sábado, 22 de setembro de 2012

Ganso é 8


Meu pai é do tempo que camisa 8 é uma coisa e o 10 é outra. E isso me ensinou cedo. Entender que são funções que se completam exige uma volta no tempo, ao 4-2-4. Um volante, um armador (número 8), dois pontas, um ponta de lança (número 10) e um centroavante. É diferente como Didi e Pelé, como Dudu e Ademir da Guia. Em fase de transformações profundas, Paulo Henrique Ganso tentará se redescobrir no Morumbi com um número diferente às costas.

Definido como camisa 8, buscará o futebol que as lesões, as desavenças e as teimosias dele levaram na Vila Belmiro. Com as presenças de Jadson, Lucas e Luís Fabiano como elementos praticamente indispensáveis, Ganso deve mesmo, e cada vez mais, ser mais 8 que 10. É assim que ele gosta, inclusive.

Muricy Ramalho, em uma de suas frases feitas, dizia querer Ganso sempre na área, para finalizar e definir. Como camisa 10. Ganso prefere armar o jogo mais distante, encontrar o passe perfeito na intermediária ofensiva e, assim, também não ter de retornar tanto para fechar os espaços. Ganso prefere ser o 8.

No Morumbi, o melhor passador do futebol brasileiro tentará fazer passar também as incertezas que ele próprio deixou surgir desde sua fatídica lesão no Estádio Olímpico naquele fim de agosto, há dois anos. A transferência de R$ 23 milhões só aconteceu porque Ganso, enfim, se posicionou. Disse não à tardia boa oferta do Santos. Disse não ao Grêmio. Disse sim ao São Paulo. Disse “quero partir” aos santistas. Resta dizer “quero ser novamente um craque”. Um craque de camisa 8 e de futebol nota 10 que meu pai e toda sua geração sentem saudades.

* Publicado no blog do Mauro Beting

Crédito da foto: site oficial do São Paulo

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