Publico aqui novamente minha coluna sobre futebol brasileiro, originalmente publicada na Trivela.
"Segredos conhecidos"
Planejar um clube grande de futebol, no Brasil, demanda mais perspicácia que provavelmente requer um Barcelona ou Real Madrid. Assumida a alcunha de exportadores de mão-de-obra para o mercado internacional, os brasileiros precisam se desdobrar e, principalmente, aguçar seu lado criativo na hora de planejar um elenco.
Em uma rápida passada de olho pelo elenco cruzeirense, segunda melhor campanha do torneio nacional, vemos nomes pinçados com algo bastante simples, mas cada dia menos comum: olho. Não basta investir na base, pura e simplesmente. Não dá também, claramente, para vender a alma e o time a empresários empurradores de jogadores. Por fim, contratar jogadores via dvd é um recurso de ineficácia comprovada.
Pois vamos aos destaques cruzeirenses: Ramires, que chegou sem alarde à Toca da Raposa após passagem pelo Joinville, está tranqüilamente entre os cinco melhores da posição no campeonato. Émerson, zagueiro-central, titular absoluto e capitão do time, era um desconhecido em Portugal. E virou solução. Dando mais profundidade para a tese, chegamos ao nome de Marcelo Moreno. Sequer titular absoluto do Vitória na Série C de 2006, o boliviano tem sido, nas últimas rodadas, peça decisiva na engrenagem do Cruzeiro. Poucos clubes contratariam um jogador assim.
O olho são-paulino também mostra eficiência. Possivelmente o melhor zagueiro do campeonato, Miranda era apenas mais um no Sochaux, clube médio do futebol francês. Havia jogado pouco no Coritiba e nem tinha, nas seleções de base, um histórico que justificasse sua contratação. Hernanes, cabeça-de-área dos mais regulares do país – de ótima marcação, passe e arremate – foi idéia de Muricy Ramalho, mas chegou a jogar no Santo André e poderia, muito bem, nem ter voltado ao Morumbi. Mas havia gente, do próprio clube, de olho nele.
A questão, além da iniciativa e da eficácia em observações, pretende apontar que, apenas em clubes medianamente organizados e estruturados, tais jogadores tendem a vingar. Fica difícil, por exemplo, querer que Marcelo Moreno, exemplificando, chegue ao Corinthians e jogue a bola que tem jogado no Cruzeiro. Hernanes, com a 5 do Atlético Mineiro, não seria o que tem sido.
Há outros clubes, porém, que parecem apenas acreditar nas boas estruturas para manter estabilidade. Atlético Paranaense, Juventude e Figueirense, sempre apontados como exemplos de times-médios, nacionalmente falando, brigam apenas pela permanência na Série A. Isto porque, basicamente, não montaram bons elencos e se desfizeram de nomes importantes ao longo do ano, com exceção dos gaúchos. Estes, desde a temporada passada, têm times fracos.
A receita para se dar bem no futebol, embora pareça complicada, é bastante simples. Boa estrutura (vide Corinthians, que oferece péssimas condições de trabalho), atenção para a categoria de base (vide Santos, que não tem revelado bons jogadores) critério e criatividade para contratar (vide o Flamengo, por exemplo), manutenção de comissão técnica (vide o Internacional) e o mínimo de resistência para vendas no meio da temporada (vide o Sport, por exemplo). Todos pontos fundamentais. Cruzeiro e São Paulo, e não é casualmente, destoam dos demais no Campeonato Brasileiro.
Complexo vira-lata
Dizer que “há coisas que só ocorrem com o Botafogo” é muito engraçado e bastante comum. O clube, porém, em fenônemo parecido ao que acontece no Parque Antártica, depende e muito do lado psicológico para se dar bem neste último terço de campeonato. A necessidade de afirmação, vista por exemplo no duelo com o São Paulo, afeta os jogadores e até o treinador, muito competente, Cuca.
O fato de já ter sido grande e até mesmo gigante tem que ser esquecido em Caio Martins. Não que o clube não seja mais, só que o estágio atual deve ser encarado como parte de um processo de crescimento ao longo dos últimos anos. Após somar grandiosos 24 pontos nas primeiras dez rodadas, o Botafogo tem apenas 15 pontos, nas 15 rodadas seguintes. O aproveitamento, de 33,3 %, é inferior ao do Juventude, penúltimo lugar, e causa incredulidade. Veja, não é um período curto de instabilidade, mas sim, 15 rodadas, quase um turno completo.
Cuca precisa deixar seus jogadores mais leves, com a cuca fresca, usando uma metáfora, mas bem real. O nervosismo das últimas rodadas só irá piorar as coisas. Não se trata de tirar o foco do elenco ou esquecer do campeonato, mas sim de trabalhar em paz, sem pressão. É disso que precisa o Botafogo.
4 comentários:
assino embaixo.
Excelente análise.
Abraços
ótima análise, realmente é preciso tudo isso para se ter algum sucesso no campeonato brasileiro.
O problema maior, é que muitos dos dirigentes de clubes por aí não estão dando a mínima para essas coisas.
abraço!
bela análise Dassler, pra variar!
os clube precisam se adaptar à realidade do futebol. Não dá mais pra investir em nomes renomados, que chegam já com 30 e tantos anos, ou com um vasto histórico de lesões. Ou, se realmente há a possibilidade de investimento, que a tacada seja certeira.
O exemplo do São Paulo talvez seja o melhor no momento. Perdeu nomes importantes, como Fabão, Danilo, Josué e Mineiro, mas soube repor, com jogadores nem tão conhecidos até então, como o Alex Silva e Hernanes. O grande investimento, sem duvida, foi no Dagoberto, que, aos poucos, vai reencontrando o belo futebol de quando surgiu no Atlético Paranaense.
O Cruzeiro já há algum tempo adota essa politica do "bom e barato", o que rendeu campanhas mto ruins esde o inesquecível ano de 2003. Essa temporada parecia que seguiria no mesmo caminho, principalmente depois do desastre no Estadual.
Mas eis que o clube resolve invetir em mais uma revelação, agora para o cargo de treinador. Tacada absolutamente certeira e feliz. Dorival Junior é o grande reforço celeste na temporada.
abraço!
Citar mudanças nas estruturas do clubes de futebol no Brasil parece dicurso de politico. Pois usa sempre os mesmos exemplos (clichês e estereótipos), colocar o Corinthians como possuindo uma péssima estrutura de trabalho é muita falta de informação (má fé).
Mas um grande problema é tratar o negócio futebol como uma brincadeira de amigos.
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