domingo, 4 de julho de 2010

Chocolates para Müller*

Infelizmente, não foi possível postar o texto antes do duelo entre Alemanha e Argentina, como era a intenção do blog. Já que Thomas Müller segue no Mundial, vale o registro.


Não foi só por causa dos 14 gols marcados em Copas do Mundo que aquele senhor grisalho, de barba rala e óculos, foi cercado por todos os repórteres. Entre as perguntas, Thomas Müller foi um nome costumeiramente repetido. Atencioso, ele não perdeu a paciência para falar do jogador mais jovem desde Pelé a fazer dois gols em um mata-mata de Mundial.

"Thomas já é o melhor homem gol da Alemanha sem ser um atacante puro. Sabe fazer tudo bem e o que mais destaco é que joga igual um amistoso simples ou um jogo de seleção. Já havia dito que ele é um campeão e, de tão tranquilo, jogou como se fosse uma partida da segunda divisão. É um craque, tem um futuro incrível pela frente e a Alemanha tem um atacante para muitos anos".

Naquele momento, poucos dias depois de seu pupilo arrebentar com a Inglaterra, o velho Gerd se sentia realizado. A aposta pessoal no garoto esguio e a quem muitos pediam vibração tinha sido mais uma conquista dele. Os tantos chocolates utilizados para cativar Thomas eram baratos perto daquela satisfação.

Gols e chocolates

Hoje uma das grandes sensações do Mundial, Thomas foi treinado pelo velho Gerd Müller, maior goleador da história da seleção alemã, nas categorias de base do Bayern de Munique. Apesar do sobrenome em comum, não há qualquer ligação familiar entre os dois. Mas, indiscutivelmente, uma grande sintonia.
Thomas Müller chegou ao Bayern de Munique com 10 anos de idade, mas jamais foi tratado como aquele tipo de jogador especial. O crescimento só se deu quando encontrou Gerd nos juniores do clube. Para incentivar o pupilo, um mimo em especial: gols e grandes atuações eram premiados com chocolates.

O menino Thomas cresceu e, em 2009, ganhou de Jürgen Klinsmann, então treinador do time profissional do Bayern, a primeira chance no time de cima. Dois dos grandes atacantes da história do futebol alemão apostavam nele, que não decepcionou.

Em seu primeiro jogo de Liga dos Campeões, Thomas Müller saiu do banco e marcou. Não foi o suficiente para lhe dar sequência e Klinsmann optou pelos jogadores mais experientes que tinha à disposição. Thomas retornou para o time B, mas Gerd ainda apostava nele.

Conselhos para Van Gaal

Reconhecidamente um farejador de talentos, Louis van Gaal foi rapidamente alertado por Gerd Müller quando chegou ao Bayern no último ano. O conselho era para que o novo treinador apostasse no garoto, então já atuando na terceira divisão com os suplentes. Paul Breitner, outra legenda do futebol alemão e membro do clube bávaro, foi outro a soprar o nome de Thomas nos ouvidos do holandês.

Os 19 gols marcados por Thomas Müller indicam que Van Gaal, o homem que lançou Xavi e Iniesta no Barcelona, soube escutar os conselhos, especialmente de Gerd. Em março último, Joachim Löw inovou e, em amistoso contra a Argentina, colocou o garoto em campo, como titular da seleção, pela primeira vez. Algo que Dunga se negou a fazer com Neymar e Paulo Henrique Ganso.

Thomas foi discreto naquele dia, mas a grande reta final de temporada com o Bayern fez com que Löw persistisse. E quando a Alemanha estreou no Mundial, lá estava o menino de Gerd, com a camisa 13 nas costas. A mesma camisa de Michael Ballack. Sim, também a mesma camisa da legenda Gerd Müller na Copa de 1974.

Grande Copa

Titularíssimo desde a primeira partida alemã no Mundial, Thomas Müller já é favorito destacado ao prêmio de melhor jogador jovem da Fifa. Marcou três vezes, duas diante da Inglaterra. Deu três assistências, número atingido apenas por Kaká, já eliminado. Exibe, pela faixa direita do ataque germânico, um futebol vertical e até aqui imparável. Para a alegria do velho Gerd.

* Originalmente publicado no Terra

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