segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Celso Roth sem bigode

O paladar de Celso Roth quase nunca conheceu o sabor das grandes conquistas no futebol, cujos códigos são muito mais feitos por curvas que retas. Quanta ironia o treinador de tantos bons trabalhos, quase 100% das vezes acima da expectativa inicial, não ter títulos de expressão em seu currículo. Esses são já tempos passados para o durão Roth, que vai de colorado a partir desta terça-feira tentar a maior façanha para um técnico de futebol brasileiro.

Roth nem sempre teve o reconhecimento que vai conquistando. Em 97, com o Inter, foi campeão gaúcho, fez 5 a 2 no Grêmio dentro do Estádio Olímpico e chegou até as semifinais do Brasileiro. No ano seguinte, colocou o próprio Grêmio, com elenco limitadíssimo, entre os oito da Série A. Lançou Ronaldinho Gaúcho de vez no ano seguinte, voltou à semifinal na Copa João Havelange e foi ao Palmeiras para substituir Luiz Felipe Scolari. De novo sem material humano, ficou entre os quatro da Libertadores. Só sucumbiu para o Boca Juniors de Riquelme.

A essa altura, o carimbo de retranqueiro já estava colado na testa de Celso, que passou rapidamente pelo Santos e teve a sensibilidade de promover Diego e Robinho, respectivamente 16 e 17 anos, ao elenco profissional. Em 2003, foi sétimo do Brasileiro com o Atlético-MG, que só repetiria essa posição com ele, sete temporadas depois. Nesse intervalo, Roth deixou ótima impressão pelo Goiás, fez um Vasco que tinha Perdigão e Leandro Amaral sonhar com a Libertadores. Liderou a Série A por 17 rodadas com um Grêmio cheio de limitações em 2008. Perdeu para o São Paulo e ganhou mais cornetas.

Celso Roth foi resgatado pelo Internacional quando se preparava para fazer possivelmente outro trabalho elogiável sem títulos. Ele próprio derrubara Jorge Fossati do comando colorado e, durante a parada da Copa do Mundo, foi escolhido para dar novas cores ao Colorado. Instituiu o 4-2-3-1 e foi brutalmente superior a dois times copeiros como São Paulo e Chivas, tomando a América de forma inapelável com um estilo de jogo convincente, bonito e moderno.



O treinador Celso Roth mudou demais. Não foi só o bigode tipicamente gaudério que ele deixou pra trás, mas também o apreço pelo futebol defensivo. Incorporou mais tranquilidade no trato com a imprensa e até mesmo com os jogadores. A abertura a novas ideias, a habilidade para conduzir o vestiário e, esperam os colorados, para ficar com mais um título de máxima amplitude.

Só não lhe peça, como fizeram muitos torcedores do Inter, para readotar o bigode. Este é um novo Celso Roth, treinador de grandes trabalhos e também de título. De cara limpa.

2 comentários:

Vinícius Gomes disse...

Legal o texto. Mas ninguém contava com a inacreditável derrota de hoje. Só espero que os torcedores e dirigentes entendam que a demissão é a pior saída possível, mesmo tendo o treinador falhado na hora de promover as substituições. E olha que nem sou colorado; apenas admiro os dirigentes do Inter, o clube com maior nº de sócios no país e dos únicos a promover eleições presidenciais com participação dos associados. Uma derrota, por mais inesperada que seja, não pode apagar as coisas boas que o clube tem feito. Parabéns pelo blog.

Claudio Ferreira disse...

Considero o Roth um injustiçado. Como você destacou, sempre fez bons trabalhos com equipes medianas - muitas vezes ruim mesmo. Talvez não tenha tantos títulos exatamente por não ter tidos elencos tão bons quanto os adversários que enfrentou.