segunda-feira, 26 de julho de 2010

O que ensinam o não de Muricy e a permanência de Ricardo Gomes


A necessidade de velocidade no jornalismo e a concorrência obsessiva para a disponibilização de um furo não param de trazer informações erradas ao público. Atualmente, convivemos com chamadas mentirosas como "Fulano fecha com tal clube". E quando você e eu, todos leitores, paramos para ler, somos surpreendidos com a informação de que "só falta o acerto entre os dois times". Ora, então será que está fechado mesmo?

A gota d'água ocorreu entre quinta e sexta-feira últimas. A começar por Ricardo Gomes, cuja demissão foi noticiada por diversos veículos de imprensa. Quase sempre correto, o Estadão precisou emitir uma errata, minutos após cravar a saída do treinador são-paulino, desmentindo a informação que havia dado. Até a apresentação de Dunga, nesta segunda-feira, foi dita publicamente por pessoas influentes. Ricardo permanece, aos trancos e barrancos, mas nossa ânsia pela informação antecipada provoca estragos.

Muricy Ramalho, então, é digno de uma tese de mestrado. Rede Globo e seus diversos meios de comunicação, como tevê fechada, site e etc, confirmaram Muricy como novo técnico da seleção. Tudo bem, você vai dizer que até Ricardo Teixeira fez isso, mas será que não faltou um pouquinho mais de atenção a um detalhe importante: o treinador tinha um contrato em vigência com um clube que não é obrigado a liberá-lo.

Convite de trabalho para a seleção não é convocação para guerra. Muricy tinha direito a dizer não, e assim, mesmo a contragosto, fez. A atitude de muita gente grande e competente, mesmo em um país onde o papel assinado não vale absolutamente nada, é de se lamentar. Afinal: o Fluminense não havia liberado e o próprio treinador não havia confirmado. Enquanto muitos lhe apontavam já como novo técnico, o modesto Terra onde trabalho, com seus erros e acertos, trazia declarações do próprio Muricy: "Acho impossível o Flu me liberar".

Nesta segunda, curiosamente, o New York Times traz reportagem que detecta: quem trabalha com jornalismo online se desgasta muito mais. Enquanto outras categorias do meio têm estresse apenas nos instantes do fechamento, internet significa pressão a todo instante. Daí surgirem tantos erros por ansiedade.

Em momentos como esse, devemos lembrar do papel básico da imprensa: informar. É o que todos nós devemos fazer. Apenas informar, acima de tudo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Um não como o de Muricy*



Salvo o que seria a terceira surpresa em poucas horas, Muricy Ramalho não é o novo treinador da Seleção Brasileira. Recusar o maior sonho de todos os técnicos é algo incomum na história da Seleção, mas também já foi feita por um dos grandes mentores de Muricy há exatos 40 anos.

Coube a Dino Sani, em março de 1970, negar um convite da Seleção Brasileira. Assim como houve nesta sexta-feira, em que Muricy não quis quebrar seu acordo com o Fluminense, o que estava em jogo era uma questão ética: a proximidade com João Saldanha, subitamente demitido pelos homens da CBD, antecessora da CBF. Por isso, Dino agradeceu e disse não.

"Achei que não devia ir para o lugar dele, pela amizade que tinha com ele, pela situação", conta Dino Sani, campeão do mundo como jogador em 1958. Antes mesmo de receber um convite de Antônio dos Passos, diretor de CBD, Dino sabia que ia ser chamado. "O Solange Bibas (do jornal Gazeta Esportiva) me comunicava que iam me ligar. Falei para ele que íamos ver se era verdade ou não", recorda.

Pois, logo depois da saída de Saldanha, o telefone tocou. "Era o Antônio dos Passos dizendo que iam entregar na minha mão, que a Seleção era minha". Mesmo propenso a negar a oferta, Dino Sani foi ao Rio de Janeiro. "Telefone é para dar recado. Pedi que esperassem, que no dia seguinte, cedo, conversaria com eles. Falei que não aceitaria. Não ia recusar pelo telefone".

O não de Dino Sani entrou para a história como uma das poucas recusas de treinadores para a Seleção Brasileira. Cético, ele não acha que é difícil negar esse convite. "Não, por que não pode recusar?", pergunta. "Depende do que você quer, achei que não podia pegar".

Ele inclusive assegura que o convite era desejo expresso de João Havelange, então presidente da CBD. "O Antônio dos Passos era botafoguense e queria o Zagallo. Ficou feliz por que eu disse não. O Havelange é que ficou chateado", recorda Dino Sani, que elogia o colega, mesmo tendo deixado o Botafogo para ser campeão do mundo no México meses depois. "Ele tem estrela, merece um busto".

Dino Sani e Muricy

Historicamente ligado ao São Paulo, Dino Sani era o treinador do Corinthians em 1970. Passou pelo Internacional em seguida e, entre um trabalho e outro, esteve no México. Foi lá que conviveu próximo a Muricy Ramalho, então um meia muito talentoso.

"Trabalhamos juntos no Puebla. Ele era um grande jogador e já um homem de primeira linha", elogia Dino Sani. Sobre a recusa de Muricy, ele concorda com o pupilo. "Se ele tem contrato, não pode largar o clube, mesmo a CBF convocando".

Até mesmo na forma de expressar, seu Dino Sani, hoje 78 anos, se parece com Muricy Ramalho. "Ele tem palavra, meu filho", diz usando um bordão do técnico do Fluminense. "Com ele, não precisa assinar contrato".

A sacanagem que Dino Sani evitou

Jornalista, João Saldanha era contrário ao regime militar que liderava o Brasil nos anos 70. Dono de grande carisma e conhecimento, via seu poder crescer de forma assustadora em pouco tempo no cargo de treinador na Seleção. Até que, no fim de março, foi demitido. Há quem diga que a ordem partiu do então presidente Emilio Garrastazu Médici.

"Não sei porque mandaram embora, se foi o Presidente da República. Mas não me arrependo e Saldanha e eu éramos muito amigos. Seria uma sacanagem", acredita Dino Sani. Em crônicas, o radical Saldanha costumava dizer que sabia os motivos pelos quais havia sido sacado da Seleção. Só não sabia dizer por que entrou.

Dino Sani ainda, por pouco, não se tornou o treinador da Seleção em 1982. Telê Santana estava doente e quase perdeu a Copa por questões médicas. "Eu estava no Fluminense e ia aceitar. Se você não for, eu vou, disse ao Telê". Mais uma vez, não se concretizou.

* Publicado no Terra

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A falta que faz William*


O pior desempenho defensivo do Corinthians em 2010 coincidiu com a ausência do capitão William, 33 anos, suspenso na derrota para o Atlético-GO. O fato de não poder contar com o jogador mais experiente da defesa, algo inclusive alardeado por Mano Menezes após o jogo, acabou tendo relação direta com o que ocorreu em campo.

Apenas duas vez em 38 jogos na temporada o Corinthians havia sofrido três gols. Uma foi contra o São Paulo, pelo Campeonato Paulista, mas em um dia em que o goleiro Rafael Santos teve inteferência direta no resultado, falhando duas vezes de forma decisiva. E a outra em amistoso pouco importante disputado contra o Botafogo, em abril.

Há outro dado importante sobre a falta que William faz à equipe. Das sete derrotas do Corinthians na temporada, quatro foram sem o capitão em campo. Diante de Grêmio Prudente, Paulista, Botafogo e Atlético-GO, o zagueiro não jogou e o time perdeu.

O aproveitamento corintiano sem William em campo, inclusive, é baixíssimo: em oito jogos neste ano em que não contou com o capitão, o Corinthians teve três vitórias, um empate e as já citadas quatro derrotas.

Desfalcado de William contra o Atlético-GO, o Corinthians teve índices defensivos baixíssimos em dois fundamentos importantes. Os 15 desarmes realizados ao longo dos 90 minutos significaram o pior índice corintiano em roubadas de bola nas 10 rodadas do Campeonato Brasileiro.

No jogo de quarta-feira, o Corinthians foi alvo de 16 finalizações, o segundo índice mais alto de chutes recebidos pelo time durante todo o Brasileiro. Apenas contra o Santos, reconhecidamente um time ofensivo e criativo, um goleiro corintiano foi mais ameaçado na competição.

Por isso, Mano Menezes tinha lá uma certa dose de razão em seu comentário após a derrota para o Atlético-GO. "Quando sei que o William não vai jogar, sinto até um frio na espinha durante a semana".

Finalizações sofridas pelo Corinthians no Brasileiro

Contra o Santos - 17 finalizações
Contra o Atlético-GO - 16 finalizações
Contra o Grêmio - 14 finalizações
Contra o Ceará - 13 finalizações
Contra o Botafogo e o Prudente - 11 finalizações
Contra o Inter, Atlético-MG e o Fluminense - 9 finalizações
Contra o Atlético-PR - 7 finalizações

* Publicado no Terra

terça-feira, 20 de julho de 2010

A vida começa em agosto


Considerando que só há um jogo do Campeonato Brasileiro em dezembro, já temos transcorridos sete dos 11 meses de futebol na temporada. Mesmo assim, há quem faça, refaça e refaça novamente o planejamento de elenco, troque treinadores e continue a gastar. É claro que há a janela para o exterior no meio do caminho, mas nem isso justifica tamanha falta de competência de quase todos os grandes clubes brasileiros.

Um caso muito peculiar é o Palmeiras, que apenas na última semana conseguiu quitar a rescisão de Vanderlei Luxemburgo, já há um ano fora do clube. Para Muricy Ramalho, seu sucessor, o clube ainda pagará R$ 3 milhões, divididos em 10 parcelas. A folha salarial, que poderia ser melhor acomodada para um elenco mais forte, ainda é comprometida pelos vencimentos de Antônio Carlos e, claro, Felipão. Em pleno fim de julho, o clube faz altos investimentos em Tinga e Kléber e ainda quer Valdívia e até mais três reforços.

Por falar em Luxemburgo, o Atlético-MG é outra vergonha. A gestão personalista de Alexandre Kalil, que até outro dia se negava contratar um diretor de futebol, já acertou com nove jogadores desde a parada da Copa do Mundo, acrescentando assim muita gente a um elenco já inchado. Só goleiros há quatro que foram contratados em menos de um ano: Fábio Costa, Marcelo, Carini e Aranha. E o clube tem Renan Ribeiro, reserva da seleção sub-20 em 2009.

O Flamengo é outro adepto do trabalho de seis meses e vive em constante mutação, fazendo um planejamento do futebol de causar inveja aos tempos da presidência de Kléber Leite. Patrícia Amorim e o Fla, com a ajuda de patrocinadores, pagam cerca de R$ 350 mil mensais para Zico, o executivo escolhido para reformular a imagem amadora que paira sobre a Gávea. Até agora, os reforços contratados por ele foram o goleiro Vinícius, o zagueiro Jean, o volante Correa, os meias Marquinhos e Renato Abreu e os atacantes Borja e Val Baiano. Vale o investimento?

Mais perspicaz parece o Internacional, que buscou jogadores identificados com o clube e que vão aprimorar o elenco, sob o qual foram feitos ajustes mais pontuais. Mesmo assim, o Beira-Rio foi mais uma casa a ter troca de treinadores. Uma prática comum a quase todos.

Entramos em agosto daqui a 10 dias, mas só seis clubes entre os 20 da Série A mantém os mesmos treinadores que tinham em janeiro. A vida, no futebol brasileiro, começa em agosto. E assim se gasta muito mais do que era preciso. Por pura incompetência.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O Brasileiro e a seleção, entre Mano e Muricy


A melhor definição que ouvi sobre o atual Corinthians foi de Estevam Soares, agora treinador do Ceará, há uma semana: é um time frio, disse ele em entrevista ao blogueiro na antevéspera do encontro entre os dois então líderes. Os corintianos têm sido tão gelados em campo que às vezes falta mais intensidade para fazer loucuras e achar mais gols. Ainda que tenha o melhor ataque do Brasileiro, está preso a alguns códigos de conduta dos quais jamais se desgarra. Não há dúvidas de que, em campo, o time que ponteia o Brasileiro há nove rodadas é também o retrato de seu técnico. Sempre frio e calculista.

O que fez o Fluminense na Vila Belmiro também mostra o quanto as ideias de Muricy Ramalho já se refletem muito claras nas Laranjeiras. Bastou um tempo mais longo de trabalho para que o espírito de jogo competitivo pregado sempre pelo treinador transformasse o time que antes tinha dificuldade em segurar resultados com Cuca. O Santos finalizou 19 vezes mas não fez. Hoje, ninguém ameaça tanto o Corinthians quanto o Flu.

É verdade que ainda há 29 rodadas por jogar e até 87 pontos para se somar, mas o Brasileiro se encaminha, aos poucos, para os times dos dois treinadores mais competentes dos últimos tempos no futebol nacional. Os principais concorrentes vão se eliminando um a um com atitudes erradas, negócios infelizes e as próprias fraquezas. Entre os 10 primeiros, com sangue frio, dá para dizer que só o Internacional é hoje capaz de buscar Corinthians e Fluminense, mas já há uma distância de oito pontos.

Coincidência ou consequência, a impressão é de que um dos dois ficará com a seleção brasileira, cuja coordenação se encaminha para Carlos Alberto Parreira. A CBF, representada na figura de seu presidente, não é uma entidade de atitudes flexíveis, o que dificultaria um diálogo com Felipão ou Leonardo, de problemas e diferenças no passado. Restam mesmo Muricy Ramalho e Mano Menezes, mas o grande problema é observar que as ideias de time que se possui para o futuro da seleção brasileira são bastante diferentes dos perfis dos dois treinadores.

Muricy Ramalho perderia o pescoço se ousasse jogar de verde-amarelo como jogou, no domingo contra o Santos, de tricolor. Suas ideias são conservadoras e o espaço que dá aos jovens é sempre limitado - basta ver o que aconteceu com Wellington Silva nos últimos meses. Já Mano Menezes não é exatamente contrário ao perfil desejado, mas adota estratégias que defendem, muitas vezes, o futebol de resultado, a vitória sob o menor risco possível.

São características que lhes trariam dificuldade na seleção brasileira, mas que podem dar a eles o título brasileiro em dezembro.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O maior Palmeiras x Santos do Pacaembu*


Nesta quinta-feira, Santos e Palmeiras se reencontram no Pacaembu 50 anos depois do maior clássico que já disputaram na história do estádio. Em janeiro de 1960, definiram o que ficou chamado de Supercampeonato Paulista, ainda relativo à temporada anterior. Em campo, mitos como Djalma Santos, Julinho Botelho, Jair da Rosa Pinto, Pelé e Pepe. Mas as manchetes do dia seguinte, relativas à conquista palmeirense, ficaram com um personagem bastante improvável.

Aos 3min do segundo tempo, o ponta esquerda Romeiro marcou o gol do título para os alviverdes. Revelado no América-RJ, ficou imortalizado no imaginário palestrino até hoje por conta daquele lance. "Ele vivia uma grande fase naquela época", lembra o santista Pepe, em entrevista ao Terra.

A histórica decisão do Pacaembu aconteceu em 10 de janeiro de 1960, cinco décadas antes do duelo desta quinta-feira. Foi a segunda e última vez, em oito anos, que o Santos não conquistou o Campeonato Paulista. O que dá mostras da força daquele Palmeiras.

Supercampeonato

Nem mesmo 38 rodadas foram suficientes para desempatar Santos e Palmeiras, as duas grandes equipes do Campeonato Paulista em 1959. Por isso, decidiram a taça em três jogos, todos disputados no Pacaembu, em janeiro do ano seguinte.

O campeão mundial Djalma Santos, um dos símbolos palmeirenses, recorda: "o Santos tinha uma equipe muito boa, com todos aqueles craques, mas o Palmeiras jogou de igual para igual. Sabíamos que tinha que dar tudo pela vitória, porque o adversário vinha com o moral muito elevado". Foi, de fato, o que os palestrinos fizeram.

Na primeira partida, o Santos de Pelé saiu na frente, mas Zequinha foi atrás do empate para o Palmeiras. A igualdade confirmou que mais dois jogos seriam realizados, o que fez o público, recorde de renda do Paulista de 59, sugerir que havia armação. Fato é que jogaram novamente no mesmo Pacaembu e a partida terminou em 2 a 2. Pepe fez de pênalti, Chinezinho e Getulio (contra) viraram, mas o mesmo Pepe igualou, de novo em penalidade máxima.

"Dos times do trio de ferro, o Palmeiras é que fazia mais frente ao Santos. Tinha uma defesa forte e um ataque excelente, o equilíbrio era muito grande. Em 59, mesmo não sendo campeão, foi o ano que o Santos marcou mais gols", lembra Pepe. Com 18 anos, Pelé foi o artilheiro daquele Paulista, marcando 44 gols.

A finalíssima

Com uma renda recorde de mais de 3 milhões de cruzeiros, santistas e palmeirenses foram ao Pacaembu e Pelé fez o que dele se esperava: lançado em velocidade, abriu o marcador para os santistas já aos 14min. Mas aquele era o dia de Romeiro, o ponta esquerda do Palmeiras.
Após jogada dele, Julinho Botelho, o capitão palmeirense, colocou na rede pouco antes do intervalo, aos 42min. Julinho e Djalma Santos, ambos formados na Portuguesa, ainda procuravam o primeiro grande título da carreira por clubes. Surgiu com Romeiro, que acertou um chutaço já aos 3min do segundo tempo. Era o lance da taça.

Os santistas reclamam sobre a condição física de Jair da Rosa Pinto e Pagão, dois titulares. Pepe é quem recorda. "Eles foram preparados para a partida decisiva, porque estavam lesionados. Isso foi favorável ao Palmeiras, porque se ressentiram das contusões e a gente não podia trocar. Eles ficaram no campo até o fim, mas sem condições. Como a gente diz, foram parar na ponta".

"Lembro que o Lula, nosso treinador, conversou com a gente antes do jogo e disse que os jogadores do Palmeiras ficariam preocupados, que o Santos já sairia com 1 a 0 na frente. Os dois tinham muita categoria, mas não estavam bem", recorda Pepe, que tem tudo anotado em seus já famosos caderninhos. Djalma Santos responde: "acho que se entraram em campo estavam bem".

Amigos de Seleção Brasileira de 1958, o lateral direito do Palmeiras e o ponta esquerda do Santos lembram do duelo particular. Pepe relembra: "o Djalma Santos foi o melhor lateral da Copa. Éramos e somos amigos até hoje e ainda tem aquele carinho. Eram duelos equilibrados, ninguém tinha grande superioridade". Djalma concorda. "Manda um abraço para ele", diz ao Terra.

Ficha técnica da finalíssima

PALMEIRAS 2 x 1 SANTOS
Data: 10/01/1960
Estádio: Pacaembu
Gols: Pelé, aos 14min, Julinho, aos 42 min do 1º tempo, e Romeiro, aos 3min do 2º tempo

Palmeiras: Valdir; Djalma Santos, Valdemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Aldemar; Julinho, Nardo, Américo, Chinezinho e Romeiro
Treinador: Osvaldo Brandão

Santos: Laércio; Urubatão, Getulio e Dalmo; Formiga e Zito; Dorval, Jair da Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe
Treinador: Lula

* Publicado no Terra

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Melhores, piores e a seleção da Copa


A segunda-feira foi super corrida e não deu tempo de fazer textos criativos aqui para o blog. Vou aproveitar uns minutinhos, copiar a ideia do amigo André Rocha, do blog Olho Tático no Globoesporte.com, e resumir rapidamente minhas preferências sobre a excepcional Copa do Mundo.

Aproveitando que temos um post mais solto, obrigado a todos pelas visitas. O Papo de Craque manteve um nível regular de postagens e a participação dos leitores é sempre motivadora. Foi profissionalmente uma honra poder trabalhar nesta Copa com os amigos do Terra. E um desafio achar tempo para escrever aqui, mas continua valendo muito a pena.

Melhor atuação individual: Schweinsteiger, em Alemanha 4×0 Argentina
Melhor atuação coletiva: Alemanha, na vitória sobre a Argentina
Melhor partida: Espanha 1 x 0 Holanda, a final
Pior partida: Inglaterra 0 x 0 Argélia
Melhor mudança tática: Bob Bradley, dos EUA, contra Eslovênia
Lance marcante: Mão do uruguaio Luis Suárez contra Gana
Surpresas: Uruguai, Gana e Nova Zelândia
Decepções: França e Itália. Se tiver de escolher uma, França
O maior fiasco: Rooney
O personagem: sem dúvida, Maradona. Já como treinador...
A imagem: Choro de Casillas após gol de Iniesta
Gol mais bonito: David Villa contra Honduras
Técnico: Joachim Löw
Pior técnico: Diego Maradona
Revelação: Thomas Müller
Craque da Copa: Diego Forlán
Melhor do Brasil: Maicon

SELEÇÃO DA COPA
Casillas; Sergio Ramos, Piqué, Juan e Lahm; Schweinsteiger, Sneijder, Müller e Iniesta; Villa e Forlán

RESERVAS
Eduardo; Maicon, Friedriech, Puyol e Coentrão; Diego Pérez, Kwadwo Asamoah, Xavi e Özil; Klose e Luis Suárez

Aproveite e veja as preferências do amigo André Rocha, no Olho Tático

Espanha prova: Copa do Mundo não se ganha por acaso


Em 2006, a Espanha deu um duro golpe a quem sempre tentava lhe defender nas conversas de bar e afins: ganhou os três jogos da primeira fase e, nas oitavas, se ajoelhou aos pés da França e de Zidane. Casillas, Puyol, Xavi, Fernando Torres, Xabi Alonso, Sergio Ramos, Fabregas e David Villa estavam em campo, além de Iniesta entre os reservas. Todos esses nove grandes jogadores chegaram maduros à África do Sul, o que mostra que é com trabalho, planejamento, evolução e, claro, estrela, que se conquista um título mundial.

Como o Brasil no vôlei, como a Argentina no tênis, como os Estados Unidos no basquete, a Espanha trabalhou duro para vencer a Copa do Mundo. Não por acaso, venceu quatro das últimas oito edições do Europeu Sub-19 e duas das últimas quatro, além de um vice, no Europeu Sub-17. Não foi dando as costas para a formação de craques como Xavi, vice-líder da história do time sub-21 em convocaçòes, que chegou a duas das últimas seis decisões do Mundial Sub-20, e ganhou uma. Ou ainda foi três vezes semifinalista nos últimos quatro Mundiais Sub-17.

A Copa do Mundo que a Espanha conquista passa também pela construção de um estilo muito próprio, seguro e bom de se ver. Desde que Luis Aragonés assumiu o time, em 2004, sempre se priorizou a técnica acima de qualquer outro aspecto. A identidade de jogo não parou de se aperfeiçoar, os movimentos em campo passaram a ser automáticos e sincronizados. A mentalidade antes insegura deu lugar a um time gelado nos momentos chaves do jogo e ao mesmo tempo vibrante como manda sua história.

Na Copa 2006 e na Euro 2008, respectivamente, os espanhóis jogaram com 59% e 54% de posse de bola. A média no Mundial 2010 cresceu em proporções consideráveis, atingindo 62%. A geração que em campo é liderada por Xavi jogou sempre de forma segura no mata-mata. Finalizou sempre mais que o adversário e nunca passou a sensação de que poderia perder. Ajuda muito ter um goleiro como Casillas, que repetiu a Eurocopa e passou os jogos eliminatórios novamente sem sofrer gols.

Qual a seleção que hoje em dia tem um zagueiro armador como Piqué? Uma dupla de organizadores como Xavi e Iniesta? Atacantes tão letais quanto Villa e Torres? Dois jogadores seguros como Sergio Ramos e Capdevilla em uma posição que várias grandes equipes têm problemas? Quem se dá ao luxo de manter Fabregas no banco? Será que Bronckhorst, Lahm, Lugano, Lúcio e Mascherano são mais líderes e tão bem aceitos quanto Puyol? E mesmo com um repertório tão grande, a Espanha preserva o jogo coletivo, sempre deixa o individual em segundo plano. Afinal, com 11 se faz um time.

A técnica, o conjunto e o preparo superiores da Espanha ficaram mais que evidentes na decisão. Mesmo criando mais dificuldades que a Alemanha, a Holanda se mostrou um time competitivo, mas em todo o tempo dominado. Sneijder e Robben quase decidiram como nos outros mata-matas, mas prevaleceu a qualidade dos espanhóis. Para um time que era visto como amarelão, a seleção espanhola foi provavelmente o primeiro favorito pré-Copa a vencer desde 1974.

Aliás, como o time de Beckenbauer e mais ninguém, levou a Euro e o Mundial de forma consecutiva. Certamente não foi por acaso.

Alemães e uruguaios também plantam

Salvo Friedrich e Klose, há nove titulares dessa Alemanha que podem estar em 2014 mais maduros, entrosados e confiantes. Foi o único time que poderia ter tirado a taça da Espanha em capacidade técnica e que surpreendeu tanto positivamente ao longo do Mundial. O Uruguai, é natural, terá mais dificuldades ao longo dos próximos quatro anos. Possui uma liga fraca, jogadores um pouco mais velhos e uma população pequena. Por outro lado, Suárez e Cavani têm enormes possibilidades de crescerem e é bem provável que atuem em clubes de ponta já na próxima temporada.

Assim como os espanhóis fizeram de 2006 a 2010, ambos têm tudo para chegar fortíssimos ao Mundial do Brasil. E o emocionante e agradável jogo de terceiro lugar foi a sétima prova que Alemanha e Uruguai deram de suas grandezas na África do Sul.

ESPANHA (4-2-3-1) x HOLANDA (4-2-3-1)
Melhor em campo: Iniesta
Melhor da Holanda: Sneijder
O leão: Sergio Ramos
O preguiça: mais uma vez Van Persie
A imagem do jogo: o choro copioso de Casillas após o gol da vitória

ALEMANHA (4-2-3-1) x URUGUAI (4-4-2)
Melhor em campo: Forlán
Melhor da Alemanha: Khedira
O leão: Diego Pérez
O preguiça: Aogo
A imagem do jogo: bola na trave de Diego Forlán

sábado, 10 de julho de 2010

O Brasil não tem um craque


Muitos ficaram de orelha em pé quando a Fifa divulgou, na sexta, a lista com 10 finalistas ao prêmio de melhor jogador da Copa do Mundo. Nenhum brasileiro constava na relação onde até Asamoah Gyan e Lionel Messi, ambos também eliminados nas quartas, figuraram. O anúncio foi sintomático para se perceber que, como jamais visto nos últimos tempos, o Brasil precisará apostar nos potenciais craques.

O futuro de nosso futebol está nos pés de Alexandre Pato, Paulo Henrique Ganso, Neymar, Hernanes e mais alguns outros. Os quatro principalmente são os jogadores atualmente disponíveis que podem se transformar em craques. Se você lembrou de Kaká e Robinho, provavelmente precisará voltar muitos anos no tempo para chegar a algum jogo realmente de alto nível que um dos dois tenha desequilibrado. Júlio César é fantástico, mas um goleiro não vence um jogo sozinho.

Sobre a eleição, não há como apontar um favorito e tudo dependerá do domingo. Se algum jogador tiver uma atuação desequilibrante na final, ficará com o prêmio. Se der Holanda sem destaques individuais, o vencedor é Sneijder. Em caso de a Espanha conquistar a taça também sem destaques individuais, o favoritismo recai sobre David Villa.

PS.: Villa marcou cinco dos sete gols espanhóis na Copa. Decidiu as vitórias contra Portugal e Paraguai.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

CBF só fala o que lhe convém


O Olheiros traz informações importantes em coluna desta semana. De forma exclusiva, levantamos relatos a respeito das precárias condições de trabalho que a CBF oferece aos profissionais que trabalham nas seleções de base do Brasil.

Você sabia que eles sequer têm vínculo empregatício com a entidade que, de uma hora para outra, resolveu quer um time de jovens no elenco para 2014?

Esse entre outros detalhes estão no texto do Olheiros.

Holanda e Espanha: uma final do Cruyffismo


"Não poderia pedir uma final mais atrativa. Com quem vou? Sou holandês, mas defendo o futebol que joga a Espanha. Quero desfrutar intensamente desta final". É assim, resumidamente, que Johan Cruyff, em seu blog, se referiu à decisão do próximo Mundial. De fato, a intimidade dele com as duas finalistas é enorme.

Holandeses e especialmente espanhóis jogam sob a inspiração e os conceitos de Cruyff, alguém que colocou seu nome no futebol independente das taças. As semifinais diante de Uruguai e Alemanha repetiram ideias do mito que vestia a camisa 14 do Barcelona e até hoje vê suas ações como jogador se refletirem em campo e suas palavras ecoarem fora dele.

Por mais que houvesse um encantamento geral com o bom e jovem futebol dos alemães, Holanda e Espanha farão uma final digna para a Copa do Mundo 2010. Pela primeira vez desde 1978, duas seleções que não têm títulos mundiais se enfrentarão, mas a suposta falta de tradição é incapaz de tirar o brilho de suas escolas fascinantes. Ambas com uma perceptível interferência de Cruyff.

A Espanha comandada por Del Bosque atua sob grande influência do Barcelona de Guardiola, o fiel seguidor dos princípios do legendário holandês. Não só pelo fato de ter tido seis titulares do clube catalão contra a Alemanha. Os códigos azuis-grenás estão muito claros desde o papel de Piqué, a quem sempre recai a responsabilidade de levar a bola da defesa ao centro do campo. Busquets possui os mesmos deveres: se Xabi Alonso quer armar, como fez tantas vezes contra os germânicos, Sergio faz o papel de trinco.

Xavi e Iniesta têm total liberdade de movimentação. O primeiro pode voltar à linha dos volantes, encostar nos homens de frente e dar fluidez aos dois lados do campo. Especialista em fazer o time jogar coletivamente. O segundo se move pelas duas bandas e procura o meio para se aproximar de Xavi. Pedro, a última cartada espanhola, dá profundidade ao ataque, incomoda a linha defensiva do adversário e prende a bola para a aproximação dos companheiros. Está grudado ao flanco mas nunca isola o centroavante. Sem dúvida, um jogador de características muito especiais que Del Bosque soube usar como elemento surpresa em um momento apropriado.

Esse estilo de jogo coletivo e dominador esteve no DNA da Holanda de Cruyff. Por mais que o capitão fosse o dono da equipe, jamais se colocava acima do conjunto. Assim é a Espanha que finalizou mais e teve mais posse de bola que seus adversários nos seis jogos deste Mundial. Definitivamente pronta para unificar Copa e Eurocopa, como apenas a Alemanha conseguiu em 74.

A influência de Cruyff no futebol holandês já atravessa quase quatro décadas e segue intacta. O jogo com pontas, com velocidade, ocupação de espaços e futebol coletivo ofensiva e defensivamente está em qualquer manual que se compre em Amsterdã ou Roterdã. Bert van Marwijk não poda exatamente esses signos, bastante presentes até os dias de hoje. Só faz com que a Laranja atue de forma mais segura.

A derrota diante da Rússia na última Eurocopa criou feridas profundas na Holanda que havia vencido franceses e italianos por três gols de diferença. O time de Van Marwijk joga duro no meio-campo, com De Jong e Van Bommel, para impedir que os adversários se aproximem de sua frágil defesa composta por dois laterais de origem no miolo. Também tem dificuldades em fazer Van Persie ser mais participativo e prender a bola, dois pontos que empobrecem a beleza do jogo.

Se não é a Holanda que encanta tanto quanto a Espanha em alguns pontos, ainda assim é um time cujo legado de Cruyff está sempre presente. Teve dificuldades contra o Uruguai em muitos momentos, afinal enfrentou um adversário que jamais se dá por vencido e tem qualidade em todos os setores. Só foi batido, basicamente, porque enfrentou um time muito, muito superior do
ponto de vista técnico.

Os últimos 50 jogos das finalistas:
Holanda - 36 vitórias, 9 empates e 5 derrotas
Espanha - 44 vitórias, 4 empates e 2 derrotas

ESPANHA (4-2-3-1) x ALEMANHA (4-2-3-1)
Melhor em campo: Xavi
Melhor da Alemanha: Neuer
O leão: Puyol
O preguiça: Trochowski
A imagem do jogo: a arrancada de Puyol, se escorando em Piqué

HOLANDA (4-2-3-1) x URUGUAI (4-4-2)
Melhor em campo: Sneijder
Melhor do Uruguai: Forlán
O leão: Arévalo Rios
O preguiça: Van Persie
A imagem do jogo: quase empate uruguaio no último lance

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A obsessão dos espanhóis*


Correr com a bola cansa menos do que correr atrás dela. É mais ou menos com base nesse princípio que a Espanha criou um sistema de jogo cada vez mais nítido e sólido quando seus jogadores entram em campo: trocar muitos e muitos passes até cansar o adversário e abrir espaços em sua defesa. Uma tática que será colocada em prova pela Alemanha, nesta quarta-feira, em Durban, pela semifinal da Copa do Mundo de 2010.

Entre os jogadores que disputaram ao menos três partidas, Xavi Hernández é o líder de passes na Copa, com média de 80 por jogo. A seu lado, entre os dez principais passadores, estão outros quatro espanhóis: Busquets, Sergio Ramos, Piqué e Xabi Alonso, o segundo no geral com 60 passes por jogo.

Por consequência, a Espanha lidera de forma absurda o ranking de passes da Copa. Em média, o time de Xavi e Iniesta toca a bola de pé em pé 540 vezes por jogo do Mundial. O segundo colocado é a Argentina, com 77 passes a menos que os espanhóis.

A origem do estilo

Foi especialmente com Luis Aragonés, que assumiu a Espanha após o fiasco na Euro 2004, que se deu corpo a esse estilo de jogo. Naturalmente, atuar com a posse de bola é facilitado pelas presenças de Xavi Hernández e Andrés Iniesta, especialistas em toques curtos para cansar o adversário.

O Barcelona, primeiro com Frank Rijkaard e depois com Pep Guardiola, é a grande inspiração para esse plano de jogo. Mesmo em momentos agudos, como a semifinal da última Liga dos Campeões da Europa contra a Inter de Milão, o raciocínio segue o mesmo. Precisando de dois gols de vantagem, o time não se desesperou e perdeu a vaga na final fiel ao seu estilo.

Aragonés importou essa característica, facilitada pelo fato de a seleção espanhola ter muitos jogadores técnicos, especialmente no meio-campo. Na Copa de 2006, primeiro grande torneio sob o comando do técnico, a Espanha terminou seus quatro jogos com mais posse de bola que o adversário.

A queda nas oitavas diante da França de Zinedine Zidane não alterou o que se planejava. Naquele dia, os espanhóis dominaram o rival, com índice de 62% contra 38%. Caíram prematuramente graças ao brilho do capitão francês que decidiu a partida em lances individuais. A glória viria dois anos depois.

Índices cada vez maiores

Aragonés permaneceu no cargo e foi coroado com o título europeu em 2008. Naquele torneio, a Espanha aprofundou sua característica de jogar com mais posse de bola. Em apenas dois dos seis jogos da conquista os espanhóis jogaram com índice menor que o rival.

Diante da Rússia, na estreia: afinal, o treinador do rival era Guus Hiddink, holandês mundialmente reconhecido como um dos mais competentes em jogar com a posse de bola. No reencontro com os russos, já na semifinal, a Espanha retomou a soberania e deu um banho.

A segunda ocasião foi na final contra a Alemanha. O único gol do jogo, marcado por Fernando Torres, surgiu aos 33min. Daí em diante a Espanha abdicou de seu estilo e deu campo aos alemães, que ficaram com o vice.

Na Copa do Mundo, já com Vicente del Bosque no comando técnico, tem sido ainda mais gritante a qualidade dos espanhóis em jogar com a posse de bola. Em todas as cinco partidas, a Espanha teve mais que 60% de índice. Diante do Paraguai, trocou quase o triplo de passes em relação ao rival.

Confira o índice de posse de bola da Espanha nas últimas três grandes competições:

COPA DO MUNDO 2010

Espanha 1 x 0 Paraguai
Posse de bola: 67% a 33%
Passes: 575 a 206

Espanha 1 x 0 Portugal
Posse de bola: 63% a 37%
Passes: 591 a 298

Espanha 2 x 1 Chile
Posse de bola: 63% a 37%
Passes: 571 a 236

Espanha 2 x 0 Honduras
Posse de bola: 61% a 39%
Passes: 436 a 255

Espanha 0 x 1 Suíça
Posse de bola: 72% a 28%
Passes: 539 a 196

EUROCOPA 2008

Espanha 4 x 1 Rússia
Posse de bola: 46% a 54%

Espanha 2 x 1 Suécia
Posse de bola: 63% a 37%

Espanha 2 x 1 Grécia
Posse de bola: 57% a 43%

Espanha 0 x 0 Itália (4 a 2 nos pênaltis)
Posse de bola: 57% a 43%

Espanha 3 x 0 Rússia
Posse de bola: 52% a 48%

Espanha 1 x 0 Alemanha
Posse de bola: 48% a 52%

COPA DO MUNDO 2006

Espanha 3 x 1 Tunínia
Posse de bola: 65% a 35%

Espanha 1 x 0 Arábia Saudita
Posse de bola: 58% a 42%

Espanha 4 x 0 Ucrânia
Posse de bola: 54% a 46%

Espanha 1 x 3 França
Posse de bola: 62% a 38%

* Publicada no Terra

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sem se importar com o trabalho sujo


Edinson Cavani pintou para os uruguaios em 2007 como a esperança de um grande craque. Capitão, foi o artilheiro do Sul-Americano Sub-20 com sete gols, à frente até de Alexandre Pato. Era aquele centroavante técnico e com presença de área, algo muito diferente do Cavani que participa da melhor campanha da Celeste Olímpica em 40 anos de Copas. Um jogador que não se importa em realizar o trabalho sujo.

Reserva na estreia contra a França, Cavani entrou no time para permitir que Diego Forlán brilhasse. Segundo atacante, é sempre ele quem retorna na marcação ao lateral esquerdo adversário. Diego, o craque, joga sem obrigações defensivas, mas Cavani é o abnegado que corre de uma linha de fundo à outra.

Se computados os quatro últimos jogos, quando ele esteve em campo, nenhum outro jogador uruguaio correu tanto. Jogando sempre no choque, já sofreu nove faltas no Mundial - Forlán só uma. O esforço físico é uma característica que Cavani acrescentou a seu jogo desde que chegou no Palermo. Lá, é que ele quem ajuda na recomposição defensiva enquanto Miccoli fica fixo na frente.

No futebol de hoje, em que até atacantes são escolhidos pela capacidade de ajudar na marcação, o camisa 7 da Celeste é importantíssimo. Mais que qualquer coisa, Cavani é um jogador talentoso que não se importou em ser coadjuvante e atuar coletivamente.

O baile holandês*


Até 1974, a Holanda estava muito longe do radar das grandes seleções. Seus últimos (e únicos) Mundiais haviam sido em 34 e 38, quando havia sido eliminada nas estreias com derrotas. A volta a uma Copa do Mundo, quase quatro décadas depois, não se anunciava simples, já que o rival era o tradicional Uruguai. Não se esperava que o confronto, reeditado nesta terça-feira na Cidade do Cabo, entrasse para a história. Mas foi exatamente o que aconteceu.

A lendária e revolucionária Laranja Mecânica escreveu seu primeiro capítulo justamente contra os uruguaios, semifinalistas da Copa do Mundo anterior. A vitória por 2 a 0 foi mínima perto do massacre técnico, tático e físico dos holandeses. Era o nascimento de um grande esquadrão, mas Johan Cruyff temia o duelo, confessou anos depois.

O arrastão holandês

"Estávamos muito nervosos. Além de nunca termos atuado juntos, cinco jogadores estrevam em novas funções. O próprio Nesskens teve de se sacrificar e fazer várias funções. Eu não estava 100% fisicamente. E tudo isso junto, num só jogo, o da estreia, com uma seleção bicampeã mundial, quarta colocada na Copa anterior...", afirmou Cruyff no livro Futebol Total, escrito por ele próprio.

Bastou a bola rolar para as ideias ficarem claras. A Holanda tinha a base do Ajax, então tricampeão da Liga dos Campeões da Europa, e as novas peças se encaixaram milimetricamente. Ao contário do que se imagina, aquele time holandês sincronizado e imprevísivel não foi montado por anos e anos. Foi um fenômeno da natureza.

Não foi suficiente aos uruguaios ter um time experiente, com jogadores como o goleiro Mazurkiewicz, o lateral Pablo Forlán, o volante Montero Castillo e o meia Pedro Rocha. A base semifinalista da Copa de 70 já era ultrapassada e foi atropelada pela Laranja Mecânica.

Segundo o livro As maiores seleções estrangeiras de todos os tempos, do jornalista Mauro Beting, foram 17 chances de gol da Holanda contra uma do Uruguai. Além dos dois gols, um pênalti não marcado, um gol anulado equivocadamente e muitas, muitas defesas do goleiro Mazurkiewicz. Pedro Rocha recorda o massacre:

"Nosso treinador (Roberto Porta) pediu atenção especial para o 14. Montero Castillo, nosso volante, disse para 'deixar com ele', que o Cruyff não iria andar. Pois é... No intervalo, perguntei ao Castillo porque não conseguira fazer o prometido. Ele me disse: 'mas como? Corri atrás do 14 o campo todo e ele não parou! Não dava nem para dar porrada nele". Castillo conseguiu ao menos o segundo objetivo: de tanto bater, foi expulso aos 22min da etapa final.

Futebol total

Coletivamente, como se tornaria a marca de todos os grandes times do país, a Holanda construiu seus dois gols. O primeiro, já com 6min, com o lateral Suurbier fazendo jogada de ponta, pela direita, e cruzando na cabeça de Rep, que finalizou da posição de centroavante. Não à toa se dizia que o time rodava como um carrossel...

Cruyff ainda marcou um gol, inexplicavelmente anulado pelo árbitro húngaro Karoly Palotai, que entraria para a história do futebol. Até um "ohhhh" do estádio a Holanda arrancou, em seguida, por conta de um impedimento. Aos 46min, o cerebral Van Hanegen lançou Rep, que rolou para Rensenbrink confirmar a vitória e encerrar a história.

Além de inaugurar a linha de impedimento, a Holanda apresentou ao mundo a tática que se notabilizaria como arrastão. Subitamente, vários holandeses (oito, nove ou até dez) se moviam na direção de um adversário na saída de bola.

Essa era uma de tantas marcas daquele time que não precisou de taças para escrever seu nome na história. E começou tudo isso contra o mesmo Uruguai desta terça-feira.

Ficha do jogo

Local: Niedersachsenstadion, em Hannover
Data: 15 de junho de 1974
Árbitro: Karoly Palotai (Hungria)

Uruguai
Makurkiewicz; Forlán, Jauregui, Montero e Pavoni; Mantegazza, Esparrago e Pedro Rocha; Cubilla (Milar), Morena e Masnik
Treinador: Roberto Porta

Holanda
Jongloed; Suurbier, Haan, Rijsbergen e Krol; Jansen, Neeskens e Van Hanegen; Cruyff, Rensenbrink e Rep
Treinador: Rinus Michels

Cartões:
Amarelos: Mantegazza, Forlán e Masnik
Vermelho: Montero Castillo

Gols: Rep, aos 16min do 1º tempo, e Rensenbrink, aos 46min do 2º tempo

* Publicado no Terra

domingo, 4 de julho de 2010

A Copa do Mundo não permite experiências


Os fracassos dentro de campo das equipes de Dunga e especialmente Maradona ficaram marcados na fase de quartas de final da Copa do Mundo. O banho coletivo e tático da Alemanha sobre a Argentina expôs uma diferença gritante no conjunto das duas equipes: alemães marcavam à frente, atacavam e defendiam com quase todos os jogadores e chegavam na área para finalizar sempre em triangulações e jogadas combinadas. Os argentinos, como bem observou Joachim Löw, eram um time dividido: cinco para defender, cinco para atacar. Um rascunho de time. Não dá para crucificar Messi.

É ingênuo demais imaginar que uma atuação tão superior de um time sobre outro, com jogadores tecnicamente equivalentes, não tenha interferência de um treinador, para o bem ou para o mal. Maradona, como Dunga, soube caminhar bem na administração do grupo fora de campo, criou um ambiente favorável entre os jogadores e trouxe o povo para o lado da seleção. Transformar grandes jogadores em um grande time não é tão simples quanto isso. Isso, nem El Pibe e nem seus auxiliares conseguiram.

Outro exemplo importante onde se nota a interferência de um treinador está entre os ganenses. Não deve ser por acaso que todas as melhores campanhas africanas na história das Copas (Marrocos-86, Camarões-90, Senegal-02 e Gana-10) tinham um técnico estrageiro à frente. O sérvio Milovan Rajevac fez os Estrelas Negras atuarem de uma forma coletivamente muito sólida, com variações importantes e preservando algumas características próprias daquele continente. Gana foi superior ao Uruguai e só não chegou à semifinal por essas maravilhas que nos fazem ser apaixonados pelo futebol.

O próprio crescimento de paraguaios e uruguaios nos últimos anos é fruto de trabalhos dedicados. As duas seleções têm poucos diferenciais técnicos, especialmente os rojiblancos, mas seus jogadores, unidos, jamais vendem barato uma derrota. O Uruguai segue na Copa graças à organização que tem em campo, à leitura de jogo quase sempre muito correta e a uma estrela inegável. Mesmo quando esteve contra as cordas, a Celeste mostrou sua grandeza. Um time só não pode é ficar refém de sua camisa, como fez a Argentina ao entregar seus talentos a Maradona.

Por fim, um trabalho acima de qualquer treinador é o da Espanha. Das mais jovens seleções de base ao time adulto, passando pela concepção de jogo de vários clubes do país, há uma mentalidade muito clara. As participações de Luis Aragonés e Vicente del Bosque, não exatamente grandes estrategistas, se resumem muito mais à escolha dos jogadores e ao posicionamento deles em campo. O que torna ainda mais encantador o futebol jogado sob o ritmo de Xavi e Iniesta.

ESPANHA (4-2-3-1) x PARAGUAI (4-4-2)
Melhor em campo: Iniesta
Melhor do Paraguai: Villar
O leão: David Villa
O preguiça: Cardozo
A imagem do jogo: A bola batendo três vezes na trave antes do gol espanhol

ALEMANHA (4-2-3-1) x ARGENTINA (4-1-3-2)
Melhor em campo: Schweinsteiger
Melhor da Argentina: Di María
O leão: Lahm
O preguiça: Heinze
A imagem do jogo: Maradona, conformado e desolado, dando adeus à Copa

URUGUAI (4-4-2) x GANA (4-2-3-1)
Melhor em campo: Forlán
Melhor de Gana: Kevin-Prince Boateng
O leão: Cavani
O preguiça: Asamoah Gyan
A imagem do jogo: Luis Suárez, do inferno ao céu, após o pênalti perdido por Asamoah Gyan

O problema da vez no Brasil: dar às costas para suas próprias raízes

Eliminações do Brasil em Copas sempre geram desdobramentos nos anos seguintes. Foi assim desde a década de 50, quando se criou a ideia de que o problema da seleção era falta de organização e fragilidade mental. O fim do complexo de vira latas, em 1958, transformou Paulo Machado de Carvalho em um personagem fundamental na história de nosso futebol. Daí, perdemos jogando bonito em 78, 82 e 86. Não à toa, a seleção de Lazaroni ficou marcada como uma das mais feias a vestir o verde-amarelo em Mundiais.

O senso comum depois da virada imposta pelos homens de laranja, em Port Elizabeth, é de que a seleção de Dunga deu as costas para a essência do futebol brasileiro, o que indica a avaliação que provavelmente se fará pelos próximos meses. Depois dos gols de Sneijder, foi de dar dó a falta de recursos que o time de Dunga mostrou em campo. Felipe Melo, o homem do passe mais qualificado, fez o que fez. Kaká, sempre dependente da velocidade, se encostou na ponta esquerda e desapareceu. Robinho, apático, deu ainda mais argumentos a seus críticos.

A falta de toque de bola que revoltou brasileiros e até europeus tende a ser substituído por um novo estilo daquela que se imagina ser a equipe de 2014. Afinal, entre os mais promissores estão virtuosos como Hernanes, Giuliano, Ganso e Neymar. Só não se pode é dar as costas para pontos positivos no trabalho feito entre o Mundial da Alemanha e o da África do Sul.

O senso de unidade que Dunga deu ao elenco foi algo particularmente muito positivo em relação a 2006, quando os objetivos pessoais invariavelmente estavam à frente do conjunto. O grande pecado do treinador da seleção é ter colocado fatores extracampo à frente de critérios técnicos, o que deixou Ronaldinho Gaúcho fora da lista final e não permitiu uma aposta em Neymar ou Ganso. Seriam eles os jogadores para uma mudança de estilo dentro das partidas, mas o que se absorveu da queda diante da França foi além do necessário.

Aprender com derrotas e manter o que dava certo é justamente a maior explicação para o sucesso holandês neste Mundial. O time da última Eurocopa fez apresentações históricas contra italianos e franceses, justamente os finalistas da Copa 2006, mas se permitiu erros defensivos que deram à Rússia uma vitória no mata-mata. Bert Van Marwijk não cortou o talento, mas trouxe muito mais segurança à Orange. Não foi só em campo que a Holanda deu uma lição aos brasileiros.

HOLANDA (4-2-3-1) x BRASIL (4-2-3-1)
Melhor em campo: Sneijder
Melhor do Brasil: Juan
O leão: De Jong
O preguiça: Robinho
A imagem do jogo: Pisão de Felipe Melo em Robben simbolizando o fim da segunda Era Dunga

Chocolates para Müller*

Infelizmente, não foi possível postar o texto antes do duelo entre Alemanha e Argentina, como era a intenção do blog. Já que Thomas Müller segue no Mundial, vale o registro.


Não foi só por causa dos 14 gols marcados em Copas do Mundo que aquele senhor grisalho, de barba rala e óculos, foi cercado por todos os repórteres. Entre as perguntas, Thomas Müller foi um nome costumeiramente repetido. Atencioso, ele não perdeu a paciência para falar do jogador mais jovem desde Pelé a fazer dois gols em um mata-mata de Mundial.

"Thomas já é o melhor homem gol da Alemanha sem ser um atacante puro. Sabe fazer tudo bem e o que mais destaco é que joga igual um amistoso simples ou um jogo de seleção. Já havia dito que ele é um campeão e, de tão tranquilo, jogou como se fosse uma partida da segunda divisão. É um craque, tem um futuro incrível pela frente e a Alemanha tem um atacante para muitos anos".

Naquele momento, poucos dias depois de seu pupilo arrebentar com a Inglaterra, o velho Gerd se sentia realizado. A aposta pessoal no garoto esguio e a quem muitos pediam vibração tinha sido mais uma conquista dele. Os tantos chocolates utilizados para cativar Thomas eram baratos perto daquela satisfação.

Gols e chocolates

Hoje uma das grandes sensações do Mundial, Thomas foi treinado pelo velho Gerd Müller, maior goleador da história da seleção alemã, nas categorias de base do Bayern de Munique. Apesar do sobrenome em comum, não há qualquer ligação familiar entre os dois. Mas, indiscutivelmente, uma grande sintonia.
Thomas Müller chegou ao Bayern de Munique com 10 anos de idade, mas jamais foi tratado como aquele tipo de jogador especial. O crescimento só se deu quando encontrou Gerd nos juniores do clube. Para incentivar o pupilo, um mimo em especial: gols e grandes atuações eram premiados com chocolates.

O menino Thomas cresceu e, em 2009, ganhou de Jürgen Klinsmann, então treinador do time profissional do Bayern, a primeira chance no time de cima. Dois dos grandes atacantes da história do futebol alemão apostavam nele, que não decepcionou.

Em seu primeiro jogo de Liga dos Campeões, Thomas Müller saiu do banco e marcou. Não foi o suficiente para lhe dar sequência e Klinsmann optou pelos jogadores mais experientes que tinha à disposição. Thomas retornou para o time B, mas Gerd ainda apostava nele.

Conselhos para Van Gaal

Reconhecidamente um farejador de talentos, Louis van Gaal foi rapidamente alertado por Gerd Müller quando chegou ao Bayern no último ano. O conselho era para que o novo treinador apostasse no garoto, então já atuando na terceira divisão com os suplentes. Paul Breitner, outra legenda do futebol alemão e membro do clube bávaro, foi outro a soprar o nome de Thomas nos ouvidos do holandês.

Os 19 gols marcados por Thomas Müller indicam que Van Gaal, o homem que lançou Xavi e Iniesta no Barcelona, soube escutar os conselhos, especialmente de Gerd. Em março último, Joachim Löw inovou e, em amistoso contra a Argentina, colocou o garoto em campo, como titular da seleção, pela primeira vez. Algo que Dunga se negou a fazer com Neymar e Paulo Henrique Ganso.

Thomas foi discreto naquele dia, mas a grande reta final de temporada com o Bayern fez com que Löw persistisse. E quando a Alemanha estreou no Mundial, lá estava o menino de Gerd, com a camisa 13 nas costas. A mesma camisa de Michael Ballack. Sim, também a mesma camisa da legenda Gerd Müller na Copa de 1974.

Grande Copa

Titularíssimo desde a primeira partida alemã no Mundial, Thomas Müller já é favorito destacado ao prêmio de melhor jogador jovem da Fifa. Marcou três vezes, duas diante da Inglaterra. Deu três assistências, número atingido apenas por Kaká, já eliminado. Exibe, pela faixa direita do ataque germânico, um futebol vertical e até aqui imparável. Para a alegria do velho Gerd.

* Originalmente publicado no Terra

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A lição da Copa: futebol evoluindo e em constante mutação



Quem, em sã consciência, diria que brasileiros enfrentariam norte-coreanos e demorariam 55 minutos para marcar um gol? Ou que uma desacreditada Nova Zelândia jogaria três vezes em um grupo acirrado e não perderia nenhum jogo? Quem apostaria que uma seleção se defenderia tão bem ao ponto de não sofrer gols em mais de 9 horas jogando na Copa? Foi a Suíça, primeira equipe a impedir a Espanha de marcar após 12 partidas consecutivas.

Se há uma lição clara sobre o Mundial jogado na África do Sul, é de que o futebol se desenvolveu tanto, e os conceitos se difundiram por tantos países, que vencer fácil em torneios de alto nível é quase um mito. Na Copa de 2010, cabe lembrar, 12 dos 32 treinadores são estrangeiros. Um recorde absoluto na competição. No mundo cada vez mais global do esporte, há poucos segredos. Nada surpreende ninguém.

Com muitas comissões estrangeiras, se aprimoram a parte física e fisiológica, se absorvem novas ideias técnicas e táticas e, muitas vezes, se cria uma linha de trabalho que vai das categorias de base ao time profissional. Basta ver a Austrália e a invasão de holandeses desde Guss Hiddink. É a unificação dos conceitos.

É essa a Copa em que, dentro de um universo de 56 partidas, só há quatro gols de falta e duas vitórias de virada. Da primeira rodada com média de gols mais baixa da história. De apenas 13 gols em 123 marcados em jogadas individuais. O Mundial que precisa de ao menos 19 gols nos últimos oito jogos, sob o risco de virar o dono do índice mais baixo em todos os tempos.

Mas como dizer que a Copa é ruim? Impossível argumentar contra os passes preciosos de Sneijder e a magia de Robben. Difícil não se solidarizar à busca de Lionel Messi, de grandes atuações, pelo primeiro gol no Mundial. Como não se impressionar com o futebol coletivo e vistoso dos repaginados alemães? Também não dá para não reconhecer como o time de Dunga é prático e executa perfeitamente, com uma beleza própria, aquilo que propõe. Ou que a Espanha tem uma identidade moderna, bonita e imutável.



Mais atual e globalizado que uma Copa na África, só o futebol jogado nela. Boa parte dos times atua da mesma forma: quatro defensores e esquemas que variam sempre entre 4-3-3, 4-1-4-1, 4-4-2 e 4-2-3-1. O que, na prática, é quase a mesma coisa, com uma peça mais para lá ou uma peça mais para cá.

Nesse novo futebol, há duas escolhas: ficar reclamando e pedindo a volta do tempo em que o Brasil, livre e solto, ficava tocando bola pelo campo todo até Carlos Alberto Torres aparecer, livre e solto, para fazer o gol. Ou se adaptar e ver que, ainda bem, o talento ainda sobressai.

Afinal, restaram cinco seleções de altíssimo nível entre as finalistas. Só temos mais oito jogos. Vamos aproveitá-los.