu justamente em virtude desse pensamento fora de propósito.
Com nítidos problemas defensivos, a Venezuela sofreu ao tentar parar a inspirada jornada do cruzeirense/boliviano Marcelo Moreno. Mesmo após sair perdendo por 1-0, virar para 2-1, e sofrer a virada de 3-2, a Vinotinto teve força suficiente para impor novo revés, saindo de campo com um largo 5-3 e três pontos que lhe deram, ao fim da rodada, o quinto posto nas Eliminatórias. O resultado, que poderia satisfazer qualquer das nações continentais, pareceu insuficiente para os torcedores em San Cristóbal, conhecidos como os mais fanáticos do país.
O furor trazido pela Copa América, a campanha do Caracas na última Libertadores e a vitória na abertura das Eliminatórias, somadas, provocaram um pensamento fora de propósito. Hoje, a realidade venezuelana é brigar no meio da tabela. E a Vinotinto, até aqui, fazia um trabalho bastante acima das expectativas.
Rey e Cichero são zagueiros razoáveis, embora joguem sempre desprotegidos e tenham, atrás, algum goleiro inseguro. Rojas é um volante de boa técnica e também versátil – hoje, indispensável. Arango parece carregar bem a responsabilidade de ser o dono do time, enquanto Maldonado, em alta no México, pode oferecer gols e velocidade. Guerra, em crescimento, completa a lista de valores, responsáveis pela boa fase.
Hoje, a discussão em território venezuelano, naturalmente, é sobre quem será responsável por dar seqüência ao ótimo trabalho de Richard Paéz. Um nome estrangeiro pode ser considerado, talvez amparado pelo sucesso na escolha de Marcelo Bielsa no Chile. Em virtude da pressão que certamente terá, o novo comandante poderia ser um treinador renomado, caso fosse possível atraí-lo. Segurar bem a expectativa por muitas vitórias será, em tese, mais difícil para um ‘local’.
Nessa linha, o nome de Noel ‘Chita” Sanvicente surge como o principal favorito. Responsável, com o Caracas, pela eliminação do River Plate na Libertadores-07, o treinador seria a escolha mais natural. Carlos Maldonado, do Deportivo Táchira, desponta como a segunda alternativa. A terceira opção é César Farias, do Deportivo Anzoátegui.
Escolha quem escolher, a Federação Venezuela precisará dar respaldo incondicional ao novo treinador. Por sua vez, os torcedores deverão entender o processo pelo qual atravessa o futebol do país, saindo de barbada para um time competitivo. E só. Um time que bateu Equador e Bolívia, resistiu bravamente – fora de casa – diante da Colômbia e fez um jogo digno contra a Argentina. Que tinha muitos méritos de Richard Paéz, mas agora precisa de um novo norte. E tem sua evolução ameaçada.
3 comentários:
Realmente, a evolução dos venezuelanos é notória. De saco de Pancadas do continente, o time vai galgando status de time médio na América do Sul. Mas um amigo meu do blog, o Barretos, acha que a Venezuela vai pra 2010.
Acho que ainda falta muito, como vc enfatizou. Mas a seleção está no caminho certo. Ainda mais se o novo técnico seguir a linha de Paéz.
Abraço
"Hoje não há mais bobo no futebol" esse glichê parece que permanecerá sempre atual, face a jogatina (capitalista) que se tornou o futebol. Isso é bom??? Quem sabe... O fato é que da mesma forma que vemos formiguinhas se tornarem mosquitos da dengue (não tão grande, porém bem chatos em que se necessita atenção) vemos também Leões, que intimidavam as formiguinhas fácil, ficar mais fracos. Ou seja, os fracos evoluiram e os fortes retrocederam.
Resultado: o futebol está mais disputado e menos artístico.
Um grande abraço, Dassler. Valeu pela visita no blog!!!
Olha, cara, numa comparação maldosa, mas aplicável, a Venezuela me lembra o Palmeiras dos últimos anos. Estava com um time muito ruim, daí, de repente, começa a crescer, e a torcida não tem paciência de esperar que o trabalho seja desenvolvido com a calma necessária: quer resultados imediatos.
Isso atrapalha demais qualquer treinador.
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