domingo, 4 de setembro de 2011

Felipão é o analgésico do Palmeiras


Sabe aqueles conselhos, quase lendas populares, que todo mundo repete mas nunca viu acontecer? "Jamais ponha a colher na boca e depois no pote de maionese". Nunca vi maionese estragar por isso. Ou então: "panela quente não pode ir na geladeira". Balela. Outro desses é de que analgésicos demais, aqueles que curam dor de cabeça, fazem mal à saúde. Para mim, por mais que o doutor Fulano ou o cientista Beltrano provem, não fazem mal.

O torcedor do Palmeiras, porém, sabe que analgésicos proporcionam os tais "efeitos colaterais". "Basta olhar para seu banco de reservas", diria eu franzindo a testa e assoprando os lábios como Luiz Felipe Scolari. Felipão, o pentacampeão do mundo, é o remédio que cura a dor de cabeça palestrina, mas que impede o time de ir além. Vamos aos fatos.

Diga-me quais os times que têm um líder e um goleiro como Marcos? Um zagueiro do potencial de Henrique, um lateral esquerdo promissor (coisa raríssima) como Gabriel Silva ou um chutador como Marcos Assunção? Por que Valdivia, o herói do último título do Palmeiras, não joga como jogava em 2008? Por que Kleber não faz tantos gols quanto fazia no Cruzeiro? Por que Wellington Paulista não foi o mesmo 9 do mesmo Cruzeiro? Por que Maikon Leite ainda não aconteceu? Por que Luan, um atacante talentoso no São Caetano, virou um mero marcador de laterais direitos? Por que da ótima geração 91/92 da base ninguém vingou? Por que Lincoln chegou ao Avaí e fez dois gols em dois jogos? Lincoln, aliás, que disse no Redação Sportv que não era o único insatisfeito com as ideias felipônicas. Hmm...

Perguntas como essas poderiam ser feitas a Luiz Felipe Scolari, mas raramente se fazem. Não se sabe como ele poderia reagir, é verdade. A um repórter da Rádio Globo, no ano passado, chamou palhaço. A um fotógrafo, recentemente, agrediu. Bandeirinhas, árbitros, jornalistas, adversários (lembra do soco em Dragutinovic? E em Luxemburgo?)...Felipão coleciona atritos na mesma toada como colecionou títulos intermináveis em grandes torneios de mata-mata e tropeçou quando se exigiu mais talento, versatilidade, estratégias em pontos corridos. Com Portugal, foi fabuloso nas Copas e patinou em Eliminatórias.

Não sou louco de pensar que Felipão deva sair do Palmeiras. É quem acalma a torcida e os opositores, é quem tira o foco dos problemas extracampo quando é preciso e também é quem põe a autoestima palmeirense acima em ou outro momento. Não queria Felipão como sogro ou como técnico do meu time, mas assistir a uma entrevista coletiva com ele é quase sempre um bom programa. Respostas atravessadas, ironias, boas histórias, gestuais divertidos...Scolari é um personagem e tanto no nosso futebol. Isso talvez explique a falta de senso crítico a seu trabalho.

No Palmeiras, Felipão é um analgésico, ou qualquer tipo de remédio que dá efeitos colaterais. Cura problemas sérios, que nenhum outro treinador poderia curar, mas em seus defeitos esbarram as ambições da equipe. Não apostaria R$ 1 contra ele neste Campeonato Brasileiro, mas quem apostaria R$ 1 no título do Palmeiras? Só no dia em que aquela maionese da qual falamos azedar.

Um comentário:

Michel Costa disse...

Olá, Dassler.

Tenho um ponto de vista bem diferente sobre a relação Felipão/Palmeiras.
Começando pela meta, não vejo Marcos como um goleiro decisivo há tempos. Na zaga, Henrique é bom, mas não mais do que isso. Por sua vez, Gabriel Silva é, como você bem escreveu, promissor.
Na frente, Kléber, além da questão do caráter, goza de um prestígio superior ao futebol que apresenta. Isso sem falar em Valdívia, o maior caso de jogador sobrevalorizado que eu tenho notícia.
Assim, creio que Felipão faz até muito com o material humano que tem em mãos. Fosse um Cuca da vida, talvez o Palmeiras estivesse brigando na metade inferior da tabela.

Abraço, meu camarada.