Salvo o que seria a terceira surpresa em poucas horas, Muricy Ramalho não é o novo treinador da Seleção Brasileira. Recusar o maior sonho de todos os técnicos é algo incomum na história da Seleção, mas também já foi feita por um dos grandes mentores de Muricy há exatos 40 anos.
Coube a Dino Sani, em março de 1970, negar um convite da Seleção Brasileira. Assim como houve nesta sexta-feira, em que Muricy não quis quebrar seu acordo com o Fluminense, o que estava em jogo era uma questão ética: a proximidade com João Saldanha, subitamente demitido pelos homens da CBD, antecessora da CBF. Por isso, Dino agradeceu e disse não.
"Achei que não devia ir para o lugar dele, pela amizade que tinha com ele, pela situação", conta Dino Sani, campeão do mundo como jogador em 1958. Antes mesmo de receber um convite de Antônio dos Passos, diretor de CBD, Dino sabia que ia ser chamado. "O Solange Bibas (do jornal Gazeta Esportiva) me comunicava que iam me ligar. Falei para ele que íamos ver se era verdade ou não", recorda.
Pois, logo depois da saída de Saldanha, o telefone tocou. "Era o Antônio dos Passos dizendo que iam entregar na minha mão, que a Seleção era minha". Mesmo propenso a negar a oferta, Dino Sani foi ao Rio de Janeiro. "Telefone é para dar recado. Pedi que esperassem, que no dia seguinte, cedo, conversaria com eles. Falei que não aceitaria. Não ia recusar pelo telefone".
O não de Dino Sani entrou para a história como uma das poucas recusas de treinadores para a Seleção Brasileira. Cético, ele não acha que é difícil negar esse convite. "Não, por que não pode recusar?", pergunta. "Depende do que você quer, achei que não podia pegar".
Ele inclusive assegura que o convite era desejo expresso de João Havelange, então presidente da CBD. "O Antônio dos Passos era botafoguense e queria o Zagallo. Ficou feliz por que eu disse não. O Havelange é que ficou chateado", recorda Dino Sani, que elogia o colega, mesmo tendo deixado o Botafogo para ser campeão do mundo no México meses depois. "Ele tem estrela, merece um busto".
Dino Sani e Muricy
Historicamente ligado ao São Paulo, Dino Sani era o treinador do Corinthians em 1970. Passou pelo Internacional em seguida e, entre um trabalho e outro, esteve no México. Foi lá que conviveu próximo a Muricy Ramalho, então um meia muito talentoso.
"Trabalhamos juntos no Puebla. Ele era um grande jogador e já um homem de primeira linha", elogia Dino Sani. Sobre a recusa de Muricy, ele concorda com o pupilo. "Se ele tem contrato, não pode largar o clube, mesmo a CBF convocando".
Até mesmo na forma de expressar, seu Dino Sani, hoje 78 anos, se parece com Muricy Ramalho. "Ele tem palavra, meu filho", diz usando um bordão do técnico do Fluminense. "Com ele, não precisa assinar contrato".
A sacanagem que Dino Sani evitou
Jornalista, João Saldanha era contrário ao regime militar que liderava o Brasil nos anos 70. Dono de grande carisma e conhecimento, via seu poder crescer de forma assustadora em pouco tempo no cargo de treinador na Seleção. Até que, no fim de março, foi demitido. Há quem diga que a ordem partiu do então presidente Emilio Garrastazu Médici.
"Não sei porque mandaram embora, se foi o Presidente da República. Mas não me arrependo e Saldanha e eu éramos muito amigos. Seria uma sacanagem", acredita Dino Sani. Em crônicas, o radical Saldanha costumava dizer que sabia os motivos pelos quais havia sido sacado da Seleção. Só não sabia dizer por que entrou.
Dino Sani ainda, por pouco, não se tornou o treinador da Seleção em 1982. Telê Santana estava doente e quase perdeu a Copa por questões médicas. "Eu estava no Fluminense e ia aceitar. Se você não for, eu vou, disse ao Telê". Mais uma vez, não se concretizou.
* Publicado no Terra
Coube a Dino Sani, em março de 1970, negar um convite da Seleção Brasileira. Assim como houve nesta sexta-feira, em que Muricy não quis quebrar seu acordo com o Fluminense, o que estava em jogo era uma questão ética: a proximidade com João Saldanha, subitamente demitido pelos homens da CBD, antecessora da CBF. Por isso, Dino agradeceu e disse não.
"Achei que não devia ir para o lugar dele, pela amizade que tinha com ele, pela situação", conta Dino Sani, campeão do mundo como jogador em 1958. Antes mesmo de receber um convite de Antônio dos Passos, diretor de CBD, Dino sabia que ia ser chamado. "O Solange Bibas (do jornal Gazeta Esportiva) me comunicava que iam me ligar. Falei para ele que íamos ver se era verdade ou não", recorda.
Pois, logo depois da saída de Saldanha, o telefone tocou. "Era o Antônio dos Passos dizendo que iam entregar na minha mão, que a Seleção era minha". Mesmo propenso a negar a oferta, Dino Sani foi ao Rio de Janeiro. "Telefone é para dar recado. Pedi que esperassem, que no dia seguinte, cedo, conversaria com eles. Falei que não aceitaria. Não ia recusar pelo telefone".
O não de Dino Sani entrou para a história como uma das poucas recusas de treinadores para a Seleção Brasileira. Cético, ele não acha que é difícil negar esse convite. "Não, por que não pode recusar?", pergunta. "Depende do que você quer, achei que não podia pegar".
Ele inclusive assegura que o convite era desejo expresso de João Havelange, então presidente da CBD. "O Antônio dos Passos era botafoguense e queria o Zagallo. Ficou feliz por que eu disse não. O Havelange é que ficou chateado", recorda Dino Sani, que elogia o colega, mesmo tendo deixado o Botafogo para ser campeão do mundo no México meses depois. "Ele tem estrela, merece um busto".
Dino Sani e Muricy
Historicamente ligado ao São Paulo, Dino Sani era o treinador do Corinthians em 1970. Passou pelo Internacional em seguida e, entre um trabalho e outro, esteve no México. Foi lá que conviveu próximo a Muricy Ramalho, então um meia muito talentoso.
"Trabalhamos juntos no Puebla. Ele era um grande jogador e já um homem de primeira linha", elogia Dino Sani. Sobre a recusa de Muricy, ele concorda com o pupilo. "Se ele tem contrato, não pode largar o clube, mesmo a CBF convocando".
Até mesmo na forma de expressar, seu Dino Sani, hoje 78 anos, se parece com Muricy Ramalho. "Ele tem palavra, meu filho", diz usando um bordão do técnico do Fluminense. "Com ele, não precisa assinar contrato".
A sacanagem que Dino Sani evitou
Jornalista, João Saldanha era contrário ao regime militar que liderava o Brasil nos anos 70. Dono de grande carisma e conhecimento, via seu poder crescer de forma assustadora em pouco tempo no cargo de treinador na Seleção. Até que, no fim de março, foi demitido. Há quem diga que a ordem partiu do então presidente Emilio Garrastazu Médici.
"Não sei porque mandaram embora, se foi o Presidente da República. Mas não me arrependo e Saldanha e eu éramos muito amigos. Seria uma sacanagem", acredita Dino Sani. Em crônicas, o radical Saldanha costumava dizer que sabia os motivos pelos quais havia sido sacado da Seleção. Só não sabia dizer por que entrou.
Dino Sani ainda, por pouco, não se tornou o treinador da Seleção em 1982. Telê Santana estava doente e quase perdeu a Copa por questões médicas. "Eu estava no Fluminense e ia aceitar. Se você não for, eu vou, disse ao Telê". Mais uma vez, não se concretizou.
* Publicado no Terra
Um comentário:
Me lembro uma vez em que fui pagar contas num Banco do Brasil da avenida Paulista. A agência estava lotada. Anunciaram o nome de Dino Sani, que se dirigiu a um caixa como um mero desconhecido por parte do público. Grande matéria, Dassler. Até!
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