quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A vingança de Palaia*


Só uma pessoa era capaz de segurar Gilberto Cipullo por tanto tempo na presidência: Luiz Gonzaga Belluzzo, grato pela composição política feita por Cipullo que o ajudou a assumir o Palmeiras no início de 2009. As complicações de saúde do presidente abriram espaço para Salvador Hugo Palaia, membro famoso da política palestrina e que teve um início de gestão nada pacífico ao dissolver todo o departamento de futebol.

Na novela do Palmeiras, Palaia é o homem que ressurge para dar novos contornos à trama. O novo presidente é inimigo de Cipullo desde que foi sucedido por ele no departamento de futebol, em 2007, e ouviu acusações de que a terra estava arrasada. Hoje, Salvador Hugo Palaia rebate apontando para as dívidas que cresceram e para o desempenho esportivo ruim da equipe como argumento para fazer trocas.

Sob a gestão de Cipullo, o Palmeiras ocupa uma posição modesta no Campeonato Brasileiro, só conquistou um título, o Paulista de 2008, e tem números polêmicos na gestão financeira. As contas de agosto, por exemplo, foram reprovadas no início desta semana. A folha salarial, com atrasos, só concorre com a do Corinthians de Ronaldo e Roberto Carlos no futebol brasileiro. Foram contratados 71 jogadores em três anos.

Cipullo era contrário às contratações de Valdívia e Kléber, bastante onerosas aos cofres, mas vistas pela presidência como fundamentais para recuperar o orgulho dos palmeirenses. Foi também contra a saída de Vanderlei Luxemburgo em 2009 e à permanência de Muricy para 2010. A forma como tudo isso aconteceu diz muito sobre a perda de poder do vice de futebol.

Palaia, de uma vez só, conseguiu vingar Cipullo e se colocar em evidência. O Palmeiras tem diversos pretendentes à presidência para 2011 e o interino é um deles. No cargo provavelmente até o fim desta temporada, quer mostrar que pode, enfim, comandar o clube. No final de 2006, ele deixou o departamento de futebol visto como um sujeito atrapalhado e folclórico.

Com um estilo que lembra o do antigo Poder Moderador, usado na época do Império, Salvador Palaia contou com um aliado importante. Fábio Raiola, ex-diretor financeiro que deixou o cargo ao lado de Vanderlei Luxemburgo, se juntou ao novo presidente e terá espaço no conselho gestor indicado pelo próprio Palaia, união que ficará responsável pelo departamento de futebol até o fim de 2010.

Gilberto Cipullo, formalmente, foi convidado para compor o grupo no qual estarão vários dos que lhe queriam fora do comando do futebol. Aceitar isso é um milagre tão grande quanto o que levou Palaia ao comando do clube: o inesperado problema de saúde que afastou Belluzzo da cruzada em defesa de Cipullo.

* Publicado no Terra

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