quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Kaká: mais do que possível, imprescindível ao Real


Primeiro, as mãos chacoalhando. Depois, batidas no peito. Por fim, um soco ar. A efusiva comemoração de Kaká, depois de marcar seu primeiro gol na Liga dos Campeões após dois anos, tem justificativa. A grande atuação com o Real Madrid, terça-feira diante do Ajax, mostrou que ele pode jogar sim na equipe titular de José Mourinho. Mais que isso: precisa ser o titular.

Sacado do time para a entrada do brasileiro, Di María é um jogador tático, importante na marcação (anulou Daniel Alves em quase todos os duelos da temporada passada) e que compensa a presença de Cristiano Ronaldo, pouco exigido na recomposição defensiva. Mas se quer ter um time mais poderoso, agressivo e com pedigree para vencer qualquer um, José Mourinho tem de encontrar alternativas para encaixar Kaká no lugar do argentino.

Para ter Özil (à direita), Kaká (ao centro) e Ronaldo (à esquerda) juntos no 4-2-3-1 que termina com Benzema centroavante, Mourinho precisará fazer ajustes importantes. Os gols contra o Ajax foram construídos no contragolpe e, mesmo no Santiago Bernabéu, o Real foi superado em posse de bola: 51% a 49% para os holandeses. Inofensivo na frente e com problemas defensivos sérios, o time de Frank de Boer foi presa fácil, mas adversários de outro quilate poderiam causar mais danos ao Real com esse índice de posse.

Com Kaká, aos poucos, o Real Madrid precisará se acostumar a trabalhar mais a bola no pé dos volantes (Khedira e Xabi Alonso), incluir os laterais no trabalho ofensivo e fazer de Özil, mesmo fora da posição central, um protagonista na organização de jogo. Kaká e Cristiano Ronaldo, muito mais verticais, devem participar mais da conclusão que da construção de jogadas. E, para que a defesa não viva sob pressão, é necessário que ambos também se sacrifiquem mais na marcação, o que não ocorreu contra o Ajax e sua posse de 51%.

Nesse momento, o mais importante para o Real é ter Kaká novamente disponível para jogar em alto nível. Se o último gol pela Liga dos Campeões foi em 30 de setembro de 2009, de pênalti, o último com bola rolando foi pelo Milan, em 6 de novembro de 2007. Os números dão a dimensão da importância da partida contra o Ajax para o ex-melhor do mundo. Com seu talento, caráter de vestiário e poder de decisão, Kaká é imprescindível. Aos 29 anos, está vivo.

domingo, 25 de setembro de 2011

O monstro atropelador da grande área


Três exibições de gala em uma semana mudaram de patamar a temporada de Diego Souza e colocaram o Vasco na liderança do Campeonato Brasileiro com dois pontos de vantagem sobre o vice-líder Corinthians. Em muitos momentos do ano, Diego era o estorvo a impedir a aproximação do talismã Bernardo à condição de protagonista do time. Agora, é quem pode fazer terminar com dobradinha uma temporada que já é inesquecível para os cruzmaltinos.

Diego Souza havia sido o melhor em campo contra o Grêmio e autor de um golaço, mas pareceu mais motivado que de costume no empate contra o Atlético-GO na última quinta. Fez de cabeça para livrar a cara de uma equipe que parecia perdida em campo. Acertou a trave em outra cabeçada que tinha tudo para valer três pontos. Mas foi mesmo neste domingo que Diego mostrou que ainda pode voltar a ser aquele jogador de 2009. Três gols sobre o Cruzeiro, com direito a golaço, uma bicicleta linda e um chapéu no gol que fechou o caixão mineiro.

O que há em comum nos cinco gols que Diego Souza fez em três jogos num intervalo de oito dias? A força física aliada à técnica e ao oportunismo em todos eles, sempre na grande ou na pequena área. Com o Vasco, já são 14 gols de Diego na somatória dos quatro torneios da temporada. Apenas uma vez o gol saiu de fora da área. Assim costuma ser nos melhores momentos de sua carreira.

Quase um volante no time em que surgiu, o Fluminense campeão carioca e vice da Copa do Brasil em 2005, Diego Souza se descobriu de verdade como jogador no Grêmio de Mano Menezes, vice da Libertadores 2007. Contratado para ser o reserva de Lucas Leiva, que iria disputar o Sul-Americano Sub-20 naquele ano, ele virou jogador de ponta ao ser adiantado. Mano, que bem conhece Diego Souza, fez dele um meia-atacante na linha de armadores que tinha Tcheco e Carlos Eduardo abertos. Sempre capaz de romper à força a marcação de qualquer volante.

É ali, atuando na sombra de um centroavante, que Diego pode ser um jogador a definir os rumos do Campeonato Brasileiro. A seleção parece ser demais para ele, que terá 29 anos na Copa do Mundo de 2014 e precisa sempre estar pleno fisicamente para decidir. Mas não só o Vasco campeão nacional seria digno de um roteiro cinematográfico. Ter Diego Souza como protagonista desse eventual título seria fantástico para quem, até hoje, ainda procura ser aquele jogador de 2009 e de uma taça que escapou por entre os dedos do Palmeiras.

sábado, 24 de setembro de 2011

A bola te puniu, Muricy

Wellington Nem, o camisa 17: grande Brasileiro com o Figueirense

Na base do Fluminense, Wellington Nem sempre foi um jogador precioso. Nas seleções sub-15 e sub-17, também. Foi campeão sul-americano por ambas. Mas 2010 foi um ano difícil, de lesões e de desprezo por parte de Muricy Ramalho, que preferiu resgatar Tartá, Willians e dar chances até ao argentino Ezequiel González. Com Muricy, Wellington nunca jogou, a ponto de ser emprestado ao Figueirense para que pudesse estrear como profissional já prestes a completar 20 anos.

Este sábado, de gosto amargo para Muricy e o fim de sua sequência positiva com o Santos, teve sabor especial para Wellington Nem. Na Vila Belmiro, fez gol, sofreu pênalti que decretou a vitória do Figueirense e foi o melhor em campo. Apenas mais um capítulo em sua grande participação no primeiro Campeonato Brasileiro da vida.

No surpreendente Figueira de Jorginho, sempre no top 10, Wellington Nem é um dos nomes mais importantes. São cinco gols, uma assistência e um pênalti sofrido nas últimas nove partidas, sequência que confirma sua afirmação e faz o Fluminense já planejar o retorno dele às Laranjeiras para 2012. Sem Muricy por lá, Elivélton, Matheus Carvalho e Lucas Patinho vão sendo preparados para se juntar ao grupo profissional de uma vez.

Muricy Ramalho, que costuma dizer que a bola pune, está perto de completar seis meses à frente do Santos, período em que nenhum jogador das categorias de base se afirmou no elenco profissional, reforçado com o aval do treinador por jogadores classe B como Roger Gaúcho, Richelly, Leandro Silva e Éder Lima. Depois de Felipe Anderson superar a desconfiança do próprio treinador, a base foi obrigada a ouvir do técnico que ele tinha "defeito de fabricação".

Os títulos e os resultados positivos dão respaldo a Muricy, mas exemplos como o de Wellington Nem mostram que os clubes por onde ele passa continuam pagando um preço muito alto para vencer com o futebol de força física e bola aérea poderosa. É de se perguntar onde estariam hoje Lucas e Casemiro se não fossem Sérgio Baresi e sobretudo PC Carpegiani. Muricy, um vencedor, nada tem a ver com o DNA santista.

O mais subestimado dos grandes treinadores da Europa


Bastian Schweinsteiger era um meia-externo interessante, mas aparentemente estagnado na carreira com o Bayern de Munique. Passava longe de ser o que é hoje: um dos três - quiçá o melhor - volantes do mundo. De forma equivocada, sua incrível transição da beirada à faixa central do meio-campo costuma ser atribuída a Louis van Gaal, mas é um treinador menos badalado, e em grande fase, o responsável. Jupp Heynckes, com 66 anos e em sua terceira passagem no comando dos bávaros, tem essas e muitas outras grandes histórias a contar.

"Achava que o talento do Schweinsteiger era desperdiçado pelo lado do campo e o coloquei como volante, mas ele se descobriu na posição com sua própria qualidade. Hoje se encontra no mesmo patamar de Xavi, Iniesta e Busquets, todos de classe mundial", conta Heynckes, que passou rapidamente para apagar o incêndio aberto por Klinsmann em 2009 e preparou o terreno para Louis van Gaal, com Schweinsteiger na faixa central e exigindo protagonismo, levar o Bayern de volta à decisão da Liga dos Campeões.

Jupp também pode contar histórias de jogador, como a de terceiro maior artilheiro da história da Bundesliga, ou campeão da Eurocopa 72 e da Copa do Mundo de 74, ambas na reserva de Gerd Müller. Mas foi como treinador, bicampeão alemão em 89 e 90 pelo Bayern, que ele se afirmou internacionalmente. A começar pela Liga dos Campeões de 1998, que recolocou o Real Madrid no topo da Europa depois de 32 anos no inesquecível gol de Mijatovic contra a Juventus.

Heynckes, que também teve seus momentos de baixa na carreira, está com tudo. A passagem de dois anos não deu um sonhado título grande ao Bayer Leverkusen, mas os fez fortes novamente a ponto de retornar à Liga dos Campeões com o vice-campeonato nacional de 2010-11. Jupp conseguiu levar ao Leverkusen o então promessa Tony Kroos, e fez dele o grande nome da Bundesliga 2009/10. Vidal, Renato Augusto, Derdiyok e Kiessling se tornaram jogadores de relevo sob seu comando. "É o melhor com quem já trabalhei", contou Renato a este blogueiro em recente entrevista.

Substituir a Louis van Gaal era questão de justiça para Jupp Heynckes, que já acumula oito vitórias consecutivas no Bayern de Munique, sendo cinco pela Bundesliga. Este sábado apresenta um desafio e uma ocasião especial, que é o reencontro com o Bayer Leverkusen que tenta se ajustar com Robin Dutt, ex-Freiburg.

O treinador não conseguiu Vidal e Alex Costa para montar o time de seus sonhos, mas com Neuer, Rafinha e Boateng, já aumentou o poder de fogo do elenco vice-campeão europeu há dois anos. O jovem centroavante Nils Petersen, 22 anos e ex-Cottbus, vai se mostrando uma aposta eficaz.

Jupp Heynckes não é badalado como Jürgen Klopp ou Joachim Löw, mas não se surpreenda se ele conseguir um feito incrível em maio de 2012: vencer a Liga dos Campeões, cuja final será em Munique. Experiência, qualidade e material humano parecem não faltar. "Temos que chegar todos os anos às semifinais", exige.


Agradecimentos: Roberto Piantino

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Copa Roca: mais ou menos como bater em bêbado

Diego Souza: esquecíveis 45 minutos na altitude contra a Bolívia em 2009


Imaginar o futuro não é um exercício simples e objetivo, mas tente pensar supondo que você está em julho de 2014 na Copa do Mundo. Qual a chance de ver Borges, Diego Souza, Emerson, Renato Abreu e Cícero com a camisa da seleção brasileira em uma partida mundialista? Pois os nomes mais surpreendentes e criticáveis das duas listas de Mano Menezes para a Copa Roca dão o tom da inutilidade das partidas contra uma Argentina que, apenas com seus nomes caseiros, tem nível inferior a pelo menos um terço dos times do Campeonato Brasileiro.

Criticar Mano Menezes por levar jogadores com esse perfil para a seleção brasileira é o mais natural e até deve se fazer, mas é importante colocar a questão em um patamar mais amplo. Qual a real necessidade dos jogos contra a Argentina nessas condições? Se por um lado a cobrança sobre Mano por futebol de resultados deve existir, é difícil imaginar que seu trabalho fosse colocado em dúvida com resultados ruins. A Copa Roca é como bater em bêbado: as chances de prejuízo são bem maiores que as de ter algum lucro.

Erros de planejamento como neste caso, por sinal, são o grande defeito da gestão Mano Menezes. Da mesma forma como se perde tempo e cria o risco de desgaste com dois jogos inúteis, ele também pecou ao acreditar que poderia enfrentar, cedo demais, adversários muito mais bem preparados, caso claro da Alemanha que expôs o Brasil ao ridículo em Stuttgart. O treinador, vale recordar, não recebeu (ou abdicou de) um diretor de seleções mais experiente, desejo que havia sido exposto no início do trabalho na CBF.

É possível argumentar que todos os jogadores chamados por Mano para enfrentar a Argentina, salvo alguma exceção, vivem ótimos momentos, caso de Borges, goleador da Série A. Seleção, entretanto, não é prêmio de honra ao mérito. É necessário projetar quem pode chegar bem em 2014 ou, em casos bem específicos como o de Lúcio, podem ajudar na formação de um grupo carente de afirmação. Nem para isso serve a Copa Roca. No fundo, apenas dois jogos para cobrir a grade de televisão esvaziada neste mês de setembro.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Wellington: a revelação do Campeonato Brasileiro fugiu do Corinthians


José Geraldo de Oliveira, supervisor das divisões de base do São Paulo, lembra bem do dia em que recebeu um telefonema do pai de Wellington, hoje titular absoluto do meio-campo tricolor. Foi em 2005 e o garoto jogava no Corinthians. Com só 14 anos, ele formava na equipe sub-15 corintiana, mas estava insatisfeito com as condições de trabalho no Parque São Jorge.

"Quando ele me falou que era aquele neguinho do Corinthians, fiquei arrepiado", conta Geraldo com sorriso de orelha a orelha, feliz pela afirmação do pupilo que enfrentará os corintianos nesta quarta-feira, no Morumbi.

O pai de Wellington queria que o São Paulo aceitasse seu filho para testes. "Meu senhor, seu filho nem precisa ser testado. Pode trazer ele aqui porque está aprovado", respondeu José Geraldo. O resto é história: no ano seguinte, já ao lado de Oscar, foi campeão da duríssima etapa mundial da Copa Nike Sub-15. Foi quando pipocaram matérias a respeito dele, comparado a Mineiro por sua vitalidade na marcação e a forma como desliza bom futebol em campo com passe preciso e uma disciplina impressionante.

Depois, de forma similar, Henrique chegou do Atlético-PR para formar o tridente chave para a marcante geração /91 da base tricolor, bicampeã sub-17 em Albacete, na Espanha. "Jogador assim não precisa ser testado, você já conhece", costuma repetir Geraldo. Lucas, na temporada seguinte a Wellington, repetiria o caminho Parque São Jorge-Morumbi. Logo, dois dos cinco pratas da casa que Adílson Batista deve escalar nesta quarta-feira, saíram do Corinthians, que só terá o goleiro Júlio César.

Neste Campeonato Brasileiro, difícil encontrar revelação tão grande quanto Wellington, que atuou em 22 dos 24 jogos do São Paulo na competição. Segundo maior ladrão de bolas do time na Série A, superou uma lesão séria de joelho que sofreu em 2010, trocou a camisa da seleção sub-20 pela do tricolor e não para de crescer. Também deixou para trás os tempos em que Muricy Ramalho e Ricardo Gomes, de forma infeliz, o colocavam para atuar na lateral. Wellington é volante e dos bons. Para muitos e muitos anos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O beque-matador e o time mais faltoso da Série A


Um gol a cada cinco jogos em 2011. Essa é a média de Emerson, zagueiro do Coritiba que, ao marcar contra o Internacional no último domingo, chegou ao 10º gol em 50 partidas no ano. Nenhum defensor de equipe da Série A se aproxima dele, perigosa arma ofensiva do time de Marcelo Oliveira. Dedé, do Vasco, e Rafael Marques, do Grêmio, marcaram sete vezes e são os que mais chegam perto.

Regular defensivamente, Emerson é acima da média mesmo quando vai ao ataque. Pelo Avaí no último ano, o agora coxa-branca marcou 9 - marca já superada em nove meses dessa temporada com o Coritiba, que tem Léo Gago, Tcheco e Marcos Aurélio como seus homens da bola parada.

A impulsão de Emerson é a maior arma do Coritiba, que só não faz mais gols de bola aérea no Brasileiro que o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari e Marcos Assunção: 10 para os palmeirenses, nove para os coxa-brancas, Atlético-MG e Fluminense.

A força pelo alto é mais um exemplo do viril time do Coritiba, o mais faltoso do Campeonato Brasileiro - média de 21,3 infrações por jogo. Retrato de um time que joga duro, com linha defensiva de laterais marcadores, um tridente com Leandro Donizete-Tcheco-Léo Gago e os velozes Rafinha e Marcos Aurélio no suporte a Bill. Um 4-3-2-1.

Esqueça o time insinuante que tinha Davi no lugar de Tcheco no primeiro semestre. O Coxa desta Série A é mais rígido e depende muito das bolas altas, especialmente para Emerson. Apesar de ele cumprir seu papel, dificilmente o Coritiba vai passar da parte média da classificação em um ano já marcante em sua história recente.

domingo, 18 de setembro de 2011

O real valor de 17 rodadas na frente e o líder Vasco sempre igual


Só dois times lideraram tanto o Campeonato Brasileiro quanto o atual Corinthians e não foram campeões na fase de pontos corridos. Em 2008, o Grêmio comandou a Série A por 17 rodadas, mas foi ultrapassado pelo São Paulo, tricampeão. Ocorreu também em 2009, com o Palmeiras que ficou à frente por 19 rodadas. São períodos similares ao que os corintianos tinham na liderança, cuja perda era anunciada e se concretizou neste fim de semana com derrota para o Santos após cinco anos de invencibilidade nos clássicos do Pacaembu.

Hoje, só a matemática e o futebol das 10 primeiras rodadas podem dar esperança ao Corinthians em queda livre. A produção da equipe não é tão ruim para justificar tantos resultados ruins: nos últimos 14 jogos, são 7 derrotas e três empates. O último triunfo em domingo foi no dia 10 de julho, contra o Atlético-GO.

Há explicações para tudo isso: a concentração defensiva já não é a mesma, os gols em bolas aéreas se repetem e o lado esquerdo, com o vulnerável Ramon e Leandro Castán em fase ruim, virou o mapa da mina para os adversários. Foi por esse setor que Danilo e Alan Kardec, se aproveitando de um Neymar cirúrgico como meia-atacante, construíram o triunfo santista.

O Vasco chega à liderança do Campeonato Brasileiro pela segunda vez na história dos pontos corridos, mas com muito mais pinta de campeão que naquela 5ªrodada de 2007. No fim de semana com a grande notícia de que Ricardo Gomes voltou para casa, os vascaínos amassaram o Grêmio em São Januário com contra-ataques fulminantes liderados por Diego Souza, com Eder Luís novamente insaciável pela ponta direita e uma marcação fortíssima de Eduardo Costa, Rômulo e Fellipe Bastos, os vértices defensivos de um habitual losango que se repete desde PC Gusmão.

Impressiona nos cruzmaltinos, com Cristóvão discreto e eficiente, é a capacidade de serem fortes independente da equipe que entre em campo. Se o Corinthians se perde sem um ou outro nome importante, o Vasco é sempre competitivo. A unidade do elenco é enorme a ponto de superar a falta de um lateral esquerdo confiável, a ausência de Alecsandro ou até os desfalques de Juninho Pernambucano e Felipe.

A história recente do Campeonato Brasileiro e os números dos líderes mostram que o cenário de 2011 está totalmente em aberto. Em 2009, o Flamengo só assumiu a ponta a duas rodadas do fim, e levou a taça, que ficou para o Fluminense no ano seguinte depois de 24 jornadas em primeiro lugar. Ao Corinthians, nesse momento, ter ficado na frente por 17 vezes já não vale quase nada.

OS LÍDERES EM PONTOS CORRIDOS

2003
Quem liderou mais? Cruzeiro em 40 de 46 rodadas
Quem foi campeão? Cruzeiro

2004
Quem liderou mais? Santos em 20 de 46 rodadas
Quem foi campeão? Santos

2005
Quem liderou mais? Corinthians em 20 de 42 rodadas
Quem foi campeão? Corinthians

2006
Quem liderou mais? São Paulo em 28 de 38 rodadas
Quem foi campeão? São Paulo

2007
Quem liderou mais? São Paulo em 22 de 38 rodadas
Quem foi campeão? São Paulo

2008
Quem liderou mais? Grêmio em 17 de 38 rodadas
Quem foi campeão? São Paulo, que liderou por 6 rodadas

2009
Quem liderou mais? Palmeiras em 19 de 38 rodadas
Quem foi campeão? Flamengo, que liderou por 2 rodadas

2010
Quem liderou mais? Fluminense em 24 de 38 rodadas
Quem foi campeão? Fluminense

2011
Quem já liderou? Corinthians por 17, São Paulo por 4 e Atlético-MG, Flamengo e Vasco por 1 rodada

domingo, 4 de setembro de 2011

Felipão é o analgésico do Palmeiras


Sabe aqueles conselhos, quase lendas populares, que todo mundo repete mas nunca viu acontecer? "Jamais ponha a colher na boca e depois no pote de maionese". Nunca vi maionese estragar por isso. Ou então: "panela quente não pode ir na geladeira". Balela. Outro desses é de que analgésicos demais, aqueles que curam dor de cabeça, fazem mal à saúde. Para mim, por mais que o doutor Fulano ou o cientista Beltrano provem, não fazem mal.

O torcedor do Palmeiras, porém, sabe que analgésicos proporcionam os tais "efeitos colaterais". "Basta olhar para seu banco de reservas", diria eu franzindo a testa e assoprando os lábios como Luiz Felipe Scolari. Felipão, o pentacampeão do mundo, é o remédio que cura a dor de cabeça palestrina, mas que impede o time de ir além. Vamos aos fatos.

Diga-me quais os times que têm um líder e um goleiro como Marcos? Um zagueiro do potencial de Henrique, um lateral esquerdo promissor (coisa raríssima) como Gabriel Silva ou um chutador como Marcos Assunção? Por que Valdivia, o herói do último título do Palmeiras, não joga como jogava em 2008? Por que Kleber não faz tantos gols quanto fazia no Cruzeiro? Por que Wellington Paulista não foi o mesmo 9 do mesmo Cruzeiro? Por que Maikon Leite ainda não aconteceu? Por que Luan, um atacante talentoso no São Caetano, virou um mero marcador de laterais direitos? Por que da ótima geração 91/92 da base ninguém vingou? Por que Lincoln chegou ao Avaí e fez dois gols em dois jogos? Lincoln, aliás, que disse no Redação Sportv que não era o único insatisfeito com as ideias felipônicas. Hmm...

Perguntas como essas poderiam ser feitas a Luiz Felipe Scolari, mas raramente se fazem. Não se sabe como ele poderia reagir, é verdade. A um repórter da Rádio Globo, no ano passado, chamou palhaço. A um fotógrafo, recentemente, agrediu. Bandeirinhas, árbitros, jornalistas, adversários (lembra do soco em Dragutinovic? E em Luxemburgo?)...Felipão coleciona atritos na mesma toada como colecionou títulos intermináveis em grandes torneios de mata-mata e tropeçou quando se exigiu mais talento, versatilidade, estratégias em pontos corridos. Com Portugal, foi fabuloso nas Copas e patinou em Eliminatórias.

Não sou louco de pensar que Felipão deva sair do Palmeiras. É quem acalma a torcida e os opositores, é quem tira o foco dos problemas extracampo quando é preciso e também é quem põe a autoestima palmeirense acima em ou outro momento. Não queria Felipão como sogro ou como técnico do meu time, mas assistir a uma entrevista coletiva com ele é quase sempre um bom programa. Respostas atravessadas, ironias, boas histórias, gestuais divertidos...Scolari é um personagem e tanto no nosso futebol. Isso talvez explique a falta de senso crítico a seu trabalho.

No Palmeiras, Felipão é um analgésico, ou qualquer tipo de remédio que dá efeitos colaterais. Cura problemas sérios, que nenhum outro treinador poderia curar, mas em seus defeitos esbarram as ambições da equipe. Não apostaria R$ 1 contra ele neste Campeonato Brasileiro, mas quem apostaria R$ 1 no título do Palmeiras? Só no dia em que aquela maionese da qual falamos azedar.