O texto que reproduzo abaixo é do amigo Luiz Eduardo Mouta, destes que sabem enxergar e escrever sobre futebol. Luiz faz parte da Comunidade do Mauro Beting e escreve sobre o Sevilla, uma verdadeira aula sobre como planejar um clube e, dentro de campo, ser eficiente e encantador. A leitura é imperdível!
"Um alento vindo da Andaluzia"
Nesses tempos já tão citados aqui na comunidade de raras equipes praticando um nível de jogo equilibrado, ao mesmo tempo eficiente e bem jogado, tive o prazer de contemplar, neste início de temporada européia, uma equipe que, ao meu ver, pode ser um bom colírio dominical aos olhos de admiradores, como eu, do futebol europeu: o Sevilla.
Uma equipe que joga simples, num 4-4-2 europeu, formado por 2 linhas de quatro homens, que ficam bem compactas quando a equipe defende. E com uma movimentação ofensiva muito surpreendente para equipes que jogam nessa formação. Destaque muito grande para os atacantes Kanouté e Kerzhakov, que conseguem mesclar um grande faro de gol, com uma presença de área muito forte, e com boas movimentações fora da área abrindo espaços para os homens de meio-campo que vem de trás.
Os triângulos formados pelos lados do campo, principalmente pelo lado direito com o Daniel Alves, Jesús Navas e Kerzhakov/Kanouté, com constante rotação dos homens de meio-campo e dos homens de frente tornam muito insinuantes os ataques da equipe da Andaluzia. Quando Daniel Alves sobe com a bola vindo de trás, vem fazendo o movimento de progressão em diagonal, contando com a movimentação flanqueada do Jesús Navas e às vezes de um dos atacantes. Sem contar o bom volante Renato, quando deixa de fazer o se papel momentaneamente para se apresentar pela direita na organização das jogadas ofensivas. No lado esquerdo, Dragutinovic fica mais plantado, mas ajuda na saída de bola e confia o desenrolar das jogadas ao bom médio-ala português Duda, sempre auxiliado, assim como pelo lado direito, pela sempre eficiente e inteligente movimentação dos atacantes.
Um outro fator preponderante que faz-me acreditar na equipe do Sevilla é que, nessa temporada, a equipe possui um elenco muito mais homogêneo, com boas reposições em quase todas as posições. Possui 5 bons zagueiros (Fazio, Boulharouz, Davi Navarro, Escudé e Mosquera), 4 volantes que tem boa saída de bola e bem completos no trabalho box-to-box (Keita, Renato, Martí e Maresca), wingers velozes e dotados de boa técnica pelo flanco (Jesús Navas, Tom de Mul e até Daniel Alves pela direita, e Duda, Adriano Correia e Diego Capel pela esquerda), 4 atacantes perfeitamente cambiáveis (Kanouté, Kerzhakov, Luís Fabiano e Arouna Koné) e dois goleiros muito seguros (Morgan de Sanctis e Andrés Palop). Para a lateral esquerda, tem a reposição de Dragutinovic com o médio-ala mas que pode jogar de lateral-esquerdo em caráter emergencial Adriano Correia.
Só uma posição em que a reposição pode manter exatamente o mesmo nível: a lateral-direita. Dani Alves é titularíssimo e importantíssimo nas transições ofensivas da equipe, pela excelente válvula de escape e volume de criação de jogadas que dá com a dupla formada por ele e Jesús Navas. Sem ele, o alemão Hinkel é um bom marcador, mas não tem a agilidade ofensiva e o ímpeto das boas penetrações em diagonal do bom lateral brasileiro, que abre muitos espaços para o rápido e insinuante jogo do médio-ala espanhol.
Portanto, com esse bom elenco, formado sem gastar muito dinheiro comparado com outras potências futebolísticas européias, com muita inteligência pelo competentíssimo técnico Juande Ramos (que já foi muito bem em outras equipes consideradas médias do futebol espanhol como o Bétis e o Espanhol de Barcelona), pode ainda render muitos frutos nesta temporada. Principalmente num campeonato espanhol com um irregular Real Madrid ainda em formação com novo e inexperiente técnico para um clube de sua grandeza e um Barcelona que, apesar da certeza da qualidade individual de seus homens de frente, ainda é uma incógnita quanto ao seu equilíbrio como equipe.
Na Liga dos Campeões, se for beneficiada por um bom sorteio na segunda fase do torneio - pois acredito plenamente que a equipe não se limitará à primiera fase do torneio europeu, ainda pelo grupo bom que pegou, sem contar o já citado elenco da equipe da Andaluzia - pode chegar bem longe e até sonhar com o título europeu. Na Copa do Rei da Espanha, penso que a equipe é uma das favoritas ao título, assim como foi campeã no ano passado.
Portanto, eis um alento para os admiradores não somente do futebol bem jogado, mas também de um time equilibrado e entrosado: prestem atenção na Andaluzia, que, esse ano, não fazer-se-á notar apenas pela produção de 70% do azeite espanhol e pelos vinhos finos de Jerez. Mas também por um bom time, que, assim como a sua respectiva província conseguiu há 25 anos atrás, quer dar o seu grito de autonomia e sua manifestação de força no futebol europeu.
2 comentários:
Meu vizinho é o cara, rapá! ;)
Realmente o texto ficou fantástico!
Valeu pela força Dass!!! Obrigado pelos incentivos e também pelo aprendizado constante que é ler o seu blog e seu trabalho na Trivela!!!! Um grande abraço!!!
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