quarta-feira, 18 de julho de 2007

Brasil-Argentina: dois jogos, (quase) a mesma história.


Como ainda não pude escrever com profundidade sobre a Copa América após a final de domingo, reproduzo um texto bastante elucidativo feito pelo amigo Roberto Piantino.
Aliás, peço desculpas aos amigos por não ter feito visitas nos últimos dias. Estou na febre do Pan, em plenas atividades. De qualquer forma, curtam o texto. Vale a leitura!

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"Brasil-Argentina: dois jogos, (quase) a mesma história"

Em menos de um ano, ambos 3-0 impostos à Argentina pela seleção brasileira tiveram, apesar de jogadores e formações diferentes – de ambos os lados - algumas significativas semelhanças.

Do 4-4-2 clássico que Dunga utilizava em sua estréia como treinador, passando pelo insistente 4-2-3-1 dos últimos jogos, e, finalmente terminando na equipe com os tais "quatro volantes", amaldiçoados por torcedores e baluartes da imprensa nacional, o resultado contra os maiores rivais foi o mesmo. E algumas circunstâncias idem.

Daquela partida no Emirates Stadium, com Kaká e Ronaldinho no banco e Alfio Basile estreando na seleção alviceleste, e mudando bastante com relação ao time eliminado pelo Alemanha na Copa, somente Juan, Gilberto, Elano e Robinho iniciaram a final de domingo em Maracaibo. Por sua vez, a Argentina experimental pós-Copa de setembro chegou à Venezuela muito mais encorpada, com uma base forte e bem definida e com o que havia de melhor à disposição de "El Coco".



O ponto principal, porém, vem em semelhanças circunstanciais dos jogos. Em ambos o Brasil marcou logo no início, condicionando-os totalmente. Um Robinho incisivo e flutuante no ataque no primeiro jogo (e impreciso e estafado no domingo), que recebe a bola pelo meio, dá um genial corte seco em Clemente Rodríguez, lateral canhoto que abandona seu posto, deixando ali um grande espaço descoberto, aproveitado por Elano, que se infiltra e marca o 1-0 antes dos cinco minutos, assim como Júlio Baptista, que, sempre nos primeiros minutos do jogo, recebe magnífico lançamento em diagonal de Elano e, ante a atônita marcação de um decadente Ayala, (que, lembre-se, há um ano fez ótima Copa) mata Abbondanzieri e situa o jogo a uma condição que nem o mais otimista Dunga sonharia.

Mesmo que não tivesse marcado no início a postura brasileira seria a de espera, de quebrar o ritmo do rival, de marcar seus principais articuladores, Riquelme e Verón, no início das jogadas. Mineiro foi o anti-Riquelme, como Edmilson, de forma mais violenta, na partida de setembro. Josué se encarregou de Verón, e, mesmo abusando das faltas, contribuiu para que o experiente argentino tivesse atuação tão opaca quanto a de Lucho González, que atuou na posição em Londres.

A entrada de Daniel Alves no lugar do contundido Elano fez com que o bahiano-sevillista, que no bicampeão da Uefa ocupa essa posição de externo direito de meio-campo em algumas ocasiões – e não jogou improvisado, como fora desinformado por figurões da imprensa – estivesse para a final da Copa América assim como Elano esteve para aquele amistoso do ensolarado domingo londrino de setembro.

Obra do acaso, e de uma perfeita leitura do jogo por Dunga e Jorginho (sim, o auxiliar parece ter uma lucidez muitas vezes maior que a do capo) a entrada do lateral do Sevilla deu profundidade e maior ritmo à equipe pela direita, que contava com um quase perfeito Maicon na lateral-direita, bastante melhor que Cicinho em Londres, que esteve falho na marcação e não impecável no apoio.

Sem conseguir entrar na área brasileira os argentinos recorreram em muitas ocasiões às bolas aéreas, bem controladas pelas duplas Juan-Lúcio, impecáveis, como Juan (sempre impecável pela seleção) e Alex na final do Pachencho Romero. Doni esteve bem e seguro como Gomes, quando empenhados.

Em compasso de espera, com uma (ou duas?) Argentina não brilhante na criação e definição das jogadas, com Riquelme ausente e bem marcado em ambas ocasiões e Messi e Tévez pouco perigosos e inspirados, coube à seleção brasileira, nas duas contendas, com um genial Kaká destacadíssimo no primeiro jogo a partir de sua entrada no segundo tempo, sentenciar sem piedade nos contra golpes, com jogadas de força, qualidade e rapidez, um rival que joga sem medo, sai para o jogo e não joga no erro, como tantos outros. O México que o diga.

Um comentário:

Alexandre Anibal disse...

Piantino foi extremamente feliz nessa passagem:

"A entrada de Daniel Alves no lugar do contundido Elano fez com que o bahiano-sevillista, que no bicampeão da Uefa ocupa essa posição de externo direito de meio-campo em algumas ocasiões – e não jogou improvisado, como fora desinformado por figurões da imprensa"

Isso mostra que nem sempre todos acompanham o futebol europeu como deveriam...