A data é 20 de junho de 2000 e o palco é o Feijenoord Stadion, na Holanda. Uma das camisas mais pesadas do futebol mundial está com a moral arrasada. Sofreu três gols de um português quase anônimo chamado Sergio Conceição e a participação na Eurocopa foi fechada de maneira melancólica com duas derrotas e um empate. Os alemães, já humilhados pela Croácia na Copa de 1998, precisavam de uma reconstrução. Não existe talento e a média de idade do elenco é de 28,5 anos de idade.
A Alemanha então soube seguir sua história de grandes voltas por cima. A data, agora, é 23 de junho de 2010. Se passou uma década e mais três dias. Com a camisa alemã em campo, no Mundial, estão seis jogadores com menos de 24 anos. Ninguém com mais de 30. É o elenco mais jovem dos germânicos em uma Copa desde 1934. É o time que bate Gana com um golaço de Mesut Özil e avança em primeiro do Grupo D na África do Sul.
Analisar esse período é essencial para comprovar como a Alemanha se reergueu das cinzas. Apostou na formação de talentos e não para de colher frutos. Em 2009, se tornou a primeira nação europeia a unificar os títulos continentais Sub-17, Sub-19 e Sub-21. Neste último, Özil foi eleito o principal jogador e tinha Neuer, Boateng, Khedira, Aogo e Marin: todos os seis na África do Sul.
Como se achar craques
A volta por cima da Alemanha para formar jovens jogadores foi basicamente combinando investimento e trabalho. O dinheiro injetado nas categorias de base aumentou de forma considerável e a Federação e a Bundesliga (entidade que opera como um Clube dos 13) ampliaram seu diálogo. O objetivo, claro, foi reduzir a invasão de estrangeiros na liga alemã e fazer os clubes revelarem.
Atualmente, são 5 mil jogadores (de 12 a 18 anos) que compõem o sistema de formação coordenado pela Federação Alemã. Dados estatísticos mostram que 15% dos atletas utilizados na primeira divisão do Campeonato Alemão têm menos de 23 anos. Em 2000, o ano do fiasco, esse dado era de 6%.
Acrescente aí que a Alemanha se antenou às realidades. Na época em que grandes e pequenas seleções disputam jogadores talentosos com dupla nacionalidade, os alemães não deram chance. Buscaram três poloneses (Klose, Podolski e Trochöwski), um brasileiro (Cacau) e ainda venceram os assédios por Boateng, Khedira, Gómez e Aogo.
Sobrenatural foi o esforço para ter Mesut Özil, filho de imigrantes turcos. O camisa 8 da Alemanha, autor do gol da classificação, foi bastante cobiçado para defender a Turquia, cujo passado mostrava uma série de jogadores "tirados" dos alemães. Özil foi uma vitória particular da Federação e provocou até reações políticas.
O que ajuda, e muito, é também o poder econômico do futebol alemão. Apenas Inglaterra, Itália e Alemanha mantém em suas ligas os 23 jogadores convocados na África do Sul. Enquanto ingleses e italianos possuem elencos envelhecidos, os germânicos apostam na juventude e se dão ao luxo de não vender estrelas cobiçadas como o francês Franck Ribéry, do Bayern de Munique. Assim, o esporte nacional cresce como um todo.
Como se confiar nos craques
De nada adianta o trabalho se não há a cultura em trabalhar jovens jogadores, confiá-los responsabilidades e fazê-los crescer como homens. Por isso, é fundamental o técnico Joachim Löw - desde que assumiu o cargo de Jürgen Klinsmann, há quatro anos, vêm apostando nos garotos de olhos fechados.
A cultura, diga-se, não nasce na seleção, mas sim nos clubes. Campeão alemão, da Copa da Alemanha e vice da Liga dos Campeões, o Bayern encantou a Europa na última temporada. Quatro de seus 11 titulares eram formados em casa. O melhor jogador no Alemão, o jovem meia Toni Kroos, emprestado ao Leverkusen, também nasceu nas categorias de base do clube da Bavária. Os cinco também estão no elenco de Löw.
Neste domingo, a jovem armada alemã, jamais vencida em um duelo de oitavas de final, parte para Bloemfontein, onde mede forças com a Inglaterra por um lugar entre os oito melhores da Copa. O inimigo não é desconhecido dos jogadores germânicos. Na decisão do Europeu Sub-21 disputada há um ano, os adversários eram justamente os ... ingleses. O placar daquela decisão? Alemanha 4 x 0 Inglaterra.
* Publicado no Terra
A Alemanha então soube seguir sua história de grandes voltas por cima. A data, agora, é 23 de junho de 2010. Se passou uma década e mais três dias. Com a camisa alemã em campo, no Mundial, estão seis jogadores com menos de 24 anos. Ninguém com mais de 30. É o elenco mais jovem dos germânicos em uma Copa desde 1934. É o time que bate Gana com um golaço de Mesut Özil e avança em primeiro do Grupo D na África do Sul.
Analisar esse período é essencial para comprovar como a Alemanha se reergueu das cinzas. Apostou na formação de talentos e não para de colher frutos. Em 2009, se tornou a primeira nação europeia a unificar os títulos continentais Sub-17, Sub-19 e Sub-21. Neste último, Özil foi eleito o principal jogador e tinha Neuer, Boateng, Khedira, Aogo e Marin: todos os seis na África do Sul.
Como se achar craques
A volta por cima da Alemanha para formar jovens jogadores foi basicamente combinando investimento e trabalho. O dinheiro injetado nas categorias de base aumentou de forma considerável e a Federação e a Bundesliga (entidade que opera como um Clube dos 13) ampliaram seu diálogo. O objetivo, claro, foi reduzir a invasão de estrangeiros na liga alemã e fazer os clubes revelarem.
Atualmente, são 5 mil jogadores (de 12 a 18 anos) que compõem o sistema de formação coordenado pela Federação Alemã. Dados estatísticos mostram que 15% dos atletas utilizados na primeira divisão do Campeonato Alemão têm menos de 23 anos. Em 2000, o ano do fiasco, esse dado era de 6%.
Acrescente aí que a Alemanha se antenou às realidades. Na época em que grandes e pequenas seleções disputam jogadores talentosos com dupla nacionalidade, os alemães não deram chance. Buscaram três poloneses (Klose, Podolski e Trochöwski), um brasileiro (Cacau) e ainda venceram os assédios por Boateng, Khedira, Gómez e Aogo.
Sobrenatural foi o esforço para ter Mesut Özil, filho de imigrantes turcos. O camisa 8 da Alemanha, autor do gol da classificação, foi bastante cobiçado para defender a Turquia, cujo passado mostrava uma série de jogadores "tirados" dos alemães. Özil foi uma vitória particular da Federação e provocou até reações políticas.
O que ajuda, e muito, é também o poder econômico do futebol alemão. Apenas Inglaterra, Itália e Alemanha mantém em suas ligas os 23 jogadores convocados na África do Sul. Enquanto ingleses e italianos possuem elencos envelhecidos, os germânicos apostam na juventude e se dão ao luxo de não vender estrelas cobiçadas como o francês Franck Ribéry, do Bayern de Munique. Assim, o esporte nacional cresce como um todo.
Como se confiar nos craques
De nada adianta o trabalho se não há a cultura em trabalhar jovens jogadores, confiá-los responsabilidades e fazê-los crescer como homens. Por isso, é fundamental o técnico Joachim Löw - desde que assumiu o cargo de Jürgen Klinsmann, há quatro anos, vêm apostando nos garotos de olhos fechados.
A cultura, diga-se, não nasce na seleção, mas sim nos clubes. Campeão alemão, da Copa da Alemanha e vice da Liga dos Campeões, o Bayern encantou a Europa na última temporada. Quatro de seus 11 titulares eram formados em casa. O melhor jogador no Alemão, o jovem meia Toni Kroos, emprestado ao Leverkusen, também nasceu nas categorias de base do clube da Bavária. Os cinco também estão no elenco de Löw.
Neste domingo, a jovem armada alemã, jamais vencida em um duelo de oitavas de final, parte para Bloemfontein, onde mede forças com a Inglaterra por um lugar entre os oito melhores da Copa. O inimigo não é desconhecido dos jogadores germânicos. Na decisão do Europeu Sub-21 disputada há um ano, os adversários eram justamente os ... ingleses. O placar daquela decisão? Alemanha 4 x 0 Inglaterra.
* Publicado no Terra
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